Heráclito e(m) Platão: estudos sobre a presença do heraclitismo nos diálogos platônicos

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Transcrição:

Heráclito e(m) Platão: estudos sobre a presença do heraclitismo nos diálogos platônicos Autor(es): Publicado por: URL persistente: Peixoto, Miriam Campolina Diniz Annablume Clássica; Imprensa da Universidade de Coimbra URI:http://hdl.handle.net/10316.2/37008 Accessed : 7-Nov-2017 09:03:36 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. impactum.uc.pt digitalis.uc.pt

desígnio 15 jul/dez 2015 HERÁCLITO E(M) PLATÃO. ESTUDOS SOBRE A PRESENÇA DO HERACLITISMO NOS DIÁLOGOS PLATÔNICOS Heraclitus and in Plato. Studies on heraclitism in Plato's dialogues Miriam Campolina Diniz Peixoto * PEIXOTO, M. C. D. (2015). Heráclito e(m) Platão. Estudos sobre a presença do heraclitismo nos diálogos platônicos. Archai, n. 15, jul. dez., p. 83 86 * Professora Associada da Universidade Federal de Minas Gerais e membro do grupo de pesquisa Filosofia Antiga GFA da mesma universidade - mcdpeixotobh@gmail.com Apresentação Neste volume, encontram -se reunidos os textos apresentados durante a sessão de inverno do projeto Doxografias - Seminário Permanente de Estudos Pré -Socráticos, uma das atividades desenvolvidas pelo Grupo Filosofia Antiga GFA da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Esta sessão teve por objeto o problema da recepção e discussão das teses heraclitianas no quadro dos diálogos de Platão. O evento foi realizado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, em Belo Horizonte, no dia 24 de junho de 2013. Pretendemos, com a publicação deste dossiê, fomentar o debate, entre os estudiosos lusófonos da filosofia antiga, acerca das questões relativas ao problema da recepção e da transmissão da filosofia pré -socrática nos autores e tradições antigos que constituem sua fonte textual. Esperamos, também, que os textos aqui reunidos possam contribuir para despertar o interesse pelas questões de que se ocuparam os filósofos gregos nos primeiros séculos da história da Filosofia, além de estimular a ainda incipiente pesquisa desenvolvida no país sobre o pensamento pré -socrático. Os seis textos aqui reunidos têm por objeto a discussão de teses que têm origem ou tangenciam 83

o pensamento de Heráclito e dos Heraclíticos nos diálogos platônicos. Sabemos da importância capital que teve em Platão, para a elaboração de seu pensamento e para o desenvolvimento dos seus próprios argumentos, o diálogo com os seus predecessores e contemporâneos. E em seu empreendimento, ele não poderia ter se furtado ao exame de uma tradição tão importante como aquela inaugurada por Heráclito. Dos seis textos aqui apresentados, apenas um não foi apresentado durante a sessão mencionada acima, mas nos foi gentilmente oferecido pelo professor Enrique Hülsz, da Universidad Nacional Autonoma do México, estudioso da filosofia antiga que tem mergulhado, nas últimas décadas, nas águas profundas do pensamento do filósofo de Éfeso. No primeiro texto, A doutrina secreta, o fluxo universal e o heraclitismo na primeira parte do Teeteto, Franco Ferrari examina a concepção protagoreana do homo mensura apresentada no diálogo platônico, segundo a qual o homem é medida de todas as coisas (ou de todos os valores), daquelas que são como são e daquelas que não são como não são, apoiando -se para tal em uma interpretação das doutrinas heraclitianas do fluxo universal. Ele mostra como Sócrates, que inicialmente parecia atribuir diretamente a Protágoras a formulação da tese do mobilismo universal, a qual teria sido exposta de forma secreta (ἐν ἀπορρήτῳ) somente aos seus alunos (152c), vai em seguida, para concluir sua refutação da tese mobilista associada à concepção da identidade entre conhecimento (ἐπιστήμη) e percepção (αἴσθησις), evocar explicitamente os Heraclitianos (179e), definidos como οἱ ῥέοντες (181a), ou seja os seguidores da concepção segundo a qual todas as coisas estão envolvidas em um incessante fluxo. Ele observa, contudo, que o nome de Heráclito, ao lado daqueles de Homero, Empédocles e Epicarmo, aparecerá citado imediatamente depois de ter sido mencionada a doutrina secreta de Protágoras (152e), como se Platão quisesse sugerir que por trás desta concepção se encontrasse presente o pensamento de Heráclito, ao qual se deveria a sistematização orgânica de uma tendência que remonta aos primórdios da reflexão grega. Neste texto ele se propõe a precisar o sentido da evocação do heraclitismo na apresentação da concepção do homo mensura e a estabelecer qual é a posição de Platão a respeito dessa concepção. O texto seguinte, de autoria de Francesco Fronterotta, tem por objeto o exame daqueles fragmentos que, em meio ao material heraclítico, evocam a metáfora dos rios e das águas que correm, usualmente associada pela tradição à imagem da realidade em devir e à concepção da natureza como um fluxo contínuo mais ou menos desordenado. Esses fragmentos se encontram certamente entre os mais célebres e afortunados fragmentos do filósofo de Éfeso, o que se explica pelo fato de terem sido utilizados, desde Platão e Aristóteles, para representar de modo exemplar a perspectiva filosófica de Heráclito. Trata -se dos três fragmentos que figuram na coletânea de Diels e Kranz sob os números 12, 49a e 91, e que correspondem, na edição de Marcovich aos números 40, 40c2 e 40c3. Fronterotta mostra como esta simples indicação já faz emergir o problema que convém prioritariamente examinar no que concerne aos três fragmentos evocados, isto é aquele da sua autenticidade, admitida por Diels e Kranz e por um certo número de estudiosos, entre os quais se destaca hoje Serge Mouraviev, mas rejeitada, para os fragmentos 49a e 91 DK [40c2 e 40c3 Marcovich], por outros comentadores, e em primeiro lugar por Marcovich, para quem, como sugere a própria numeração que adotou, deveriam ser considerados como simples reminiscências do fragmento 12 DK [40 Marcovich], o único autêntico. Ana Flaksman apresenta e discute em seu texto, Notas sobre Heráclito no Teeteto, no Banquete e no Sofista, um amplo repertório de passagens compreendendo os ecos, as alusões diretas ou indiretas, e as interpretações de que foi objeto o pensamento de Heráclito e dos Heraclíticos nos diálogos Teeteto, Sofista e Banquete de Platão. Segundo a autora, o exame desses textos permite visualizar e apreciar a importância que teve para Platão seu diálogo virtual com Heráclito. Através da discussão das teses do Efésio, Platão encontrou um rico material para tomar como ponto de partida de sua investigação filosófica e para dar livre curso ao seu próprio pensamento. A contribuição de Luisa Severo B. de Holanda, por sua vez, propõe -se a rastrear os aspectos que revelam a importância de uma atenta consideração do pensamento de Heráclito na interpretação do 84

desígnio 15 jul/dez 2015 diálogo Crátilo. A autora se interroga se Platão estava ou não ciente das possíveis diferenças entre o que teria sido o obscuro texto de Heráclito e o que seriam as suas mais disseminadas interpretações, frequentemente reduzidas quase que inteiramente ao tema do tudo flui. Em realidade, observa a autora, tal pergunta se encontra presente em várias obras de Platão em que o pensamento de Heráclito é mais detidamente examinado, como é o caso do diálogo Teeteto, por exemplo. Parece haver neles, segundo a autora, uma espécie de jogo, deliberado ou não, entre o peso que Heráclito adquire em todo o subsequente pensamento filosófico, e a sua crítica à leitura daqueles que pretendem adotar seu ponto de vista. Para Luisa Severo, isso ocorre no Crátilo por meio de uma espécie de hipóstase do pensamento heraclítico : quanto maior é a importância que adquire no diálogo o tema do fluxo, menor é a importância de Heráclito em particular para a discussão em curso. Em seu texto, a autora se interessa pela maneira como Heráclito aparece no diálogo, em meio a um jogo de ida e volta entre o pensamento heraclítico e o heraclitismo, o qual pode ser entrevisto na sua estrutura dramática. O foco do seu exame recai, então, na figura mesma de Crátilo, personagem que é, segundo ela, submetido a um tipo particular de elenchos. Em seu texto, ela se propõe a responder às seguintes questões: O que essa personagem escolhida a dedo por Platão para dar título ao diálogo tem a nos dizer? O que ela representa, que tipo de posição sustenta com relação ao tema do onoma? Celso Vieira, por sua vez, aborda em seu texto um aspecto de fundamental importância para a compreensão tanto do pensamento de Heráclito quanto da filosofia de Platão, a saber, aquele acerca da linguagem adequada para discorrer sobre o problema do movimento. Os dois filósofos são, segundo o autor, protagonistas de um considerável esforço, no contexto da Filosofia Antiga, em lidar e em tentar ultrapassar os limites representados pela distinta natureza das palavras e das coisas. Através do exame de algumas das soluções encontradas pelos dois filósofos, ele procura explicitar quais são suas estratégias e avaliar o alcance dos resultados que obtiveram com seu empreendimento. O texto que encerra este volume, de autoria de Enrique Hülsz, ocupa -se de um tema pouco considerado no âmbito da recepção platônica de Heráclito. Trata -se de uma passagem da República (II, 375e -376c) que, segundo ele, seria uma alusão aos fragmentos DK 22 B 97 ("Os cães ladram para quem eles não conhecem") e DK 22 B 85 ("É difícil lutar contra o thymos, pois o que se almeja com isso se paga com alma") de Heráclito. Para o autor, Platão lança mão da imagem dos cães pensando em Heráclito, o que o leva a conjecturar que alguns dos elementos que entram na composição da Kallipolis platônica poderiam ser uma derivação de algumas ideias que figuram nos fragmentos éticos e políticos de Heráclito. Em suma, ele busca identificar no texto platônico os indícios do que considera ser uma profunda afinidade filosófica entre os dois filósofos, principalmente nos campos da psicologia moral e do intelectualismo ético. Diante deste quadro, ele questiona, enfim, a tese de que Heráclito teria sido um defensor da moral aristocrática, como pretendem algumas interpretações que fizeram escola na historiografia filosófica. Este volume se inscreve assim no que tem sido em nossos dias o horizonte dos estudos pré- socráticos, a saber uma cuidadosa consideração de seu pensamento no quadro de cada uma das tradições que serviram para transmiti -lo à posteridade, e um exame crítico e minucioso de cada contexto e intenção, com o intuito de verificar, no quadro de apropriações ou testemunhos, as eventuais distorções e omissões. Esperamos, enfim, que este conjunto de textos contribua a fomentar o debate sobre o tema entre os estudiosos lusófonos da filosofia antiga em geral e, particularmente, do modo como nela se deram a recepção, a discussão e a transmissão dos problemas e doutrinas que emergem no contexto da chamada filosofia pré -socrática. Submetido em Maio de 2015 e aprovado em Junho de 2015. 85