AVALIAÇÃO DO PARASITISMO E COMPARAÇÃO DE TÉCNICAS DE ANÁLISE FECAL EM SUÍNOS DE GRANJAS DA REGIÃO OESTE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

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Transcrição:

AVALIAÇÃO DO PARASITISMO E COMPARAÇÃO DE TÉCNICAS DE ANÁLISE FECAL EM SUÍNOS DE GRANJAS DA REGIÃO OESTE DO ESTADO DE SANTA CATARINA EVALUATION OF PARASITISM AND COMPARISON OF TECHNIQUES OF FECAL ANALYSIS IN SWINE OF FARMS THE WEST REGION OF THE STATE OF SANTA CATARINA Graziela Hoff 1 ; Aleksandro Schafer da Silva 1 ; Silvia Gonzalez Monteiro 2 RESUMO O presente trabalho teve como objetivo pesquisar a prevalência de endoparasitas em grupos de suínos com diferentes idades e a comparação das técnicas de análise fecal Willis e Sheather. Foram analisadas as fezes de 200 animais através das duas técnicas que constataram a presença de ovos de Strongylida, Ascaris suum, Trichuris suis e oocistos de coccídeos. A maior infecção ocorreu em fêmeas reprodutoras e leitões lactentes, os animais em fase de terminação não apresentaram ovos e oocistos de parasitos enquanto as fases préinicial, inicial e crescimento apresentaram infecções por oocistos de coccídeos. Através da análise estatística, a técnica de Sheather mostrou-se mais eficaz que a de Willis com p=0,001. Palavras-chave: Helmintos, suínos, análise fecal, endoparasitas. ABSTRACT The goal of this work was to investigate the endoparasite occurrence in pig groups with different ages and comparison among Willis and Sheather techniques for excremental matter analyses. The analyses were done in excremental matter of 200 animals and both techniques showed presence of Coccidae s oocysts and eggs of Strongylida, Ascaris suum and Trichuris suis. The major infection occurred in reprodutriz and sucking pigs, the animals in termination stage didn t present eggs and oocysts while the animals in pre-initial, initial and growing stages presented infection by oocysts from Coccidae. The statistic analysis showed that Sheather technique was more effective than Willis technique with p=0.001. Key words: Helmints, pigs, faecal analyse, parasites. 1. Aluno de Graduação da Universidade Federal de Santa Maria 2. Prof. Adj. Dpto de Microbiologia e Parasitologia, UFSM, Santa Maria, RS. E-mail: sgmonteiro@uol.com.br.

107 Avaliação do parasitismo... INTRODUÇÃO Segundo o IBGE (1996), o estado de Santa Catarina concentra um dos maiores rebanhos de suínos do país com 5.432.143 cabeças de um total de 32.304.905 cabeças, sendo de relevante importância sócioeconômica para a região. Os suínos são afetados por muitas espécies de parasitos, o que resulta em consideráveis perdas financeiras ao ano, devido o crescimento retardado, falha na conversão alimentar, aumento da susceptibilidade a outras doenças e condenação de órgãos no abate (TODD, BEHLOW e BATTE, 1992). Os parasitas residem no estômago e no intestino dos suínos, competindo com seu hospedeiro os nutrientes da alimentação consumida, causando irritação na mucosa do trato gastrointestinal, indigestão, falta do apetite, ulcerações no intestino, espoliação sanguínea interferindo no ganho de peso diário. A razão para a persistência do parasitismo nas unidades de criação é que a transmissão dos ovos e oocistos infectantes não é eliminada em todos os ambientes (CORWIN e TUBBS, 1993), sendo aconselhável promover medidas antiparasitárias e mantê-las em todos os estágios de criação dos suínos (JOACHIM e DAUGSCHIES, 2000). Embora haja interesse atual no uso de sorologia como auxílio para o diagnóstico de helmintoses, particularmente com a introdução do teste imunoenzimático (ELISA), o exame de fezes para a detecção de ovos ou larvas de helmintos constitui o exame mais comum utilizado para o diagnóstico das endoparasitoses (URQUHART et al., 1998). A literatura descreve várias técnicas de exame de fezes para identificação de ovos e oocistos de parasitos, porém não específicas para fezes de suínos (HOFFMAN, 1987; SLOSS, 1999). Em 1909, Volgelsang utilizou o método de flutuação empregando cloreto de cálcio com objetivo de desenvolver uma técnica rápida e segura que permitisse visualizar ovos de helmintos e oocistos de protozoários (NUÑEZ e RATKO, 1963). Atualmente utilizam-se soluções hipersaturadas de açúcar ou sal para minimizar os debris e facilitar a visualização dos ovos, além do auxílio de centrífugas e microscópios mais modernos que diminuem o tempo de execução dos exames e aumentam a precisão dos resultados (PROUDMAN & EDWARDS, 1992). Contudo, as técnicas têm metodologias específicas, sendo necessárias comparações para definir as mais precisas e rápidas.

Hoff G. et al. 108 O presente trabalho teve como objetivo pesquisar a ocorrência de endoparasitas em grupos de suínos com diferentes idades e a comparação das técnicas de análise fecal Willis e Sheather. MATERIAL E MÉTODOS Local As fezes foram coletadas em três granjas de suínos, duas no município de São Carlos e uma no município de Sul Brasil, na região oeste do Estado de Santa Catarina, no período de dezembro de 2002 a janeiro de 2003. As granjas utilizavam sistema de confinamento em baias com piso de concreto e lotação adequada a cada fase de crescimento. Animais e critérios de amostragem Foram coletadas 200 amostras de fezes de suínos machos e fêmeas de todas as idades nas três granjas. As amostras, retiradas do reto de cada animal, foram embaladas separadamente e acondicionadas em caixa de isopor com gelo, a fim de conservá-las durante o trajeto até o laboratório, permanecendo na geladeira até a execução das análises parasitológicas. Técnicas de análise das fezes Foram utilizadas as técnicas de Sheather (PRATT, 1997) e técnica de Willis (MONTEIRO, 2004) para a análise das amostras de fezes dos suínos jovens e adultos. Nas amostras de fezes de leitões lactentes, devido ao teor de gordura foi utilizada a técnica de Ritchie de acordo com HOFFMANN (1987). Análise coprológica A análise foi feita em microscópio óptico com o preparado das técnicas entre lâmina e lamínula, para a contagem e diferenciação de ovos de nematóides e oocistos de protozoários. A partir do resultado das análises foi feita uma média das amostras por faixa etária dos animais nas granjas testadas, sendo posteriormente comparada a eficácia das técnicas de Willis e Sheather. Análise estatística Para a análise estatística das duas técnicas laboratoriais foi utilizado o teste do Qui-quadrado, no programa estatístico SAS 8.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os exames coprológicos realizados pelas duas técnicas, Willis e Sheather, revelaram infecção por nematóides da ordem Strongylida em 43 amostras das amostras analisadas (21,5%) por Ascaris suum, em 4 das amostras analisadas (2%), Trichuris suis em uma amostra (0,5%) e por coccídeos (Eimeria e Isospora) em 62 amostras (31%). Alguns ovos e oocistos

109 Avaliação do parasitismo... podem ser visualizados na figura 1. Nesses resultados a infecção foi inferior à relatada por ROEPSTORFF e JORSAL (1989) que pesquisando a ocorrência de helmintos em 66 rebanhos suínos na Dinamarca, encontraram 88% de A. suum, 58% de Oesophagostomum spp. e 23% de T. suis, o que segundo os autores se deve ao manejo tradicional do rebanho com superlotação, pouca higienização e deficientes programas de everminaçao, diferentemente dos animais do presente trabalho onde no manejo é preconizado o sistema de desinfecção all in all out, no qual antes da entrada de cada lote de suínos a baia é lavada, desinfetada e fica de 5 a 7 dias sem animais interrompendo o ciclo de muitos parasitas. A infecção observada também foi menor que a estimada por PERMIN et al. (1999) onde 99,9% dos animais pesquisados eliminavam ovos/oocistos de parasitas nas fezes com prevalência de Eimeria spp. em 77,2%, I. suis em 27%, Oesophagostomum spp em 60,6%, H. rubidus em 4,6%, T. suis em 4,6% e A. suum em 12,7% reforçando a importância dos programas de everminação que não eram feitos nos animais pesquisados pelo autor. Já CHARTIER et al. (1990) verificaram que os helmintos do trato gastrointestinal de suínos são Oesophagostomum spp., H. rubidus, Globocephalus urosubulatus e Ascarops strongylina, e sugerem que isso se deve ao fato do padrão sócio-econômico da criação de suínos no Zaire não permitir um plano de controle de doenças parasitárias, fator contrário ao da região oeste de Santa Catarina onde a produção de suínos e aves é a base do setor primário, com efetivos programas de controle das parasitoses. A maior infecção foi encontrada em fêmeas reprodutoras, nas quais foram identificados oocistos de coccídeos e, em menor proporção ovos de A. suum, sendo a única fase a apresentar infecção por T. suis, detectado em apenas um animal. Resultados esses, concordam em parte com JOACHIM e DAUGSCHIES (2000), que constataram que porcas são predominantemente infectadas por Strongylida (principalmente Oesophagostomum spp.), A. suum e Eimeria e com menor dimensão por T. suis, H rubidus, Strongyloides ransomi e I. suis. RAYNAUD e JOLIVET (1976) constataram que os mais comuns e importantes parasitas em porcas prenhes, são Oesophagostomum spp., Ascaris suum e H. rubidus. Resultados semelhantes encontraram FORMIGA et al., (1980) quando fizeram exames coprológicos em amostras fecais de 22 reprodutoras suínas com a presença de infecções por Oesophagostomum spp., H. rubidus e A. suum. LIGNON et al (1981), que

Hoff G. et al. 110 analisaram 1795 amostras fecais através da técnica de Willis também indicaram a ocorrência dos gêneros Oesophagostomum, Hyostrongylus, Trichuris e Ascaris. Tanto os resultados dos autores quanto os do presente trabalho ocorrem mesmo com rigoroso controle de manejo e everminação sugerindo a resistência dos parasitas a antihelmínticos. Tratando-se da fase de crescimento onde ocorreu a maior infecção por ovos de Strongylida e consideráveis infecções por coccídeos corrobora-se com JOACHIM e DAUGSCHIES (2000), que encontraram freqüentes infecções por coccídeos e estrongilídeos gastrointestinais seguido de A. suum, T. suis. ROEPSTORFF e JORSAL (1989) encontraram A. suum com maior freqüência em suínos na fase de crescimento (30% nos animais de engorda e 25% em leitões), já o T. suis ocorreu com menor freqüência em leitões. O mesmo resultado de JOACHIM e DAUGSCHIES (2000), para animais em fase de crescimento ocorreu para leitões desmamados (que no presente trabalho estão inseridos nas fases inicial e préinicial) apresentando consideráveis infecções por coccídeos e ocasionalmente ovos de Strongylida. Tais infecções são devidas provavelmente ao desmame onde o animal fica estressado, cessa a fonte de imunidade passiva (leite materno) e a sua imunidade ativa ainda não é eficiente. A fase de terminação (animais adultos prontos para o abate) não apresentou infecções por ovos ou oocistos de parasitos, provavelmente por terem adquirido imunidade às helmintoses. Das 200 amostras analisadas neste estudo, 45 eram de leitões lactentes nas quais foi utilizada a Técnica de Ritchie devido à gordura presente nestas fezes, porém não foram encontrados ovos ou oocistos de parasitos nas mesmas, provavelmente pela imunidade passiva que estes animais recebem através do leite materno e higiene das instalações. JOACHIM e DAUGSCHIES (2000) encontraram em leitões lactentes I. suis e ocasionalmente S. ransomi, possivelmente por falha nas medidas higiênicas adotadas sendo que provavelmente a mãe foi à fonte da infecção, já que apresentou os mesmos parasitos. Esses resultados são visualizados na figura 2. Quanto a comparação das técnicas de análise fecal, ambas demonstraram os mesmos gêneros de ovos e oocistos nas amostras, porém a técnica de Sheather detectou maior número de ovos de helmintos e oocistos de coccídeos (Figura 3). A comparação estatística das duas técnicas mostra uma diferença significativa

111 Avaliação do parasitismo... (p=0,001) entre a técnica de Sheather e a técnica de Willis sendo que a primeira mostrou-se mais eficiente, o que concorda com PROUDMAN & EDWARDS (1992) que afirmam que a técnica de centrífugoflutuação (Sheather) é mais acurada do que a de flutuação simples (Willis), pois se consegue sensibilidade e especificidade superiores. A diferença encontrada entre as duas técnicas pode ser explicada pelo uso de centrifugação na técnica de Sheather que aumenta o número de ovos e oocistos aderidos a lamínula pesquisada. Já, FORD (2001), que usou a técnica de Sheather não encontrou ovos de helmintos nas fezes analisadas, mas isso, provavelmente, se deve ao fato da administração de ivermectina injetável antes das análises. MARTINS et al., 2003 compararam a técnica de centrífugoflutuação descrita por BEROZA et al (1986), considerada padrão, com uma modificação desta técnica utilizando um processo de sedimentação inicial para pesquisa de ovos de cestódeos e a comparação entre as duas pelo teste do quiquadrado revelou que houve diferença significativa (p<0,001) na detecção de animais positivos mostrando que a primeira técnica é mais sensível. HUBER, et al. (2004) compararam as técnicas de centrífugo-flutuação modificada (Sheather) e a técnica de formadeído-éter que retira as gorduras das fezes, onde a primeira mostrou-se mais eficiente na detecção de cisto de Giardia sp. do que a técnica de formadeído-éter. MARQUES et al. (1989) também utilizaram a técnica de Sheather ao examinar as fezes de dez leitões experimentalmente inoculados com oocistos esporulados de I. suis o que foi constatado na análise das amostras fecais. A centrifugação é provavelmente o fator peculiar nas técnicas que se mostraram mais acuradas para a detecção de ovos de nematóides e cestódeos e oocistos de protozoários (HUBER et al., 2003, MARQUES et al. 1989 e MARTINS et al., 2003). CONCLUSÕES Nas amostras analisadas pelas duas técnicas, Willis e Sheather, foram encontrados ovos das espécies T. suis, A. suum, da ordem Strongylida e oocistos de protozoários dos gêneros Eimeria e Isospora. A fase que apresentou maior infecção foi a das fêmeas reprodutoras. A técnica de Sheather foi a mais eficiente na detecção de ovos de nematóides e oocistos de protozoários comparada a técnica de Willis.

Hoff G. et al. 112 REFERÊNCIAS BEROZA, E.; MARCUS, L.C.; WILLIAMS, R.; et al. Laboratory diagnosis of Anoplocephala perfoliata infection in horse. Convention of the American Association of Equine Practitioners, 32, Nashville. p. 435-439. 1986. reprodutivo. Concórdia-Santa Catarina. Embrapa-CNPSA. Comunicado técnico n. 6, p. 1-2, jan. 1980. HOFFMANN, R.P. Diagnóstico de Parasitismo Veterinário. Porto Alegre: Sulina, 1987. p. 155. CHARTIER C.; MUTESI U. e NDAKALA N.O. Helminths of domestic pork in Ituri, Upper Zaire. Boreau du Projet Ituri, Bunia, Zaire. Sep; 70 (3):213-25. 1990. CORWIN, R.M. e TUBBS, R.C. Common Internal Parasites of Swine. University of Missouri. 1993. Disponível em :http://muextension.missouri.edu/explore/ag guides/ansci/g02430.htm.acesso em 29 de novembro de 2004. DUNN, A.M. Helmintología veterinaria. 2 ed. México: El Manual Moderno. 1983. p.357-368. FORD, D.J.; HONEYMAN M.S. e THACKER, B. Internal parasites of pigs housed in a hoop structure and confinement. Iowa States University. USA. ASL-R1783. Fev. 2001. FORMIGA, D.N.; LIGNON, G.B. e UENO H. Exames parasitológicos em amostras fecais de fêmeas suínas durante o ciclo HUBER F.; BOMFIM T.C. e GOMES R.S. Comparação da eficiência da técnica de Sedimentação pelo formaldeído-éter e da técnica de centrífugo-flutuação modificada na detecção de cistos de Giardia sp. e oocistos de Cryptosporidium sp. em amostras fecais de bezerros. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, vol.12, n. 2, p.135-137. 2003. HUBER F.; BOMFIM T.C. e GOMES R.S Comparação da eficiência da coloração pelo Método da Safranina a Quente e da Técnica de Centrífugo-flutuação na detecção de oocistos de Cryptosporidium em amostras fecais de animais domésticos. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. vol.13, n.2, p.81-84. 2004. IBGE censo 1996. Disponível em http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pecua/def ault.asp?t=2&z=t&o=20&u1=1&u2=1&u3 =1&u4=1&u5=1&u6=1. Acesso em 20 de setembro de 2005.

113 Avaliação do parasitismo... JOACHIM A. e DAUGSCHIES A. Endoparasites in swine in different age groups and management systems. Institut fur Parasitologie, Tierarztliche Hochschule Hannover. 113 (4): 129-33. Apr. 2000. NUÑEZ, J.L. e RATKO, L. Metodo practico para concentración de huevos y ooquistes de parasitos en materias fecales. Revista de investigaciones ganaderas, nº 16, p.33-36. 1963. LIGNON, G.B.; FORMIGA D.N.; MARQUES S.M.T. et al. Prevalência e aspectos do controle de nematódeos gastrintestinais em suínos. Concórdia-Santa Catarina. Embrapa-CNPSA. Comunicado técnico n.17, p. 1-3, jan. 1981. MARQUES, J.L.L; SOUZA, J.C.A., LIMA, J.D., et al. Obtenção e purificação de oocistos de Isospora suis em leitões experimentalmente infectados. In: Congresso Brasileiro de Veterinários Especialistas em Suínos, 1989. p. 102 102. 1989. MARTINS, I.V.F.; VEROCAI, G.G.; MELO, R.M.P.S.; et al. Validação de modificação da técnica de cantrífugoflutuação (Beroza et al., 1986) para o diagnóstico de cestóides em eqüídeos. Revista Brasileira de Parasitologia veterinária, vol.12, n.3, p. 99-102, 2003. MONTEIRO, S.G. Caderno didático de Parasitologia Veterinária. Santa Maria-RS: Editora UFSM, 2004. p. 138. PERMIN A.; YELIFARI L; BLOCH P.; et al. Parasites in cross-bred pigs in the Upper East region of Ghana. Danish Centre for Experimental Parasitology, The Royal Veterinary and Agricultural University, Frederiksberg C, Denmark. V.87, ano 1, p.63-71.nov. 1999. PRATT, P. W. Laboratory procedures for veterinary technicians. 3 ed., Saint Louis: Mosby, 1997. PROUDMAN C.J. e EDWARDS G.B. Validation of a centrifugal/flotation technique for the diagnosis of equine cestodiasis. Veterinary Record, vol.131, n.4, p.71-72. 1992. RAYNAUD J.P. e JOLIVET G. Principles, objectives and methods for the control of the gastro-intestinal parasites of pigs in France. Folia vet Lat. Ano 2, n.6: p95-119. Apr-jun. 1976. ROEPSTORFF A. e JORSAL S.E. Prevalence of helminth infections in swine in Denmark. Institute of Internal Medicine,

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115 Avaliação do parasitismo... Média de ovos e oocistos por amostra 250 200 150 100 50 0 Lactentes 0 000 8,8 0 00,15 18,7 Inicial Pré-inicial 0 00,09 Crescimento 7,5 0 0 12,3 0 00 0 Terminação Matrizes 221,8 2,46 40,1 6,05 oocistos Trichuris suis Ascaris suum Strongylida FIGURA 2. Avaliação de ovos e oocistos de parasitos nas diferentes fases de criação. 10000 9714 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 Ascaris suum 0 1564 Trichuris suis 16 96 Strongylida 380 806 2100 Eimeriidae Técnica de Willis Técnica de Sheather FIGURA 3. Comparação entre as técnicas de análise de fezes.