CENTRO HISTÓRICO EMBRAER. Entrevista: Tanara Caleffi. São José dos Campos. Março de 2012



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Transcrição:

CENTRO HISTÓRICO EMBRAER Entrevista: Tanara Caleffi São José dos Campos Março de 2012 Apresentação e Formação Acadêmica Meu nome é Tanara Caleffi, eu tenho quarenta e seis anos e nasci em Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Na minha família eu sou a segunda de quatro mulheres e lá em casa é tudo uma escadinha assim, então a gente tem uma diferença de idade de um ano, um ano e dois meses mais ou menos - entre uma e outra. Meu pai era piloto, era dono de táxi aéreo, ele foi o pioneiro da implantação de táxi aéreo no Rio Grande do Sul e eu acho que eu gostei desse negócio de avião em função dele, na verdade eu gosto de avião desde pequena. Aí, quando eu tinha quinze anos, eu tirei a carteira de piloto de planador que na época podia, agora não pode mais como na época, a muitos anos atrás podia..., aí, quando eu fiz dezesseis eu tirei a carteira de piloto privado, aí eu tinha que escolher fazer faculdade, seguir carreira de piloto, o que eu ia fazer porque eu tinha terminado o segundo grau, só que um pouco antes disso meu pai faleceu e eu Ah, eu vou fazer faculdade e vou tirar minha carteira de piloto comercial enquanto eu faço faculdade.... Mas aí, enquanto eu estava fazendo a faculdade e tirando a carteira, eu vi que não queria ser piloto, que eu queria mesmo ser engenheira, queria fazer avião. Então, na época eu fazia Física, larguei a Física, fiz vestibular de novo, fiz Engenharia Mecânica e pós-graduação em Engenharia Aeronáutica, na época também eu tentei entrar no ITA (Instituto Tecnológico Aeroespacial), mas o ITA era proibido para mulheres e então, a única maneira que eu encontrei de seguir a engenharia aeronáutica, era fazer a engenharia mecânica e depois uma pós-graduação em Aeronáutica. Atualmente eu sou casada, tenho dois filhos pequenos que são lindos e moro aqui em São José dos Campos já desde 94. Eu já fiz bastante coisa de hobby, inclusive a parte de voo acabou ficando mais como um hobby do que realmente uma profissão quando eu decidi seguir para a carreira de 1

engenheira. Aí eu jogava vôlei, fazia windsurf, eu fazia bastante esporte, também jogava handebol, basquete, fazia atletismo, até que meus filhinhos nasceram e agora eu sou mãe e como hobby e como não hobby e como qualquer coisa fora do trabalho. Mas, eu acho que isso é normal, quando tem criança pequena é normal, eles são uns amores, eu adoro eles, eles são lindos. A minha formação ficou sendo, como eu já falei, eu me formei em Engenharia Mecânica na Federal do Rio Grande do Sul, depois eu fiz pósgraduação, mestrado na USP (Universidade de São Paulo) de São Carlos em Aeronáutica e aí depois, continuando na parte de formação acadêmica depois eu fiz especialização num curso de Ensaio em Voo. Eu comecei o doutorado no ITA, mas depois eu parei o doutorado. Quando eu terminei o mestrado eu estava desempregada. Aí deu a coincidência, na época, abriu um concurso para o IAE Instituto de Aeronáutica e Espaço para trabalhar naquele projeto VLS Veículo Lançador de Satélites aí eu acabei fazendo o concurso, fui aprovada, passei e vim parar aqui em São José dos Campos para trabalhar no VLS, no IAE, aqui no CTA (atual DCTA Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial) onde eu fiquei três ou quatro anos... Acho que eu fiquei três anos aí no último ano eu saí do IAE, ou melhor, eu saí do projeto do VLS e fui trabalhar como engenheira de ensaios no CTA, na parte de Engenharia de Ensaios de lá. Mas, aí no final daquele ano a Embraer começou a contratar gente e eu acabei vindo para trabalhar aqui, isso foi março de 97. Ingresso na Embraer Em março de 97 então, eu entrei na Embraer fazendo parte da equipe da Mecânica de Voo e da Engenharia Aeronáutica, chamava GEA na época, acho que nós éramos umas trinta pessoas e a liderança era o Décio, Décio Pullin e a equipe que eu fazia parte nós éramos em cinco e a gente era responsável por fazer o banco de dados do 145 (ERJ 145) que seria usado no simulador de voo e que estava sendo desenvolvido pela Fligth Safety. E foi um período muito legal porque eu tinha acabado de entrar na empresa e tinha um objetivo claro, definido para ir e a equipe se deu muito bem, a gente trabalhava bem e eu conseguia acompanhar - como era pouca gente eu conseguia acompanhar o processo do simulador desde o comecinho, 2

porque a gente especificava as manobras que precisavam ser feitas e eu consegui que me deixassem voar para acompanhar as manobras durante o voo. Eu não era da Engenheira de Ensaios, eu trabalhava na Engenharia de Aerodinâmica da Aeronáutica -, mas aí deixaram eu acompanhar no assento do 3P todos os ensaios que eram relacionados com o simulador de voo. Então, eu especificava manobra, eu escrevia o test proposal, eu voava, fazia o briefing com os pilotos como engenheiro, depois eu voava a manobra, depois fazia a redução dos dados daquela manobra e aplicava isso dentro do data bank que a gente estava desenvolvendo. Então, foi uma época muito legal em que eu consegui a prender muita coisa, foi bem interessante, foi um trabalho bem bom. Aí, depois disso, quando o simulador foi certificado eu falei para o meu chefe que eu queria começar voar quem mandou ele me deixar ir junto aí eu consegui no Ensaio em Voo, eu consegui a transferência da Engenharia Aeronáutica para a Engenharia de Ensaio em Voo, isso foi em julho de 99. Aí, no final daquele ano, em 99, foi fechado um acordo com algumas escolas de preparação de pessoas para trabalhar em Ensaio em Voo e esse acordo foi fechado com uma escola na Inglaterra e uma escola na França e eu estava dentro dos integrantes do pessoal que ia para a primeira turma que foi feito o treinamento na ETPS Empire Test Pilot s School eu, mais três engenheiros e um piloto passamos então oito meses na Inglaterra fazendo treinamento para ser engenheiro de ensaio e piloto de ensaio e foi um treinamento muito bom, muito bom mesmo, meio difícil, mas valeu a pena, eu acho que a Embraer ganhou muito também mandando todo mundo para ser treinado lá, foi um período bem interessante, bem legal. Quando eu voltei, eu assumi a liderança técnica dentro do Ensaio em Voo do Legacy 600 que estava em desenvolvimento. Aí a gente tinha um protótipo que era o protótipo do 02 que era um 135 (ERJ 135) e foi transformado num Legacy e a gente usou no começo esse protótipo para o desenvolvimento do Legacy 600. Certificação de Aeronaves Embraer Antes de o avião ser certificado é apresentada toda a campanha de ensaio para o órgão homologador e aí as pessoas responsáveis do órgão 3

homologador, elas dizem Esse eu quero voar, esse eu não quero, isso aqui eu vou acompanhar na telemetria, isso aqui eu quero acompanhar dentro do avião..., isso é definido antes. Se o órgão homologador resolve acompanhar o voo aí ele vai dentro ou vai na telemetria e acompanha aqueles voos que ele definiu, senão assim... é a gente que faz e a engenharia depois que escreve o relatório, que faz a redução de dados, faz o relatório e vê se passa e se não passa, claro que passa senão o avião não é certificado e escreve um relatório então de resultado de ensaios. Acho que mais ou menos nessa época criaram Gavião Peixoto (Unidade Embraer), aí inaugurou a pista de Gavião e aí se decidiu que a parte de Ensaio em Voo iria toda para lá, que foi uma decisão bastante sensata da Embraer ter uma pista, onde ela pudesse fazer todos os ensaios e não precisar mais ficar dependendo das pistas no exterior. Trajetória na Embraer Aí, mais ou menos nessa época, eu achei que a minha carreira precisava dar uma guinada, eu queria ter uma experiência no exterior, queria morar em outro país, eu queria ver outras coisas, trabalhar em outro lugar para ver se era tudo a mesma coisa, se era tudo diferente. Aí eu consegui, eu fui contratada para trabalhar com o Job Shopper na Piaggio, que é uma empresa que fabrica um avião executivo e ela fica no norte da Itália numa cidadezinha chamada Finale Ligure que é perto de Gênova, entre Gênova e a França. A fábrica da Piaggio onde ficava a minha sala, meu escritório assim, era na beira da praia, na areia, no meio do Mediterrâneo, a visão no quarto andar era puro mar azul era lindo. A Piaggio é uma fábrica bem antiga, eu acho que ela começou lá em 1912 acho por aí, em 1910 e os primeiros aviões que ela fabricou foram hidroaviões porque ela foi construída na beira da praia porque avião saía da linha de montagem e ia direto para o mar para fazer os primeiros voos, então por isso essa localização meio diferente dela assim... Aí eu fiquei morando na Itália durante uma não trabalhando na Piaggio na certificação do Piaggio Avante, eles tem basicamente dois aviõezinhos: o Piaggio e o Piaggio Avante. O Avante nada mais é do que o Piaggio com um tanque de combustível a mais, um alcance maior e aí precisou recertificar esse avião e eu fui ajudar 4

então na recertificação desse avião e enquanto eu estava lá na verdade, eu estava lá há uns três meses eu descobri que eu estava grávida e meu primeiro filho nasceu lá, nasceu o Giordano lá na Itália. Aí terminou meu contrato, e um pouquinho depois ele nasceu, em agosto e meu contrato ia ainda até outubro, eu acho, alguma coisa assim, aí, quando terminou meu contrato eu não voltei a trabalhar, eu resolvi ficar só cuidando dele porque ele era tão pequenininho, só tinha três, quatro meses, ele era bem pequeno aí eu voltei para o Brasil, essa foi uma das coisas que me fez voltar para o Brasil, porque a Piaggio perguntou se eu queria renovar o contrato, ficar por lá, mas eu disse Não, eu acho que eu quero ser mãe..., aí eu voltei para o Brasil e fiquei cuidando dele até ele ter, até ficar maiorzinho até 2007, ele já tinha um ano e meio, mais ou menos e aí eu voltei a trabalhar na Embraer em fevereiro de 2007. Na época estava tendo o desenvolvimento do Legacy 650 que é esse Legacy maior alcance que agora certificou no ano passado, a uns dois anos atrás. Então, eu fui contratada para trabalhar na engenharia como RDP (Responsável pelo Desenvolvimento de Produtos) do Legacy 650 e eu era responsável por toda a parte de engenharia, não só a parte de aeronáutica, mas a parte de aeronáutica e a parte de sistemas. Aí durante esse ano que eu fiquei trabalhando nesse projeto foi quase um desenvolvimento do tipo anteprojeto porque o avião não estava fechado, era uma modificação menor que estava sendo feita num avião que já existia, então não era um avião que era desenvolvido pelo DAP (Diretoria de Projetos Avançados), era um avião que foi desenvolvido direto na engenharia. Aí nessa parte de..., desse ano de desenvolvimento eu não fiquei fazendo só a parte de engenharia do avião porque eu tinha muito contato com o fornecedor, que tinha que definir qual fornecedor ia ser do quê, se o pessoal podia fazer as modificações que a gente estava pedindo, se não podia..., aí tinha o motor, foi desenvolvido um motor novo para esse avião. Então, a família do 145 (ERJ 145) ela usa o motor A.1 e esse avião usa o motor A.2, ele é um avião com uma potência maior e um consumo menor, aí teve muita negociação com a Rolls Royce, de como é que ia ser esse motor, quais os ensaios que precisavam ser feitos para certificar, o que a gente ia fazer, o que não ia fazer o que dava para aproveitar, foi bem legal. 5

Programa SIVAM Em 99 a Embraer precisava fazer um avião para fazer a vigilância da Floresta Amazônica, ela resolveu botar então, uma antena em cima do 145 (ERJ 145) que seria a antena que faria... desenvolvida pela Ericsson que faria parte do sistema, de todo o sistema de vigilância na Amazônia e o pessoal chama de SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia). Bom, enfim, aí a parte teórica foi desenvolvida, teve ensaio em túnel de vento. A gente tinha então um banco de dados preliminar teórico ajustado em túnel pronto e coincidiu na época da Embraer estar com uma relação junto com uma empresa que se chamava Causpan, acho que agora ela se chama Veridian, ou ao contrário, na época ela se chamava Causpan e eles tinham um simulador, um avião que é um simulador em voo um simulador em voo é um avião onde tu pode modificar os coeficientes aerodinâmicos de maneira que ele reproduza o comportamento de uma avião diferente dele então, apesar dele ser um avião, ele voa com as características de pilotagem dele não são dele são desse outro avião que tu está reproduzindo. Aí a Embraer entrou em contato com a Causpan e contratou a Causpan para colocar o banco de dados do SIVAM dentro desse simulador e voar para ver o comportamento e aí apareceu uma característica de rolamento do SIVAM que ele entra na curva e aí o nariz dele sai um pouco da para fora da curva e ele volta, ele dá uma parada, ele volta e depois ele continua o rolamento de novo e isso já apareceu no simulador então, como a Embraer já sabia desse... que isso poderia acontecer, quando o SIVAM começou a voar já pensava em soluções que poderiam serem dadas para resolver esse problema. Aí, no fim o SIVAM ficou então com aquelas quatro finlets colocadas na empenagem horizontal para resolver esse problema de rolamento que quando a gente colocou no simulador de voo da Causpan, a gente já tinha conseguido ver, uma coisa que ganha bastante tempo de projeto, mas também não é uma coisa muito fácil de ser feita, de colocar um simulador em voo. Ensaios em Voo As diferenças entre o tempo atual e o tempo passado é que agora a gente vê muito mais mulher nessa área, muito mais. Quando eu entrei aqui na Embraer, por exemplo, em 97 no grupo de Aeronáutica, acho que eram 6

quarenta uma equipe de uns trinta ou quarenta se fosse juntar o pessoal de cargas era um pouco mais, talvez, eu era única mulher que tinha, não tinha mais ninguém. Hoje não, hoje tu vai no (hangar) F20 e tu vê, tem mulher em todas as áreas, tem bastante gente, caminhando pela Empresa a gente vê que tem muito mais mulher, então dá para ver que isso cresceu bastante. Na época que eu tinha... que era mais novinha que eu tinha os meus quinze anos e eu resolvi tirar o brevê de planador também só tinha eu no aeroclube, na verdade, tinha eu e uma instrutora de voo que voava lá também, mas a turma eram cento e poucos, a nossa turma tinha cento e poucos e a turma da noite tinha mais umas cinquenta pessoas, era muito pouco, era muito pouca mulher mesmo, até a Carla essa moça que era instrutora quando ela terminou a parte de instrução que ela foi tentar voar numa companhia aérea grande que tinha na época, aí falaram para ela assim Ó, enquanto eu for diretor dessa companhia mulher aqui não entra..., então não só era um machismo como era declarado e se virem com isso. Aí, um tempo depois quando eu fui fazer vestibular que eu queria seguir pela carreira aeronáutica, nem entrar no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) eu conseguia, porque o ITA era uma faculdade, uma universidade que era só para homens, as mulheres não eram aceitas, as mulheres começaram ser aceitas no ITA no final da década de 90, eu acho que por aí e, atualmente eu não sei exatamente a porcentagem mas a quantidade de mulheres no ITA também não é uma que a gente vê, duas..., é bem mais do que isso. Quando eu vim para a Embraer em 97 eu trabalhava no Ensaio em Voo do CTA (atual DCTA Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial) e também eu era a única mulher que trabalhava no Ensaio em Voo do CTA, a única engenheira que tinha lá e uma das coisas que eles me falaram porque Olha, eu vou sair, eu estou pensando em ir para a Embraer, você tem alguma contraproposta para me fazer?, eles disseram Se tu ficar aqui o ano que vem tu faz o curso de Ensaio em Voo que a gente tem aqui dentro do CTA, eu disse Eu vou ficar..., mas umas duas semanas depois eles me chamaram e me disseram Olha Tanara, o curso ele não foi aprovado para o ano que vem, o ano que vem a gente não vai ter e a gente não sabe quando vai ter o curso de novo... e isso foi meio um divisor de águas, eu disse Então, eu vou para a Embraer..., aí eu saí do CTA e vim para cá, 7

mas aí uma das coisas que eu negociei quando eu cheguei foi de que eu ficaria um tempo na engenharia fazendo o trabalho do simulador, mas que depois eu queria ser engenheira de ensaios e eu queria ir para a área de Ensaio em Voo, aí o meu chefe falou Tudo bem!, eu fiquei daí quando terminou o simulador ele disse Olha, mas se tu ficar aqui quem sabe tu faz isso que é mais legal..., mas aí eu disse Não, eu quero voar, eu quero ir para Ensaio em Voo..., ele disse Mas nenhuma outra mulher trabalha em Ensaio em Voo!, E daí?, aí eu fui conversar com o chefe na época o Luiz Oliveira (Luiz Fernando Tedeschi Oliveira) e disse para ele que eu queria ir para o Ensaio em Voo, que eu já tinha conversado com meu chefe, que meu chefe não ia se importar de me liberar, aí ele disse assim para Mas tu passa mal, tu enjoa, como tu vai voar? e realmente eu passava mal mesmo, eu acompanhava os voos de simulador e todos os voos eu vomitava, mas eu já sabia, eu levava os meu saquinho não tinha problema nenhum, não atrapalhava ninguém, então eu disse Eu acostumo, né? Eu vomitei quando eu tirei o brevê de planador, depois um pouquinho quando eu tirei o brevê de piloto privado, aí depois, aos poucos, eu fui acostumando e parei de passar mal, eu acho que vai acontecer a mesma coisa..., ele falou É, tu tem razão, então pode vir.... Aí quando eu fui para lá eu fui a primeira mulher trabalhar como engenheira de Ensaio em Voo aqui na Embraer e no Brasil também, não tinha nenhuma outra que trabalhava com isso, então, eu era a única, depois não, depois vieram outras. Agora, atualmente eu não sei como anda a porcentagem de mulheres e homens na parte de Ensaio, mas alguém tem que começar..., talvez eu tenha herdado um pouco isso da minha mãe que também foi a primeira mulher a ser eleita presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul, o meu pai também foi pioneiro, na profissão dele, foi o primeiro piloto a implementar o táxi aéreo no Rio Grande do Sul, não sei, talvez seja de família. Embraer e Futuro Por um lado, há um tempo atrás, estava-se até pensando em voltar com as aeronaves turbo hélice porque são menos poluentes, porque os motores são melhores, tudo discutível, por outro lado tu vê que... não legal, o futuro são aqueles voos eu não sei bem... esqueci o nome agora semi-orbitais, alguma coisa assim, que são super rápidos, que chega logo, outras pessoas 8

acham que não, que um voo tem que ser tão tranquilo, de maneira que a pessoa consiga continuar trabalhando durante o voo com tudo a sua disposição ali dentro do avião como se ela não estivesse voando mesmo. Não sei, para mim tudo isso fica meio etéreo, mas se tu for pensar lá quando Santos Dumont fez o primeiro voo imagina que ele ia achar depois que iam pegar um avião aqui e iam atravessar o Atlântico e todo mundo chegar são e salvo. Eu acho que sim, que a indústria vai continuar se desenvolvendo, eu só não consigo exatamente definir qual é esse ponto ótimo que ela vai encontrar, não sei se vai ser alguma coisa tipo um foguete ou se vão criar finalmente o teletransportador que vão acabar com os aviões de uma vez e a Embraer vai se transformar numa Empresa de teletransportadores, mas enfim, a gente tem um longo caminho pela frente. 9