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Transcrição:

Fls. 1 Coordenação-Geral de Tributação Solução de Consulta nº 136 - Data 2 de junho de 2015 Processo Interessado CNPJ/CPF ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO IMUNIDADE RECÍPROCA. EMPRESA PÚBLICA. FINALIDADE ESSENCIAL DO ESTADO. PATRIMÔNIO, RENDA OU SERVIÇO RELACIONADO. A imunidade de impostos de que trata o art. 150, VI, a, da Constituição (imunidade recíproca) não se aplica ao patrimônio ou renda de empresa pública que atua na gestão de sistema de transporte coletivo intermunicipal de passageiros, e nem aos serviços que ela presta, que não são exclusivos do Estado, não constituem monopólio estatal e são remunerados na forma da Lei que autorizou sua criação. Dispositivos Legais: Constituição da República, art. 150, inciso VI, alínea a, 2º e 3º. Relatório A empresa pública acima identificada apresentou consulta na forma da Instrução Normativa RFB nº 1.396, de 16 de setembro de 2013, pela qual busca a correta interpretação do disposto no inciso VI, alínea a, e no 2º do art. 150 da Constituição. Diz ter dúvida se a imunidade recíproca que o dispositivo prevê se estende a empresa pública estadual que atua na gestão do sistema de transporte coletivo intermunicipal de passageiros. 2. Segundo informa: i) foi constituída com a finalidade de implantar a política de transporte intermunicipal de passageiros, com base na autorização dada pela Lei nº XXX, e na forma do Decreto Estadual nº XXX; ii) seu objeto social é a gestão do sistema de transporte coletivo intermunicipal de passageiros do Estado XXX, atividade que inclui o planejamento, a implementação, a fiscalização e a outorga a terceiros dos serviços a ele relacionados. Entende que tais atribuições são típicas de autarquias, o que justificaria trazer para si a imunidade prevista no art. 150, VI, a, da Constituição. 1

Fls. 2 3. Sustenta que a imunidade recíproca visa ao equilíbrio e salvaguarda do pacto federativo e à desoneração do patrimônio, renda e serviços públicos universo em que se insere o transporte intermunicipal de passageiros, e deve se estender à empresa pública prestadora de serviço público stricto senso. Estendendo o rol estabelecido pelo 2º do art. 150 da Constituição (para incluir nele a empresa pública), afirmou haver três tipos de sociedade de economia mista e de empresa pública: as que exploram atividade econômica; as prestadoras de serviço público; e as reguladoras (ou gestoras) de serviço público. 4. A consulente se autoenquadra neste último tipo e diz que, ainda que constituída sob a forma de empresa pública [...], a exemplo de tantas outras, mais se aproxima do conceito de autarquia do que das sociedades privadas. Citou decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) em que a Corte reconhece a imunidade recíproca em favor da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (RE 407099-RS, DJ de 6/8/2004) e da Infraero (RE 363412, DJ de 18/9/2008), por se tratar de empresas públicas que realizam atividades reservadas ao monopólio estatal por força dos incisos X e XII, c, respectivamente, do art. 21, da Constituição. 5. Com base em tais argumentos, indagou se se aplica a ela a imunidade prevista no art. 150, VI, a, da Constituição. Fundamentos 6. A imunidade prevista na alínea a do inciso VI do art. 150 da Constituição incide sobre o patrimônio, renda ou serviços das pessoas jurídicas de direito público interno (União, estados, Distrito Federal e municípios). Trata-se de vedação constitucional ao poder de tributar outorgado pela própria Constituição a tais entes, por força da qual a União não pode cobrar impostos sobre o patrimônio ou renda dos estados, do Distrito Federal e dos municípios e nem estes podem cobrar impostos sobre o patrimônio ou serviços da União e nem uns dos outros. Diz-se por isso tratar-se de imunidade recíproca. 7. A imunidade recíproca subtrai do ente público o poder de impor a outro ente público o ônus de pagar tributo sobre o próprio bem, a própria renda ou sobre o serviço que cabe a ele prestar com exclusividade à população, por dever constitucional. A indicar que o fundamento da imunidade recíproca é o fato de se tratar de serviço cuja prestação é exclusiva do Estado, o 2º do art. 150 diz que ela é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes. As autarquias e fundações são, como os entes federativos, pessoas jurídicas de direito público interno (Código Civil, art. 41). 8. A parte final do 2º diz que a imunidade recíproca só se aplica ao patrimônio, à renda e aos serviços vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes, isto é, às finalidades essenciais das autarquias ou fundações públicas, que justificaram sua criação. A finalidade essencial de uma autarquia ou de uma fundação pública é o serviço público de que a população necessita e que compete ao Estado prestar com exclusividade. 2

Fls. 3 9. A extensão da imunidade recíproca à Empresa de Correios e à Infraero, por decisão do STF, justifica-se também no fundamento da exclusividade na prestação do serviço. A Constituição outorgou à União, com exclusividade, a competência para manter o serviço postal e o correio aéreo nacional e a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária (Constituição, art. 21, incisos X e XII, c). 10. O 3º do art. 150 da Constituição diz que a imunidade recíproca não se aplica ao patrimônio, à renda e aos serviços relacionados com a exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário. Essa restrição visa à preservação da ordem econômica e à observância do princípio da livre concorrência, a indicar que empresa privada não poderia competir com empresa pública que ofereça o mesmo serviço por um preço inferior, porquanto livre de tributos. 11. Os 2º e 3º do art. 150 são mutuamente excludentes: se a exclusividade do serviço público requer a atuação direta do Estado, somente este pode fazê-lo, diretamente ou por intermédio de autarquia ou fundação pública; porém, se o serviço, embora de interesse público, puder ser prestado pelo particular (mediante concessão, permissão ou autorização), a prestação (em regra) ficará a cargo de empresa pública ou privada ou de sociedade de economia mista, que receberá uma contraprestação ou pagamento de preço ou tarifa pelo serviço prestado. 12. Consta do 1º do art. 10 da Lei nº XXX, que a empresa consulente tem patrimônio próprio e autonomia administrativa e financeira. O art. 13 diz que os recursos da empresa provêm, dentre outras fontes, da remuneração que recebe pelo gerenciamento do sistema de transporte (que é cobrada dos transportadores, que podem ser pessoas físicas, jurídicas ou consórcio de empresas), de receitas patrimoniais, do produto de operações de crédito, da remuneração decorrente da prestação de serviços (cujos valores são aprovados pelo Conselho de Administração e disponibilizados aos transportadores), do produto de aplicações financeiras e provenientes de outras fontes, compatíveis com o seu regime jurídico e suas finalidades sociais (inciso XIV). E o art. 15 diz que a empresa poderá participar de outras empresas públicas, cujas atividades sejam relacionadas com o transporte público de passageiros. Não se trata, portanto, de atividade típica de autarquia, mas de empresa pública que exige contraprestação pecuniária pelo serviço que presta. 13. O objeto social da empresa é a gestão do sistema de transporte coletivo, atividade que realiza mediante remuneração (Lei XXX). O regime jurídico sob o qual foi constituída poderia permitir-lhe, se fosse seu interesse, prestar diretamente o serviço de transporte, em igualdade de condições com as demais empresas do setor, porquanto remunerado por tarifa. O inciso II do 1º do art. 173 da Constituição estabelece, para a empresa pública que explora atividade econômica, a sujeição ao regime jurídico próprio de empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários. 3

Fls. 4 14. É certo que a imunidade recíproca só se aplica às unidades federativas e às autarquias e fundações que elas mantêm, e somente em relação às finalidades essenciais destas. O que justifica a imunidade para autarquia e fundação é o fato de que elas atuam como longa manus do Estado, fazendo as vezes deste no atendimento das necessidades da população, sem exigir qualquer contraprestação, tendo como premissa a ação afirmativa de que o Estado deve prover a população dos bens e serviços que só ele pode fornecer. Apenas em situações especiais e circunstâncias específicas é que a empresa pública e a sociedade de economia mista prestam serviços públicos, por determinação constitucional. 15. Ademais, conforme classificação trazida pela própria consulente, ela mais se aproxima de uma empresa pública reguladora (gestora) de serviços públicos do que de empresa prestadora do serviço público de transporte. Trata-se de modelo societário que pode explorar economicamente o serviço público e atuar na sua regulação, o que extrapola o modelo constitucional. As decisões judiciais citadas se restringem às empresas que que foram partes no processo, cada qual com especificidades próprias, por isso não se aplicam ao modelo societário da consulente. 16. Analisando caso semelhante ao da empresa consulente, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) emitiu o Parecer PGFN/CAT nº 1.103, de 7 de julho de 2014, em que justifica a extensão da imunidade recíproca à Empresa de Correios e à Infraero por se tratar de serviços que a Constituição reservou ao domínio do Estado, em regime de monopólio. Citou trechos de decisões proferidas no julgamento do RE 253.472, em que o Ministro Cezar Peluso sustentou que a finalidade da imunidade tributária é restrita à possibilidade de uma entidade ter de receber recursos da outra, mas não nos casos em que os recursos provêm do pagamento de tarifas, preços etc. No voto do Ministro Joaquim Barbosa firmou-se o entendimento de que a imunidade recíproca não abrange patrimônio relacionado com exploração de atividade econômica regida por normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação pelo serviço prestado. O Parecer PGFN/CAT 1.103 que concluiu no sentido de não ser possível reconhecer administrativamente a imunidade trata de empresa pública em que também o caráter regulatório se sobrepõe ao da prestação do serviço público. Em tais casos, conforme se extrai do Parecer, a imunidade não se aplica de forma generalizada, mas apenas à situação específica que se conforma à Constituição. Conclusão 17. Com base no exposto, conclui-se que a imunidade de impostos de que trata o art. 150, VI, a, da Constituição (imunidade recíproca) não se aplica ao patrimônio ou renda de empresa pública que atua na gestão de sistema de transporte coletivo intermunicipal de passageiros, e nem aos serviços que ela presta, que não são exclusivos do Estado, não constituem monopólio estatal e são remunerados na forma da Lei que autorizou sua criação. À consideração superior. 4

Fls. 5 RONAN DE OLIVEIRA De acordo. Encaminhe-se à Coordenação de Contribuições Previdenciárias, Normas Gerais, Sistematização e Disseminação (Copen) e à Coordenação de Tributos Sobre a Renda, Patrimônio e Operações Financeiras Cotir. EDUARDO GABRIEL DE GOES VIEIRA FERREIRA FOGAÇA Chefe da Dinog De acordo. Encaminhe-se à Coordenação-Geral de Tributação. MIRZA MENDES REIS Auditora-Fiscal da Receita Federal do Brasil Coordenadora da Copen CLAUDIA LUCIA PIMENTEL MARTINS DA SILVA Auditora-Fiscal da Receita Federal do Brasil Coordenadora da Cotir Ordem de Intimação Aprovo a Solução de Consulta. Publique-se no Diário Oficial da União e na internet, na forma dos incisos I e II, respectivamente, do art. 27 da Instrução Normativa RFB nº 1.396, de 16 de setembro de 2013. Dê ciência à entidade consulente. FERNANDO MOMBELLI Coordenador-Geral de Tributação 5