A Dinâmica do Mercado de Trabalho na Região Norte

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Transcrição:

A Dinâmica do Mercado de Trabalho na 1985-1997 José M. Varejão e Anabela Carneiro* Do ponto de vista do desempenho do mercado de trabalho na, o período 1985-1998 pode ser dividido em três sub-períodos a que correspondem duas fases de expansão do emprego, entre 1985 e 1992 e após 1997, e uma fase de crescimento acentuado do desemprego, entre 1993 e 1996. Ao longo de todo este período, que corresponde a um ciclo completo, a taxa de desemprego apresenta na, como no, um comportamento claramente cíclico, sem que se observem sinais óbvios de aumento do desemprego estrutural. Apesar do aumento registado entre 1993 e 1996, o nível de desemprego não chegou nunca a atingir, na, como, aliás, no resto do País, os níveis observados noutros países, não tendo ultrapassando no seu valor máximo o nível de 7%. Para o bom desempenho da taxa de desemprego neste período contribui, pelo menos parcialmente, o comportamento cíclico da taxa de actividade que traduz a importância do efeito de desencorajamento. O afastamento do mercado de trabalho de indivíduos desencorajados pela dificuldade de encontrar um emprego, reflectida no aumento da duração média do desemprego e no consequente aumento da proporção de desempregados de longa duração, funciona de facto, dentro de certos limites, como uma forma de reduzir a pressão no mercado de trabalho em momentos em que a procura de trabalho é particularmente insuficiente. Embora, globalmente e em termos relativos, a taxa de desemprego seja baixa na, tal não significa que não ocorram valores elevados no seu interior. A análise do desemprego ao nível das NUTS III revela, de facto, que em duas regiões no Ave e, sobretudo, no Grande Porto o desemprego atinge valores consideravelmente superiores à média da Região (Figura 1). * Faculdade de Economia do Porto e CETE. Este texto é uma síntese de um trabalho mais alargado elaborado pelos autores para a Comissão de Coordenação da Região do Norte que aguarda publicação. Não é seu objectivo proceder a uma análise aprofundada das determinantes da evolução do emprego e desemprego na Região do Norte no período objecto de estudo, mas, tão só, identificar as principais tendências, inclusivamente ao nível intra-regional. 3

Figura 1. Indicadores do Mercado de Trabalho - NUTS III 7 Média RN 6,5 6 Grande Porto Taxa de Desemprego (%) 5,5 5 4,5 4 3,5 Douro Alto Trás-os-Montes Tâmega Ave Minho-Lima Cávado Média RN 3 Entre Douro e Vouga 2,5 2 42 44 46 48 50 52 54 56 Taxa de Actividade (%) Fonte: INE - Inquérito ao Emprego (1998) Mas, não são apenas as regiões que apresentam valores elevados para a taxa de desemprego aquelas que suscitam preocupação. São conhecidas as limitações da taxa de desemprego, por si só, enquanto indicador da situação do mercado de trabalho. As regiões do Douro e, sobretudo do Alto Trás-os-Montes, são, a este respeito, exemplares. Nestas regiões, baixas taxas de desemprego coexistem com baixas taxas de actividade e, no caso do Alto Trás-os-Montes, diminuição do emprego em valor absoluto. 1 A evidência disponível sugere que o desencorajamento e as migrações podem ser aqui um sucedâneo (e uma consequência) do desemprego que, só por isso, não tem, nestas regiões, uma expressão quantitativa maior. No mesmo período, verificaram-se alterações significativas nos comportamentos de actividade e inactividade. Assinalam-se, nomeadamente, a redução forte e sustentada da taxa de actividade dos jovens e o reforço da taxa de actividade feminina. Note-se, porém, que enquanto que o comportamento da taxa de actividade feminina corresponde apenas à consolidação de uma tendência já longa cujos efeitos principais foram produzidos, sobretudo, antes do início do período aqui considerado, a evolução da taxa de actividade dos jovens traduz um comportamento novo que está associado a uma permanência mais longa dos jovens nos sistemas de ensino e formação. Apesar de estas tendências de longo prazo serem em ambos os casos dominantes, é visível nestes dois grupos, mas sobretudo no caso dos jovens, uma certa sensibilidade da taxa de actividade à evolução da conjuntura que, aliás, contribui decisivamente para que o mesmo padrão seja observado globalmente. Do lado do emprego ocorreram várias alterações de grande significado. Por um lado, as tendências demográficas e socioeconómicas não deixaram, naturalmente, de se manifestar no mercado de trabalho sob as formas de envelhecimento e feminização do emprego. Por outro lado, assistiu-se a uma profunda alteração quer da estrutura sectorial do emprego, quer da sua estrutura empresarial. 1 No Douro, o emprego só não diminuiu devido ao aumento do emprego agrícola. 4

Em termos quantitativos, de acordo com o Inquérito ao Emprego, o emprego aumentou na entre 1985 e 1997. O aumento foi particularmente acentuado nas regiões do Tâmega e do Cávado. As regiões do Ave e do Grande Porto foram as mais penalizadas pela recessão iniciada em 1993. Na região de Alto Trás-os-Montes, o Inquérito ao Emprego regista uma redução de 6.5% do emprego entre 1995 e 1997. Quadro 1. Fluxos Brutos de Emprego* (%) Ε GEXP PCONT GNASC PMORT Ε GEXP PCONT GNASC PMORT 1986 1987 1988-0.1 2.6 3.8 6.3 8.4 9.6 5.6 5.5 5.3 5.0 5.2 6.3 5.8 5.5-1.9 0.3 2.3 6.2 8.0 9.4 6.3 6.2 4.6 4.8 6.0 5.8 6.2 1992 1993 1994 1995 1996 Média Dv. Pad. -0.9-5.1-6.3-1.9-3.6-1.4 3.5 6.6 6.3 8.9 8.4 8.7 7.9 1.3 7.3 9.3 10.4 8.4 8.5 7.5 1.9 5.9 4.8 8.0 5.8 5.4 5.8 1.0 6.1 12.8 7.7 9.2 7.6 2.4-0.2-5.1-8.0-2.7-2.9-2.3 3.0 7.1 9.8 9.2 9.8 8.3 1.4 8.0 10.3 11.9 9.9 9.7 8.7 2.1 6.8 5.4 8.6 6.0 6.1 6.0 1.3 6.1 7.1 14.5 8.0 9.1 8.0 2.9 Nota: Todos os sectores. Em termos qualitativos, regista-se, desde logo, a acentuada perda de importância do sector secundário e, em particular, da indústria transformadora cujo emprego total diminuiu mesmo em termos absolutos. 2 No quadro 1 apresentam-se os fluxos brutos de emprego relativos aos anos de 1986 a 1988 e de 1992 a 1996 calculados a partir dos dados dos Quadros de Pessoal, para todos os sectores de actividade. 3 Globalmente, os resultados indicam também uma redução líquida do emprego para o conjunto das unidades que foi possível classificar em termos de nascimentos, mortes e permanências. Mais importante, os resultados obtidos indicam que a evolução negativa do emprego neste período resultou exclusivamente de um saldo negativo entre o emprego criado pelos novos estabelecimentos (5.8%) e o emprego destruído pelos estabelecimentos que abandonaram a actividade (7.6%) já que o emprego no conjunto dos estabelecimentos que permaneceram em actividade aumentou (0.4%), em termos líquidos, durante o período (Quadro 1). Note-se, porém, que o saldo negativo de emprego associado às entradas e saídas de estabelecimentos não resulta de um déficit de criação líquida de estabelecimentos na Região Norte relativamente à média nacional, mas sim de uma desigual distribuição de nascimentos e mortes por escalões de dimensão. Enquanto que os novos estabelecimentos têm uma dimensão média reduzida (4 trabalhadores, em média, por estabelecimento), os grandes estabelecimentos estão, claramente, sobrerepresentados no conjunto dos estabelecimentos que abandonam a actividade. Por isso, também a estrutura empresarial do emprego se alterou substancialmente durante o período. Em 1997, 39.5% dos indivíduos empregados na Região Norte trabalhavam em estabelecimentos com menos de 20 trabalhadores, tendo a dimensão média dos estabelecimentos diminuído substancialmente (veja-se quadro 2). A análise subregional (figura 2) confirma este mesmo resultado e indica que foi na região do Ave que se registou a maior redução na dimensão média dos estabelecimentos (de 30.1 para 13.4 trabalhadores por estabelecimento). * Os valores mais elevados obtidos para os fluxos brutos de emprego no ano de 1994 podem resultar do facto de, a partir desse ano, os dados serem relativos a Outubro de cada ano e não a Março. Devido a essa alteração, os valores apresentados para 1994 não correspondem, de facto, a um período de 12 mas de 18 meses. 2 De acordo com os Quadros de Pessoal, a indústria transformadora registou, entre 1991 e 1997, uma perda de cerca de 50 000 empregos. 3 Para uma definição dos fluxos brutos de emprego consulte-se o Apêndice, página 16. 5

Figura 2. Dimensão Média dos Estabelecimentos 35 30 Nº de trabalhadores por estabelecimento 25 20 15 10 1985 1991 1997 5 0 Minho-Lima Cávado Ave Grande Porto Tâmega Entre Douro e Vouga Douro Alto Trás-os- Montes Quadro 2. Emprego Total, por Classe de Dimensão dos Estabelecimentos (%) 1985 1991 1997 1985 1991 1997 0-19 trabalhadores 26.2 30.4 39.5 28.9 33.5 42.4 20-49 trabalhadores 16.8 18.7 19.0 16.8 17.8 17.4 50-99 trabalhadores 12.5 13.5 13.0 11.9 13.0 12.0 100-499 trabalhadores 26.7 24.4 20.2 25.5 23.4 19.4 500 ou + trabalhadores 17.8 13.0 8.4 16.8 12.3 8.8 Emprego Total (milhares) 685.9 842.0 871.8 1 836.1 2 159.6 2 267.7 Dimensão Média dos Estab. 17.7 14.7 10.6 15.7 13.1 9.6 6

Uma análise dos fluxos brutos de emprego por sectores de actividade a 1 dígito da CAE (Quadro 3) evidencia mais uma vez a evolução desfavorável do emprego industrial. No entanto, deve assinalar-se que outros sectores, ainda que com menor peso na estrutura do emprego da Região, apresentam uma evolução bem mais negativa. É o caso da indústria extractiva, do sector da electricidade, gás e água, bem como do sector de transportes, armazenagem e comunicações. Quadro 3. Fluxos Brutos de Emprego, por Sectores, (%) Ε GEXP PCONT GNASC PMORT 1. Agricultura, Silv. e Pesca 2. Indústria Extractiva 3. Indústria Transformadora 4. Electricidade, Gás e Água 5. Construção e Obras Públicas 6. Comércio, Rest. e Hotéis 7. Transp. Armaz., e Comunicações 8. Bancos e Seguros 9. Serviços à Colectividade 0.1-7.0-2.4-9.4 0.8 0.8-6.5 0.3 0.7 10.4 10.7 6.6 9.9 12.5 8.9 6.4 10.1 8.7 10.0 12.0 6.4 11.4 12.0 8.3 8.9 9.9 5.5 9.9 5.4 4.2 0.5 9.1 9.3 2.8 7.0 6.1 10.2 11.1 6.7 8.4 8.7 9.2 6.8 8.6 Nota: Médias anuais relativas ao período 1986/96. Em matéria de emprego, a alteração positiva mais significativa que se registou ao longo de todo o período analisado ocorreu ao nível da estrutura de habilitações escolares que melhorou substancialmente. Verificou-se uma tendência clara e crescente de reforço dos níveis superiores de habilitações em detrimento dos mais baixos e, em particular, dos escalões correspondentes ao primeiro ciclo do ensino básico ou menos. Em 1985, aproximadamente 70% dos trabalhadores empregados possuíam o primeiro ciclo do ensino básico ou menos, enquanto que em 1997 esse valor era apenas de 45% (Fonte: DETEFP - Quadros de Pessoal). Embora menos pronunciado, é também nítido o aumento da quota de trabalhadores com habilitações ao nível do ensino superior. Todas as sub-regiões da conheceram uma evolução positiva da estrutura do emprego segundo o nível de habilitações escolares (figura3) e qualificações. É, no entanto, claro que as regiões que apresentam ganhos relativos menos significativos são as do Ave, do Entre Douro e Vouga e do Douro, tendo inclusivamente esta última agravado a sua posição relativamente às restantes regiões. Pelo contrário, a região do Minho-Lima foi a que mais progrediu neste domínio (a percentagem de trabalhadores empregados com um nível de instrução igual ou inferior ao primeiro ciclo do ensino básico diminuiu de 68% para 37% do emprego total). 7

Figura 3. Proporção de Trabalhadores cuja habilitação escolar não ultrapassa o 1º ciclo do ensino básico, por NUTS III 90 80 70 1985 % 60 50 40 1997 30 20 10 0 Minho-Lima Cávado Ave Grande Porto Tâmega Entre Douro e Vouga Douro Alto Trás-os- Montes A evolução geral do emprego na Região Norte foi acompanhada por um aumento moderado da incidência de formas atípicas de emprego (quadro 4). Apesar disso, esta tendência foi menos marcada na do que no. Em 1997, os contratos de trabalho a termo são a forma mais frequente de trabalho atípico representando, na Região Norte, 13.6% do emprego total (14.3% no ). No entanto, medida em termos de stocks, a importância deste tipo de contrato é, claramente, subavaliada. Ainda em 1997, os contratos a termo representaram 64.4% (64.7%) do total dos novos contratos celebrados na () e 42.0% (46.7%) do total de contratos extintos. Quadro 4. Incidência dos Contratos de Trabalho Atípicos (%) Emprego Contrato Permanente Contrato a Prazo Outros Entradas Contrato Permanente Contrato a Prazo Outros Saídas Contrato Permanente Contrato a Prazo Outros 1992 1997 1992 1997 85.4 12.9 1.7 42.3 52.5 5.2 61.4 36.5 2.2 83.9 13.6 2.5 26.8 64.4 8.7 50.4 42.0 7.6 83.6 14.2 2.3 33.6 60.2 6.2 53.9 42.4 3.8 82.3 14.3 3.3 24.8 64.7 10.5 43.6 46.7 9.7 Fonte: DETEFP - Inquérito ao Emprego Estruturado (cálculos próprios) 8

Consistente com este facto, verifica-se também que a mobilidade do emprego e dos trabalhadores na é inferior à que se observa no (Quadro 5). De facto, a magnitude dos fluxos (de emprego e de trabalhadores) registados na é claramente inferior à média do que é, já de si, baixa se comparada com os valores disponíveis para outros mercados de trabalho. 4 Acresce que uma comparação entre a taxa de rotação do emprego e a taxa de rotação de trabalhadores revela que é também menor, na, o número de trabalhadores que entram ou saem de um estabelecimento, por cada emprego criado ou destruído (em termos líquidos) nesse estabelecimento. A criação e destruição de postos de trabalho é a principal causa dos movimentos de trabalhadores entre estabelecimentos a taxa de rotação do emprego corresponde a cerca de 55% da taxa de rotação de trabalhadores o que é contrário ao que se regista na generalidade dos países para os quais se dispõe de informação comparável. Quadro 5. Fluxos de Emprego e Trabalhadores Taxa de Criação de Emprego (TCE) Taxa de Destruição de Emprego (TDE) Taxa de Rotação do Emprego (TRE) Taxa de Entrada de Trabalhadores (TET) Taxa de Saída de Trabalhadores (TST) Taxa de Rotação de Trabalhadores (TRT) 1.4 2.2 3.6 2.9 3.6 6.6 1.7 2.5 4.2 3.5 4.2 7.7 Nota: Médias trimestrais para o período compreendido entre o primeiro trimestre de 1991 e o terceiro trimestre de 1998. Fonte: DETEFP - Inquérito ao Emprego Estruturado (cálculos próprios) Neste período, a evolução do emprego descrita foi acompanhada por um aumento moderado dos salários reais na (2.8% segundo dados dos Quadros de Pessoal). Mais uma vez, verifica-se, porém, que a evolução no interior da Região foi muito diferenciada, só se verificando ganhos significativos de salários (em termos absolutos e relativos) no Grande Porto e no Entre Douro e Vouga (figura 4). Aliás, quer no Douro, quer no Alto Trás-os-Montes, verificou-se um agravamento do diferencial (desfavorável) de salários em relação à média da Região que, em menor grau, ocorreu também no Tâmega. O caso do Tâmega deve ser salientado já que, sendo a sub-região da onde os salários médios são mais baixos, se afastou ainda mais, durante este período, da média regional. 4 Para uma definição dos fluxos de emprego e de trabalhadores, consulte-se o Apêndice, página 16. 9

Figura 4. Níveis Médios de Salários, por NUTS III (RN = 100) 120,0 110,0 100,0 90,0 1985 80,0 1991 70,0 1997 60,0 50,0 Minho-Lima Cávado Ave Grande Porto Tâmega Entre Douro e Vouga Douro Alto Trás-os- Montes Uma comparação da com o em matéria de indicadores salariais (quadro 6 e figura 5), indica sistematicamente uma situação menos favorável ao Norte, que, não só apresenta níveis salariais médios inferiores, como também sinais mais fortes da incidência de salários baixos e, consequentemente, maiores disparidades salariais. Em 1985, 65.4% dos trabalhadores da auferiam um salário inferior ao salário médio nacional, sendo esse valor de 75.5% em 1997. Por outro lado, a análise da distribuição dos salários (Figura 5) revela que, em média, se verificou um reforço da concentração do emprego em empresas de altos e baixos salários. Em 1997, 9.7% dos trabalhadores da Região trabalhavam em empresas situadas na base da escala salarial (8.8% em 1985) e 27.9% em empresas no topo da escala salarial (26.6% em 1985). Aliás, menores salários médios parecem ser ainda, particularmente em algumas regiões onde o emprego apresentou um crescimento muito forte, um factor importante da evolução do emprego e do desemprego no Norte, assim como contrapartida de uma maior estabilidade do emprego. A título de conclusão, embora não se possa estabelecer uma relação directa entre a magnitude dos fluxos observados no mercado de trabalho e a incidência do desemprego, menos fluxos de criação de emprego significam que um menor número de trabalhadores são recrutados em cada período para preencher os novos postos de trabalho e, portanto, menores oportunidades de emprego para os indivíduos que, em cada período, chegam ao mercado de trabalho. Aliás, a maior incidência de desempregados à procura do primeiro emprego e de longa duração na é consistente com a informação relativa à magnitude dos fluxos no mercado de trabalho. Por outro lado, a maior estabilidade do emprego na Região em conjunto com o facto de os salários médios serem aqui menores indicia a existência de um compromisso entre aumentos salariais e estabilidade do emprego que no Norte parece ser particularmente favorável à estabilidade do emprego. 10

Figura 5. Distribuição dos Salários Médios 45,0% 40,0% 1985 35,0% 30,0% 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% 45,0% 40,0% 1º 2º 3º 4º 5º Quintis 1997 35,0% 30,0% 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% 1º 2º 3º 4º 5º Quintis Quadro 6. Indicadores Salariais 1985 1991 1997 % Trabalhadores com Salário 55,7 62,0 65,8 Inferior ao Salário Médio da Região % Trabalhadores com Salário Inferior ao Salário 65,4 72,2 75,5 Médio Nacional % Trabalhadores com Salário Igual ou Inferior ao n.d. n.d. 9,6 Salário Mínimo Nacional Fonte: DETEFP - Inquérito ao Emprego Estruturado (cálculos próprios) 11

APÊNDICE Definições a) Ganhos por Nascimentos (GNASC): mede o número de empregos criados no período t, por todos os estabelecimentos que são registados pela primeira vez em t e cujos trabalhadores têm uma antiguidade média igual ou inferior a dois anos; b) Ganhos por Expansão (GEXP): mede o número de empregos criados entre os períodos t-1 e t, por todos os estabelecimentos cujo nível de emprego aumentou durante esse período; c) Perdas por Contracção (PCONT): mede o número de empregos destruídos entre os períodos t-1 e t, por estabelecimentos cujo nível de emprego diminuiu durante esse período; d) Perdas por Mortes (PMORT): mede o número de empregos destruídos no período t, por todos os estabelecimentos que estavam em actividade no período t-1, mas não estavam presentes no período t e seguintes; e) Ε: corresponde à variação líquida de emprego; Ε= GNASC+GEXP-PMORT-PCONT f) Taxa de Rotação do Emprego (TRE): mede o número de empregos criados e destruídos durante o período (em proporção do emprego médio nesse período); é, portanto, uma medida da intensidade da reafectação de postos de trabalho entre estabelecimentos; TRE = GNASC + GEXP + PMORT + PCONT TRE=TCE+TDE g) Taxa de Criação de Emprego (TCE): mede o número de empregos criados por todos os estabelecimentos cujo nível de emprego aumentou durante o período, em proporção do emprego médio nesse período; TCE=GNASC+GEXP h) Taxa de Destruição de Emprego (TDE): mede o número de empregos destruídos por todos os estabelecimentos cujo nível de emprego diminuiu durante o período, em proporção do emprego médio nesse período; TDE=PMORT+PCONT i) Taxa de Entrada de Trabalhadores (TET): mede o número de trabalhadores que foram admitidos (ou readmitidos) na empresa/estabelecimento ao longo do período, relativamente ao emprego médio nesse período; j) Taxa de Saída de Trabalhadores (TST): mede o número de trabalhadores que abandonaram a empresa/estabelecimento ao longo do período (por despedimento ou qualquer outro motivo), relativamente ao emprego médio nesse período; k) Taxa de Rotação de Trabalhadores (TRT): mede o número de trabalhadores que foram admitidos ou abandonaram a empresa/estabelecimento ao longo do período, relativamente ao emprego médio nesse período: TRT=TET+TST. Nota: Todos os fluxos são expressos em termos de taxas que resultam da divisão de cada um daqueles indicadores pelo emprego médio no período (E), ou seja, por: E E it + E 2 1 it = 12