A PENHORA ON LINE NO DIREITO BRASILEIRO: GARANTIA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL



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Transcrição:

A PENHORA ON LINE NO DIREITO BRASILEIRO: GARANTIA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL Júlia Carolina Insaurriaga dos Santos Pós-Graduada em Direito Processual Civil pela ABDPC- Academia Brasileira de Direito Processual Civil Especialista em Direito do Trabalho e Processual do Trabalho Advogada RESUMO Este trabalho apresenta uma nova forma de ato de constrição judicial, qual seja, a penhora on line. Inicialmente, para a compreensão desse novo procedimento, aborda-se algumas generalidades em torno do processo executório, como conceito, finalidades e viabilidade da execução. Em seguida, defini-se o ato de penhora, a penhorabilidade e impenhorabilidade de bens e os limites da afetação. Faz-se menção ao Convênio Bacen-Jud e à sua versão atualizada, o Bacen-Jud 2.0, ambos firmado entre o Banco Central do Brasil e órgão do Poder Judiciário, objetivando a implantação do sistema de constrição de valores on line para satisfação dos créditos do exeqüente. Analisa-se, por fim, o surgimento da penhora on line no Direito Processual brasileiro e sua normatização no Código de Processo Civil por meio da Lei 11.382/2006 e enfrenta-se as controvérsias acerca da legalidade e da inconstitucionalidade da nova forma de penhora. Visa-se questionar e refletir sobre as vantagens e as desvantagens desse novo sistema que revolucionou a Justiça do país. INTRODUÇÃO

A Justiça brasileira é marcada pela burocracia dos procedimentos judiciais nas execuções, tendo em vista a lentidão e a ineficácia das medidas adotadas para a satisfação dos créditos. Justamente visando combater a demora da fase executória, as fraudes à execução e resgatar a credibilidade do Judiciário, os órgãos do Poder Judiciário, aproveitando-se dos avanços tecnológicos ocorridos na seara da informática, firmaram um convênio, junto ao Banco Central do Brasil, denominado Bacen-Jud, para introduzir a penhora on line no direito processual brasileiro, a fim de propiciar maior celeridade e efetividade no cumprimento das execuções. Com o Convênio, surge um meio mais rápido e eficaz para o cumprimento das ordens judiciais, rompendo com a burocracia existente, permitindo uma maior agilidade e eficácia do procedimento constritivo e diminuindo o insucesso das diligências. É uma evolução ocorrida no Judiciário A razão do presente trabalho é demonstrar que a implantação do sistema da penhora on line introduzido no Direito brasileiro trouxe diversos benefícios à Justiça, solucionando inúmeros problemas ocorridos no processo e na fase de execução que a moderna medida não consiste em novas regras à execução, mas sim em alterações na forma de concretização da penhora, inexistindo, logo, desrespeito ou qualquer tipo de ofensa as normas jurídicas. São enfrentadas as críticas realizadas após a assinatura do Convênio, esclarecendo a forma como é utilizada a penhora on line pelos magistrados e como ela está positivada no Código de Processo Civil.

Objetiva-se, por fim, demonstrar a inexistência de inconstitucionalidade e ilegalidade da nova forma de contrição de dinheiro e derrubar os argumentos contrários à aplicação da penhora on line. 1.GENERALIDADES ACERCA DA EXECUÇÃO A execução consiste em uma seqüência de atos capazes de constranger aquele que figura como devedor de um título executivo, seja ele judicial ou extrajudicial, a cumprir sua obrigação. Por suceder o processo de conhecimento, a execução tem dois objetivos principais: realizar medidas no intuito de fazer valer o cumprimento da decisão condenatória proveniente ou não de acordo realizado entre as partes e homologado pelo juiz ou oriundo de título extrajudicial e tornar concreta a satisfação do crédito pertencente ao exeqüente transferindo os bens patrimoniais do executado ao credor. Tendo em vista que nem sempre a sentença condenatória oriunda de processo de conhecimento é cumprida voluntariamente pelo devedor, o Estado não esgota totalmente a tutela jurisdicional declarando tão-somente o direito do vencedor da demanda. Para proteger a ordem pública e o equilíbrio das relações sociais, o Estado, norteado por normas e princípios estabelecidos pelo ordenamento

jurídico, deve aplicar as regras e mandamentos por ele mesmo fixados, com o fito de manter o direito já declarado e, paralelamente, causa menor onerosidade e danos ao devedor da obrigação, garantindo, dessa forma, o equilíbrio e a estabilidade jurídica. Somando-se todos esses atos para a concretização e implantação dos referidos objetivos unidos por um conjunto complexo de procedimentos tem-se a execução de sentença ou a execução de título extrajudicial. Logo, a execução de sentença ou de título extrajudicial é um procedimento pelo qual o titular do crédito pode se utilizar com a finalidade de assegurar o cumprimento do conteúdo decisório (título judicial) ou, o comando do título extrajudicial. Por meio dela, torna-se viável a satisfação de uma obrigação, seja ela de fazer, de não fazer, de dar ou de pagar. É de grande importância conhecer a forma de condenação a que o executado se sujeita. Porém, para se dar início à fase de execução é imprescindível a existência de um título executivo judicial ou extrajudicial por ser a base de toda a via executiva e que, por si só, dá direito à execução. Sem ele, inadmissível será a execução judicial, por se tratar de condição necessária e suficiente para promovê-la. O artigo 586 do Código de Processo Civil dispõe que para ser viável a cobrança de um crédito é fundamental, além do inadimplemento da obrigação por parte do devedor, a liquidez, a certeza e a exigibilidade do título, pois ele, por si só, não apresenta tais qualidades, não bastando apenas a sua denominação legal. Se assim não fosse, o órgão judicial não teria elementos prévios capazes de garantir o início da atividade executiva, gerando completa

indefinição em torno da existência e dos limites do direito de crédito contido no título, ocasionando incerteza jurídica. Título líquido é aquele que indica a quantia exata que pode ser passível de execução; título certo é aquele cuja validade não resta dúvida, sendo plenamente eficaz e; título exigível que, por não mais depender de termo, condição ou qualquer outra espécie de limitação, é completo e perfeito, permitindo sua execução. Outrossim, o título deve conter características capazes de permitir ao magistrado concluir pela inexistência de adimplemento da obrigação e pela seu cumprimento, uma vez que a ausência de satisfação do crédito é um requisito material do título. Destarte, presentes os requisitos essenciais à execução do crédito nasce para o legitimado do direito de ingressar com o processo de execução (quando extrajudicial o título) ou, para o juiz o dever de impulsionar a fase de execução, a fim de dar efetividade ao cumprimento da obrigação, autorizando a lei a prática de atos expropriatórios e de constrição dos bens do devedor, respondendo este por seus débitos. Deve a execução ter utilidade para o exeqüente, não se admitindo atos que não se prestem para esse fim, bem como não se admite atos capazes de causarem danos ao devedor. 2. PENHORA ON LINE 2.1 O ATO DE PENHORA

Antes de adentrar no objeto principal de estudo do presente trabalho, qual seja, a penhora on line, é necessário tecer alguns comentários gerais sobre o que é, efetivamente, o ato de penhora. A penhora é o primeiro ato por meio do qual o Estado coloca em prática o processo de expropriação executiva, sendo esse ato fundamental para o começo da execução. Esse ato é ordenado pelo juiz em que se apreende e se deposita bens do executado para, futuramente, serem adjudicados, 1 ou ainda, serem arrematados judicialmente ou alienados por iniciativa particular 2 e, assim, efetivar a satisfação do crédito. Em regra, o procedimento da penhora consiste, primeiramente, na nomeação de bens à penhora pelo devedor no prazo de três dias, após sua citação, consoante o art. 652 do Código de Processo Civil. Realizada a penhora dos bens nomeados pelo executado, lavrar-se-á o seu termo em cartório, assinado pelo próprio devedor, ou seu advogado, iniciando-se o prazo para oferecer os embargos. Se, porventura, o devedor não nomear bens à penhora no prazo estabelecido, competirá ao credor indicar quais bens do executado recairá a constrição. Deixando o exeqüente de indicar bens, competirá ao Magistrado realizar a penhora que deverá ser cumprida pelo Oficial de Justiça. 1 A nova redação do art. 647 do CPC, dada pela Lei nº 11.382/06, a adjudicação passou a ser a primeira forma de expropriação que consiste no recebimento do bem penhorado pelo exeqüente, sendo descontado o valor da execução do valor da coisa. É, portanto, uma forma de pagamento do débito executado, pelo qual há direta transferência de patrimônio do devedor ao credor. A adjudicação só pode ser requerida após a avaliação do bem penhorado e não pode o exeqüente oferecer preço inferior ao da avaliação. O mesmo direito, segundo o parágrafo 2º do citado artigo, pode ser exercido pelo credor com garantia real, pelos credores concorrentes que tenha penhorado o mesmo bem, assim como pelo cônjuge, pelos descendentes ou ascendentes do executado, 2 Também acrescido pela Lei n 11.382/06, o art. 685-C revela a possibilidade de ser realizada a alienação dos bens penhorados por iniciativa particular do próprio exeqüente ou por meio de um corretor credenciado pelo Poder Judiciário, cuja atividade é fiscalizada pelo magistrado. Difere-se da adjudicação, pois somente o exeqüente tem legitimidade para requerê-la.

Efetuada a constrição, os bens do executado são apreendidos e colocados sob a guarda de um depositário, a fim de, futuramente, serem expropriados. Tão logo seja realizada a penhora, será lavrado o respectivo auto. Como a penhora é um ato de afetação, de destinação, a responsabilidade patrimonial que é, até então genérica, sofrerá individualização. Haverá uma apreensão física, direta ou indireta, de uma parcela certa e específica do patrimônio do executado. Assim, o principal objetivo da execução, que é a função pública de satisfazer o crédito, será concretizado. Logo, inúmeros efeitos ocorrem quando da efetivação da penhora, gerando alteração jurídica na situação do bem objeto da constrição. O executado não perde a propriedade do bem quando realizada a penhora, mas está impedido de praticar qualquer ato que venha prejudicar a execução ou desvalorize o bem afetado. O devedor perde a disponibilidade dos bens objetos da penhora e ficando com responsabilidade limitada, a qual fica restrita aos bens em que recai o ato. No entanto, existem limitações legais estabelecidas no Código de Processo Civil, vedando, além do excesso de penhora, a execução de determinados bens do patrimônio do devedor. Tal idéia se funda no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, o qual determina que a execução não deve levar o executado a uma situação incompatível com a dignidade humana, 3 deixando o executado desprovido de bens, levando-o à ruína. 3 Lopes da Costa apud Humberto Theodoro Júnior,. Curso de Direito Processual Civil, 2004, p. 181.

Para efetivar a prática da constrição é de fundamental importância seguir a ordem preferencial de bens estabelecida no artigo 655 do Código do Processo Civil, 4 alterada pela Lei nº 11.382/06. Porém, não é todo e qualquer bem do devedor que pode ser objeto de afetação judicial, conforme os artigos 648 e 649 ambos do Código de Processo Civil, os quais tratam dos bens absolutamente impenhoráveis. Tal situação está amparada pelo princípio da menor onerosidade para o devedor na execução, devendo os efeitos da penhora gravar o executado o mínimo possível não podendo o processo executório causar a fome, a ruína, o desabrigo do executado e de sua família, gerando situações incompatíveis com o princípio da dignidade da pessoa humana. Por outro lado, o Código de Processo Civil, em seu artigo 650, esclarece a possibilidade de serem penhorados, à falta de outros bens, os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia. Trata-se, portanto, de uma hipótese de bens relativamente impenhoráveis. Por sua vez, a Lei nº 8.009/90 dispõe sobre o bem de família legal, trazendo em seu artigo 1º as hipóteses de impenhorabilidade, a qual não exige a prática de ato jurídico pelo devedor e nem de registro para se consolidar a referida impenhorabilidade. A idéia é proteger a pessoa de ter o mínimo de patrimônio e não apenas o bem de família. Entretanto, em seus art. 3º e 4º traz ressalvas à garantia da impenhorabilidade 4 A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: I dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; II veículos de via terrestre; III bens móveis em geral; IV bens imóveis; V navios e aeronaves; VI ações e quotas de sociedades empresárias; VII percentual do faturamento de empresa devedora; VIII pedras e metais preciosos; IX títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em mercado; X títulos e valores mobiliários com cotação em mercado e; XI outros direitos.

Por fim, é importante mencionar os limites do ato de penhora. Nos termos do artigo 658 do Código de Processo Civil, a penhora deverá incidir em tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal atualizado, juros, custas e honorários advocatícios, isto é, atinge-se o patrimônio do devedor até onde seja necessário, respeitando aqueles bens protegidos pela impenhorabilidade. Alcançando o valor devido, não se procederá mais a penhora. Em suma, não pode ser a penhora excessiva e nem inútil. 2.2 SURGIMENTO DA PENHORA ON LINE E O SISTEMA BACEN JUD Como já mencionado anteriormente, a gradação legal de bens a serem destinados à penhora está prevista no artigo 655 do Código de Processo Civil, devendo os bens destinados à garantia do juízo seguir a ordem de preferência só aceitando os subseqüentes se não houver os que antecedem a relação. A jurisprudência, porém, tem entendido que não tem caráter rígido a ordem legal de penhora estabelecida na lei, sendo autorizada a alteração de acordo com as peculiaridades do caso concreto, assim como pelo interesse das partes. Com efeito, a lei consagra que, pela ordem legal, a penhora deve recair sobre dinheiro, pois tem maior liquidez, fazendo com que a execução atinja o seu objetivo principal de forma mais rápida, qual seja, o de satisfazer o crédito. Na prática, entretanto, não é isso que ocorre. Na maioria das vezes, o executado nomeia bens móveis ou imóveis para garantir o juízo, sendo que essa nomeação nem sempre é aceita pelo exeqüente. Ou, ainda, o devedor

quedando-se silente deixa de nomear bens à penhora, com o fim de esquivar-se de sua obrigação ou, oculta os bens pertencentes ao seu patrimônio, protelando mais ainda a execução. Isso transforma a execução em um procedimento lento, moroso trazendo grandes prejuízos ao credor. Diante disso, o magistrado determinava a expedição de ofícios ao Banco Central do Brasil solicitando informações acerca da existência de contas bancárias em nome do devedor. Em caso positivo, o Banco Central determinava ao banco depositário que remetesse ao juiz as informações necessárias, ou seja, o número das contas e os valores respectivos. De posse desses dados, o juiz ordenava a penhora de dinheiro em montante suficiente para satisfação do crédito do credor. Por essa razão, o Poder Judiciário sentiu a necessidade da implantação de um sistema capaz de romper com a burocracia dos procedimentos judiciais da execução, a fim de dar agilidade aos trâmites processuais e garantir a satisfação dos créditos inadimplidos pelo devedor. Com avanço tecnológico verificado principalmente no campo da informática permitiu a introdução no mundo jurídico de um sistema que permite a penhora virtual, sanando partes dos problemas ligados à execução. Esse instrumento objetiva dar maior agilidade e credibilidade à prestação jurisdicional, garantindo o cumprimento das decisões judiciais, uma vez que minimiza a burocracia existente nos procedimentos de penhora em dinheiro. Sob o fundamento da referida lei, o Banco Central do Brasil, no ano de 2001 firmou convênio com o Superior Tribunal de Justiça e com o Conselho da Justiça Federal e, posteriormente, em 2002, com o Tribunal Superior do

Trabalho, a fim de os magistrados Federais e Estaduais utilizassem a penhora on line de valores para aplicarem nos processos que são de suas competências. Nasce, portanto, o sistema Bacen Jud, de penhora on line, instituído por meio de convênio de cooperação técnico-institucional firmado entre o Banco Central e o Judiciário, cujo objetivo consiste em reduzir a morosidade das execuções. De acordo com o Banco Central do Brasil, o Bacen Jud trata-se de um sistema de solicitação de informações via internet que possibilitou enviar, de maneira mais rápida, segura e econômica, ordens ao Sistema Financeiro Nacional. 5 O juiz de direito, por meio de uma senha cadastrada, preenche um formulário na internet, requerendo informações importantes ao processo. O Bacen Jud, por sua vez, remete de forma automática as ordens judiciais aos bancos, reduzindo, assim, o tempo de tramitação e o custo com recursos humanos e materiais. Cada Tribunal possui um gestor de senha denominado Master - que distribui senhas individuais a todos os juízes de primeiro grau. O primeiro sistema a ser utilizado foi o denominado Bacen Jud 1.0 em 2002. Frente ao aperfeiçoamento do sistema e das novas necessidades do Poder Judiciário, o Banco Central, em conjunto com os representantes dos Tribunais Superiores e entidades de classe do Sistema Financeiro nacional, desenvolveram um novo sistema: o Bacen Jud 2.0. 6 5 Brasil. Banco Central do Brasil. Disponível em: HTTP://www.bcb.gov.br/?BCJUDINTRO acessado em 25/02/2009. 6 Brasil. Corregedoria Geral de Justiça de Santa Catarina. Disponível em: http://cgj.tj.sc.gov.br/bacen/material/convenio_stj_02.pdf acessado em 25/02/09.

O Bacen Jud 2.0 implantado em dezembro de 2005, traz funcionalidades sobre bloqueio, desbloqueio, transferência de valores para a conta de depósito judicial e controle, pelo próprio magistrado, das respostas emitidas pelas instituições financeiras. Essa foi a grande inovação desse aplicativo, inexistente no sistema anterior. É nessa fase que os arquivos contendo as ordens judiciais são encaminhas aos bancos. Após sua implementação, foram firmados convênios com o Tribunal Superior do Trabalho, Superior Tribunal de Justiça/Conselho de Justiça Federa e Superior Tribunal Militar e termos de adesão com todos os 24 Tribunais Regionais do Trabalho, os 5 Tribunais Regionais Federais e 26 Tribunais de Justiça Estaduais. A penhora em dinheiro é a melhor maneira de satisfazer o direito de crédito, uma vez não necessita utilizar procedimentos de conversão de bem móvel ou imóvel em dinheiro, reduzindo a demora e custos de atos. Com essa modalidade, é possível ao credor penhorar a quantidade necessária à satisfação de seu crédito. Diante das facilidades inseridas pelo Bacen Jud e de sua adesão pelo Poder Judiciário, o inciso I do art. 655 do Código de Processo Civil, com nova redação inserida pela Lei nº 11.382/2006, passou a prever expressamente a possibilidade de penhora de valores quando em depósito ou aplicação em instituição financeira, findando com a idéia tinha anterior de que o devedor era obrigado indicar à penhora apenas dinheiro em espécie. Trata-se, portanto, da previsão legal da penhora on line. Além disso, o art. 655-A, também incluído pela Lei nº 11.382/2006, possibilitou ao exeqüente requer ao magistrado que requisitasse à autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico,

informações sobre ativo em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor determinado na execução Tal previsão fez com que o ônus de diligenciar acerca de existência de conta em nome do executado e o local onde estariam depositados os valores não recaísse sobre o credor, reduzindo, assim, a demora na satisfação do crédito. Não resta dúvida que o sistema Bacen Jud diminuiu a burocracia da execução e os gastos decorrentes dela, pois a expedição de ofícios e as notificações por meio do correio, por exemplo, deixam de ser utilizadas, tornando mais céleres os procedimentos judiciais. Substitui-se o papel pelo computador e o correio pela internet e, efetivamente, a ordem é cumprida pelo órgão que requereu a determinação. Ademais, permitiu melhor aproveitamento no quadro dos servidores da Justiça, pois antes era necessário um grande número de pessoas disponíveis para cumprir as diligências em toda a parte do país. Atualmente, é possível cumprir as determinações judiciais com maior eficácia e com poucas chances de insucesso. Antes da implantação do sistema Bacen Jud muitas fraudes à execução eram praticadas pelos os executados com o auxilio dos gerentes das agência bancárias. Quando o juiz solicitava informações às instituições financeiras sobre a existência de conta e valores de propriedade do executado, o gerente da agência bancária alertava previamente o cliente da possibilidade do bloqueio de dinheiro pelo Poder Judiciário Isso permitia que o correntista retirasse os valores existentes em sua conta antes que o bloqueio fosse realmente efetivado, hipótese que configura fraude à execução.

Diante de tais fatos, objetivando orientar os magistrados sobre os procedimentos a serem utilizados, a fim de tornar o Bacen Jud mais eficaz Provimento nº31/06 da Corregedoria-Geral da Justiça 7 permitiu o imediato bloqueio dos valores de contas correntes dos devedores. O Bacen Jud evita com que os juízes tenham de solicitar informações diretamente às agências bancárias sobre eventual existência de conta bancária em nome dos devedores, impedindo, dessa forma, o extorno dos valores, reduzindo, conseqüentemente a prática de fraudes contra a execução. Um grande inconveniente era gerado pelo sistema Bacen Jud: bloqueavam-se diversas contas da mesma empresa simultaneamente e, às vezes, contas com valores além do necessário. Para acabar com esse problema, o Provimento nº31/06 da Corregedoria-Geral da Justiça, em seu artigo 6º, autoriza a qualquer pessoa física ou jurídica solicitar ao Procurador- Geral de Justiça o cadastramento de conta única apta a acolher bloqueios on line realizados por meio do Sistema Bacen Jud. Porém, a pessoa física ou jurídica que optar pela indicação de conta única, permitindo o bloqueio on line, deverá mantê-la com quantidade suficiente de recursos. Do contrário, o bloqueio recairá sobre outras contas. Entretanto, caso a empresa não faça o cadastramento correrá o risco de sofrer bloqueio em várias contas de sua propriedade. 7 Brasil. Corregedoria Geral de Justiça de Santa Catarina. Disponível em: http://cgj.tj.sc.gov.br/bacen/normas/provimento_tjrs.htm. acessado em 25/02/2009

Interessante esclarecer, que com o antigo sistema Bacen Jud de 2002, ocorrendo a constrição de várias contas o devedor deveria requerer ao juiz o desbloqueio dos valores em excesso. Deferido o pedido, o Judiciário emitia um ofício determinando o desbloqueio de contas penhoradas em demasia, entregando ao executado. Este, por sua vez, deveria encaminhar o documento ao Banco Central do Brasil solicitando a medida, tornando o ato do desbloqueio extremamente moroso e prejudicial à parte. Mas, com a evolução do procedimento do Bacen Jud no ano de 2005 denominado Bacen Jud 2.0 é possível que as contas bloqueadas em excesso possam ser desbloqueadas com muita rapidez, pois o Convênio prevê na cláusula primeira, parágrafo primeiro o desbloqueio via Bacen Jud. No entanto, após a assinatura do Convênio Bacen Jud e da implantação da penhora on line no Judiciário muitas divergência surgiram acerca da legalidade e da constitucionalidade do novo sistema, além de resistência à utilização desse instrumento. 2.3 CONTROVÉRSIAS ACERCA DA LEGALIDADE E DA CONSTITUCIONALIDADE DA PENHORA ON LINE Não resta dúvida que o sistema da penhora on line introduzido no ordenamento jurídico brasileiro trouxe inúmeros benefícios ao poder judiciário, solucionando diversos problemas referentes à execução, bem como propiciou maior confiabilidade e rapidez no cumprimento das decisões judiciais.

Todavia, o sistema vem sofrendo inúmeras críticas no tocante à legalidade e a constitucionalidade da nova forma de constrição. Muitos almejam a exclusão da penhora on line nos procedimentos executórios, argumentando tratar-se de uma prática que onera e prejudica o devedor. No que tange à inconstitucionalidade, há entendimentos de que o referido sistema fere os direitos previstos no artigo 5, incisos X 8 e XII 9 da Constituição Federal de 1988, por ocorrer quebra do sigilo bancário. Argumenta-se que o magistrado, por ter acesso plenos às contas de propriedade de uma pessoa, teria conhecimento dos valores nelas existentes quando do recebimento das informações por meio do sistema Bacen Jud. Em primeiro lugar, não existe óbice à quebra de sigilo bancário por determinação do juiz, tendo em vista a lei complementar n 105/01, artigo 3º, autorizando ao Banco Central, à Comissão de Valores Mobiliários e às instituições financeiras a fornecerem informações ordenadas pelo Poder Judiciário. Em segundo, na penhora on line a quebra do sigilo não acontece, pois as informações obtidas e que vem aos autos dizem respeito apenas à existência de conta bancária em nome do devedor e se há créditos disponíveis, sem a necessidade de saber sobre as movimentações bancárias ou como tais valores foram disponibilizados, conforme se extrai da análise do art. 655 A, 1º, ao estabelecer que as informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o valor indicado na execução. 8 Art. 5, X da CF: São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. 9 Art. 5, XII da CF: é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.

Outrossim, se a penhora não for efetivada por ausência de valor suficiente a garantir a execução será comunicado ao magistrado a impossibilidade do bloqueio, não havendo qualquer informação sobre o saldo de conta e eventuais lançamentos do devedor. Além disso, uma vez realizada a penhora on line não há como saber se a quantia está amparada pela impenhorabilidade prevista no artigo 649, inciso IV 10. Desta feita, uma vez concluído o ato de penhora, caberá ao executado, no prazo fixado pelo juiz, comprovar que as quantias depositadas em conta corrente referem-se à hipótese do inciso IV do caput do art. 649 ou que estão revestidas por outra forma de impenhorabilidade, consoante o disposto no artigo 655-A do Código de Processo Civil. Destarte, insustentável a alegação de inconstitucional aduzida, haja vista que o conteúdo das informações enviadas ao juiz é limitado, descaracterizando qualquer tipo de violação aos direitos contidos nos artigos 5, incisos X e XII da Lei Fundamental. Outro ponto motivo de controvérsia, diz respeito ao princípio da menor onerosidade ao devedor, previsto no artigo 620 do Código de Processo Civil. Alguns aduzem que o sistema atinge o referido o referido princípio, pois na nova modalidade de penhora há o bloqueio de várias ou, às vezes, de todas as contas do executado, tornando a execução mais gravosa. Argumentam que, mesmo havendo o bloqueio de conta disponível, poderia acarretar a insolvência 10 Art. 649 CPC. São absolutamente impenhoráveis: (...) IV os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal (...)

do devedor, pois impossibilitaria o pagamento de salários de seus empregados e, inclusive, ocasionaria dificuldades ao bloqueado de saldar seus compromissos, gerando desequilíbrio e instabilidade jurídica. Tal argumento não prospera, pois não se pode admitir que o exeqüente receba um bem insuscetível de venda em hasta pública ou a ele seja oferecido bens inidôneos à penhora. Por isso, deve-se dar preferência à penhora de valores, fazendo valer o princípio do meio idôneo e impossibilitar ao devedor a oportunidade de postergar a satisfação do direito do exeqüente Outros se rebelam contra a penhora on line argüindo a criação de novas normas para o processo de execução e por essa razão afrontaria o artigo 22 da Carta Constitucional, cuja redação consagra ser de competência privativa da União legislar sobre direito processual, bem como o artigo 48, também da Carta Maior, o qual trata das atribuições do Congresso Nacional. Por conseguinte, haveria violação à independência dos três poderes, prevista no artigo 2º da Constituição Federal. Na verdade, o sistema não cria novas regras à execução, pois não se está legislando sobre o processo, mas apenas utilizando os recursos oferecidos pela informática para acelerar as ações executórias, dinamizando a penhora com o auxilio do Banco Central e da tecnologia. Não desrespeito e nem ofensa à legislação processual, ao contrário, respeita-se a ordem cronológica de bens, a qual determina a constrição de dinheiro, uma vez que este precede a qualquer outro bem de propriedade do devedor, nos termos do artigo 655 do Código do Processo Civil.

Inclusive, a Constituição Federal, visando combater a demora na entrega da prestação jurisdicional, prevê em seu artigo 5, inciso LXXVIII 11 o princípio da razoabilidade que assegura a todos no âmbito judicial e administrativo a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. O antigo procedimento utilizado para constrição de valores consistia no deslocamento do oficial de justiça à agência bancária tornando o processo ainda mais demorado. Com o novo método, a ordem de bloqueio determinada pelo juiz é emitida diretamente ao Banco Central e não mais às instituições financeiras. Isso evita que o gerente da agência bancária avise previamente de eventual bloqueio de conta, reduzindo a possibilidade de fraudes à execução. A burocracia é substituída pelos benefícios da informática. Mudou, apenas, a forma de realização do ato da penhora, não havendo qualquer tipo de infração à lei, ou seja, a alteração sofrida pelo procedimento foi no sentido de agilidade e rapidez no ato de penhora de dinheiro. O convênio apenas possibilitou que as determinações judiciais de constrição de valores dirigidas às entidades bancárias fossem realizadas de forma mais veloz. Substitui-se o oficial de justiça e os ofícios pelo computador e pela internet, executando-se a constrição por meio eletrônico. Assim, não há invasão de competência, posto que inexista intervenção de um poder sobre o outro, permanecendo intacta a independência dos três poderes. Logo, infundada a alegação de transgressão das atribuições do Congresso Nacional. 11 A Emenda Constitucional n 45/04 incluiu entre os direitos e garantias fundamentais o princípio da razoabilidade.

Logo, não cabe desqualificar o sistema, porque no procedimento tradicional de penhora de dinheiro é possível acontecer o mesmo problema existindo remédios jurídicos próprios para a correção, tais como: Mandado de Segurança, Agravo de Petição e Embargos à Penhora. Portanto, o sistema da penhora on line visa a celeridade e o cumprimento das decisões judiciais e é essa a razão de sua existência. Não se pode mais admitir que o exeqüente, credor de um título executivo extrajudicial ou vencedor da demanda leve anos para receber valores reconhecidos pelo judiciário pelo fato de haver dificuldades em encontrar bens do devedor passíveis de constrição. O novo procedimento de constrição de valores é uma grande mudança inserido pelo Poder Judiciário capaz de proporcionar rapidez no recebimento dos créditos, sendo inaceitável retira-lo do rol de atos processuais. Além disso, importante destacar que o direito à penhora on line é decorrência imediata do direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva, ou seja, o direito de ação (direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva) tem como conseqüência o direito ao meio executivo adequado à tutela do direito material 12. Destarte, a penhora on line torna-se a principal forma executiva de constrição de valores, não podendo ser negada ao exeqüente, sob pena de violação ao direito fundamental do credor CONCLUSÃO 12 Luiz Guilherme Marinoni; Sérgio Cruz Arenhart. Curso de Processo Civil: Execução. 2007, p. 273

O Convênio Bacen-Jud, firmado entre o Banco Central e o Poder Judiciário, que introduziu a penhora on line no Direito pátrio é um forte instrumento capaz de combater a morosidade dos procedimentos executórios. Sem dúvida, o Convênio possibilitou a diminuição da burocracia dos processos, tornando mais célere o cumprimento das decisões judiciais e, ao mesmo tempo, resgatou a credibilidade no Poder Judiciário. Todavia, muitos, contrários ao Convênio, insurgiram-se à aplicação da penhora on line defendendo a sua abolição do Direito brasileiro. Argumentam que o novo sistema fere a independências dos três poderes, viola o princípio da menor onerosidade ao devedor na execução e o sigilo bancário do executado. Como todo novo procedimento, a penhora on line apresenta algumas falhas e carece de aperfeiçoamento. Entretanto, tais motivos não possuem o condão de desqualificar o novo sistema. Por isso, os referidos argumentos não devem prosperar, pois os que defendem a inconstitucionalidade e a ilegalidade da penhora on line são aqueles que se beneficiam com a demora na entrega da prestação jurisdicional, protelando mais ainda o pagamento das dívidas inadimplidas. Com a nova forma de constrição de dinheiro torna-se mais difícil de o devedor trabalhista burlar os comandos legais. A penhora on line é utilizada de acordo com os preceitos constitucionais, processuais e civis, bem como em consonância com os princípios basilares do processo de execução. Não se está legislando sobre processo do trabalho e inexiste nova modalidade de execução. A alteração sofrida foi no sentido de modificar a forma de se efetivar o ato de penhora, antes cumprida pelo oficial de justiça e que agora é realizada por meio eletrônico.

É um meio extremamente seguro para o devedor, credor e para o Estado, pois garante a entrega da prestação jurisdicional com maior credibilidade e agilidade. Ademais, a utilização da informática para efetuar as contrições em dinheiro por meio eletrônico onera menos o Estado e reduz o número de processos em fase de execução. Assim, consuma-se a desburocratização dos atos processuais Com a regulamentação desse novo sistema na legislação processual civil, introduzida pela Lei nº 11.382/06, evita-se abusos e excessos praticados por qualquer das partes, solucionando dúvidas acerca da penhora on line. Com a inserção novo ato de constrição na norma jurídica brasileira, os devedores não mais podem mais invocar a ausência de normatização para impedir a aplicação da penhora on line e, conseqüentemente, postergar o adimplemento de suas obrigações. A penhora on line é inegavelmente uma extraordinária inovação para garantir a celeridade e resgatar a confiança no Poder Judiciário. A medida, sem dúvida alguma, trouxe avanços excepcionais e modernos ao processo de execução. Por meio dela, garante-se a entrega da prestação jurisdicional de forma mais rápida, propiciando equilíbrio nas relações jurídicas e a satisfação dos créditos reconhecidos pela justiça. Extinguir essa nova modalidade de constrição implica no retrocesso da Justiça brasileira em benefícios aos maus pagadores. BIBLIOGRAFIA

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