Desalogenação redutiva de organoclorados utilizando ferro elementar

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Transcrição:

Desalogenação redutiva de organoclorados utilizando ferro elementar 1 2 Tatiana Langbeck de Arruda ; Wilson de Figueiredo Jardim RESUMO A desalogenação de compostos organoclorados foi avaliada objetivando a remediação de águas subterrâneas. Utilizou-se um sistema redutivo com ferro elementar e uma amostra de água subterrânea de um poço de monitoramento instalado na Usina Química de Cubatão da Rhodia, onde a concentração de alguns compostos atingia valores de até 400 mg L -1, sendo monitorada a degradação de dez compostos majoritários. Foram utilizadas colunas de vidro preenchidas com ferro granulado, observando-se reduções significativas para a maioria dos compostos. A cinética de degradação observada foi de pseudo primeira ordem em relação ao contaminante e dependente do tempo de residência da amostra na coluna. ABSTRACT The dehalogenation of chlorinated compounds was evaluated aiming the remediation of groundwater. A reductive system using zero valent iron (ZVI) and a groundwater sample from Rhodia s Cubatão Chemical Plant were used, where the concentration of chlorinated compounds reached up to 400 mg L -1 each. Ten major compounds were selected to be monitored during the process. A glass column packed with granulated iron was used, where markedly reductions were achieved for most compounds. The degradation kinetics followed a pseudo first order reaction in respect to the contaminant, and was dependent on the sample residence time in the column. Palavras-Chave ferro elementar, remediação, compostos clorados 1 Centro de Pesquisas de Paulínia, Rhodia Poliamida & Especialidades Ltda. Fazenda São Francisco s/nº 13140-000 Paulínia SP, Brasil. Fone: (19) 3874-8570, FAX: (19) 3874-8594; e-mail: tatiana.arruda@br.rhodia.com 2 Departamento de Química Analítica, Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas Cidade Universitária "Zeferino Vaz", CP 6154 13084-862 Campinas SP, Brasil. Fone/FAX: (19) 3788-3135; e-mail: wfjardim@iqm.unicamp.br XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 1

1- INTRODUÇÃO A contaminação de águas subterrâneas por compostos químicos tem se agravado nas últimas décadas, o que leva ao constante interesse da sociedade civil, legisladores e de pesquisadores por tecnologias capazes de abater tais poluentes [1]. Os métodos não-destrutivos, como por exemplo a adsorção sobre carvão ativado, promovem apenas a transferência de fase do contaminante e acabam gerando um passivo de difícil disposição. Do outro lado, encontram-se os métodos destrutivos tais como os POA (Processos Oxidativos Avançados), que envolvem a geração de radicais altamente reativos, como por exemplo, os radicais hidroxila ( OH), capazes de oxidar contaminantes orgânicos, gerando substâncias inócuas tais como a água, o gás carbônico e íons inorgânicos [2] ou ainda, transformá-los em compostos intermediários mais biodegradáveis [3]. Apesar dos POA serem uma alternativa de tratamento bastante promissora, os compostos halogenados reagem lentamente com os radicais hidroxila, sendo a reação de eliminação para essas espécies muito mais rápida quando as etapas iniciais do processo de degradação são redutivas e não oxidativas [4]. Isso significa que o ferro elementar aparece como uma ferramenta poderosa na remediação de águas contaminadas com compostos clorados. 2- SITUAÇÃO ATUAL E OBJETIVO DO TRABALHO As águas subterrâneas, que hoje, são tratadas pela RHODIA via um sistema de adsorção em leitos de carvão ativado, operam de acordo com o fluxograma de blocos a seguir (Figura 1): Tanque de Equalização Ajuste de ph Filtros Cartuchos Colunas de adsorção Água Tratada Figura 1: Fluxograma de blocos do sistema de tratamento por carvão ativado A água tratada retorna ao ambiente de acordo com o estabelecido pelo CONAMA (2005) [5] enquanto os leitos de carvão (após saturação) partem para incineração. Portanto, o principal objetivo deste trabalho foi buscar um tratamento destrutivo alternativo para as estações de tratamento de água subterrânea da Rhodia que operam com leitos de carvão ativado. XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 2

3- REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Reagente de Fenton (H 2 O 2 /Fe 2+ ou H 2 O /Fe 3+ ) 2 Os estudos de degradação de compostos orgânicos por peróxido de hidrogênio (H 2 O 2 ) em solos e águas subterrâneas, foram inicialmente testados para os derivados de petróleo naftaleno, fenantreno, pireno, fenóis e mais tarde, para os solventes clorados como, por exemplo, PCE, TCE [6]. No entanto, o peróxido de hidrogênio sozinho não é um bom oxidante para a maioria dos compostos orgânicos. A combinação de H 2 O 2 com sais de ferro (reagente de Fenton) gera radicais hidroxila, que possuem alto poder oxidante [7]. HO 2 2 + 2+ - 3+ Fe OH + Fe + OH (1) H 2 O 2 + 3+ Fe H + + Fe 2+ + O2H (2) 3.2 Desalogenação Redutiva com Ferro Elementar (Ferro de Valência Zero) O par redox formado pelo ferro metálico em seu estado elementar, Fe 0, e a forma aquosa dissolvida, Fe 2+, tem um potencial padrão de redução de 0,440V. 2+ 0 Fe + 2 ē Fe (3) Isto faz do ferro elementar um poderoso agente redutor para uma variedade de substâncias entre elas, íons hidrogênio, carbonato, sulfato, nitrato e oxigênio. Haletos de alquila também podem ser reduzidos pelo ferro. Na presença de um doador de prótons, como por exemplo, a água, eles podem sofrer desalogenação redutiva [8]: RX + 2 ē + H + RH + X - (4) O potencial padrão de redução para a semi-reação acima varia entre +0,5 a +1,5V em ph 7,0. Assim, a diferença de potencial entre as reações 3 e 4 indica um favorecimento termodinâmico sob uma variedade de condições. A reação abaixo, por exemplo, mostra a oxidação do ferro com um haleto de alquila. 0 Fe + RX + H + Fe 2+ + RH + X - (5) XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 3

4- PARTE EXPERIMENTAL 4.1 Ensaio Redutivo com Recirculação Foram realizados ensaios de redução visando à destruição de inúmeros contaminantes de interesse. O sistema com recirculação era composto por uma coluna de vidro preenchida com ferro elementar e um reservatório com capacidade para 1 L de amostra. Figura 2: Foto ilustrativa do sistema redutivo de destruição com reciclo da amostra 4.2 Ensaio Redutivo com Passagem Única Um segundo tipo de ensaio com ferro foi realizado. Neste sistema a amostra tinha passagem única, em diferentes vazões, por uma coluna de vidro preenchida com ferro. As amostras eram retiradas em função do volume de poro que passava pela coluna. Figura 3: Foto ilustrativa do sistema redutivo de destruição com passagem única XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 4

4.3 Análises de acompanhamento realizadas Carbono orgânico total (COT) determinado seguindo-se a metodologia padrão ISO 8245 (1999) [9], utilizando-se um analisador de carbono orgânico total Shimadzu TOC-5000. Cloreto (íon conservativo e traçador da destruição dos compostos clorados) determinado por potenciometria, utilizando titulador automático Metrohm 682 Titroprocessor e também, por cromatografia iônica (Dionex). Ferro (padrão de lançamento para o rio e padrão de potabilidade Portaria 518 MS, 2004 [10]) determinado por ICP OES (Espectrômetro de Emissão Óptica com Plasma Acoplado Indutivamente). Compostos organoclorados determinados por Cromatografia Gasosa com detetor de captura de elétrons. 5- RESULTADOS E DISCUSSÕES O primeiro ensaio de recirculação, realizado a 2,8 ml min -1 revela que o tratamento foi efetivo para praticamente todos os compostos presentes nesta amostra (Tabela 1). Em uma vazão duas vezes superior (5,6 ml min -1 ), observa-se que o regime de escoamento é importante no tratamento com ferro elementar (Tabela 2). Cabe descrever que o volume de poro da coluna era de 39% e foi determinado experimentalmente. Tabela 1: Concentração dos compostos organoclorados no segundo ensaio com ferro elementar realizado a 2,8 ml min -1 Concentração de Organoclorados (μg L -1 ) Tempo CHCl 3 CCl 4 C 2 HCl 3 + C2Cl4 C2Cl6 C4Cl6 C6H 2 Cl4 C6HCl5 C6Cl6 C6Cl 5 OH (horas) C 3 H 6 Cl 2 0 91908 277388 2536 40126 1257 537 < 0,5 125 532 1670 6 43755 369 179 2007 < 0,1 142 < 0,5 38 26 670 12 30988 117 112 984 < 0,1 83 < 0,5 34 5 66 18 23769 74 74 582 < 0,1 105 < 0,5 35 7 50 24 13860 15 49 364 < 0,1 97 < 0,5 25 7 11 30 10492 1 34 264 < 0,1 76 < 0,5 25 8 7 XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 5

Tabela 2: Concentração dos compostos organoclorados no terceiro ensaio com ferro elementar realizado a 5,6 ml min -1 Concentração de Organoclorados (μg L -1 ) Tempo CHCl3 CCl4 C2HCl 3 + C2Cl4 C2Cl6 C4Cl6 C6H 2 Cl4 C6HCl5 C6Cl6 C6Cl 5 OH (horas) C 3 H 6 Cl 2 0 65139 325814 2983 48934 2380 3158 384 650 3161 1453 3 87301 757 1008 12012 < 0,1 1001 108 79 64 202 6 78396 312 696 7253 < 0,1 838 97 83 25 43 9 42882 122 349 3242 < 0,1 420 57 71 23 36 Para alguns compostos, foi notado uma reação de pseudo primeira ordem em relação ao substrato [8];[11], reação esta que começa a se desviar desse comportamento, provavelmente pelo aumento da passivação da superfície do ferro [12]. Alguns autores relatam que em experimentos realizados com ferro, a lavagem do mesmo com solução diluída de HCl fornece uma descloração mais rápida, visto que esse procedimento resulta em uma superfície limpa, mais bem definida e reprodutível. Nos ensaios com passagem única testaram-se quatro vazões de tratamento, a saber: 100 ml min -1, 39 ml min -1-1 -1, 10 ml min e 1 ml min, sendo as amostras retiradas em função do volume de poro que passava pela coluna, neste caso 1, 10 e 100 vezes o volume de poro, além da amostra inicial. Os resultados revelam que esse processo é limitado pela cinética da reação, uma vez que à medida que o tempo de residência aumenta, as taxas de degradação melhoram (Figura 4). Dessa maneira, é possível determinar o tempo de residência ótimo em função do objetivo que se quer alcançar, ou seja, onde se pretende chegar em termos de concentração final. 70 60 REMOÇÃO DE COD NOS ENSAIOS REDUTIVOS COM PASSAGEM ÚNICA % DE REDUÇÃO 50 40 30 20 10 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 TEMPO ESPACIAL (ml min -1 ) Figura 4: Porcentagem de remoção de COT nos ensaios de degradação redutiva com passagem única XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 6

6- CONCLUSÃO O uso de ferro elementar como elemento redutor em amostras reais de água subterrânea contaminada com organoclorados apresentou bons resultados, com reduções acima de 99% para a maioria dos compostos avaliados (tetracloreto de carbono; tricloroetileno; tricloroetano; hexacloroetano; hexaclorobutadieno; tetraclorobenzeno; pentaclorobenzeno; hexaclorobenzeno e pentaclorofenol), exceto para o tetracloroetileno e o clorofórmio, que se mostraram bastante recalcitrantes. A cinética de degradação observada foi de pseudo primeira ordem em relação ao contaminante e dependente do tempo de residência da amostra na coluna. Cálculos realizados com base nas Estações de Tratamento de Águas Subterrâneas da Rhodia estimam ganhos de até R$ 3 milhões frente ao processo atual de adsorção em carvão ativado. Dados experimentais mostram que o processo redutivo apresenta um custo-benefício bastante atrativo frente às tecnologias convencionais de transferência de fase. Com base nestes dados, conclui-se que o ferro elementar é uma tecnologia emergente bastante promissora no tratamento de compostos clorados. Evidentemente há que se investigar mais detalhadamente algumas figuras de mérito como o tipo de ferro empregado, tempo de contato, produtos de corrosão, longevidade das colunas e/ou barreiras contendo ferro, bem como análises econômicas, as quais são caso-específicas. XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 7

7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] SATO, C.; Hartenstein, S. D.; Motes, W. (2001) Photosonolysis of TCA, TCE, and PCE in Flow-Through Reactor System, Journal of Environmental Engineering, vol. 127 (7), p.620-629. [2] LEGRINI, O.; Oliveros, E. Braun, A. M. (1993) Photochemical Processes for Water Treatment. Chemical Reviews, vol. 93 (2), p. 671-698. [3] HIGARASHI, M. M. (1999) Processos Oxidativos Avançados Aplicados à Remediação de Solos Brasileiros Contaminados com Pesticidas, Tese de Doutorado, Instituto de Química, UNICAMP. [4] PEREIRA, W. S.; FREIRE, R. S. (2005) Ferro Zero: Uma Nova Abordagem para o Tratamento de Águas Contaminadas com Compostos Orgânicos Poluentes, Química Nova, vol. 28 (1), p. 130-136. [5] Brasil, Resolução CONAMA Nº 357 de 17 de Março de 2005 - Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Publicação no Diário Oficial da União: 18/03/2005. (Revoga a Resolução CONAMA nº 20, de 18 de junho de 1986). [6] SIEGRIST, R. L.; Urynowicz, M. A.; West, O. R.; Crimi, M. L.; Loew, K. S. (2001) Principles and Practices of In Situ Chemical Oxidation using Permanganate, Battelle Press, 505 King Avenue, Columbus, Ohio, 348p. [7] PERA-TITUS, M.; García-Molina, V.; Baños, M. A.; Giménez, J.; Esplugas, S. (2004) Degradation of Chlorophenols by Means Advanced Oxidation Processes: A General Review, Applied Catalysis B: Environmental, vol. 47, p. 219-256. [8] MATHESON, L. J.; TRATNYEK, P. G. (1994) Reductive Dehalogenation of Chlorinated Methanes by Iron Metal, Environmental Science & Technology, vol. 28, p.2045-2053. [9] ISO 8245:1999 International Standardization for Organization Water Quality. Guidelines for the determination of total organic carbon (TOC) and dissolved organic carbon (DOC). XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 8

[10] Brasil, Portaria nº 518 de 25 de Março de 2004 MINISTÉRIO DA SAÚDE - Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, Distrito Federal, 26 de Março de 2004, Seção 1, p. 266-270. (Revoga a Portaria nº1469, de 29 de dezembro de 2000). [11] SWEENY, K. H.; FISCHER, J. R. (1972) Reductive degradation of halogenated pesticides. U.S. Patent No. 3640821. Feb. 8, 1972. [12] FARRELL, J.; Kason, M.; Melitas, N.; Li, T. (2000) Investigation of the Long-Term Performance of Zero-Valent Iron for Reductive Dechlorination of Trichloroethylene, Environmental Science & Technology, vol. 34(3), p.514-521. XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 9