AVALIAÇÃO DE LINHAGENS AVANÇADAS DE AMENDOIM PARA CARACTERES RELACIONADOS À PRODUÇÃO E TEOR DE ÓLEO Eder Jorge de Oliveira Ignácio José de Godoy Cássia Regina Limonta Carvalho Andréa Rocha Almeida de Moraes RESUMO O amendoim é atualmente mais utilizado no Brasil como produto para confeitaria, onde a extração de óleo é considerada um subproduto desta atividade e, em conseqüência, com baixo rendimento econômico. Entretanto, a disponibilidade de cultivares de amendoim que associem alto potencial produtivo e teores mais elevados de óleo pode tornar a cultura mais competitiva neste segmento de mercado. O objetivo deste trabalho foi o de estudar preliminarmente o potencial de um grupo de linhagens com essas características. Avaliaramse, em dois experimentos, a produtividade em casca, rendimento de grãos após descascamento, peso de 100 grãos e teor de óleo. Os resultados mostraram linhagens com teores de óleo e produtividade acima de 51% e 5400kg/ha, respectivamente, que podem proporcionar a obtenção de até 2240,2 kg de óleo por hectare, ou seja, com potencial para projetos agrícolas envolvendo produção de amendoim também para extração de óleo. Palavras-chave: amendoim, óleo, melhoramento, produtividade 1 INTRODUÇÃO A industrialização do amendoim para a produção de óleo é um elo importante na cadeia produtiva que complementa a utilização deste produto em confeitaria. Entretanto os baixos rendimentos econômicos alcançados pela cultura, ao destinar apenas o excedente da produção para extração de óleo, impõem uma limitação para exploração dessa oleaginosa neste segmento de mercado. A utilização de cultivares com elevado potencial produtivo, maior 1 Eng. Agrônomos, M.S., Pesquisadores do Instituto Agronômico, IAC-SP, C.P. 28. 13001-970, Campinas SP. E-mail: eder@iac.sp.gov.br e andreamoraes@gmail.com 1 Eng. Agrônomo, M.S., PhD. Pesquisador do IAC-SP, E-mail: ijgodoy@iac.sp.gov.br 1 Química, M.S., Pesquisadora do IAC-SP, E-mail: climonta@iac.sp.gov.br 70
rendimento no descascamento e teor de óleo, podem propiciar um aumento significativo no rendimento industrial, tornando o preço final do óleo mais competitivo (Godoy et al., 1999a). As linhagens do tipo Virginia, com grãos do tipo comercial runner, de hábito de crescimento rasteiro são as mais exploradas no melhoramento para obtenção de cultivares de alta capacidade produtiva em culturas mais tecnificadas (Godoy et al. 1999b). O programa de melhoramento genético do IAC vem trabalhando na busca de novos cultivares do tipo comercial runner que associem características favoráveis quanto à resistência a doenças, produtividade e qualidade de grãos para exportação. O cultivar IAC Caiapó foi o primeiro cultivar desenvolvido com estas características. Possui grãos com peso médio entre 50-60 g/100 grãos, média a alta produtividade e resistência parcial e múltipla a doenças foliares, propiciando redução no custo de produção, pela redução do controle químico dessas doenças (Godoy et al., 1999b). O cultivar Runner IAC 886 é considerado de alto potencial produtivo, porém o seu custo de produção tende a ser mais elevado, devido à sua suscetibilidade a doenças, o que requer um rígido esquema de controle químico. Com o crescimento do interesse nacional por fontes de matéria-prima para óleo vegetal, a existência de cultivares de amendoim que associem tanto os caracteres procurados para o mercado de confeitaria como os que levem à maior produtividade em óleo, passa a ser um dos objetivos do melhoramento genético. Assim, este trabalho visa a avaliação preliminar de dezesseis linhagens avançadas do programa IAC, juntamente com os cultivares comerciais IAC Caiapó e IAC Runner 886, para caracteres relacionados à produção e teor de óleo. 2 MATERIAL E MÉTODOS Visando a associação de caracteres favoráveis dos dois cultivares rasteiros descritos, (produtividade, resistência a doenças e melhor granulometria para exportação), efetuaram-se cruzamentos da linhagem L65/3-1 componente do cultivar IAC Caiapó com o cultivar Runner IAC 886, e com um outro acesso do tipo runner, coletado de produtor de amendoim no interior de São Paulo, obtendo-se as sementes F 1 desses cruzamentos e de seus recíprocos. A condução das populações segregantes F 2 e F 3 foi feita no Centro Experimental do Instituto Agronômico em Campinas SP, utilizando-se o método genealógico. Seleções individuais para tipo de vagem e de grãos foram realizadas nas populações F 2. Seleções entre e dentro das famílias F 3 foram efetuadas, visando padrão de vagem e grãos e resistência à doenças (mancha preta e ferrugem). As progênies em F 4 foram plantadas em Pindorama, sem controle de doenças, efetuando-se seleção das melhores para resistência à ferrugem. 71
Destacaram-se dezesseis linhagens F 5, que foram avaliadas em ensaios comparativos preliminares em Pindorama e Ribeirão Preto, ambas em São Paulo, em 2002/2003. Os ensaios compreenderam 18 tratamentos (16 linhagens mais os controles IAC Caiapó e Runner IAC 886), utilizando delineamento em blocos ao acaso com 4 repetições. Cada parcela consistiu de uma linha de 5m com 40 a 50 plantas/linha. As características avaliadas foram produtividade do amendoim em casca, rendimento de grãos após o descascamento, peso de 100 grãos e teor de óleo. As análises de óleo foram feitas por ressonância magnética nuclear (RMN). Foram feitas análises de variância individual para cada ambiente (local) e, após verificação da uniformidade dos quadrados médios entre os dois locais, efetuou-se a análise conjunta para as 4 variáveis consideradas, utilizando o programa Genes (Cruz, 2001). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O resumo das análises de variância individuais de cada caráter é apresentado na Tabela 1. Para o caráter produtividade, houve diferença significativa entre as linhagens a 5% de probabilidade pelo teste F em Pindorama e a 1% em Ribeirão Preto. Para rendimento de grãos, após descascamento, houve diferença significativa a 5% apenas em Pindorama. Já para peso de 100 grãos e teor de óleo, houve diferença significativa a 1% nas duas localidades analisadas. TABELA 1. Resumo das análises de variância individuais das 18 linhagens avaliadas na safra de 2002/2003, em dois ambientes e para quatro caracteres. Caráter Ambiente CV (%) 1 QM 2 (Blocos) QM (linhagens) QM (Resíduo) F Produtividade Ribeirão Preto 9,08 1214341,218 2055187,19 226443,44 9,08** Pindorama 13,37 293337,34 1365894,48 676968,59 2,02* Rendimento Ribeirão Preto 3,97 0,80 8,81 8,188 1,08 Pindorama 4,50 8,98 24,80 11,34 2,18* Peso de 100 Ribeirão Preto 4,81 57,22 103,21 9,17 11,25** grãos Pindorama 4,43 65,41 122,13 7,95 15,35** Teor de óleo Ribeirão Preto 4,51 14,36 12,61 4,85 2,59** Pindorama 2,95 9,71 8,72 2,33 3,74** 1 Coeficiente de variação; 2 Quadrados médios; * e ** significativos a 5 e 1%, respectivamente pelo teste F Com base nestes resultados, é possível fazer seleção neste grupo de linhagens principalmente para os caracteres produtividade, peso de 100 grãos e teor de óleo. Os dados das análises de variância conjunta para os dois ambientes, mostraram que o efeito da interação A x L foi significativo a 1% de probabilidade apenas para o caráter 72
produtividade. O que indica que determinadas linhagens comportam-se diferencialmente nos dois ambientes analisados. Este fato pode ser explicado pela distribuição diferencial de chuvas, bem como de doenças que afetam sobremaneira a expressão do potencial produtivo do amendoim (Godoy et al., 1999b). Na Tabela 2, é mostrado o teste de Duncan a 5% de probabilidade para as médias dos ambientes e repetições para as quatro características avaliadas. Para o caráter produtividade, a diferença entre a linhagem mais produtiva (1-13) e a menos produtiva (1-46), foi de 1480,46 kg. Já para o caráter rendimento de grãos as linhagens 1-27 e a 1-28 apresentaram um diferencial de 6,22%, que é bastante expressivo para culturas de larga escala. TABELA 2. Teste de Duncan, para os valores médios de produtividade em casca, rendimento após descascamento, peso de 100 grãos e teor de óleo de 18 linhagens de amendoim Caracteres avaliados Linhagens Produtividade Rendimento % Peso de 100 Teor de óleo (kg/ha) (peso grãos/peso total) grãos (gramas) (%) 1-13 6270,11 a 73,39 abc 62,00 cd 51,91abc IAC Caiapó 6217,39 ab 72,18 abcd 57,58 e 52,00 abc 1-21 6195,19 abc 74,29 abc 60,56 de 50,39 bcde 1-41 6077,25 abc 73,46 abc 70,50 a 49,88 cde 1-32 5950,99 abcd 73,49 abc 61,14 cd 48,85 e 1-37 5923,24 abcd 75,08 ab 63,50 bcd 49,66 de 1-23 5753,96 abcd 74,01 abc 61,68 cd 51,14 abcd 1-27 5752,58 abcd 75,61 a 70,66 a 51,14 abcd 1-22 5748,41 abcd 73,21 abc 61,48 cd 50,01 bcde 1-25 5727,6 abcd 75,13 a 61,94 cd 50,45 bcde 1-49 5695,69 abcd 72,51 abcd 62,83 cd 50,81 abcde 1-18 5681,81 abcd 73,54 abc 60,90 d 52,14ab 1-44 5491,73 bcde 74,91 ab 71,51 a 49,58 de 1-47 5439,00 cde 74,24 abc 70,36 a 52,75 a 1-7 5294,7 de 70,28 cd 51,18 f 49,11de IAC Runner 886 5268,34 de 75,39 a 66,09 b 48,83 e 1-28 5197,58 de 69,39 d 60,55 de 46,85 f 1-46 4789,65 e 71,1 bcd 64,25 bc 49,01 de 1 Médias seguidas das mesmas letras não diferem estatisticamente a 5% de probabilidade pelo teste de Duncan Para o caráter peso de 100 grãos as melhores linhagens foram (1-44, 1-27, 1-41 e 1-47) com valores superiores ao Runner IAC 886, o melhor controle, indicando o seu potencial diferenciado para os padrões de grãos tipo exportação. Sobressaíram-se em teor de óleo as linhagens (1-47, 1-18, IAC Caiapó, 1-13, 1-27, 1-23 e 1-49). A linhagem que apresentou maior teor de óleo foi a 1-47 (52,75%), superando com pequena margem o IAC Caiapó (52,00%), tido como uma cultivar com alto teor, já disponível no mercado. 73
Embora preliminares, os resultados indicam que é possível a seleção de linhagens com boa produtividade e com alto teor de óleo. Com base nestes dados, podemos selecionar as linhagens 1-47, 1-18, IAC Caiapó, 1-13, 1-27 e 1-23, com teores de óleo e produtividade acima de 51% e 5400kg/ha, respectivamente. Trabalhando com a média das linhagens para as duas características, observa-se uma produtividade de 5852 kg/ha, rendimento médio de grãos de 73,83% e teor médio de óleo de 51,85%. Estes números indicam um potencial para obtenção de 2240,2 kg de óleo por hectare. Não obstante à necessidade de avaliação do custo de produção deste óleo, novas perspectivas podem surgir para a cultura do amendoim como fonte de óleo, seja para alimentação humana ou para outros usos como o biocombustível. Estas linhagens continuarão a ser avaliadas para estas características em um maior número de locais e/ou anos para confirmar o seu potencial. Como elas foram também selecionadas para moderada resistência múltipla à doenças foliares, espera-se que apresentem, como vantagem adicional, a possibilidade de serem cultivadas com redução no custo do controle químico das doenças, como ocorre com o cultivar IAC Caiapó. 4 CONCLUSÕES É possível desenvolver programas de melhoramento visando a obtenção de linhagens de amendoim com elevado potencial produtivo e adequação para o mercado de grãos in natura, e que sejam, ao mesmo tempo, eficientes em produção de óleo, o que pode contribuir para a expansão do seu uso para este segmento agroindustrial, com perspectiva de redução nos custos de produção da matéria-prima para óleo. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CRUZ, C, D. GENES - versão Windows. Editora UFV. Viçosa, MG. 642p. 2001. GODOY, I.J.; MORAES, S.A.; ZANOTTO, M.D.; SANTOS, R.C. Melhoramento do amendoim. In: BORÉM, A. (ed.) Melhoramento de espécies cultivadas. Viçosa, Universidade Federal de Viçosa, 51-94, 1999a. GODOY, I.J.; MORAES, S.A.; SIQUEIRA, W.J.; PEREIRA, J.C.V.N.A.; MARTINS, A;L.M.; PAULO, E.M. Produtividade, estabilidade e adaptabilidade de cultivares de amendoim em três níveis de controle de doenças foliares. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 34:1183-1191, 1999b. 74