SAQUES NAS CONTAS DO FGTS JÁ INJETARAM R$ 7,2 BI NO VAREJO Do total de R$ 16,6 bilhões sacados das contas inativas entre março e abril deste ano, 43% chegaram ao varejo. De acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), os recursos decorrentes dos saques nas contas inativas do FGTS geraram um impacto positivo de R$ 7,2 bilhões nas vendas do comércio varejista brasileiro, nos meses de março e abril deste ano. No acumulado do bimestre, esse valor corresponde a 43% do montante sacado (R$ 16,6 bilhões, segundo informações da Caixa Econômica Federal) e equivale a 6,2% das vendas bimestrais nos segmentos positivamente impactados. Somente no mês de abril, quando foram autorizados os saques para os beneficiários nascidos entre março e maio, foram sacados R$ 11,1 bilhões. Esse montante correspondeu a mais do que o dobro dos R$ 5,5 bilhões informados pela Caixa Econômica Federal em março e elevou em R$ 4,56 bilhões o faturamento do varejo. Somado ao primeiro lote de saques, portanto, o impacto sobre as vendas do comércio varejista totalizou R$ 7,2 bilhões em março e abril. QUADRO 1 VALORES SACADOS DAS CONTAS INATIVAS DO FGTS E IMPACTOS SOBRE O FATURAMENTO DO VAREJO EM MARÇO E ABRIL DE 2017 (R$ bilhões) Naquele bimestre, sete segmentos do varejo foram positivamente impactados pela disponibilidade dos recursos oriundos do fundo. Juntos, os ramos de vestuário e calçados (R$ 2,9 bilhões), hiper e supermercados (R$ 2,0 bilhões) e móveis e eletrodomésticos (R$ 802,5 milhões) responderam por mais de 80% do impacto total sobre as vendas do varejo. 1
QUADRO 2 IMPACTOS DOS RECURSOS SACADOS DAS CONTAS INATIVAS DO FGTS SOBRE SEGMENTOS DO VAREJO EM MARÇO E ABRIL DE 2017 PARTICIPAÇÕES % O estudo da CNC se baseou no comportamento do volume de vendas e dos preços no varejo medidos através da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), em indicadores do mercado de trabalho disponibilizados mensalmente através do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), além do comportamento da concessão de crédito ao consumidor divulgado mensalmente pelo Banco Central. Com altas de 11,6% e 10,7% em relação a março e abril do ano passado, respectivamente, o ramo de vestuário e calçados segue como o mais impactado positivamente, registrando aumentos expressivos no comparativo anual. Esse ritmo de vendas não era percebido por esse ramo do varejo desde os dois primeiros meses de 2010 (+11,9%). Nos hiper e supermercados, a alta de 3,5% em relação a abril de 2016 foi a maior nesse tipo de comparação para os últimos três anos. Já as vendas no ramo de móveis e eletrodomésticos, que haviam se destacado no mês de março, mantiveram-se estáveis (-0,1% na comparação com abril de 2016) no mês seguinte, o que não impediu que esse segmento apurasse, no bimestre em análise, seu melhor resultado também em três anos. 2
QUADRO 3 VARIAÇÕES % DO VOLUME DE VENDAS DO VAREJO EM RELAÇÃO AO MESMO MÊS DO ANO ANTERIOR SEGMENTOS SELECIONADOS Vestuário e Calçados Hiper e Supermercados Móveis e Eletrodomésticos Artigos de Uso Pessoal e Doméstico Fonte: IBGE A recuperação parcial das vendas ao longo de 2017 não se deve, no entanto, exclusivamente ao fator FGTS. Ela se insere em contexto mais amplo de resgate das condições de consumo, caracterizado por quedas sucessivas dos preços médios praticados por alguns segmentos do varejo, além do recuo no valor das prestações nas operações de crédito voltadas para as pessoas físicas nos últimos meses. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), por exemplo, os preços médios dos bens de consumo duráveis apresentaram oito quedas mensais nos últimos nove meses encerrados em maio. Nos últimos 12 meses, esse grupo de produtos acumula variação de preços negativa de -1,4%. A despeito da alta sazonal de preços nos meses de abril e, principalmente, maio, o grupo de bens de consumo semiduráveis, predominantemente formado por itens de vestuário, acumula variação de 2,7% nos últimos doze meses percentual significativamente abaixo daquele observado em maio de 2016 (+6,2%). Na média, o IPCA variou +3,9 % no período. 3
QUADRO 4 VARIAÇÕES % ACUMULADAS EM 12 MESES DOS PREÇOS MÉDIOS DOS BENS DE CONSUMO DURÁVEIS E SEMIDURÁVEIS: MAIO/2016 A MAIO/2017 Bens de Consumo Duráveis Bens de Consumo Semiduráveis Fonte: IBGE De forma complementar à evolução mais favorável dos preços, o recuo no valor médio das prestações de empréstimos e financiamentos contraídos pelas pessoas físicas tem favorecido a reação das vendas em segmentos dependentes das condições de financiamento. De acordo com cálculos realizados pela CNC, considerando-se a taxa e os prazos médios vigentes das operações com recursos destinados às pessoas físicas, houve recuo real de 8,4% no valor médio das parcelas dos empréstimos e financiamentos contraídos nos últimos doze meses. Segundo dados do Banco Central, no acumulado dos últimos doze meses encerrados em abril de 2017, a concessão de crédito com recursos livres às pessoas físicas apresentou avanço de 2,3% em relação ao mesmo período do ano anterior maior taxa em um ano e meio. QUADRO 5 EVOLUÇÃO MENSAL DAS CONCESSÕES DE CRÉDITO ÀS PESSOAS FÍSICAS E SIMULAÇÕES DE PRESTAÇÕES Var.% Acumulada em 12 Meses da Concessão de Crédito às Pessoas Físicas com Ajuste Sazonal Simulações de Prestação Média Real: Empréstimo de R$ 1.000 a preços de Abril/2017 Fontes: IBGE, Banco Central e CNC 4
No bimestre março-abril de 2017, seis dos dez ramos do varejo ainda registraram quedas nos volumes de vendas em relação ao mesmo período do ano anterior. Embora o cenário corrente do setor ainda seja predominantemente negativo, observou-se, nesse período, o menor grau de disseminação de quedas desde o bimestre dez/14-jan/15. Conclui-se, portanto, que, embora os recursos oriundos dos saques nas contas inativas do FGTS venham cumprindo papel relevante na reativação do consumo de bens no Brasil, a recuperação parcial do varejo ao longo de 2017 se insere em um quadro mais amplo de desaceleração dos preços e melhoria das condições de crédito. A consolidação da recuperação do setor como um todo passa, contudo, pela necessária reativação do nível geral de atividade econômica e seus reflexos benignos sobre as condições do mercado de trabalho. 5