EFEITO DA TEMPERATURA DE QUEIMA NAS PROPRIEDADES DE CERÂMICA VERMELHA INCORPORDA COM CHAMOTE

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1 EFEITO DA TEMPERATURA DE QUEIMA NAS PROPRIEDADES DE CERÂMICA VERMELHA INCORPORDA COM CHAMOTE C. M. F. Vieira *, S. S. Teixeira, S. N. Monteiro Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF Laboratório de Materiais Avançados - LAMAV Av. Alberto Lamego 2000, 28013-602, Campos dos Goytacazes, Brazil, * vieira@uenf.br RESUMO Este trabalho tem por objetivo avaliar o efeito da temperatura de queima nas propriedades tecnológicas e microestrutura de uma argila caulinítica incorporada com até 20% em peso de chamote. Foram preparados corpos de prova cilíndricos por prensagem uniaxial a 20 MPa para queima em forno de laboratório de 500 a 1100 o C. As propriedades tecnológicas avaliadas foram: densidade aparente, retração linear, absorção de água e resistência mecânica. Os resultados indicaram que não houve variação significativa nas propriedades avaliadas entre 500 e 900 o C. A partir daí, ocorreu uma redução brusca da porosidade que ocasionou um decréscimo da absorção de água e melhoria da resistência mecânica. A incorporação de 5% de chamote praticamente não alterou as propriedades da argila. Entretanto, foi observado que maiores quantidades de chamote incorporado reduziram a resistência mecânica da argila. Palavras-chave: Cerâmica vermelha, chamote, microestrutura, propriedades, temperatura.

2 INTRODUÇÃO Peças defeituosas provenientes da etapa de queima da cerâmica vermelha podem eventualmente retornar ao processo, após trituração, gerando um resíduo cerâmico conhecido como chamote (1-5). A vantagem principal da adição do chamote é facilitar a etapa de secagem. A morfologia e o tamanho das partículas do chamote promovem um aumento da permeabilidade da peça verde, facilitando a eliminação da água de conformação (6). O chamote pode também melhorar a trabalhabilidade de massas cerâmicas eventualmente muito plásticas e conferir efeitos estéticos desejados na superfície dos produtos. Entretanto, o chamote é geralmente prejudicial à resistência mecânica das peças (2), pois suas partículas inertes dificilmente aderem à matriz tornando-se pontos de concentração de tensão. Entretanto, se o chamote for queimado uma segunda vez, acima de sua temperatura de processamento inicial, as reações e as transformações de sinterização que venham a ocorre podem contribuir para minimizar ou até mesmo eliminar o efeito deletério na resistência mecânica. Em trabalho recente (7) realizou-se a caracterização de um chamote obtido de blocos de vedação produzidos no município de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro. Constatou-se que esse chamote é constituído por partículas lamelares individualizadas extremamente pequenas e por agregado de partículas provenientes com porosidade intragranular. A presença de caulinita é um indicativo de que as temperaturas utilizadas para a fabricação dos blocos de vedação que originaram o chamote foram inferior a 600 o C Em outros trabalhos (8,9) este mesmo chamote foi adicionado em até 20% de peso a uma argila para queima industrial a 970 o C, típica temperatura para a produção de telhas cerâmicas em Campos dos Goytacazes. Os resultados indicaram que o incremento da incorporação de chamote promoveu uma redução da retração linear de secagem da argila devido à diminuição de água de conformação. Nas propriedades de queima foi observado que a incorporação de chamote praticamente não alterou a absorção de água e a resistência mecânica das peças. Este resultado foi atribuído as reações de sinterização que ocorreram no chamote sob temperaturas acima de 600 o C. Tendo em vista o efeito térmico sobre o chamote, o objetivo deste trabalho foi investigar a influencia da temperatura de queima, entre 500 e 1100 o C, nas

3 propriedades de argila caulinítica de Campos dos Goytacazes incorporadas com chamote. As argilas investigadas são comumente utilizadas tanto para a fabricação de blocos de vedação quanto para a obtenção de telhas prensadas. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Para a realização deste trabalho foram utilizados chamote e argila, ambos provenientes do município de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro. O chamote foi obtido da trituração e peneiramento em malha de abertura de 840 µm (20 mesh) de blocos de vedação. A Figura 1 apresenta a distribuição de tamanho de partícula do chamote. Observa-se que o chamote apresenta uma curva de tamanho de partícula relativamente bem distribuída com tamanho médio de 160,1 µm. A argila é predominantemente caulinítica, apresentando baixo percentual de óxidos fundentes, elevado teor de alumina e perda ao fogo de 10,20 (8). Foram preparadas quatro composições: uma de argila pura (A) e três com incorporação de chamote de 5 (A5C), 10 (A10C) e 20 (A20C)% em peso, conforme mostra a Tabela I. As composições foram homogeneizadas a seco em galga misturadora de pista lisa da Gardelin. 100 80 % Passante 60 40 20 0 1 10 100 1000 Diâmetro esférico equivalente (µm) Figura 1. Distribuição de tamanho de partícula do chamote.

4 Tabela I. Composições estudadas (% em peso). Matérias-primas Composições A A5C A10C A20C argila 100 95 90 85 chamote 0 5 10 15 Corpos-de-prova cilíndricos, com um diâmetro de 31 mm e altura de 11 mm, foram preparados por prensagem uniaxial a 20MPa, com 8% de água. Em seguida, os corpos-de-prova foram secos a 110ºC em estufa até peso constante. A queima foi realizada em forno elétrico de laboratório em temperaturas variando de 500 o C a 1100 o C, com 60 minutos de patamar. A taxa de aquecimento utilizada foi de 3ºC/min. O resfriamento foi realizado desligando-se o forno e mantendo-se o corpo de prova no interior. As propriedades tecnológicas determinadas foram: densidade aparente, retração linear de queima, absorção de água perda e resistência mecânica. A densidade aparente dos corpos-de-prova, tanto secos quanto queimados, foi determinada pelo método dimensional, dividindo a massa pelo volume externo. A retração linear de queima foi determinada com auxílio de paquímetro. A absorção de água foi calculada determinando a massa de água absorvida pelos corpos-de-prova queimados após terem sido imersos em água fervente por duas horas. A resistência mecânica foi avaliada através da determinação da compressão diametral (10), utilizando máquina universal de ensaios, Instron, modelo 5582. A análise dos vazios microestruturais foi feita através de ensaios de porosimetria de mercúrio realizados em porosímetro Quantachrome, Autoscan 33, com ângulo de contato de 140 o. A observação da região de fratura de de corpos de prova rompidos em compressão foi realizada por microscopia eletrônica de varredura em um microscópio ZEISS, modelo DSM 962. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela II mostra a densidade aparente a seco das composições. Observase que a adição do chamote diminui ligeiramente a densidade aparente a seco da argila. Este resultado indica que a argila tem, provavelmente, com o chamote uma

5 relação entre partículas finas e grosseiras, que contribui para diminuir o empacotamento (11). Tabela II. Densidade aparente a seco ρ s das composições. ρ s (g/cm 3 ) A A5C A10C A20C 1,97 1,95 1,92 1,92 ±0,01 ±0,01 ±0,01 ±0,01 A Figura 2 apresenta a absorção de água das composições em função da temperatura de queima. Observa-se que, dentro do erro estatístico, a absorção de água das composições sofre ligeiro aumento de 500 a 900 o C. A 1100 o C, a absorção de água diminui abruptamente, o que está associado com o processo do vitrificação (12). Observa-se também que, para cada temperatura investigada, a adição de chamote pouco afeta a absorção de água em relação à argila pura. 26 24 Absorção de água (%) 22 20 18 16 14 12 A A5C A10C A20C 500 700 900 Temperatura ( o C) 1100 Figura 2. Absorção de água das composições em função da temperatura de queima. A Figura 3 apresenta a retração linear em função da temperatura de queima. É possível observar que, para todas as composições ocorreu um pequeno aumento da retração linear de 500 a 900 o C. A partir daí, a retração linear aumentou bruscamente. Este comportamento é também atribuído ao processo de vitrificação

6 que possibilita a redução da porosidade promovendo a aproximação das partículas. A incorporação de chamote em até 20% praticamente não causa variação da retração linear da argila de 500 a 900 o C. Já a 1100 o C é possível observar que a composição (A20C) apresenta retração linear um pouco menor em comparação com as demais composições investigadas. 6 Retração linear (%) 5 4 3 2 1 A A5C A10C A20C 0 500 700 900 1100 Temperatura ( o C) Figura 3. Retração linear das composições em função da temperatura de queima. A Figura 4 apresenta a compressão diametral das composições em função da temperatura de queima. Observa-se que não ocorrem diferenças significativas na compressão diametral das composições estudadas de 500 a 900 o C. A partir daí, ocorre um brusco incremento desta propriedade devido à redução da porosidade pelo efeito dos processos de sinterização, sobretudo, pela formação de fase líquida vitrificação. É também importante observar que as incorporações de chamote acima de 5% reduzem a resistência mecânica da argila. Isto pode ser atribuído à porosidade interna, porosidade intragranular, dos aglomerados do chamote que agem como grandes defeitos em combinação com a maior porosidade intergranular das composições (A10C) e (A20C).

7 12 Compressão diametral (MPa) 10 8 6 4 2 A A5C A10C A20C 0 500 700 900 1100 Temperatura ( o C) Figura 4. Compressão diametral das composições em função da temperatura de queima.. As Figuras 5 e 6 apresentam a região de fratura das composições (A) e (A20C) queimadas a 700 e 1100 o C, respectivamente. Observa-se que ambas as composições apresentam a 700 o C uma região de fratura com morfologia grosseira associada a partículas rugosas e com poucas áreas lisas. É possível também observar que nesta temperatura já ocorre consolidação das partículas ainda que predomine uma microestrutura porosa com interconectividade dos poros. Por outro lado, na temperatura de 1100 o C todas as composições apresentam uma região de fratura mais consolidada com predominância de áreas lisas típicas da vitrificação.

8 Figura 5. Micrografias obtidas por MEV da região de fratura da composição A. (a) 700oC. (b) 1100oC. Figura 6. Micrografias obtidas por MEV da região de fratura da composição A20C. (a) 700oC. (b) 1100oC. A Figura 7 apresenta as curvas de distribuição de tamanho de poros para as composições (A) e (A20C). É possível observar que o incremento da temperatura de queima exerce uma influência significativa na porosidade das composições investigadas. Na temperatura de 1100oC, tanto a argila pura (A) quanto a composição com 20% de chamote (A20C) apresentam uma menor porosidade

9 aberta, aferida pela quantidade de mercúrio intrudido, em comparação com a temperatura de 700 o C. Entretanto, ocorreu um incremento no tamanho de poros. Isto pode ser atribuído ao fechamento preferencial dos poros pequenos durante os estágios intermediários de sinterização o que acarreta aumento dos poros inicialmente com maior tamanho (13). A Figura 7 mostra também que tanto a 700 o C quanto a 1100 o C a incorporação de 20% em peso de chamote contribui para o incremento da porosidade aberta da argila. Estes resultados estão de acordo com o comportamento das propriedades tecnológicas dependentes da porosidade do material, tais como absorção de água, Fig. 2, e resistência mecânica, Fig. 4. Volume de mercúrio intrudido x 10 3 (g/cm 3 ) 160 140 120 100 80 60 40 20 0 A20C - 700 o C A - 700 o C A20C - 1100 o C A - 1100 o C 0,01 0,1 1 10 Diâmetro do poro (µm) Figura 7. Curvas de distribuição de tamanho de poros das composições (A) e (A20C) queimadas a 700 e 1100 o C. CONCLUSÕES Neste trabalho de investigação do efeito da temperatura de queima nas propriedades e microestrutura de uma argila incorporada com até 20% em peso de chamote proveniente de blocos de vedação foi possível concluir que:

10 A incorporação de chamote reduziu discretamente a densidade aparente a seco da argila. Isto é conseqüência das respectivas distribuições de tamanho de partículas que acarretam redução no empacotamento. Nas propriedades de queima avaliadas foi observado que de 500 a 900 o C praticamente não houve variação significativa nos valores obtidos para a compressão diametral das composições. Já a absorção de água e a retração linear sofreram pequeno aumento nesta faixa de temperatura. A 1100 o C ocorreu um brusco aumento da retração linear e da compressão diametral e redução da absorção de água das composições em função do processo de vitrificação. A incorporação de chamote praticamente não alterou a absorção de água e a retração linear da argila em todas as temperaturas investigadas. Incorporações de chamote acima de 5% são prejudiciais à compressão diametral da argila. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq (processo 150444/2003-6) pelo financiamento desta pesquisa, à UENF e ao TECNORTE/FENORTE e FAPERJ pela concessão de bolsas de iniciação científica e de apoio técnico. REFERÊNCIAS 1. S. Pracidelli, F. G. Melchiades, Cerâmica Industrial 2, 1-2 (1997) 31. 2. F. Ripoli Filho, Cerâmica 43, 281-282 (1997) 281. 3. J. Vicenzi, D. L. Villanova, T. P. Madruga, and C. P. Bergmann, Anais do 55 o Congresso Anual da ABM, Rio de Janeiro, RJ (2000) cdrom, pp. 1579-1588. 4. D. L. Villanova, J. Vicenzi, T. P. Madruga, C. P. Bergmann, Anais do 55 o Congresso Anual da ABM, Rio de Janeiro, RJ (2000) cdrom, pp. 1579-1588. 5. Manfredini & Schianchi do Brasil Ltda, Cerâmica Industrial 7, 6 (2002) 34. 6. V. Beltrán, E. Ferrando, J. García y E. Sánchez, Tile & Brick Int. 11, 3 (1995) 169.

11 7. E. T. A. de Souza, S. N. Monteiro,C. M. F. Vieira, Anais do XVI Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, Porto Alegre, RS (2004) cdrom. 8. C. M. F. Vieira, E. T. A. de Souza, S. N. Monteiro, Industrial Ceramics 24, 2 (2004) 85. 9. C. M. F. Vieira, E. T. A. de Souza, S. N. Monteiro, Cerâmica 50, 315 (2004) 254. 10. C. M. F. Vieira, E. T. A. de Souza, S. N. Monteiro, Cerâmica 50, 315 (2004) 254. 11. L. H. Van Vlack, Propriedades dos Materiais Cerâmicos, Ed. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1973, p. 246. 12. W. D. Kingery, H. K. Bowen, and D. R. Uhlmann, Introduction to Ceramics, Ed. A Wiley Interscience Publication, New York, 1976, p. 1032. 13. M. J. Ortz, A. Escardino, J. L. Amorós, F. Negre, Applied Clay Science 8 (1993) 193. EFFECT OF THE FIRING TEMPERATURE ON THE PROPERTIES OF RED CERAMIC INCORPORATED WITH GROG ABSTRACT This work has for objective to evaluate the effect of the firing temperature on the technological properties and microstructure of a kaolinitic clay incorporated up to 20 wt. % of grog. Cylindrical uniaxially pressed specimens at 20 MPa were prepared and fired at temperatures from 500 to 1100 o C in a laboratory furnace. The technological properties evaluated were: bulk density, linear shrinkage, water absorption and mechanical strength. The results showed that no significant changes occurred in the evaluated properties of the compositions between 500 and 900 o C. Above this temperature, an abrupt decrease in the porosity resulted in a decrease in water absorption and an increase in mechanical strength. The incorporation of 5 wt.% of grog practically did not alter the properties of the ceramic. However, it was

12 observed that higher amounts of incorporated grog decreased the mechanical strength of the clayey ceramic. Key-words: red ceramic, grog, microstructure, properties, temperature.