UMA INVESTIGA O ACERCA DO MURM RIO NASAL EM VOGAIS NASAIS NO DIALETO DE VIT RIA DA CONQUISTA - BA

Documentos relacionados
VOGAIS NASAIS E NASALIZADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: PRELIMINARES DE UMA ANÁLISE DE CONFIGURAÇÃO FORMÂNTICA

VI SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS. Luiz Carlos da Silva Souza** (UESB) Priscila de Jesus Ribeiro*** (UESB) Vera Pacheco**** (UESB)

PADRÃO FORMÂNTICA DA VOGAL [A] REALIZADA POR CONQUISTENSES: UM ESTUDO COMPARATIVO

VOGAL [A] PRETÔNICA X TÔNICA: O PAPEL DA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL E DA INTENSIDADE 86

Uma Análise Acústica das Vogais Orais, Nasais e Nasalizadas no Dialeto de Vitória da Conquista, Bahia

O PAPEL DOS CONTEXTOS FONÉTICOS NA DELIMITAÇÃO DA TONICIDADE DE FALA ATÍPICA

IMPLICAÇÕES DA AMPLIAÇÃO E REDUÇÃO DO VOT NA PERCEPÇÃO DE CONSOANTES OCLUSIVAS 1

ESTUDO FONÉTICO-EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA PAUSA NA DURAÇÃO DE VOGAIS ACOMPANHADAS DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS *

INVESTIGAÇÃO ACERCA DOS PROCESSOS DE REESTRUTURAÇÃO SILÁBICA CVC NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E NO INGLÊS: UMA ANÁLISE FONÉTICO-ACÚSTICA

Sociedade Cultural e Educacional do Interior Paulista Faculdade de Ensino Superior do Interior Paulista FAIP

PERCEPÇÃO AUDITIVA E VISUAL DAS FRICATIVAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

TONICIDADE E COARTICULAÇÃO: UMA ANÁLISE INSTRUMENTAL

AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE TONICIDADE E DISTINÇÃO DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS NO PB

RELAÇÕES HIERÁRQUICAS VERSUS ORDEM DE PALAVRAS NO ESTABELECIMENTO DA CONCORDÂNCIA ENTRE SUJEITO E VERBO NA PRODUÇÃO DE SENTENÇAS

A RELAÇÃO ENTRE POSIÇÃO DE ÊNFASE SENTENCIAL/PROXIMIDADE DE PAUSA E DURAÇÃO SEGMENTAL NO PB: O CASO DAS FRICATIVAS

ESTUDO PILOTO DA DURAÇÃO RELATIVA DE FRICATIVAS DE UM SUJEITO COM SÍNDROME DE DOWN. Carolina Lacorte Gruba 1 Marian Oliveira 2 Vera Pacheco 3

AVALIAÇÃO INSTRUMENTAL DOS CORRELATOS ACÚSTICOS DE TONICIDADE DAS VOGAIS MÉDIAS BAIXAS EM POSIÇÃO PRETÔNICA E TÔNICA *

Características da duração do ruído das fricativas de uma amostra do Português Brasileiro

I SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS

A QUESTÃO DAS RELAÇÕES DE GÊNERO E IDENTIDADE FEMININA NA ESCOLA: ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS DO NONO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Problemas de Mecânica e Ondas MOAer 2015 Série 8

fonética aula 01 SAULO SANTOS APOIO PEDAÓGICO

O som. Uma onda mecânica longitudinal

Aula 00 Aula Demonstrativa

Aula demonstrativa Apresentação... 2 Modelos de questões comentadas CESPE-UnB... 3 Relação das questões comentadas Gabaritos...

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CONSELHO SUPERIOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO RESOLUÇÃO N , DE 19 DE AGOSTO DE 2010

Duplicidade de títulos na biblioteca universitária: avaliação do uso como subsídio para a tomada de decisão

Perceptivos de Sons Não Verbais e da Fala

AVALIAÇÃO ESPECTRAL DE FRICATIVAS ALVEOLARES PRODUZIDAS POR SUJEITO COM DOWN

VOGAIS NASAIS EM AMBIENTES NÃO NASAIS EM ALGUNS DIALETOS BAIANOS: DADOS PRELIMINARES 1

REALIZAÇÕES DAS VOGAIS MÉDIAS ABERTAS NO DIALETO DE VITÓRIA DA CONQUISTA BA

Canal do YouTube Prof. Guilherme Neves

Fonética articulatória. Fones consonantais

Breves noções de Mecânica Quântica

RELAÇÃO ENTRE DURAÇÃO SEGMENTAL E PERCEPÇÃO DE FRICATIVAS SURDAS E SONORAS

Características acústicas das vogais e consoantes

Uma breve introdução ao estudo da Estatística

ESCLARECIMENTO E TRADIÇÃO: ENSINO DE FILOSOFIA POR MEIO DA APROPRIAÇÃO DE CONCEITOS

Enquanto que para o potencial, função apenas das molas:

ALUNOS DO 6º ANO A CPC: CHEGOU A HORA DE ESTUDAR PARA OS TESTES! CONTEÚDO PROGRAMÁTICO PARA A 1ª VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM DA I UNIDADE

PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DA PROVA DO ENSINO SECUNDÁRIO DE MATEMÁTICA APLICADA Às CIÊNCIAS SOCIAIS (CÓDIGO DA PROVA 835) 2.ª FASE 21 DE JULHO 2017

Comissão de Temas Livres. Presidente da Comissão Científica: Alberto Naoki Miyazaki. Membros da Comissão de Temas Livres:

ANÁLISE ACÚSTICA DE CONSOANTES OCLUSIVAS EM POSIÇÃO DE ONSET E CODA SILÁBICOS PRODUZIDAS POR BRASILEIROS APRENDIZES DE INGLÊS

Estudo do pré-vozeamento, frequência do burst e locus de F2 das oclusivas orais do Português Europeu

I3N / Universidad Nacional del Sur / Instituto Hórus ANÁLISE DE RISCO PARA PLANTAS - Versão 1.0 (Julho 2008)

BACHARELADO EM MODA HABILITAÇÃO EM DESIGN DE MODA

EDITAL Nº 001 DE 02 DE JANEIRO DE 2017

Clima Econômico piora nas três principais economias da região

PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DA PROVA DO ENSINO SECUNDÁRIO DE MATEMÁTICA APLICADA Às CIÊNCIAS SOCIAIS (CÓDIGO DA PROVA 835) 2.ª FASE 21 DE JULHO 2017

The Use of Onomatopeias to describe environmental sounds

LISTA DE EXERCÍCIOS Nº 1

Canal do YouTube Prof. Guilherme Neves

Tática de treinos associado à características biofísicas dos atletas:

Fi ch a do p ro fe s so r

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CONSELHO SUPERIOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO RESOLUÇÃO N , DE 13 DE JUNHO DE 2012

Minas Gerais pertence à área de falar baiano, à área de falar sulista, à área de falar fluminense e à área de falar mineiro, conforme Nascentes (1953)

Escola Superior Agrária. Calendário circular para previsão de acontecimentos reprodutivos

Prova de Análise de Dados

Universidade Federal de Minas Gerais Colégio Técnico Plano de Ensino

SISTEMAS DIGITAIS MEFT/MEAer de Abril de 2016, 18:00

AS VOGAIS PRETÔNICAS [-BX] NO DIALETO CARIOCA: UMA ANÁLISE ACÚSTICA

Missão. Objetivos Específicos

NORMAS DA ABNT ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS

PROJETO FONTE CHAVEADA FORWARD

Resistência dos Materiais

CONFIANÇA DOS CONSUMIDORES CHAPECOENSES RECUA 8,3 PONTOS EM MARÇO

Trânsito de potência DC difuso simétrico com despacho incorporado. Documento complementar à dissertação. José Iria

LÍNGUA PORTUGUESA. Professor Bernardo Augusto. Fonética e Fonologia

NORMAS DA ABNT ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS

Resultados do modelo MesoNH para tempestade de 03/01/2017

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM INFORMAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM SAÚDE

"Ser ou não ser, eis a questão... Shakespeare. Prof. Renato R. Borges

Fundacentro lança nova edição da Norma de Higiene Ocupacional

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS

APRIMORAMENTO DE SISTEMA CONSTRUTIVO EM JANELAS DE ESQUADRIAS DE ALUMÍNIO COM VIDRO SIMPLES PARA INCREMENTO DE ISOLAMENTO SONORO

REGULAMENTO 3º CONCURSO DE FOTOGRAFIA MADRUGADÃO FEEVALE

4) Reobtenha e reanalise os resultados auferidos nos problemas nº 1, nº 2 e nº 3 quando (a) Z! Z!, (b)

OFICINA: LÍDER EM CONFIABILIDADE BASEADA EM LUBRIFICAÇÃO

P ( Introdução à Física, J. Dias de Deus et al.)

Estudo das características fonético-acústicas de consoantes em coda. silábica: um estudo de caso em E/LE

Quinquagésima-terceira sessão Joanesburgo, África do Sul, 1-5 de Setembro de 2003 HABILITAÇÕES E SELECÇÃO DO DIRECTOR REGIONAL RESUMO

MANUAL DO TREINADOR NÍVEL I MARCHA ATLÉTICA

Física I. Curso: Engenharia Elétrica Prof. Rafael Augusto R de Paula

EQUIPE PEDAGÓGICA DE 9 o AO 2 o ANO

UNIVERSIDADE CONSULTORAS E CONSULTORAS SENIORES MÓDULO 2

RESUMÃO DE ESTATÍSTICA POLÍCIA FEDERAL

POR UMA ANÁLISE DO DISCURSO SOBRE A MAIORIDADE PENAL NA MÍDIA TELEVISIVA

RESOLUÇÃO CEPG N.º 01/99

ESTADO DO CONHECIMENTO DAS MONOGRAFIAS DE PEDAGOGIA DA UFRPE/ UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS: PERSPECTIVAS DA EJA E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Figura 1. A cadeia da fala (GARMAN, 1990)

Canal do YouTube Prof. Guilherme Neves (FCC 2019/Prefeitura do Recife)

Endereço (1) : Rua Sergipe, nº Centro - Londrina - Paraná - CEP: Brasil - Tel: +55 (43)

EVASÃO EM CURSOS A DISTÂNCIA: ANÁLISE DOS MOTIVOS DE DESISTÊNCIA E PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA INTRODUÇÃO

SAMP ESPÍRITO SANTO ASSISTÊNCIA MÉDICA LTDA. Marcio Maciel 05. Alexandra Waltrick Russi

Problemas de Mecânica e Ondas MOAer 2015

INVESTIGAÇÃO DESTINADA À COMISSÃO CULT AS LÍNGUAS MINORITÁRIAS E A EDUCAÇÃO: MELHORES PRÁTICAS E DIFICULDADES

MATEMÁTICA ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO NOTA ENSINO MÉDIO SÉRIE: 1ª TURMAS: ABCD TIPO: U ETAPA: 1ª PROFESSOR(ES): MAGNA E THAÍS VALOR: 3,0 PONTOS

Panorama da Participação Feminina em Competições de Programação Promovida por Instituição de Ensino Superior da Região Norte

RELATÓRIO DE CONJUNTURA: GRANDES CONSUMIDORES DE ENERGIA ELÉTRICA

Transcrição:

Introdu o UMA INVESTIGA O ACERCA DO MURM RIO NASAL EM VOGAIS NASAIS NO DIALETO DE VIT RIA DA CONQUISTA - BA Luiz Carlos da Silva Souza (UESB) luizcarlossil@gmail.com Vera Pacheco (UESB) vera.pacheco@gmail.com O murm rio nasal um segmento que surge como resultado do fen meno de coarticula o entre uma vogal nasal e a consoante que lhe segue em palavras como canta, por exemplo. N o se caracteriza como consoante nem como vogal. Sua ocorr ncia favorecida pelas consoantes oclusivas subsequentes s vogais nasais. Portanto, este trabalho, inserido no mbito da Fon tica Experimental, tem como objetivo apresentar um estudo acerca do murm rio nasal no dialeto de Vit ria da Conquista, cidade do sudoeste da Bahia, a fim de fornecer dados referentes representatividade da ocorr ncia desse segmento e aos contextos que favorecem a sua incid ncia nesse dialeto. Para tanto, utiliza-se de grava o de palavras que apresentem vogais nasais em posi o n o-final de palavra, inseridas em frases-ve culo. A identifica o do murm rio nasal acontece pelo programa Praat. Em seguida, calcula-se a porcentagem de sua ocorr ncia nos contextos de consoantes oclusivas e fricativas, observando-se tamb m o ponto de articula o dessas. O presente trabalho est organizado da seguinte forma: na primeira se o, discute-se a respeito do murm rio nasal; em seguida, apresentam-se o material e os m todos utilizados para a realiza o da pesquisa, ao qual segue o t pico dos resultados e das discuss es, finalizando com as considera es finais e as refer ncias. Com isso, espera-se contribuir para a elucida o do papel do murm rio na compreens o do status das vogais nasais do Portugu s do Brasil. 1. O murm rio nasal comum entre os linguistas, ao tratar das vogais nasais, a refer ncia a um segmento de tra o consonantal nasal presente entre a vogal nasal e a consoante que lhe segue, chamado de murm rio nasal. Sua realiza o articulat ria t o curta que chega a ser impercept vel a sua presen a, tanto que se considera inconveniente fazer a sua transcri o fon tica. N o categ rica a ocorr ncia desse segmento. Essa pode estar condicionada qualidade voc lica, ao modo e ao ponto de articula o do segmento conson ntico seguinte ou, ainda, ao falante e a uma caracter stica dialetal. N o h, no entanto, consenso a esse respeito. A nasaliza o da vogal n o depende da presen a do murm rio nasal, como comprova Jesus (1999), ao se atentar para o fato de que se notou pouca diferen a entre uma vogal oral e uma nasal, quando essa apresentava o murm rio, ou a percep o da nasalidade em vogais isoladas, que n o apresentam o murm rio. As consoantes oclusivas favorecem o surgimento do murm rio nasal, que n o ocorre diante de segmentos fricativos. Cagliari (1977) e Matta Machado (1981 apud SOUSA, 1994) apontam para a possibilidade de o murm rio ser homorg nico da consoante subsequente, por outro lado, outros estudiosos o v em como segmento inespecificado quanto ao ponto de articula o. Sob o ponto de vista articulat rio, o murm rio nasal produto da coarticula o, gerado a partir do fechamento do trato oral e sa da do ar pelo nariz, no fim da realiza o do segmento voc lico, para a produ o do segmento seguinte; esse evento, possivelmente, justifica a ocorr ncia do murm rio somente diante de consoantes oclusivas, pois, para a

produ o dessas, o ar abruptamente impossibilitado de passar pelo trato oral e, por isso, passa pelo trato nasal, uma vez que o v u palatino ainda n o se encontra totalmente levantado ap s a realiza o da vogal nasal; para a produ o das consoantes fricativas, por outro lado, o trato oral n o se fecha totalmente, gerando, por isso, uma fric o e n o uma explos o. A respeito da maior dura o das vogais nasais em rela o s orais, Sousa (1994) discute a possibilidade de a presen a do murm rio nasal ser respons vel por tal evento, no entanto Campos (2009) encontrou maior dura o para as vogais nasais mesmo quando n o considerou a dura o do murm rio para a medida da dura o daquelas. Acusticamente, o murm rio nasal apresenta baixa frequ ncia, no final da vogal; caracteriza-se pelas suas ondas de baixa amplitude em rela o s ondas da vogal e, no espectrograma, pela dispers o dos seus formantes, indicando irregularidade nos valores desses. A figura 1 abaixo apresenta as ondas de uma vogal oral, cujas amplitudes encontram-se relativamente homog neas; os pontos na parte inferior, os formantes, formam quatro linhas distintas ao longo da vogal. J a figura 2 seguinte, apresenta picos mais irregulares, representando a vogal nasal; o ret ngulo sinaliza a presen a do murm rio nasal, caracterizado por ondas com menos amplitude em rela o vogal nasal e, no espectrograma, pelos pontos dispersos, sem linearidade, indicando que, ao longo da realiza o desse segmento, os valores dos formantes n o obedecem a um padr o.

Figura 1 - Forma de onda e formantes da vogal /a/

Figura 2 - Forma de onda e formantes da vogal /an/ com o murm rio nasal Neste trabalho, pretende-se investigar se o murm rio nasal no dialeto de Vit ria da Conquista - BA apresenta ocorr ncia significativa e quais contextos consonantais, isto, consoantes oclusivas e fricativas, e voc licos a favorecem. 2. Material e m todos 2.1. Corpus Comp s-se um corpus com palavras diss labas formadas pela estrutura CVC.CV, nas quais as vogais /a/, /i/ e /u/ ocupam a posi o de n cleo sil bico; foram escolhidas essas vogais por elas comporem o tri ngulo voc lico e obedecerem a um padr o form ntico de consenso entre os pesquisadores que corresponde s caracter sticas t picas de vogais que apresentam o m ximo e o m nimo de abertura voc lica e de movimento de recuo e de avan o, de abaixamento e levantamento da l ngua. A posi o das consoantes em onset seguido de s laba travada, neste caso pelas consoantes /m/ e /n/, ocupada por oclusivas e fricativas. As palavras foram inseridas na frase-ve culo Digo baixinho. A inser o das palavras numa frase-ve culo justifica-se pela necessidade de se homogeneizar o contexto para todas elas e manter, na medida do poss vel, o controle de aspectos pros dicos, como entona o, por exemplo, evitando-se, assim, interfer ncias outras sobre a realiza o dos sons em quest o. As palavras componentes do corpus utilizado foram as seguintes: Canta Campa Pinta Quincas Cunca

Panca Pinda Pimpa Tunda Panga Cansa Finfa Lunfa Pan a Dunfa Lincha 2.2. Grava o do corpus As grava es foram efetuadas em cabine acusticamente tratada no Laborat rio de Pesquisa e Estudos em Fon tica e Fonologia (LAPEFF), da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), atrav s do programa Audacity a uma taxa de amostragem de 44100 Hz (Mono), em 16 bit. As frases foram impressas individualmente em pap is brancos e apresentadas de forma aleat ria com um intervalo de tempo indeterminado entre uma frase e outra, aos informantes desta pesquisa, em sess es individualizadas, Cada frase foi gravada quatro vezes aleatoriamente em taxa de elocu o normal. Participaram da grava o 3 (tr s) informantes, sem problemas de fala, sendo 2 (dois) do sexo masculino ( e ) e 1 (um) do sexo feminino (), todos universit rios, com idade entre 20 e 25 anos, baianos, naturais de Vit ria da Conquista e regi o. 2.3. An lise dos dados O murm rio nasal foi identificado a partir do programa Praat observando-se o intervalo existente entre as ondas caracter sticas de uma vogal e as ondas da consoante subsequente e tamb m, no espectrograma, a irregularidade dos formantes, como ilustrados nas figuras 1 e 2. Para calcular a porcentagem de ocorr ncia do murm rio nasal nos dados dos informantes, utilizou-se o programa Excel 2007, observando a quantidade de vezes em que se realizou nas palavras agrupadas segundo o modo e o ponto de articula o das consoantes que seguiam as vogais nasais. Desse modo, p de-se calcular a porcentagem de ocorr ncia do murm rio nos contextos consonantais de oclusivas bilabiais, alveolares e velares e de fricativas alveolares, labiodentais e palatais. 3. Resultados e discuss o Os dados da tabela 1 e da tabela 2 que seguem apresentam, em rela o ao, a ocorr ncia do murm rio nasal em das realiza es da vogal /an/ diante de oclusivas bilabiais e velares e em 5 diante de oclusivas alveolares; diante das fricativas alveolares, a porcentagem de 12,5%, que corresponde a apenas uma realiza o. Em rela o ao, o murm rio nasal realizou-se em das palavras nas quais a vogal nasal estava diante de segmentos oclusivos bilabiais, em diante de oclusivos alveolares, em 87,5% diante de oclusivos velares e em 25% diante de fricativas alveolares. Quanto ao, houve presen a do murm rio em todas as realiza es da vogal /an/ diante de todas as oclusivas consideradas nesta pesquisa, ao passo que, em nenhuma das realiza es dessa vogal diante das fricativas, esse segmento foi detectado.

Tabela 1 - Porcentagem de ocorr ncia do murm rio nasal na vogal nasal /an/ diante de oclusivas Oclusivas /an/ Tabela 2 - Porcentagem de ocorr ncia do murm rio nasal na vogal nasal /an/ diante de fricativas Fricativas Alveolares Labiodentais Palatais 12,5% /an/ 25% N o havia no corpus utilizado neste trabalho palavras com esse contexto. Em rela o ao murm rio ap s a vogal /in/, conforme os dados apresentados nas tabelas 3 e 4 que se seguem, sua ocorr ncia, em, deu-se em das realiza es dessa vogal diante de oclusivas bilabiais e de oclusivas alveolares, em 25% diante de oclusivas velares e em 25%, de fricativas palatais; nos dados do, em diante de oclusivas bilabiais, em diante de velares, em 62,5% diante de oclusivas alveolares e em nenhuma das realiza es diante de fricativas labiodentais e palatais; para o, a porcentagem foi de de presen a do murm rio nos casos em que a vogal estava diante de consoantes oclusivas bilabiais e velares e em 87,5% diante de oclusivas alveolares; n o houve nenhuma ocorr ncia do murm rio ap s /in/ no contexto de fricativas labiodentais e palatais. Tabela 3 - Porcentagem de ocorr ncia do murm rio nasal na vogal nasal /in/ diante de oclusivas Oclusivas Alveolar Velar 25% /in/ 62,5% 87,5% Tabela 4 - Porcentagem de ocorr ncia do murm rio nasal na vogal nasal /in/ diante de fricativas Fricativas Alveolares Labiodentais Palatais 25% /in/ N o havia no corpus utilizado neste trabalho palavras com esse contexto.

Finalmente, ap s a vogal /un/, para o, o murm rio foi detectado em 5 das palavras nas quais essa vogal estava diante de oclusivas alveolares, em 25% diante de oclusivas velares e em 14,28% diante de fricativas labiodentais; n o houve no corpus considerado neste trabalho palavras nas quais a vogal /un/ surgisse diante de consoantes oclusivas bilabiais. Para o, em das realiza es de /un/ diante de oclusivas alveolares e velares e em 12,5% diante de fricativas labiodentais houve a presen a do murm rio nasal. Nos dados de, n o houve nenhuma ocorr ncia diante de oclusivas alveolares e de fricativas labiodentais, mas, ao contr rio, essa ocorr ncia foi de diante de oclusivas velares, de acordo com as tabelas 5 e 6 abaixo: Tabela 5 - Porcentagem de ocorr ncia do murm rio nasal na vogal nasal /un/ diante de oclusivas Vogais Informantes Oclusivas Alveolar 5 /un/ N o havia no corpus utilizado neste trabalho palavras com esse contexto. Velar 25% Tabela 6 - Porcentagem de ocorr ncia do murm rio nasal na vogal nasal /un/ diante de fricativas Fricativas Alveolares Labiodentais Palatais 14,28% /un/ 12,5% N o havia no corpus utilizado neste trabalho palavras com esse contexto. Em s ntese, pelos dados apresentados acima, pode-se dizer que a vogal nasal /an/ diante de consoantes oclusivas bilabiais mais favor vel ocorr ncia do murm rio nasal do que as outras vogais diante das demais consoantes. Como j apontaram outros trabalhos, o murm rio nasal demonstra baixo ndice de frequ ncia diante de consoantes fricativas. Pela varia o nos valores encontrados, principalmente de e de, parece n o haver rela o entre o ponto de articula o das oclusivas e a ocorr ncia do murm rio nasal. No contexto de vogais nasais diante de fricativas, de fato, a tend ncia a de que n o ocorra a presen a do murm rio. Curioso o fato de os dados de apresentarem o murm rio em todas as realiza es da vogal /an/ diante de todas as oclusivas e em nenhuma da vogal /un/ diante das oclusivas alveolares, acenando para uma caracter stica pr pria desse falante e para a possibilidade de a presen a do murm rio nasal ser arbitr ria. Considera es finais Os resultados encontrados apontam para a rela o entre a ocorr ncia do murm rio nasal, a qualidade da vogal e a classe da consoante que lhe segue. Nesse sentido, pode-se dizer que as consoantes oclusivas favorecem a emerg ncia do murm rio nasal; pelos dados deste trabalho, depreende-se ainda que o murm rio apresenta maior ndice de ocorr ncia quando a vogal nasal a vogal baixa /an/ diante de consoantes oclusivas bilabiais; diante das consoantes fricativas, o murm rio tende a n o ocorrer. Sendo assim, evidencia-se que o

murm rio nasal um fen meno simplesmente fon tico e, por isso, n o interfere na distin o entre vogais nasais e orais. Refer ncias bibliogr ficas BOERSMA, P.; WEENINK, D. Praat software. version 4.0. 15 oct. 2001. Dispon vel em: <http://www.fon.hum.uva.nl/praat/>. Acesso em: 3 jul. 2012. CAGLIARI, L. C. An experimental study of nasality with particular reference to Brazilian Portuguese. 1977. 320 f. Tese (Doutorado em Lingu stica) - University of Edinburgh, Edinburgo. CAMPOS, Hellen de Oliveira Valentim. Dura o dos segmentos voc licos orais, nasais e nasalizados do portugu s brasileiro. 2009. 112 f. Disserta o (Mestrado em Lingu stica) - Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. JESUS, M. de Sousa Viana. Estudo fon tico da nasalidade voc lica em falantes normais e com fissura de palato: enfoque ac stico. 1999. 189 f. Disserta o (Mestrado em Lingu stica) - Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. SOUSA, E. M. G. de. Para a caracteriza o fon tico-ac stica da nasalidade do Portugu s do Brasil. 1994. 180 f. Disserta o (Mestrado em Lingu stica) - Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade de Campinas, Campinas.