A CONSERVAÇÃO DE SOLO: VISÕES DO DIREITO AGRÁRIO, AMBIENTAL E DE VIZINHANÇA FRANCISCO DE GODOY BUENO



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Transcrição:

A CONSERVAÇÃO DE SOLO: VISÕES DO DIREITO AGRÁRIO, AMBIENTAL E DE VIZINHANÇA FRANCISCO DE GODOY BUENO

PLANO DE TRABALHO O que é conservação de solo no Direito? A função social da propriedade e a proteção do meio ambiente Conservação de solo no âmbito da responsabilidade civil e no âmbito das infrações administrativas e dos crimes ambientais Conservação de Solo no Direito de Vizinhança Precedentes Jurisprudenciais

CONSERVAÇÃO DE SOLO NO DIREITO Conservação de Solo é Um fato técnico, necessário à utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e à preservação do meio ambiente. Conservação de Solo é Medida mitigatória e preventiva de Dano Ambiental Conservação de solo é Obrigação do prédio superior em relação ao prédio inferior, para evitar que a atividade agrária agrave o fluxo natural das águas

FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE RURAL O imóvel rural é um bem de produção. Deve estar afeto a um processo produtivo, na empresa agrária. Limitação do poder de destinação do proprietário: Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Conservação de solo é dever de conduta (obrigação de meio), a ser observado no intuito de produzir (obrigação de resultado).

ATIVIDADE AGRÁRIA E PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE A Defesa e a Preservação do Meio Ambiente é dever geral de todos, do Poder Público e da Coletividade (Art. 225 da CF) dever geral de conduta. A empresa agrária deve ter em consideração essa obrigação, no seu intuito principal que é produzir, evitando causar danos ambientais Conservação de Solo A Conservação de Solo tem o significado jurídico da mitigação dos impactos ambientais normais à atividade, evitando-se danos ambientais. Quando a Conservação de solo é falha e danos ambientais ocorrem, há consequências jurídicas simultâneas e independentes no âmbito de: Responsabilidade Civil Reparação e compensação dos Danos; Sanções Administrativas Multas, Embargos, etc. Sanções Penais Quando Tipificadas

O DANO AMBIENTAL DE CS Causar Erosão ou enxurradas por má conservação de solo: Não é crime tipificado salvo quando implicar em danos ou destruição de APP, Mata Atlântica ou Unidades de Conservação (outros crimes tipificados nos.arts. 38, 38-A, 39 e 40 da LCA) Em âmbito federal, não há infração administrativa tipificada Dec. 6514/08. Em âmbito estadual (SP), aplicam-se as disposições da Lei nº 8.421, de 23 de novembro de 1993: Aplicação de multas, calculado em UFESPs por hectare Possibilidade de suspensão da multa, mediante a apresentação de compromisso de projeto técnico, na forma do 1º do Art. 14 do Decreto nº 41.719, de 16 de abril de 1997. Executado o projeto, no prazo estabelecido, a infração é cancelada. Independentemente das penalidades administrativas, persiste a responsabilidade civil pela reparação e indenização dos danos ambientais.

O DIREITO DE VIZINHANÇA E A CS O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas que correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior. (Art. 1.288 do Código Civil/ Art. 69 do Código de Águas). A Conservação de Solo é o modo pelo qual o se evita o agravamento da condição natural e anterior do prédio inferior, em relação ao curso das águas. A responsabilidade, aqui, é dinâmica: toda e qualquer alteração do estado de fato depende de prévia comunicação e das medidas preventivas e corretivas necessárias.

O DIREITO DE AQUEDUTO Quando necessário, para o escoamento de águas supérfluas ou acumuladas, ou a drenagem de terrenos, é permitido a quem quer que seja, construir canais, através de prédios alheios (direito de aqueduto, Art. 1293 do Código Civil, Art. 117 do Código de Águas) Todas as obras necessárias para a sua conservação, construção e limpeza correrão por conta daquele que obtiver a servidão do aqueduto Prévia indenização aos proprietários prejudicados, Ressarcimento pelos danos que de futuro lhe advenham da infiltração ou irrupção das águas, bem como da deterioração das obras destinadas a canalizá-las. Menor prejuízo aos proprietários dos imóveis vizinhos o proprietário pode exigir que seja subterrânea a canalização que atravessa áreas edificadas, pátios, hortas, jardins ou quintais

OUTRAS QUESTÕES RELEVANTES AO DIREITO DE AQUEDUTO O Dono do aqueduto: Poderá ocupar, temporariamente os terrenos indispensáveis para o depósito de materiais para todas as obras necessárias para a sua conservação, construção e limpeza (podendo o proprietárioserviente exigir caução art. 126 do CA) Tem direito de passagem e trânsito por suas margens para seu exclusivo serviço (Art. 127 do CA) Poderá consolidar suas margens com relvas, estacadas, paredes de pedras soltas. (Art. 128 do CA) O dono do prédio serviente Tem direito tudo que as margens produzem naturalmente. Não pode fazer plantação, nem operação alguma de cultivo nas mesmas margens As raízes que nelas penetrarem poderão ser cortadas pelo dono do aqueduto. Tem direito a indenização inclusive em virtude de concessão por utilidade pública (Art. 126 do CA a despeito do Art. 11, do 1º do Dec. Estadual 41.719/97.)

PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS REINTEGRAÇÃO DE POSSE Servidão Ingresso na propriedade dominante para adoção de medidas de conservação Erosão do solo a ameaçar torres de energia elétrica Inteligência do art. 1.380, do CC/02 Criação de obstáculos Esbulho configurado: A criação de obstáculos ao ingresso na propriedade dominante para adoção de medidas de conservação, conforme prevê o art. 1.380, do CC/02, diante de erosão do solo a ameaçar torres de energia elétrica, configura esbulho possessório, autorizando a concessão da reintegração de posse de interesse. IRRIGAÇÃO DIREITO DE VIZINHANÇA. AÇÃO COMINATÓRIA. VALETA CONSTRUÍDA PRÓXIMA À DIVISA, ocasionando erosão e desmoronamento de taipa. PRETENSÃO AO FECHAMENTO DA VALETA. escoamento de água da lavoura do próprio autor sobre as terras dos réus. responsabilidade destes não configurada. tratando-se de águas levadas artificialmente ao prédio superior, pode o dono do prédio inferior exigir que se desviem art. 1.289 do CC. possível situação prevista no art. 1.293 do cc NÃO RESOLÚVEL NESSE PROCESSO. RECURSO PROVIDO PARA JULGAR IMPROCEDENTE A AÇÃO.

PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS GALERIAS DE ÁGUAS PLUVIAIS Servidão administrativa, Construção de galeria para escoamento de águas pluviais. Ação julgada procedente. Recurso da Municipalidade provido para dilatar o prazo para a execução das obras. Recurso da requerida provido em parte para impor multa cominatória e inverter os encargos processuais. (TJ-SP 0076104-39.2000.8.26.0000 Apelação Com Revisão)

OBRIGADO! Francisco de Godoy Bueno Sócio do Bueno, Mesquita e Advogados Diretor Jurídico da Sociedade Rural Brasileira Pesquisador do Grupo de Estudos Agrários GEA/USP Rua Pedroso Alvarenga, nº 1.284, Cj. 111 Itaim Bibi São Paulo SP CEP 04531-004 www.buenomesquita.com.br facebook.com/buenomesquita