Vitimização e Violência

Documentos relacionados
Distribuição Espacial dos Casos de Mortes por Agressão na Cidade de Cuiabá- MT entre os anos 2000 e 2010.

Escola de Formação Política Miguel Arraes

Projeto de Recuperação 1º Semestre - 1ª Série

Prof. (a) Naiama Cabral

Violência(s), Direitos Humanos e Periferia(s): Quais relações?

T ro de Partida. Cristiana Ribeiro João Serralheiro Sofia Loureiro

Faltam polícias na rua

Desigualdade, pobreza e violência em Porto Alegre

Barómetro APAV INTERCAMPUS Vitimação de Estabelecimentos Comerciais Preparado para: Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) Dezembro de 2013

DIREITOS HUMANOS. Política Nacional de Direitos Humanos. Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência. Profª.

Morte brasileira: a trajetória de um país

Prevalência de lesões corporais em região oro-facial registrados no Instituto Médico Legal de Pelotas/RS. 1. Introdução

Dissertação Argumentativa parte II. Professor Guga Valente

Dra. EVELYN EISENSTEIN BRASÍLIA, 17 DE NOVEMBRO DE 2017


CAMPANHA INSTINTO DE VIDA Redução de homicídios ABRIL 2017

Segundo o Censo 2010 aponta que aproximadamente 85% é urbano;

REDAÇÃO Diminuição da maioridade penal em questão no Brasil

Dica: Planejamento anual para as aulas de Sociologia do Ensino Médio

Violência: Brasil tem o maior número absoluto de homicídios no mundo

os diferentes tipos de introdução

IMPACTOS E MITOS SOBRE AS ARMAS DE FOGO. São Paulo, 10 de junho de 2011

Análise do filme Os Escritores da Liberdade

EMENTA DA ATIVIDADE CURSO (CR) MORTES NA ADOLESCÊNCIA PESQUISA E CLÍNICA EM INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO

n 06 - janeiro-abril de 2011 ISSN

Sumário 1. As funções mentais superiores (a Síndrome de Pirandello) 2. Perspectivas teóricas (a eterna busca da realidade)

PLANO DE ENSINO. Promover o desenvolvimento das competências e habilidades definidas no perfil do egresso, quais sejam:

DESAFIOS DO ENFRENTAMENTO AOS CRIMES LETAIS INTENCIONAIS NO ESPÍRITO SANTO

PLANO DE REDUÇÃO DE DANOS ÀS VIOLÊNCIAS NA MARÉ

Pesquisa Dimensões da cidade: favela e asfalto

Saúde e espaço social: reflexões Bourdieusianas. Ligia Maria Vieira da Silva Instituto de Saúde Coletiva - UFBa

Aula 7 Dinheiro, moedas e finanças: perspectivas sociológicas sobre os meios das transações econômicas

PLANO-PADRÃO DE UMA ARGUMENTAÇÃO

PARTE 1 NOÇÕES GERAIS DE CRIMINOLOGIA

Jornal da Lei - Quais foram os caminhos da nossa legislação até agora para acompanhar e compreender os cibercrimes, em destaque o pornô de vingança?

Ela consegue manipular um homem, de preferência, e convence-lo a praticar o crime para ela.

7 GERAL DA RELAÇÃO Duas cartas que representam a essência da relação, a energia envolvida no relacionamento de ambas as partes.

CONSULTA PARTICIPATIVA

CADERNO DE EXERCÍCIOS 3F

SITUAÇÕES E REPRESENTAÇÕES SOBRE ADOLESCENCIA, JUVENTUDE E VIOLÊNCIA: UM ESTUDO QUALITATIVO A PARTIR DA MÍDIA IMPRESA PARAENSE

O extermínio da juventude negra no Maranhão Nota da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH)

II. Violência contra a mulher: dados 2015

A REPRESSÃO DAS LEIS PENAIS SOMENTE PARA OS ESCOLHIDOS

JUVENTUDE E VIOLÊNCIA: VULNERABILIDADES, ESTIGMATIZAÇÃO E TERRITÓRIO

Imigração. Fechamento do abrigo de Brasiléia (AC)

Culturas d e. Perifer ias

ÍNDICE E CARACTERÍSTICAS DAS MORTES VIOLENTAS EM IDOSOS NO ANO DE 2012 NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE/PB.

Aula 26 Raça e Etnia / Gênero e Sexo

O que é uma pesquisa de vitimização?

DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR

Introdução 12. II prestar o atendimento com o técnico especializado; III elaborar relatório técnico.

TITLE Bullying preconceito e inclusão. ÁREA DE ENFOQUE: Paz e Prevenção e Resolução de Conflitos! Projeto da Coordenadoria Distrital

Bullying. Psiquilíbrios

Alex Sandro Ventura Griebeler Sara Munique Noal Vanessa Evangelista Rocha

Mídia e Drogas: uma necessária reflexão para a Psicologia e para as Políticas Públicas

V Curso de Especialização em Segurança Pública e Cidadania Violência e Conflitualidade Novembro de 2014

VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE URBANA

Caminhos de superação da violência Dra. Marlene Inês Spaniol

REDAÇÃO. aula Formas de introdução

Instruções para a prova de Redação:

MPLA. Discurso do Camarada João Lourenço na 2ª Reunião do Comité Internacional da OMA

XVIII Congresso Mundial de Epidemiologia VII Congresso Brasileiro de Epidemiologia

OS MORADORES DA CIDADE DE DEUS E O SENTIMENTO DE EXCLUSÃO SOCIAL: POVO X NAÇÃO

Mal-me-quer, Bem-me-quer!

SÃO PAULO, 17 DE MARÇO DE 2011

Proposta de redação: Somos todos iguais : expressão falaciosa da democracia moderna. O racismo ainda bate às portas.

Ao mesmo tempo, de acordo com a pesquisa da Anistia Internacional, a maioria dos brasileiros condena a tortura: 83% concordam que é preciso haver

Resolução de Questões do ENEM (Noite)

Doméstica Sexual Outra (especifique) Sim Não Não Sabe. Violência Sexual Outra (especifique) Sim Não Não Sabe. Sim Não Não Sabe

Perfil das Vítimas e Agressores das Ocorrências Registradas pelas Polícias Civis (Janeiro de 2004 a Dezembro de 2005)

JUVENTUDE DO BAIRRO PEDRINHAS: O SENTIDO DE SER IDENTIFICADA E IDENTIFICADO COMO BANDIDO E CLASSE PERIGOSA. Carmelucia Santana de Souza 1

Rui Abrunhosa Gonçalves

1. O CONCEITO DE VIOLÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES

AÇÕES CULTURAIS EM M BOI MIRIM E CAMPO LIMPO: DIVERSIDADES E CONEXÕES

ASPECTOS GERAIS DA COBERTURA

ORIENTAÇÃO DOUTRINÁRIA EM CASOS DE ATENDIMENTO FRATERNO

PROVA DISCURSIVA P 3

Introdução. Graduanda do Curso de Psicologia FACISA/UNIVIÇOSA. com. 2

INSTITUTO MARIA AUXILIADORA

DECRETO Nº DE 12 DE JUNHO DE 2012.

1º AULÃO ENEM Sociologia 1) SAS. 2 ENEM

A relação entre a iniciação do uso de drogas e o primeiro ato infracional entre os adolescentes em conflito com a lei

COLÉGIO REFFERENCIAL Absolutamente diferente

Lei Maria da Penha completa 8 anos

EXERCÍCIO DAS AULAS 5 e 6

CURSO DE CAPACITAÇÃO DE ATORES DA REDE DE ENFRENTAMENTO E PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL

Redução da maioridade penal: justiça ou vingança? Camila Valle[1]

Resenha. Mídia e Violência: tendências na cobertura da criminalidade e segurança no Brasil (RAMOS, Silvia. Rio de Janeiro: IUPERJ, 2007.

PERFIL DA MORTALIDADE POR SUICÍDIO NO MUNICIPIO DE CURITIBA 2015

CARACTERIZAÇÃO DE ÓBITOS REGISTRADOS NO INSTITUTO MÉDICO LEGAL DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ NO TRIÊNIO

GEOGRAFIA ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO

CONCURSO PÚBLICO Aplicação: 10/3/2002

A Teoria Crítica e as Teorias Críticas

Gênero e Saúde: representações e práticas na luta pela saúde da mulher

REDUZIR É OMITIR, EDUCAR É AGIR!

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular CRIMINOLOGIA Ano Lectivo 2017/2018

1. Justificativa e concepção geral

Apêndice. Suzana Varjão

Aula nº. 35 CONCURSO DE PESSOAS. c) IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PENAL d) LIAME SUBJETIVO OU VÍNCULO PSICOLÓGICO

Transcrição:

Vitimização e Violência Violência contra o jovem Tempo previsto: duas aulas

Críticas 1. Os argumentos expostos são, no máximo, exposições do código penal, ou então uma interpretação biológica acerca da violência. 2. Não há discussão sobre como se dá a violência na esfera branco/negro, homem/mulher 3. O capítulo pode ajudar a solidificar o senso-comum. 4. O capítulo cita a violência simbólica, mas não aprofunda esse conceito. 5. Como tratar de violência sem falar de poder e dominação?

6. Não há uma explicação histórica e nem uma tentativa de mostrar que há uma relação com uma estrutura maior. Se um jovem que mora na favela tem mais chances de entrar no mundo do crime, o que levou a isso acontecer? É natural? 7. Título: Os conceitos vitimização e violência parecem ser contrários. A ideia exposta é que são noções distintas e talvez sem relação. 8. Imagem (p.19): chocante não levanta discussão. Seria uma tentativa mais de aterrorizar do que de levantar um questionamento? Será uma ameaça? 9. Questões da imagem anterior: as questões pedem números, apenas isso. 10. Avaliação: Pede uma dissertação que precisa de uma base não existente no capítulo. 11. Bibliografia: não existe. Somente no capítulo anterior com a Hannah Arendt.

1ª aula Retomando os conceitos Quais são os tipos de violência? Física Psicológica Simbólica Segundo Hannah Arendt, faltam estudos sobre a violência. A violência e sua arbitrariedade foram consideradas corriqueiras e, portanto, desconsideradas; ninguém questiona ou examina o que é óbvio para todos. (Oliveira e Guimarães)

Mortalidade por causa no Brasil (2004) Pop. jovem*(% ) Pop. não jovem**( %) Naturai s Acidente de transport e Homicídi o Externas Suicídio Total de Externas Total 27,9 17,1 39,7 3,6 72,1 100 90,4 2,8 3,0 0,6 9,6 100 Fonte: Mapa da Violência 2006 apud Caderno do professor de Sociologia do Estado de São Paulo do 2º ano do ensino médio, 2009, p. 21 (adaptado). *15 a 24 anos ** 0 a 14 e 25 ou mais

Óbitos por homicídio e acidente em população jovem (2004) Brancos Negros Taxa de homicídio 34,9 64,7 Taxa de óbitos por acidente 26,0 17,3 Fonte: Mapa da Violência 2006 apud Caderno do professor de Sociologia do Estado de São Paulo do 2º ano do ensino médio, 2009, p. 24 (adaptado). No contexto de crescimento da violência urbana, estudos sobre mortalidade por causas violentas vêm indicando que, em todo o país, o alvo preferencial dessas mortes são adolescentes e jovens adultos masculinos, em especial procedentes das chamadas classes populares urbanas. Trata-se de uma tendência que se verifica em praticamente todas as capitais brasileiras. (Adorno)

A mídia tem enfatizado que a violência entre jovens está piorando. No entanto, há alguns mitos: O perfil de crime juvenil é parecido com o adulto Não é porque são pobres que são delinquentes A situação não piorou com o ECA

Por que isso ocorre? Para Zaluar (apud Adorno), este processo tem relação com o desmantelamento de redes de sociabilização. Os jovens são então capturados por meio dos atrativos oferecidos pela sociedade de consumo e pelas possibilidades de afirmação de uma identidade masculina associada à honra e à virilidade (Adorno) Estudos mostram que a maioria dos jovens vítimas de violência na verdade não estavam envolvidos com tráfico ou crime. Estas pessoas estariam, segundo Peres (et. al., 2006), numa situação de vulnerabilidade.

Mas o que leva à violência? Para Arendt a violência não é um fenômeno natural A violência não é nem bestial nem irracional : Ela não promove causas, nem a história, nem a revolução, nem o progresso, nem o retrocesso; mas pode servir para dramatizar queixas e trazê-las à atenção pública. (Arendt apud Oliveira e Guimarães) Portanto, é instrumental. A violência é ação sem argumentação. Portanto, a reversão da violência passa pelo processo de devolver às pessoas o direito à palavra, a reivindicação pelos seus direitos e necessidades, pela criação de espaços de discussão.

Normalmente as análises sociais e midiáticas privilegiam o jovem e adolescente como produtor de violência, destacando seu envolvimento com a delinquência e a criminalidade, com os tráficos de drogas e armas, com as torcidas organizadas, com os espetáculos musicais nas periferias das grandes metrópoles. Todavia, existem algumas investigações, que apontam o jovem como vítima prioritária da violência. Outras pesquisas mostram estes jovens não apenas enquanto vítimas, mas também como algozes. (Oliveira e Guimarães) Portanto: quem é vítima e quem é culpado?

2ª aula Trecho do filme Blue eyes Trecho da música Negro drama

Música Negro drama Racionais Negro drama, Mc s Entre o sucesso e a lama, Dinheiro, problemas, Inveja, luxo, fama. Negro drama, Eu sei quem trama, E quem tá comigo, O trauma que eu carrego, Pra não ser mais um preto fodido. Você deve tá pensando, O que você tem a ver com isso, Desde o início, Por ouro e prata,

Olha quem morre, Então veja você quem mata, Recebe o mérito, a farda, Que pratica o mal, Me ver, Pobre, preso ou morto, Já é cultural. Eu era a carne, Agora sou a própria navalha, Família brasileira, Dois contra o mundo, Mãe solteira, De um promissor, Vagabundo, Senhor de engenho

Violência simbólica Segundo Pierre Bourdieu, na base de todos os fenômenos sociais, há um inato conflito de interesses onde o poder se faz presente. Sua visão interpreta a sociedade além do universo objetivo, transpondo ao universo simbólico. Bourdieu defende a ideia de que o poder simbólico é ainda mais dominador por ser irreconhecível, transfigurado e legitimado as outras formas de poder. Dentro desse universo, as formas de classificação exercem seu poder quando se tornam arbitrárias e não universais. Dentro do espaço social, portanto há diferentes campos com específicas logicas, mas todas compartilham um espaço de força na qual ganha quem tem o maior capital.

Na verdade, essa espécie de partilha entre vítimas ou agressores é puramente didática. Ambos aspectos constituem distintos ângulos do mesmo problema: a extrema dificuldade da sociedade brasileira em lidar com as necessidades, expectativas de vida, modos e estilos de vida próprios de crianças e de adolescentes, sobretudo daqueles procedentes dos estratos sócioeconômicos situados nos níveis inferiores das hierarquias sociais. (Adorno)

Proposta de avaliação Na primeira aula solicitar aos alunos que se juntem em grupos e tragam uma notícia sobre violência entre jovens com uma breve dissertação de quais as possíveis violências poderiam estar ocorrendo na situação analisada.

Bibliografia Oliveira, W. e Guimarães, M. O conceito de violência em Hannah Arendt e sua repercussão na educação. Adorno, S. Crianças e adolescentes e a violência urbana. Caderno do Professor de Sociologia do Estado de São Paulo do 2º ano do ensino médio, 2009. Bourdieu, Pierre. A economia das trocas simbólicas.