Revista de Administração da Unimep E-ISSN: Universidade Metodista de Piracicaba Brasil

Revista de Administração da Unimep E-ISSN: 1679-5350 gzograzian@unimep.br Universidade Metodista de Piracicaba Brasil de Souza, Donizeti Leandro; Leite Mesquita, Daniel; Antonialli, Luiz Marcelo ESTUDO BIBLIOMÉTRICO SOBRE SUPPLY CHAIN MANAGEMENT: UMA ABORDAGEM EXPLORATÓRIA EM PERIÓDICOS BRASILEIROS Revista de Administração da Unimep, vol. 15, núm. 1, enero-abril, 2017, pp. 26-50 Universidade Metodista de Piracicaba São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273750689002 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Revista de Administração da UNIMEP. v.15, n.2, Janeiro/Abril - 2017 ISSN: 1679-5350 DOI: ESTUDO BIBLIOMÉTRICO SOBRE SUPPLY CHAIN MANAGEMENT: UMA ABORDAGEM EXPLORATÓRIA EM PERIÓDICOS BRASILEIROS BIBLIOMETRIC STUDY ON SUPPLY CHAIN MANAGEMENT: AN EXPLORATORY APPROACH IN BRAZILIAN JOURNALS Donizeti Leandro de Souza (Universidade Federal de Lavras) donizeti.souza@ifsuldeminas.edu.br Daniel Leite Mesquita (Universidade Federal de Lavras) mdleite@gmail.com Luiz Marcelo Antonialli (Universidade Federal de Lavras) lmantonialli@uol.com.br Endereço Eletrônico deste artigo: http://www.raunimep.com.br/ojs/index.php/regen/editor/submissionediting/876 Resumo Os estudos sobre gerenciamento da cadeia de suprimentos (Supply Chain Management - SCM) têm assumido uma diversidade de definições tanto no campo gerencial quanto científico. A problemática que se coloca, aos pesquisadores e demais interessados no assunto, é compreender a dimensão e as características dos estudos sobre SCM para avanços teóricos e metodológicos, especialmente no contexto brasileiro. Neste sentido, o objetivo deste artigo é identificar as principais características dos estudos sobre SCM no Brasil, buscando analisar os principais periódicos, pesquisadores e instituições de ensino, as temáticas mais frequentes, as correntes de estudos e as metodologias predominantes, de forma a apontar novos caminhos para a condução de pesquisas futuras. O estudo partiu de uma abordagem exploratória, investigando os artigos brasileiros sobre SCM, indexados na base SPELL (Scientific Periodicals Electronic Library) e na base Scielo Brasil por meio da bibliometria. Para tanto, o estudo se baseou em 134 artigos, publicados entre os anos de 2008 a 2014 em 49 periódicos brasileiros, sendo investigadas as teorias e as metodologias utilizadas, os principais autores e instituições, além das principais abordagens de estudos e obras referenciadas. Dentre os principais resultados, notou-se que os estudos brasileiros sinalizam para uma diversidade de autores e instituições, no entanto, as pesquisas não têm sido conduzidas de maneira consistente para o avanço da temática no país, uma vez que não identificou a predominância de abordagens teóricas consistentes e abordagens metodológicas diversificadas, sendo predominante o uso de abordagens exploratórias e muito focadas em estudos de casos. Como sugestões para estudos futuros, sugere-se comparar os resultados deste estudo com as características e tendências de pesquisas internacionais, de forma a apresentar informações Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 26

mais amplas sobre a necessidade de avanços nas pesquisas sobre SCM no Brasil. Tais compreensões podem fomentar novos estudos e contribuir para o avanço da temática no contexto brasileiro. Palavras-chave: Cadeia de suprimentos. SCM. Bibliometria. SPELL. Scielo. Abstract The studies concerning Supply Chain Management (SCM) have assumed the difficulties of the definitions for the multiple approaches that the concept has both in managerial and scientific fields. The question brought to researchers and other interested in the theme is to comprehend the dimension and the characteristics of SCM studies in Brazil. In this sense, the purpose of this study is to identify the published papers on Supply Chain Management in Brazilian journals by means of bibliometry, identifying the main characteristics and limitations for the theoretical advance in the country. The study came from an exploratory approach investigating Brazilian papers about SCM indexed on database SPELL (Scientific Periodicals Electronic Library) and database Scielo Brazil. Were analyzed 134 papers of 49 Brazilian journals, between 2008 to 2014 being investigated the main theories, institutions and main referenced works. Among the main results, we notice that the papers published in Brazilian journals points out a diversity of authors and institutions, however, the researches haven t been undertaken in a consistent way for the advance of studies on SCM in Brazil. On the main themes it highlights that there is no specific theoretical stream on SCM. As main conclusions of this paper, we observed that the papers published in Brazilian journals are still incipient with the majority of the studies consisting of exploratory research and case studies, with the need of rising new methods for advancing Brazilian study s field on SCM. As suggestion for future studies it highlights a larger period of analysis for the analyzed journals, other methodological approaches and the comparison of the results with international research, in a way to present more concrete information for the advance of the research in Brazil moreover the research is important for identifying a bibliometric study in Brazil and providing means to enhance the research on SCM in organizational studies. Key words: Supply Chain Management. Bibliometry. SPELL. Scielo. Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 27

Artigo recebido em: 25/01/2015 Artigo aprovado em: 23/12/2016 1 Introdução O aperfeiçoamento dos sistemas logísticos tem possibilitado a quebra de barreiras geográficas entre consumo e produção, permitindo a criação de vantagens competitivas por meio de melhores práticas de gestão. Mais recentemente, percebe-se uma preocupação com o gerenciamento de toda a cadeia de suprimentos, do inglês Supply Chain Management (SCM), considerando que novas oportunidades de negócios dependem da coordenação e da colaboração entre os integrantes da cadeia de suprimentos (BALLOU, 2006). Do ponto de vista estratégico, os conceitos de SCM introduzem mudanças no cenário competitivo, indicando que as vantagens competitivas ocorrem na gestão da cadeia (interna e externa) e não mais entre empresas isoladas (SAENZ; REVILLA; KNOPPEN, 2011). No entanto, em termos conceituais, percebe-se certa dificuldade de definições sobre SCM devido às múltiplas abordagens do termo na literatura. A problemática que se coloca, aos pesquisadores e demais interessados no assunto, é compreender a dimensão e as características dos estudos sobre SCM, de forma a identificar quais as tendências e as limitações para o avanço da temática, principalmente no contexto brasileiro. No campo das ciências sociais é comum que diferentes estudos tendem a apresentar diferentes conclusões sobre um mesmo fenômeno, tornando difícil a consolidação de novos conhecimentos e descobertas. Tal fragmentação da produção científica torna o ritmo da produção do conhecimento agrupado em ilhas que impossibilitam a compreensão significativa dos fenômenos de forma sistêmica. Assim, surge a necessidade de agrupar evidências de pesquisas semelhantes em generalizações analíticas mais amplas, capazes de construir, estender e/ou refinar novas descobertas teóricas. Entre os principais desafios emergentes, alguns podem ser destacados: os estudos sobre SCM se mostram diversificados? Existem perspectivas teórico-metodológicas dominantes? Quais as instituições de pesquisas mais envolvidas com o tema? Buscando respostas a estas perguntas, o objetivo deste artigo é identificar as principais características dos estudos sobre SCM publicados em periódicos brasileiros. Para isto, o estudo visa identificar os periódicos brasileiros que mais têm publicado sobre o tema, os principais Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 28

pesquisadores, instituições de ensino, temáticas, correntes de estudos e as metodologias mais utilizadas, de forma a apontar novos caminhos para pesquisas futuras. O estudo se justifica pela importância do tema no cenário nacional e internacional, buscando oferecer, aos pesquisadores e demais interessados, uma análise recente sobre o panorama das publicações relativas a SCM no Brasil, o que contribui para um mapeamento mais preciso sobre os estudos relacionados ao SCM no contexto brasileiro. 2 Referencial teórico As recentes transformações econômicas e tecnológicas ocorridas nas últimas décadas fizeram com que a gestão de bens e serviços passasse a ser integrada em grandes cadeias de fabricantes e fornecedores, dando origem ao conceito de Supply Chain Management (SCM) ou gerenciamento das cadeias de suprimentos (PIRES, 2009). Embora os conceitos de SCM tenham surgido no início da década de 1980, a pesquisa nesse campo era praticamente inexistente até a metade dos anos 1990, quando então se deu um crescimento significativo nas publicações sobre o tema, caminhando, atualmente, para sua consolidação acadêmica e gerencial (ALFALLA-LUQUE; MEDINA-LOPEZ, 2009). Burgess, Singh e Koroglu (2006), apontam que o campo de estudos em SCM é pouco consensual em termos conceituais, o que gera ambiguidades de análise e foco de pesquisa. A literatura sobre SCM tem sido um tema complexo e não consolidado, englobando áreas desde a Gestão da Produção e Operações ao Marketing, o que emerge a necessidade de novos estudos para que o tema se solidifique como disciplina (TEIXEIRA; LACERDA, 2010). Cousins, Lawson e Squire (2006) indicam que há um intenso esforço de pesquisa nesse campo ao redor do mundo. No entanto, Storey et al (2006) revelam que o SCM é, na melhor das hipóteses, um tema emergente, tanto em termos teóricos quanto práticos, pois poucos pesquisadores têm buscado um alcance mais amplo desta abordagem. Já outros autores apontam que o conceito de SCM está progredindo em seu desenvolvimento teórico, podendo ser julgado como uma disciplina emergente, uma vez que está sendo incluído, cada vez mais, nas bases de dados internacionais o que consolida o termo como um tema relevante para a academia (HARLAND et al 2006; ELLRAM; COOPER, 2014). Machline (2011) assevera que a evolução do SCM deu-se a partir de quatro estágios da logística. No primeiro estágio o foco estava no sistema de transporte, em que fornecedores, empresas e clientes eram vistos como agentes isolados, sem relações estratégicas entre si. No Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 29

segundo estágio, o foco evoluiu para uma visão sistêmica da logística empresarial, em que, fornecedores, empresas e clientes passaram a serem vistos como interdependentes das estratégias logísticas. No terceiro estágio, o foco evoluiu para a preocupação com a cadeia de suprimentos e a visão integrada de toda a cadeia produtiva, tanto no fluxo de mercadorias, como no fluxo de recursos financeiros e de informação. Atualmente, o termo assume o foco nas redes de suprimentos e na visão global de gerenciar toda a rede de fornecedores e clientes para a criação de vantagens competitivas. De modo geral, entende-se, por cadeias de suprimentos o conjunto de três ou mais entidades (organizações ou indivíduos) diretamente envolvidas nos fluxos, a montante e a jusante, de produtos, serviços, finanças e/ou informações, do fornecedor ao cliente, sendo que, o gerenciamento da cadeia de suprimentos (SCM) diz respeito às ações integradas de planejar, controlar e otimizar o fluxo de bens, informações e recursos nos diversos elos, desde os fornecedores ao cliente final (MENTZER et al., 2001; BALLOU, 2006; PIRES; SACOMANO NETO, 2008). O SCM representa, portanto, uma rede de organizações que participam das etapas de formação e comercialização de determinado produto ou serviço. Dependendo do ramo de atuação, uma organização pode participar de diferentes cadeias, desempenhando diferentes funções, desde a extração ou manufatura de um componente, até a prestação de serviço logístico ou de vendas (SCAVARDA; HAMACKER, 2001). Desse modo, o SCM possibilita a estruturação das organizações pela via da cooperação e da coordenação entre os vários elos de uma cadeia produtiva, de forma a atender as necessidades de diversos clientes ao oferecer produtos e serviços de qualidade, com rapidez e flexibilidade e a custos competitivos (MIGUEL, 2009; SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009). Uma cadeia de suprimentos pode ser caracterizada em três estruturas de análise: a cadeia interna, a cadeia imediata e a cadeia global. A cadeia interna se refere ao fluxo de informações e materiais dentro da própria organização. A cadeia imediata se refere aos fornecedores e clientes diretos ou de primeira camada e seus fluxos integrados de materiais e informações. Por fim, a cadeia global é composta por todos os fornecedores e clientes e suas cadeias imediatas com seus respectivos fluxos (SLACK, 1993; PIRES, 2009). Alves Filho et al. (2004) argumentam que o SCM apresenta quatro pressupostos centrais: (I) ambiente competitivo, indicando que a competição passa a ser entre cadeias organizacionais e não mais entre organizações; (II) alinhamento estratégico e ganhos Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 30

coletivos, indicando que a competição entre cadeias pressupõe o alinhamento de estratégias organizacionais e repartição dos benefícios entre os participantes; (III) estrutura da cadeia, indicando uma descentralização das atividades, com papéis bem definidos e hierarquia organizada em níveis para eficiência dos processos e (IV) relações interorganizacionais, indicando a necessidade de relacionamentos cooperativistas e sustentáveis de longo prazo. No campo dos relacionamentos organizacionais, deve se envolver a integração de todas as atividades da cadeia em um enfoque estratégico, identificando oportunidades, compartilhando riscos e benefícios e promovendo a cooperação mútua entre os membros. Assim, os participantes devem desenvolver um mesmo objetivo e foco estratégico por meio de parcerias sustentáveis (WOOD JUNIOR; ZUFFO, 1998; MENTZER et al., 2001; CHAN; HOU; LANGEVIN, 2012). Omta e Hoenen (2012) estabelecem três perspectivas teóricas para a abordagem de SCM, são elas: (I) Perspectiva estrutural: cadeias de suprimentos devem ser mapeadas com o objetivo de visualizar os laços existentes entre as organizações. Nesta perspectiva, os componentes de gestão situam-se nos processos físicos, técnicos, gerenciais ou comportamentais. (II) Perspectiva relacional: as cadeias de suprimentos são construídas por redes de relacionamentos criadas por ativos relacionais específicos de governança, conhecimentos e recursos complementares, envolvendo os processos de gestão, o ambiente institucional e a interconexão de ativos entre parceiros. (III) Perspectiva de governança: cadeias de suprimentos são analisadas por tipologias que determinam o tipo de cadeia, como a complexidade das transações, a habilidade de se gerir conhecimentos e a capacidade dos fornecedores de atender as suas requisições (GEREFFI; HUMPHREY; STURGEON, 2005). Em relação às tipologias de SCM, Gereffi (1999) estabelece as cadeias controladas pela produção, com características de setores intensivos em capital e tecnologia, sendo aquelas em que grandes organizações coordenam as atividades de produção dos bens por toda a sua extensão e as cadeias controladas por compradores, com características de setores intensivos em trabalho e bens de consumo, geralmente controladas por grandes organizações varejistas que terceirizam as atividades produtivas. Uma cadeia de suprimentos opera em ambientes dinâmicos sob um conjunto de restrições variadas, tanto internas à cadeia, quanto relacionadas ao contexto institucional em que está inserida. As ações de gestão devem seguir regras institucionais macro (políticas, culturais e econômicas) e micro (relacionamentos e processos organizacionais) capazes de Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 31

influenciar no desempenho da cadeia e nas ações organizacionais (TANG, CAO; SCHVANEVELDT, 2008). Dentre as pressões institucionais, a literatura internacional aponta a necessidade das organizações desenvolverem relacionamentos técnico-produtivos sustentáveis, uma vez que as pressões sobre o desenvolvimento de tecnologias verdes têm recaído sobre as organizações, aos quais têm buscado soluções inovadoras para questões ambientais em toda a cadeia de suprimentos (VACHON, 2007). Atualmente, as organizações lidam com um incontável número de desafios ambientais como aquecimento global, controle de poluição e uma demanda crescente por produtos ambientalmente corretos, emergindo novas abordagens teóricas a partir da logística reversa e do Green Supply Chain como elementos de agregação de valor. Dessa maneira, uma das formas das organizações atenderem essas exigências, se dá através de mecanismos regulatórios ambientais, que se manifestam através de políticas e diretrizes normativas estabelecidas por governos, no sentido de direcionar e estimular o processo inovativo nas cadeias de suprimentos (VACHON, 2007; DORAN; RYAN, 2012). Frente à diversidade de conceitos, tipologias e estruturas de gestão apresentados, torna-se necessário uma descrição dos estudos sobre Supply Chain Management publicados em periódicos brasileiros, de forma a identificar oportunidades e limitações para o avanço da temática no país. Assim, serão apresentados, na próxima seção, os aspectos metodológicos adotados para atender os objetivos propostos. 3 Metodologia da pesquisa Tendo como base a revisão bibliográfica apresentada, este artigo buscou investigar os estudos sobre Supply Chain Management (SCM), publicados em periódicos brasileiros, por meio da bibliometria (PRITCHARD, 1969). Segundo Moretti e Campanário (2009), a bibliometria é uma técnica de pesquisa que envolve um conjunto de métodos quantitativos para investigar a produção escrita como o elemento principal da comunicação do conhecimento. O propósito é mapear os principais periódicos, autores e instituições que mais têm publicado sobre o tema, identificando as principais características, metodologias e abordagens predominantes, assim como as tendências e/ou limitações dos estudos publicados em periódicos brasileiros. Visando atender os objetivos propostos, a pesquisa adotou os seguintes procedimentos metodológicos: Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 32

1ª Etapa - Delimitação do escopo de análise: com o propósito de realizar uma ampla investigação e diminuir possíveis vieses de resultados, optou-se por considerar uma amostra representativa de periódicos nacionais. Como critério de seleção, optou-se por pesquisar os artigos indexados na base de dados SPELL (Scientific Periodicals Electronic Library) e na base Scielo Brasil, utilizando, como critério de classificação, as avaliações Qualis/CAPES de A1 a B3, na área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo. A escolha dos periódicos dessas coleções se deu em função de suas características de acesso aberto (disponibilidade de informação online), bem como pela qualidade e prestígio atribuído a essas bases no cenário científico e acadêmico brasileiro (SANTOS; NORONHA, 2013; AKIM; MERGULHÃO, 2015). Para a delimitação do período de investigação, foi considerado um recorte temporal entre os anos de 2008 a 2014. A opção por esse período deu-se pela preocupação em analisar apenas os trabalhos mais recentes, o que tende a apresentar características e tendências atuais, servindo de referência aos objetivos propostos. 2ª Etapa - Seleção dos artigos: Os critérios para seleção dos artigos se deram através da busca pelos termos: cadeia de suprimentos ou supply chain nos títulos ou palavras-chave. Nesta fase foram identificados 154 artigos publicados. Após um refinamento na amostra foram excluídos 20 artigos, por tratarem de assuntos fora do escopo de SCM (7 artigos), por possuírem classificação Qualis/CAPES inferior a B3 (3 artigos) ou por encontrar duplicidade de artigos nas Bases SPELL e Scielo Brasil (10 artigos). A amostra final foi então composta por um total de 134 artigos, publicados em 49 periódicos nacionais com classificações Qualis/CAPES variando de A2 a B3. 3ª Etapa - Instrumento de coleta dos dados: Uma vez selecionada a amostra, os artigos foram analisados com base nas seguintes variáveis: (a) periódico de origem; (b) conjunto de autores e afiliações (instituições); (c) citações de autores e obras mais recorrentes nos artigos publicados em periódicos nacionais; (d) principais temáticas abordadas; (e) principais metodologias, tanto em relação aos tipos de pesquisas, quanto em relação os principais métodos e técnicas utilizadas; (f) setores investigados e (g) principais correntes teóricas aplicadas aos conceitos de Supply Chain Management. Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 33

4ª Etapa - Aplicação do instrumento de coleta de dados: Definidos os instrumentos de coleta de dados, os artigos foram analisados quanto ao título, resumo, palavras-chave, tópicos abordados no referencial teórico, metodologia, resultados dos estudos e bibliografia utilizada. Visando diminuir possíveis vieses de interpretação, foram definidas, preliminarmente, diversos critérios e categorias para a análise dos artigos, sendo os dados organizados em planilhas do Microsoft Excel 2010. 5ª Etapa - Análise dos resultados: A análise dos resultados envolveu as seguintes etapas: (1) organização dos periódicos quanto à classificação Qualis/CAPES e o total de publicações; (2) principais autores e instituições em relação à quantidade de publicações; (3) total de publicações em cada ano de investigação; (4) principais temáticas e metodologias adotadas; (5) principais setores investigados; (6) correntes teóricas aplicadas aos estudos sobre SCM e (7) principais autores e obras citadas nos artigos publicados em periódicos nacionais. O estudo se caracteriza com sendo exploratório e transversal, exploratório por mapear os artigos sobre SCM publicados em periódicos brasileiros, algo não evidenciado na revisão bibliográfica realizada, e transversal por considerar um recorte temporal entre os anos de 2008 a 2014. Ademais, o artigo assume abordagens qualitativas (estudo bibliográfico e análise de conteúdo) e quantitativas (pesquisa bibliométrica), buscando triangular diferentes métodos para uma análise mais aprofundada sobre SCM (CRESWELL et al., 2003). 4. Resultados e discussões Analisando os 49 periódicos nacionais com publicações relacionadas ao SCM, foi possível identificar que a maior frequência de publicações deu-se nos seguintes periódicos: Journal of Operations and Supply Chain Management (JOSCM) da Fundação Getúlio Vargas, com um total de 17 artigos publicados, seguido pela Revista Gestão e Produção (G&P) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com um total de 10 publicações e pela Revista Production da Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO), com 09 artigos. Considerando apenas os 09 periódicos com maior frequência de publicações, identifica-se um total de 67 artigos, o que representa 50% de todos os artigos analisados. A relação dos periódicos nacionais analisados com maior quantidade de publicações pode ser observada na Tabela 1. Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 34

Tabela 1 - Periódicos brasileiros com maior frequência de publicações sobre SCM Periódicos (Entre 2008-2014) Total Journal of Operations and Supply Chain Management 17 Revista Gestão e Produção 10 Production Journal 09 Revista de Administração de Empresas 07 Revista de Administração da UNIMEP 07 Organizações Rurais & Agroindustriais 05 Gestão & Regionalidade 04 Revista de Administração e Inovação 04 Revista Pretexto 04 Fonte: Dados da pesquisa Uma vez identificados os periódicos e o total de publicações, os mesmos foram organizados de acordo com a classificação Qualis/CAPES na área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo. Observou-se que o estrato com a maior quantidade de periódicos corresponde à classificação B2, com um total de 17 periódicos (35% do total), seguido pelos estratos B1, com um total de 15 periódicos (31%), B3, com 11 periódicos (22% do total) e, por fim, pelo estrato A2, com um total de 6 periódicos (12% do total). A Tabela 2 apresenta a classificação Qualis/CAPES dos artigos investigados, assim como o total de periódicos e artigos publicados. Tabela 2 - Classificação Qualis/CAPES dos periódicos pesquisados Estrato Periódicos Total de Total de periódicos artigos Brazilian Administration Review (ANPAD); Revista de Administração A2 Contemporânea (ANPAD); Revista de Administração da USP (USP); Revista de Administração de Empresas (FGV); Revista de 6 26 Administração Pública (FGV) e Revista Gestão e Produção (UFSCar). Caderno Virtual de Turismo (UFRJ); Gestão & Regionalidade (USCS); Organizações Rurais & Agroindustriais (UFLA); Production journal (ABEPRO); Revista Contemporânea de Contabilidade (USFC); Revista B1 de Administração da UFSM (UFSM); Revista de Administração da UNIMEP (UNIMEP); Revista de Administração e Contabilidade da 15 45 Unisinos (UNISINOS); Revista de Administração e Inovação (USP); Revista de Administração FACES (FUMEC); Revista de Ciências da Administração (UFSC); Revista de Contabilidade e Organização (USP); Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 35

Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação (USP); Revista Eletrônica de Administração (UFRGS) e Revista Internacional de Desenvolvimento Local (UCDB). B2 Advances in Scientific and Applied Accounting (UFPB); Contabilidade, Gestão e Governança (UnB); Internext - Revista eletrônica de negócios internacionais (ESPM); Revista Alcance (UNIVALI); Revista Brasileira de Estratégia (PUC); Revista Contemporânea de Economia e Gestão (UFC); Revista de Gestão da USP (USP); Revista de Gestão Social e Ambiental (FEI); Revista Economia e Gestão (PUC); Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (FACECLA); Revista Gestão & Tecnologia (FPL); Revista Gestão e Planejamento (UNIFACS); Revista gestão 17 30 organizacional (UNOCHAPECÓ); Revista Ibero-Americana de Estratégia (UNINOVE); Revista Pretexto (FUMEC); Revista Sociedade, Contabilidade e Gestão (UFRJ) e Turismo em análise (USP). B3 Future Studies Research Journal (USP); Interface Revista (UFRN); Journal of Operations and Supply Chain Management (FGV); Perspectivas em Gestão & Conhecimento (UFPB); Revista REUNA (UNA); Revista da Micro e Pequena Empresa (FACCAMP); Revista de Negócios (FURB); Revista Eletrônica de Gestão Organizacional 11 33 (UFPE); Revista Eletrônica de Sistemas de Informação (UTFPR); Revista Eletrônica do Mestrado Profissional em Administração da Universidade Potiguar (UnP) e Revista Gestão e Sociedade (UFMG). Total 49 134 Fonte: Dados da pesquisa Quanto ao total de artigos, destacou-se o estrato B1, com 45 trabalhos publicados (33,5% do total), impulsionado, principalmente, pela grande quantidade de periódicos classificados neste estrato (15 ao total) e grande quantidade de artigos publicados no periódico Production journal (09 ao total), sendo este um dos periódicos que mais tem publicado sobre SCM no país. Complementam os resultados o estrato B3, com um total de 33 artigos publicados (24,5%), com destaque para o periódico Journal of Operations and Supply Chain Management, identificado como o único periódico nacional específico da temática, o que o credencia como o espaço que mais tem publicado sobre o assunto no país; o estrato B2, com um total de 30 artigos publicados (22,5%) e o estrato A2 (19,5%), com destaque para o periódico Gestão e Produção com 10 publicações, sendo também um dos periódicos analisados que mais tem publicado sobre SCM no país. Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 36

Considerando a relação entre o total de periódicos por estrato de classificação Qualis/CAPES e o total de publicações, destaca-se o estrato A2, com uma média de 4,33 publicações por periódico, a maior entre todos os estratos analisados. Diante destes resultados, percebe-se um notório interesse da academia pela temática ao identificar uma diversidade expressiva de periódicos com publicações no período investigado, além de boa qualidade dos artigos publicados, justificados pela consolidação de publicações em periódicos renomados do país, fato que contribui para o amadurecimento dos estudos sobre SCM no Brasil. 4.1 Principais autores e instituições relacionadas ao SCM no Brasil Analisando os pesquisadores e as instituições que mais publicaram sobre a temática na amostra pesquisada, identificou-se um total de 276 autores, vinculados a 82 instituições de ensino (nacionais e internacionais). Entre os autores, percebe-se baixa frequência de publicações, com destaque apenas para os seguintes pesquisadores: Rosane Lucia Chicarelli Alcântara (Universidade Federal de São Carlos), com um total de 6 artigos publicados, Antônio Carlos Gastaud Maçada (Universidade Federal do Rio Grande Sul), Roberto Giro Moori (Universidade Presbiteriana Mackenzie) e Sílvio Roberto Ignácio Pires (Universidade Metodista de Piracicaba), com um total de 4 artigos publicados, respectivamente. Nota-se que 85% dos autores (235 do total), tiveram apenas uma única publicação no período analisado e apresentaram baixa interação com pesquisadores de outras instituições no desenvolvimento de seus estudos. Tal resultado pode apresentar avanços e limitações dos estudos brasileiros sobre SCM. Por um lado, pode-se inferir um crescente interesse de pesquisadores brasileiros nas pesquisas sobre o tema, uma vez que foi evidenciado um número expressivo de autores no levantamento bibliométrico realizado. Entretanto, percebe-se que a maioria das pesquisas tem sido conduzida de maneira isolada, uma vez que não foi identificado um grupo consistente de pesquisadores, além de não identificar uma rede institucional coesa no desenvolvimento de parcerias (coautoria) nas pesquisas realizadas, fato este que revela uma limitação para os estudos sobre SCM no contexto brasileiro. Em relação à rede institucional de autoria (afiliação), percebe-se a existência de algumas instituições de ensino brasileiras com maior frequência de publicações, com destaque para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), com um total de 20 artigos publicados e 23 pesquisadores vinculados; seguida pela Universidade de São Paulo, com 13 artigos publicados e 23 pesquisadores vinculados e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com 12 Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 37

artigos publicados e 14 pesquisadores vinculados. A Tabela 3 apresenta as instituições de ensino com os maiores níveis de publicações e autores vinculados sobre o tema SCM. Tabela 3 - Instituições de ensino que mais publicaram sobre SCM no período de 2008-2014 Instituições Artigos publicados Pesquisadores vinculados Fundação Getúlio Vargas 20 23 Universidade de São Paulo 13 23 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 12 14 Universidade do Vale do Rio dos Sinos 11 19 Pontifícia Universidade Católica 11 17 Universidade Federal de São Carlos 11 14 Universidade Presbiteriana Mackenzie 07 11 Universidade Estadual Paulista 05 08 Universidade Federal de Minas Gerais 05 06 Centro Universitário da FEI 04 06 Fonte: Dados da pesquisa Considerando apenas as 10 instituições de ensino apresentadas na Tabela 3, percebe-se que estas representam a participação em 99 artigos (73%) dos 134 artigos analisados, além de 141 (51%) dos 276 pesquisadores identificados. Tais resultados indicam iniciativas de fortalecimento dos estudos brasileiros sobre SCM ao identificar grupos de pesquisadores na consolidação de espaços de pesquisas sobre o tema. 4.2 Principais referências e obras citadas nos estudos brasileiros sobre SCM Como etapa complementar à investigação dos principais autores e instituições, os artigos foram analisados quanto às citações mais frequentes de autores e de obras. Adotando a perspectiva de Moretti e Campanário (2009), optou-se pela sistematização e classificação das referências manualmente, sendo os dados colhidos um a um e identificados por mecanismos de filtros através do Microsoft Excel 2010. Esse procedimento cobriu todas as referências incluídas nos 134 artigos analisados, totalizando 4.941 referências, o que representa uma média de 37 referências por artigo. Entre os autores mais citados, destacam-se o professor Douglas M. Lambert, presente em 96 citações, e a professora de Marketing e Logística Martha C. Cooper, presente em 71 citações, sendo ambos vinculados a Ohio State University. Além disso, destacam-se o professor de Marketing e Logística da Cranfield School of Management, Martin Christopher, presente em 69 citações e o ex-professor de Marketing e Logística John Thomas Mentzer Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 38

(University of Tennessee), presente em 65 citações. A relação dos 10 autores mais citados nos artigos analisados pode ser observada na Tabela 4. Tabela 4 Lista dos autores sobre SCM mais citados nos artigos pesquisados Autores Total de obras citadas Douglas M. Lambert (Ohio State University) 96 Martha C. Cooper (Ohio State University) 71 Martin Christopher (Cranfield School of Management) 69 John T. Mentzer (University of Tennessee) 65 Donald J. Bowersox (Michigan State University) 58 David J. Closs (Michigan State University) 57 Ronald H. Ballou (Weatherhead School of Management) 44 Silvio R. I. Pires (Universidade Metodista de Piracicaba) 43 Michael Porter (Harvard Business School) 43 Jeffrey H. Dyer (University of Pennsylvania) 32 Fonte: Dados da pesquisa Interessante destacar a presença do professor Silvio R. I. Pires (Universidade Metodista de Piracicaba), único pesquisador brasileiro a figurar na lista dos autores mais citados, atingindo um total de 43 citações, representando, assim, uma referência nacional para os estudos sobre SCM. Já em relação às obras mais citadas, destacam-se os livros: Logistics and supply chain management: strategies for reducing costs and improving services, com um total de 36 citações, e Logistical Management: The Integrated Supply Chain Process, com um total de 34 citações. Além destes, destaca-se o periódico intitulado Defining supply chain management, com um total de 28 citações. O livro intitulado Gestão da cadeia de suprimentos: conceitos, estratégias, práticas e casos, do professor Silvio R. I. Pires (UNIMEP) também figura entre as obras mais citadas, com um total de 25 citações, reforçando a representatividade do professor Silvio R. I. Pires para os estudos brasileiros sobre SCM. A relação das obras mais citadas nos 134 artigos analisados pode ser observada pela Tabela 5. Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 39

Tabela 5 Lista das obras sobre SCM mais citadas nos artigos pesquisados Obras mais citadas CHRISTOPHER, M. Logistics and supply chain management: strategies for reducing costs and improving services. London: Pitman, 1992. BOWERSOX, D.; CLOSS, D. Logistical Management: The Integrated Supply Chain Process. New York, NY: McGraw-Hill, 1996. MENTZER, J. T.; DEWITT, W.; KEEBLER, J. S.; MIN, S.; NIX, N. W.; SMITH, C. D.; ANDZACHARIA, Z. G. Defining supply chain management. Journal of Business Logistics, v. 22, n. 2, p. 1-25, 2001. PIRES, S. R. I. Gestão da cadeia de suprimentos: conceitos, estratégias, práticas e casos. São Paulo: Atlas, 2004. CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operação. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. BALLOU, R. H. Business logistics management: planning, organizing and controlling the supply chain. London: Prentice Hall, 1992. LAMBERT, D. M.; COOPER, M. C. Issues in Supply Chain Management. Industrial Marketing Management, v. 29, n.1, p. 65-83, 2000. COOPER, M. C; LAMBERT, D. M; PAGH, J. D. Supply chain management: more than a new name for logistics. The International Journal of Logistics Management, v. 8, n. 1, p. 1-14, 1997. LAMBERT, D. M.; COOPER, M. C.; PAGH, J. D. Supply Chain Management: Implementation issues and research opportunities. The International Journal of Logistics Management, vol. 9, n. 2, p.1-20, 1998. BALLOU, R. H. Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 1993. Fonte: Dados da pesquisa Total de citações 36 34 28 25 25 21 19 15 15 12 Convém destacar que as obras: Estudo de caso: Planejamento e métodos, de Robert K. Yin (56 citações); Como elaborar projetos de pesquisa, de Antônio Carlos Gil (14 citações) e Multivariate data analysis, de Joseph F. Hair Jr. et al. (13 citações) não foram consideradas na Tabela 5 por serem obras relacionadas aos aspectos metodológicos e não aos aspectos teóricos/empíricos relacionados ao termo SCM, a que se propõe este estudo. Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 40

4.3 Principais temáticas adotadas nos estudos sobre SCM e setores de investigação Entre as temáticas mais debatidas, destacam-se os trabalhos envolvendo a importância da coordenação e do alinhamento estratégico em cadeias de suprimentos, visando à eficiência e a promoção de vantagens competitivas. O predomínio de tais abordagens se relaciona com a filosofia central do SCM que é a de promover a gestão compartilhada, em toda a rede de suprimentos, através de mecanismos de coordenação e cooperação entre os diversos elos da cadeia, integrando processos e interesses estratégicos capazes de agregar valor aos negócios e gerar vantagens competitivas (WOOD JUNIOR; ZUFFO, 1998; MENTZER et al., 2001; SCAVARDA; HAMACHER, 2001; ALVES FILHO et al., 2004; BALLOU, 2006; MIGUEL, 2009; PIRES, 2009; SAENZ, REVILLA; KNOPPEN, 2011). A Tabela 6 apresenta as abordagens de estudos dos 134 artigos analisados. Tabela 6 - Categorias de estudos sobre SCM no Brasil Foco de estudo Total de artigos % Coordenação e alinhamento estratégico em cadeias de suprimentos 35 26,12 Estratégias competitivas em Cadeias de suprimentos (múltiplas dimensões) 22 16,42 Avaliação de desempenho em cadeia de suprimento 22 16,42 Cooperação em cadeias de suprimentos 21 15,67 Sustentabilidade na cadeia de suprimentos 18 13,43 Gestão da informação na cadeia de suprimentos 10 7,46 Panorama teórico sobre Gestão da cadeia de suprimentos 6 4,48 Fonte: Dados da pesquisa Total 134 100,00 Percebe-se, ainda, grande interesse dos pesquisadores em investigar o SCM com foco na promoção de estratégias competitivas em múltiplas dimensões, seja para redução de custos, para aumentar a responsividade e a flexibilidade das organizações, dentre outros interesses econômicos ou operacionais (CHAN, HOU; LANGEVIN, 2012). Ademais, destaca-se o interesse por ações coletivas de sustentabilidade, visando atender as pressões institucionais por tecnologias verdes, fortalecer processos de gestão no longo prazo (VACHON, 2007; DORAN; RYAN, 2012) e avaliar o desempenho das cadeias de suprimentos para controlar as ações e promover estratégias de melhorias (BALLOU, 2006). Em relação às estruturas de gestão apresentadas por Slack (1993) e Pires (2009), percebe-se um interesse maior dos pesquisadores por investigar a cadeia global, em ações de Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 41

gerenciamentos preocupadas com estruturas de gestão de todos os elos participantes da cadeia (MENTZER et al., 2001; BALLOU, 2006), e não apenas com os processos internos (cadeia interna) ou com os relacionamentos entre fornecedores e/ou clientes imediatos (cadeia imediata). A relação das estruturas de análise sobre SCM pode ser observada na Tabela 7. Tabela 7 Estruturas de análises sobre SCM no Brasil Estruturas de análise Total de artigos % Cadeia global 54 40,30 Cadeia interna 40 29,85 Cadeia imediata 40 29,85 Total 134 100 Fonte: Dados da pesquisa Entre as abordagens teóricas mais utilizadas, nota-se que não há o predomínio de uma teoria especifica em SCM. Em sequência, observam-se teorias advindas dos seguintes campos de estudos: (1) redes interorganizacionais, destacando a importância da cooperação e os aspectos relacionais, contextuais e sistêmicos envolvidos nos relacionamentos; (2) Logística Reversa e Green Supply Chain, destacando os elementos de gestão estratégica para a sustentabilidade de cadeias de suprimentos e (3) múltiplas dimensões da Administração Estratégica no gerenciamento da cadeia de suprimentos, conforme apresentado na Tabela 8. Tabela 8 Principais abordagens teóricas adotadas nos artigos analisados Correntes teóricas utilizadas Total de artigos % Nenhuma teoria especifica 55 41,0 Teoria das redes interorganizacionais 19 14,2 Logística reversa (green supply chain) 19 14,2 Estratégias competitivas (múltiplas dimensões) 17 12,7 Logística integrada 16 11,9 Visão Baseada em Recursos (RBV) 13 9,7 Teoria dos custos de Transação 8 6,0 Outras correntes teóricas* 8 6,0 Total de artigos 134 - Fonte: Dados da pesquisa * Alguns estudos envolviam mais de uma corrente teórica Tais resultados se assemelham aos estudos internacionais sobre SCM no que se refere à utilização de abordagens teóricas advindas de redes interorganizacionais e perspectivas Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 42

múltiplas do campo da estratégia para a criação de vantagens competitivas (ALVES FILHO et al., 2004; BURGESS, SINGH; KOROGLU, 2006; SAENZ; REVILLA; KNOPPEN, 2011). No entanto, as abordagens teóricas relacionadas à teoria dos custos de transação e à visão baseada em recursos, apesar de presentes nos estudos, não se mostraram predominantes. Quanto aos setores investigados, identifica-se um predomínio de estudos relacionados ao setor industrial (grande porte), presente em 45,5% dos artigos investigados (61 artigos), sendo a cadeia da indústria automotiva o mais frequente entre os setores industriais identificados. Este resultado corrobora os estudos de Burgess, Singh e Koroglu (2006) e Pires (2009) quanto à relação do termo SCM com o setor industrial, especialmente na indústria automotiva. Outro setor de destaque nos estudos analisados se refere ao Agronegócio, presente em 14,93% dos artigos analisados (20 artigos). A Tabela 9 apresenta distribuição dos artigos analisados em relação aos setores de aplicação dos conceitos de SCM. Tabela 9 Setores identificados nos estudos analisados Setores Total de artigos % Indústria em geral 61 45,52 Nenhum setor específico 24 17,91 Agronegócio 20 14,93 Serviços 11 8,21 Comércio (varejista e atacadista) 9 6,72 Outros setores 9 6,72 Total 134 100 Fonte: Dados da pesquisa Ademais, nota-se uma variedade de pesquisas em outros setores, como no setor de serviços e comércio, indicando que os conceitos de SCM, apesar mais evidente no setor industrial, também têm sido aplicados nos mais variados setores, como na construção civil, no meio ambiente, no setor público, dentre outros, emergindo como um terreno fértil para a identificação de novas oportunidades de negócios nos processos de gestão (BALLOU, 2006). 4.4 Principais metodologias e técnicas de pesquisas utilizadas nos artigos investigados Em relação aos aspectos metodológicos, identifica-se uma predominância por estudos qualitativos, uma vez que 79 artigos (59% do total) representam abordagens exploratórias Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 43

para investigar diversos aspectos qualitativos dos processos de SCM. A Tabela 10 apresenta a representatividade dos artigos em relação aos tipos de pesquisa. Tabela 10 Tipos de pesquisa sobre SCM nos artigos analisados Tipo de pesquisa Total de artigos % Qualitativa 79 59,0 Quantitativa 30 22,4 Teórica 18 13,4 Métodos mistos (quali/quanti) 7 5,2 Total 134 100 Fonte: Dados da pesquisa A técnica de pesquisa mais utilizada tem sido o estudo de caso, presente em 59,7% dos artigos analisados (80 artigos), predominando o uso de entrevistas (54,5%) e a análise documental (38,1%) como estratégias para operacionalização das investigações, reforçando o caráter qualitativo dos artigos publicados nos periódicos nacionais. Entre as técnicas mais utilizadas em abordagens quantitativas, destacam-se o uso de métodos da estatística multivariada, presente em 20,1% dos artigos, com destaque para as técnicas de Modelagem de Equações Estruturais, Análise Fatorial e modelos de regressão. Por fim, nos estudos de cunho teórico, destacam-se a proposição de modelos teóricos nos diversos segmentos de gestão (a montante e a jusante) no SCM. A predominância por estudos qualitativos pode ser explicada por dois fatores principais: (1) a maioria das publicações está associada às pesquisas exploratórias, podendo indicar que os estudos sobre SCM, no contexto brasileiro, se encontram ainda incipientes e (2) existe uma preferência dos pesquisadores brasileiros por metodologias qualitativas (RODRIGUES; CARRIERI, 2001); indicando, desta forma, que os estudos brasileiros sobre SCM apresentam limitações de base metodológica, surgindo à necessidade de incentivos às pesquisas quantitativas e teóricas para o avanço da temática no país. 5. Considerações finais Pelos resultados apresentados, conclui-se que os estudos sobre SCM no Brasil apresentam carências do ponto de vista metodológico, visto que os estudos apresentam-se, primordialmente, como exploratórios e focados em estudos de caso. Conforme proposto por Paiva e Brito (2013), esse contexto indica uma realidade pontual nos estudos brasileiros a fim Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 44

de atender soluções organizacionais específicas. Evidencia-se, portanto, a necessidade da adoção de métodos e abordagens variadas, estimulando mais estudos teóricos para amadurecimento da disciplina de SCM no país, bem como a combinação com abordagens quantitativas, capazes de permitir generalizações e maior alcance dos resultados para o avanço teórico-empírico nos estudos brasileiros. Os resultados parecem, de forma geral, confirmar o que foi apontado no referencial teórico, pois, como a maior parte dos trabalhos não parte de uma teoria especifica, pode se dizer que ainda não há um corpo teórico consolidado sobre SCM. Isto se reflete na quantidade de estudos de caso (estudos pontuais), prejudicando a consolidação do tema no Brasil, uma vez que a presença de poucos estudos quantitativos ou quali/quanti não permitem maiores generalizações ou avanços teóricos. O predomínio de autores clássicos na maioria das citações pode indicar problemas no avanço da teoria. Soma se a esse fato os poucos estudos teóricos encontrados na amostra analisada. Curioso é que dada essa especificidade temática surpreende o fato da maioria dos estudos serem voltados a cadeia global e não interna ou imediata, o que pode estar relacionado a presença de cadeias de suprimento bem estruturadas no setor industrial (global). Fato característico da economia contemporânea. Complementando esses resultados com a análise das obras e principais autores citados, pode-se inferir que a discussão teórica sobre SCM no Brasil está aparentemente coerente com o contexto internacional sobre o tema. No entanto, somente uma comparação com uma base de dados internacional, utilizando os mesmos critérios adotados, poderia confirmar essa inferência, o que constitui uma das limitações deste artigo. Por fim, ressalta-se que este artigo contribui para os pesquisadores brasileiros ao apresentar informações relevantes sobre o estado da arte dos estudos sobre SCM no Brasil. Além disso, ao investigar os setores predominantes nos estudos sobre SCM, o artigo contribui em termos gerenciais, já que aponta para o setor industrial (automotivo) e para o setor de agronegócio como predominantes nos estudos analisados. Tal resultado pode servir de orientação para profissionais que atuam em SCM no Brasil. Apesar das contribuições desse estudo e da tentativa em inovar com um estudo bibliométrico com ampla abrangência em periódicos nacionais, torna-se importante destacar algumas limitações. A primeira refere-se aos possíveis vieses dos artigos investigados, pois, apesar do alto volume e diversidade dos periódicos pesquisados, foram considerados apenas Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 45

àqueles indexados as bases SPELL e Scielo Brasil, não sendo considerados outros periódicos nacionais não indexados a alguma destas bases. Por fim, outro fator limitante deve-se a interpretação dos artigos (análise qualitativa), pois, apesar de utilizar critérios metodológicos bem definidos, baseou-se muito na subjetividade dos pesquisadores, o que poderá apresentar vieses de interpretações na identificação das variáveis de análise. Como sugestões para estudos futuros, destaca-se a necessidade de ampliar os resultados apresentados empregando outras abordagens metodológicas para o mapeamento dos estudos sobre SCM no Brasil, além de compará-los com as características e tendências de pesquisas internacionais, de forma a apresentar informações mais amplas sobre o tema. Tais compreensões podem fomentar novos estudos e contribuir para o avanço da temática no contexto brasileiro. Referências AKIM, E. K.; MERGULHAO, R. C. Panorama da produção intelectual sobre a medição de desempenho na gestão pública. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 49, n. 2, p. 337-366, 2015. ALFALLA-LUQUE, R. C.; MEDINA-LOPEZ, C. Supply chain management: unheard of in the 1970s, core to today s company. Business History, v. 51, n. 2, p. 202-221, 2009. ALVES FILHO, A. G. et al. Pressupostos do Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos: evidências de estudos sobre a indústria automobilística. Gestão & Produção, v. 11, n. 3, p. 275-288, 2004. BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BURGESS, K.; SINGH, P. J.; KOROGLU, R. Supply chain management: a structured literature review and implications for future research. International Journal of Operations and Production Management, v. 26, n. 7, p. 56-70, 2006. Revista de Administração da UNIMEP v.15, n.1, Janeiro/Abril 2017. Página 46