Abertura da exposição de antiguidades egípcias do Museu Nacional de Arqueologia Autor(es): Publicado por: URL persistente: L.M.A. Instituto Oriental da Universidade de Lisboa URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24235 Accessed : 27-Oct-2017 00:45:54 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. impactum.uc.pt digitalis.uc.pt
ABERTURA DA EXPOSIÇÃO DE ANTIGUIDADES EGIPCIAS DO MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA Abriu no día 20 de Dezembro de 1993 a exposição de Antiguidades Egípcias do Museu Nacional de Arqueologia, instalada com carácter permanente em quatro salas museologicamente renovadas de acordo com um projecto arquitectónico de João Bento de Almeida em colaboração com Célia Anica. Ao mesmo tempo foi editado o catálogo da exposição, graficamente bem elaborado segundo a concepção de José António Rosado Flores, apresentando as peças seleccionadas para a mostra (está previsto um segundo volume destinado às mais de duas centenas de objectos que se mantêm nas reservas e que conterá também a tábua de concordância, glossário e bibliografia). A colecção de antiguidades egípcias do Museu Nacional de Arqueologia é constituída por mais de quinhentas peças, das quais cerca de trezentas se mostram na exposição permanente inaugurada no dia 20 de Dezembro, coincidindo com a passagem do centésimo aniversário da fundação do Museu pelo Professor Leite de Vasconcelos (1893). O acervo egiptológico é 0 maior do nosso país e foi reunido ao longo dos últimos oitenta anos, podendo considerar-se a data de 1909 como sendo o princípio da sua constituição: foi nesse ano que 0 Professor Leite de Vasconcelos trouxe do Egipto cerca de setenta objectos, sobretudo materiais pré-históricos e recipientes do período greco-romano. Umas duzentas peças reunidas pela rainha D. Amélia durante a sua viagem ao Egipto em 1903, e que seriam depois arroladas por uma comissão estatal na sequência da implantação da República, acabaram por dar entrada no Museu Nacional de Arqueologia, vindas dos vários locais onde se encontravam: o Palácio Nacional da Ajuda, 0 Palácio Nacional das Necessidades e 0 Museu Nacional de Arte Antiga. Uma importante doação de antiguidades egípcias foi feita pela família Palmeia, a ela se juntando depois as doações de Bustorff Silva e de Barros e Sá, entre outras. Existem cerca de cinquenta objectos cuja proveniência se desconhece, incluindo-se nestes uma múmia, esteias, amuletos e estatuetas funerárias. Durante bastante tempo julgou-se que parte do acervo de antiguidades egípcias do Museu, incluindo sarcófagos e múmias, seria originário de um barco alemão capturado no Tejo durante a Primeira Guerra Mundial. Mas não é verdade. O navio, com o nome de «Cheruskia III», transportava antiguidades assírio-babilónicas que foram devolvidas à Alemanha em 1926, tendo o Governo alemão retribuído 0 gesto com a cedência de objectos egípcios que neste momento se encontram no Museu de Pré-História e Arqueologia da Faculdade de Ciências do Porto. As três centenas de peças exibidas estão distribuídas no percurso expositivo de acordo com um critério temático-cronológico que vai desde a pré- -história à época copta, abrangendo desta forma um longo período histórico J77
com mais de cinco mil anos. A primeira unidade mostra um conjunto de materiais pré-históricos, entre os quais instrumentos de sílex, vasos de boca negra e paletas, seguindo-se os recipientes em pedra (sobretudo em alabastro), objectos do quotidiano, a epigrafia lítica e funerária (com estelas e altares de oferendas), estatuária e fragmentos diversos, uma boa mostra de estatuetas funerárias conhecidas pelo nome de chauabtis ou uchebtis, amuletos, escaravelhos e um núcleo de estatuetas votivas e de servos. A unidade dedicada à mumificação, certamente a mais espectacular e apelativa da exposição, inclui dois sarcófagos, uma múmia humana, múmias de animais (um falcão e crocodilos), máscaras funerárias, prato de oferendas, barco votivo, 178
entre outros objectos, rematando-se o circuito com os cones funerários, objectos em bronze e os tardios materiais do Egipto greco-romano e do Egipto copta. O acervo exposto constitui um eloquente exemplo da produção artística e utilitária do antigo Egipto, sendo de notar que a maioria dos objectos se encontram ligados ao Além, demonstrando o grande empenhamento dos Egípcios na preparação da vida eterna nos míticos campos de Osíris. Tais objectos evocam, desde os grandes sarcófagos antropomórficos aos pequenos amuletos e escaravelhos, uma das mais notáveis civilizações até hoje forjadas pela humanidade. E essa evocação, na sua singela e expressiva clareza, acaba afinal por corroborar a ideia que Eça de Queirós exprimiu sobre o país do Nilo na sua tão marcante e exótica viagem oriental de 1869, e que constitui emblemática epígrafe para o acervo: «O Egipto é um país simples, luminoso e claro.» L. M. A. 179