EFEITOS DO RESFRIAMENTO NA ESPERA PARA SECAGEM SOBRE A QUALIDADE DOS GR OS DE ARROZ NO ARMAZENAMENTO MOACIR CARDOSO ELIAS 1. et al. ( 1 Eng Agr, Dr., Professor. Laborat rio de P s-colheita, Industrializa o e Qualidade de Gr os, Depto de Ci ncia e Tecnologia Agroindustrial, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal de Pelotas (DCTA-FAEM-UFPEL, CP. 354. CEP 96010-900. Cap o do Le o, RS. E-mail: eliasm@gufpel.tche.br.) Palavras-chave: Armazenamento, arroz e qualidade INTRODU O A p s-colheita a etapa que representa o gargalo operacional mais expressivo da cadeia produtiva do arroz, e que para ser superado necessita de novas atitudes tecnol gicas embasadas em s lidos conhecimentos cient ficos. Crescem produtividade e produ o no mesmo ritmo em que reduzido o tempo de colheita, em decorr ncia da conjuga o de alguns fatores como avan os da pesquisa agron mica e da a o direta dos agricultores, principalmente com avan os de recursos de engenharia e de inform tica, que se refletem nas lavouras e se expressam na velocidade de colheita e no aumento das capacidades de transporte. Nas moegas e plataformas de recep o de agroind strias, cerealistas, cooperativas, e mesmo nas unidades dos produtores, chegam das lavouras gr os em quantidades cada vez maiores e com maior rapidez. Como enfrentar e resolver essa equa o multifatorial e multifacetada um dos maiores desafios das unidades de armazenamento e da cadeia produtiva como um todo, visto que a for a de uma cadeia determinada pela for a do elo mais fraco, que no caso se localiza na p s-colheita. Na busca de alternativas, algumas solu es t m sido desenvolvidas pela pesquisa cient fica e outras t m sido implementadas por produtores, cerealistas e agroind strias, cabendo pesquisa, principalmente nas institui es oficiais, o desenvolvimento de estudos que respaldem cientificamente os m todos e as a es postos em pr tica pela cadeia e que representem inova es capazes de oferecer seguran a econ mica a quem investe e seguran a de qualidade sanit ria e nutritiva a quem consome o arroz posto no com rcio j nas etapas finais da cadeia. Cadeias de agroneg cio, afinal, t m essas obriga es. Pelas caracter sticas intr nsecas da esp cie e pelas tecnologias de produ o empregadas, o arroz deve ser colhido com umidade ainda elevada, entre 18 e 23% para a maioria dos gen tipos cultivados no sul do Brasil (SOSBAI, 2007). Assim, a secagem passa a ser uma opera o unit ria compuls ria, quando se deseja assegurar alta qualidade do arroz, seja para uso como semente ou no beneficiamento industrial para fins aliment cios. A imediata realiza o da secagem reduz intensidades de perdas, mas exige muitos investimentos nas estruturas de transporte, recep o, limpeza e secagem, ou seja, onera o pr -armazenamento. O fato se agrava sob o ponto de vista econ mico, pois a estrutura de pr -armazenamento s utilizada no per odo de colheita dos gr os, ou seja, uma vez por ano, na maioria das vezes, e durante algumas semanas, configurando um dos mais perversos custos do sistema produtivo que a ociosidade. No caso do arroz irrigado, essa situa o se agrava porque as regi es produtoras geralmente s o muito midas e as instala es quase sempre s o constru das em locais com len ol fre tico pr ximo da superf cie, o que torna onerosa a implanta o e dif cil o manejo de eficientes sistemas de drenagem e/ou de impermeabiliza o de po os de elevadores e t neis. Dessa combina o de fatores resultam perdas por corros o que se somam s da abrasividade t pica do arroz com casca, ou seja, al m de n o gerarem receitas na entressafra, as instala es e estruturas de pr -armazenamento geram elevados custos de manuten o. Mas elas s o necess rias e o que pode ser feito a implanta o de manejos que permitam seu aproveitamento ao m ximo, pois retardar a colheita permitindo a pr -secagem na lavoura n o tecnicamente recomendado, se afigura como um desprop sito e est fora de qualquer cogita o. Como os gr os s o colhidos midos e chegam nas plataformas de recep o das unidades armazenadoras nessa condi o e com elevados teores de impurezas, a imediata pr -limpeza se imp e. Ocorre que, enquanto ainda n o s o secados, o metabolismo metab lico dos gr os elevado, o que ativa os dos organismos associados, intensificando a din mica metab lica j nessa fase. Para reduzir os preju zos de seus
efeitos, pelo menos um dos dois fatores deve ser reduzido: a umidade ou a temperatura, ou seja, enquanto n o s o secados os gr os devem ter sua temperatura reduzida. Uma alternativa que tem mostrado resultados pr ticos animadores resfriamento do arroz enquanto esperam para secagem, na expectativa de reduzir os metabolismos dos gr os e dos organismos associados. No mesmo sentido, o resfriamento tamb m tem sido utilizado nos gr os durante o armazenamento definitivo ap s a secagem. O resfriamento tem sido utilizado como tecnologia n o tradicional para preserva o de gr os armazenados, independentemente da temperatura ambiente e das condi es de umidade relativa. Utiliza um sistema m vel de refrigera o o qual controla conjuntamente a temperatura e a umidade relativa do ar da aera o (MAIER, 1995; QUIRINO, 2008). Determinar o tempo m ximo que pode decorrer entre a colheita e a secagem, sem que haja preju zos severos qualidade do arroz, representa uma grande necessidade, tanto para agricultores quanto para agroindustriais. MATERIAL E M TODOS O experimento foi realizado no Laborat rio de P s-colheita, Industrializa o e Qualidade de Gr os do Departamento de Ci ncia e Tecnologia Agroindustrial da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas. Foram utilizados gr os de arroz em casca pertencentes classe longo-fino, produzidos na regi o Sul do RS, colhidos com umidade aproximada de 20%, os quais ficaram respectivamente em temperaturas de 13 2 C, 18 2 C e 23 2 C enquanto aguardavam durante 1, 2, 3 e 4 dias para secagem, que ocorreu pelo m todo intermitente, em secador em escala piloto com temperaturas crescentes de 70 10 C, na 1 hora, 90 10 C, na segunda hora e 110 10 C da 3 hora at a pen ltima meia hora onde a temperatura de secagem era reduzida para 30 10 C. Ap s a secagem os gr os foram armazenados durante um ano em ambiente com 20 C. Foram estudados grau de umidade, rendimento de gr os inteiros e incid ncia de defeitos de classifica o comercial (BRASIL, 1988), utilizando-se para o estudo dos gr os o processo convencional de beneficiamento para produ o industrial de arroz branco polido. RESULTADOS E DISCUSS O Na Figura 1 s o apresentados os valores de umidade de gr os de arroz com casca, secados sem espera (no dia da colheita) e ap s espera em ambientes com 13 2 C, 18 2 C e 23 2 C enquanto aguardavam durante 1, 2, 3 e 4 dias para secagem. Figura 1. Umidades m dias em gr os de arroz submetidos a tr s temperaturas durante a espera para secagem e armazenados durante nove meses
Nas Figuras 2 a 4 s o apresentados os valores de rendimento de gr os inteiros de arroz secado sem espera (no dia da colheita) e ap s espera em ambientes com 13 2 C, 18 2 C e 23 2 C enquanto aguardavam durante 1, 2, 3 e 4 dias para secagem. Figura 2. Rendimento de gr os inteiros em arroz submetido a tr s temperaturas durante dois dias de espera para secagem e armazenados durante nove meses Figura 3. Rendimento de gr os inteiros em arroz submetido a tr s temperaturas durante tr s dias de espera para secagem e armazenados durante nove meses Figura 4. Rendimento de gr os inteiros em arroz submetido a tr s temperaturas durante quatro dias de espera para secagem e armazenados durante nove meses Nas Figuras 5 a 7 s o apresentados os valores da incid ncia de gr os com defeitos em arroz secado sem espera (no dia da colheita) e ap s espera em ambientes com 13 2 C, 18 2 C e 23 2 C enquanto
aguardavam durante 1, 2, 3 e 4 dias para secagem. Figura 5. Incid ncia de defeitos em gr os de arroz submetidos a tr s temperaturas durante dois dias de espera para secagem e armazenados durante nove meses Figura 6. Incid ncia de defeitos em gr os de arroz submetidos a tr s temperaturas durante tr s dias de espera para secagem e armazenados durante nove meses Figura 7. Incid ncia de defeitos em gr os de arroz submetidos a tr s temperaturas durante quatro dias de espera para secagem e armazenados durante nove meses Observando-se os dados constantes da Tabela 1 poss vel verificar que o armazenamento realizado na menor temperatura (15 C) resultou em conservabilidade superior. O peso de mil gr os representa o total de energia contida nos gr os e sua redu o no armazenamento representa perda f sica, a qual est diretamente associada a perdas metab licas e de valor nutritivo. Independentemente da temperatura, o aumento do tempo de armazenamento provocou redu es
significativas no peso de mil gr os em compara o com o que ocorreu com os gr os armazenados em temperatura pr xima ao ambiente. Na Figura 2 s o apresentados par metros de desempenho industrial dos gr os secados sem espera (no dia da colheita) e ap s espera em ambientes com 13 2 C, 18 2 C e 23 2 C enquanto aguardavam durante 1, 2, 3 e 4 dias para secagem.de arroz submetidos s duas condi es de ambiente no armazenamento. Tabela 2. Desempenho industrial dos gr os armazenados em ambientes com temperaturas distintas. Temperatura de Renda de beneficio (%) Rendimento de inteiros (%) armazenamento 30 dias 360 dias 30 dias 360 dias 15 3 C A 65,24 a B 62,01 a A 54,49 a B 51,11 a 25 3 C A 64,82 a B 60,58 b A 54,10 a B 49,47 b M dias de tr s repeti es, seguidas de letras min sculas iguais na mesma coluna e de letras mai sculas iguais na mesma linha, n o diferem entre si, 5% de signific ncia pelo teste de Tukey (P<0,05). Observando-se os dados apresentados na Tabela 2, poss vel verificar que nos primeiros 30 dias n o h diferen a significativa entre os desempenhos industriais dos gr os armazenados nas duas temperaturas de armazenamento. Entretanto, ap s 360 dias de armazenamento as diferen as aparecem. Na Tabela 3 s o apresentados percentuais de defeitos metab licos e n o metab licos dos gr os armazenados em dois ambientes com temperaturas distintas. Tabela 3. Defeitos metab licos e n o metab licos dos gr os armazenados em dois ambientes com temperaturas distintas. Temperatura de Defeitos metab licos (%) Defeitos n o metab licos (%) armazenamento 30 dias 360 dias 30 dias 360 dias 15 3 C B 1,81 a A 2,79 b A 5,19 a A 4,96 a 25 3 C B 1,99 a B 4,57 a A 5,10 a A 5,15 a M dias de tr s repeti es, seguidas de letras min sculas iguais na mesma coluna e de letras mai sculas iguais na mesma linha, n o diferem entre si, 5% de signific ncia pelo teste de Tukey (P<0,05). Observando-se os dados apresentados na Tabela poss vel verificar que nos defeitos metab licos n o h diferen as significativas nos percentuais de defeitos dos gr os armazenados nos dois ambientes nem aos 30 e nem aos 360 dias de armazenamento. Para os metab licos tanto a temperatura quanto o tempo de armazenamento determinaram diferen as significativas. CONCLUS ES A tecnologia de resfriamento dos gr os resultou em redu es de perdas quantitativas e qualitativas em gr os de arroz armazenados a 15 e a 25 C, possibilitando menores varia es de peso de mil gr os, gr os inteiros e de defeitos metab licos. REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS BRASIL. Minist rio da Agricultura e Reforma Agr ria. Comiss o T cnica de Normas e Padr es. Normas de identidade, qualidade, embalagem e apresenta o do arroz. Bras lia, 1988. 25p. BRASIL. Minist rio da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agr ria. Secretaria Nacional da Defesa Agropecu ria. Regras para an lise de sementes. Bras lia, DF, 1992. 365p ELIAS, M. C. P s-colheita de arroz: secagem, armazenamento e qualidade. Pelotas - RS. Editora Universit ria UFPel. 2007. 437p ELIAS, M.C. Manejo tecnol gico da secagem e do armazenamento de gr os. Pelotas: Ed. Santa Cruz, 2008. 367p. ELIAS, M.C. Tempo de espera para secagem e qualidade de arroz para semente e ind stria. Pelotas, 1998. 132p. Tese (Doutorado em Agronomia) Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas. MAIER, D.E.; HULASARE, R.; MOOG, D. J. P.; ILELEJI, K. E.; WOLOSHUK, C. P.; MASON, L. J.
Effect of temperature management on confined populations of red flour beetle and maize weevil in stored maize - Five years summary of pilot bin trials. In: 9 th INTERNACIONAL WORKING CONFERENCE ON STORED PRODUCT PROTECTION, 9., 2006, Campinas. Proceedings... Campinas: ABRAP S, 2006. p. 1359, ref. 778-788. SRZERDNICKI, G.; SINGH, M.; DRISCOLL, R.H. Effects of chilled aeration on grain quality. In: 9 th INTERNACIONAL WORKING CONFERENCE ON STORED PRODUCT PROTECTION, 9., 2006, Campinas. Proceedings... Campinas: ABRAP S, 2006. p. 1359, ref. 985-993. MAIER, D. E., NAVARRO, S. Chilling of grain by refrigerated air. In. NAVARRO, S.; NOYES, R.(Ed.) The mecanics and Physics of Modern Grain Aeration Management. New York, CRC press, 2002. cap. 9, p. 489-555. QUIRINO, J.R. Resfriamento artificial de gr os de milho em armaz m graneleiro horizontal. AGRADECIMENTOS Agradecimentos a CAPES, CNPq, Zaccaria Equipamentos