DESAFIOS PARA A IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE ROTAÇÃO DE CULTURAS TENDO O ALGODOEIRO COMO COMPONENTE DO SISTEMA DE PRODUÇÃO.

Documentos relacionados
Lançamento Soja marca Pioneer no Sul do Brasil. Ricardo B. Zottis Ger. Produto RS/SC

INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS PRODUTIVOS PARA A CULTURA DO MILHO

DESAFIOS NO MANEJO FITOSSANITÁRIO PARA A PRÓXIMA SAFRA. Engº Agr Ezelino Carvalho (Consultor )

O cultivo do algodoeiro no sistema de plantio direto rotação de culturas: O Grande Desafio. Aurélio PAVINATO SLC Agrícola S.A.

DESTRUIÇÃO DE RESTOS CULTURAIS, REBROTES E PLANTAS VOLUNTÁRIAS: UMA EXPERIÊNCIA

Boas Práticas Agrícolas no MS. Eng. Agrônomo Rubem Cesar Staudt. Astecplan Ltda

6.4 CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS

O problema crescente do uso de fungicidas na cultura do algodoeiro: Manejo e propostas para a minimização do problema.

Cultivo de Girassol na Bolívia

Ampasul realiza BOAS PRÁTICAS FITOSSANITÁRIAS DO ALGODÃO

ADOÇÃO DE MELHORES PRÁTICAS AGRONÔMICAS

Adubos verdes para Cultivo orgânico

Desafios do SPD na região dos Cerrados

Consórcio Milho-Braquiária

PANORAMA DO MANEJO DE PRAGAS DO ALGODOEIRO NO BRASIL: IMPACTO E ESTRATÉGIAS DE CONTROLE.

Desafios para aumento da produtividade da soja

Algodão segunda safra no Mato Grosso do Sul. André Luis da Silva

A região dos Chapadões inicia a colheita do algodão safra

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DO ALGODOEIRO NO NORDESTE BRASILEIRO: QUADRO ATUAL E PERSPECTIVAS

Manejo de plantas de cobertura para sistemas agrícolas de alta produtividade

Uso de Adubos Verdes na Agricultura Familiar. Semestre 2018/1 Professor: - Fernando Domingo Zinger

Fatores Importantes para o 05 Sucesso de uma Lavoura

MELHORES PRATICAS DE MANEJO DO ALGODÃO NO BRASIL

SAF implantado em linhas e em média diversidade de arbustos e árvores.

AUMENTO DOS PROBLEMAS COM DOENÇAS NO CERRADO DO BRASIL

JANEIRO/2018. Relatório mensal sobre o desenvolvimento das lavouras de algodão em Goiás Safra 2017/2018

V CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO - 29 DE AGOSTO A 01 DE SETEMBRO DE 2005

Núcleo 1 Chapadão do Sul

GASTOS COM INSETICIDAS, FUNGICIDAS E HERBICIDAS NA CULTURA DO MILHO SAFRINHA, BRASIL,

Dispêndios com Inseticidas, Fungicidas e Herbicidas na Cultura do Milho no Brasil,

FiberMax. Mais que um detalhe: uma genética de fibra.

SAFRA 2014/15 DEFINIÇÕES DO PROGRAMA FITOSSANITÁRIO DA BAHIA

Ampasul. realiza a entrega de planilha e mapas do BAS da safra 2017/2018. BOAS PRÁTICAS FITOSSANITÁRIAS DO ALGODÃO.

A Cultura do Algodoeiro

1O que é. A adubação verde é uma prática agrícola utilizada há

PROGRAMA FITOSSANITÁRIO DE MATO GROSSO DO SUL RELATÓRIO SEMANAL DE 14 A 28 DE ABRIL DE 2014

ISSN Circular Técnica, 2 SOJA RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS PARA MATO GROSSO DO SUL E MATO GROSSO

De sequeiro aos pivôs centrais: A experiência da Fazenda Sta. Clara

Manejo de cultivos transgênicos

ROTAÇÃO DE CULTURAS - PRÁTICA AGRÍCOLA BUSCA ALTERNAR MESMA ÁREA, DFRENTES CULTURAS SEQUÊMCIAS, CONFORME PLANO PRÉVIO DEFINIDO.

Consórcio de milho safrinha com Brachiaria ruziziensis. Julio Franchini Henrique Debiasi

Gastos com Inseticidas, Fungicidas e Herbicidas na Cultura do Milho, Brasil,

Manejo da Cultura da Cultura do Girassol

A Cultura do Algodoeiro

INFORMATIVO TÉCNICO Boas Práticas Agronômicas Aplicadas a Plantas Geneticamente Modificadas Resistentes a Insetos MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

Controle químico de doenças fúngicas do milho

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS CULTIVARES DE FEIJÃO COM SEMENTES DISPONÍVEIS NO MERCADO

SAFRA 2014/15 ORIENTAÇÕES DO PROGRAMA FITOSSANITÁRIO DA BAHIA

AEGRO Colhendo Conhecimento. 8 passos para um manejo integrado da lavoura

O manejo da matéria orgânica esta adequado visando a sustentabilidade dos sistemas de produção? Julio Franchini Henrique Debiasi

É POSSÍVEL TER SUCESSO NA PRODUÇÃO DO ALGODÃO NÃO BT? Eng.º Agr.º Ezelino Carvalho GBCA / EQUIPE Consultoria Agronômica

Circuito Tecnológico APROSOJA Safra 2013/14

Análise do Custo de produção por hectare de Milho Safra 2016/17

Cultivo de oleaginosas em Unidade de Observação no município de Resende-RJ

BOAS PRÁTICAS FITOSSANITÁRIAS DO ALGODÃO

BOAS PRÁTICAS FITOSSANITÁRIAS DO ALGODÃO

Sistema Plantio Direto e Integração Lavoura-Pecuária em Mato Grosso do Sul

EVOLUÇÃO DO CONSÓRCIO MILHO-BRAQUIÁRIA, EM DOURADOS, MATO GROSSO DO SUL

Desafios para o Estabelecimento de Lavouras com Alto Rendimento Produtivo. Sergio Abud Biólogo Embrapa

VIABILIDADE ECONÔMICA DO ALGODÃO NO SISTEMA DE PRODUÇÃO ATUAL E ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS PARA A CULTURA

BOAS PRÁTICAS FITOSSANITÁRIAS DO ALGODÃO

Produtividade surpreende o setor do Algodão

BOAS PRÁTICAS FITOSSANITÁRIAS DO ALGODÃO

Dinâmica e manejo de doenças. Carlos A. Forcelini

Sistemas de Cultivo e Rotação de Culturas para o Algodoeiro do Oeste da Bahia. Julio Cesar Bogiani Pesquisador da Embrapa Algodão

CAMPEÃO SUDESTE. Apresentador: MSc. Orlando Martins

As 12 conclusões do Workshop sobre o uso de refúgio para conservação da eficácia do algodão-bt no Brasil

As 12 conclusões do Workshop sobre o uso de refúgio para conservação da eficácia do algodão-bt no Brasil

PRODUTIVIDADE FATORES QUE AFETAM A MANEJO INADEQUADO DE NEMATOIDES QUALIDADE NAS OPERAÇÕES AGRÍCOLAS PROBLEMAS NUTRICIONAIS NO SOLO

5.9 Controle de Pragas e Doenças

PORTIFÓLIO DE VARIEDADES

COOPERCITRUS SIMPÓSIO DE ALTA TECNOLOGIA / 2018

É POSSIVEL TER SUCESSO NA PRODUÇÃO DE ALGODÃO NÃO BT? Manejo e custos do Algodão convencional na Fazenda São Francisco

GUIA VARIEDADES DE SOJA 2015/16 MACRO 1

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA- PESCA E AQUICULTURA FUNDAÇÃO AGRISUS RELATÓRIO PARCIAL-01/10/2016

GUIA VARIEDADES DE SOJA 2015/16 MACRO 2

Manejo de Doenças do Solo

Cultivo e Comercialização

SISTEMAS DE CONSÓRCIO EM MILHO SAFRINHA. Gessi Ceccon 1 1.INTRODUÇÃO

Cotonicultores usam com sucesso plantio semidireto

CULTIVARES DE ALGODOEIRO HERBÁCEO RECOMENDADAS PARA OS CERRADOS DO MEIO- NORTE DO BRASIL

Adubação verde no sistema de cultivo orgânico Discentes: Cassio Batista Mendes Júnior, Cleber, Danillo Oliveira Silva, Eder Correia dos Santos, Lucas

Texto da palestra (para sala especializada sobre manejo de nematóides) e mini-currículo do pesquisador

Problemas e Soluções nas áreas de Mecanização e Agricultura Precisão. Inserção da Mecanização na era DIGITAL

MESA REDONDA: SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ALGODÃO COM MENOR RISCO CID RICARDO DOS REIS ENGENHEIRO AGRÔNOMO GRUPO BOM FUTURO MATO GROSSO

Importância e manejo dos nematóides do algodoeiro nas principais regiões produtoras do Brasil

passos para a produtividade

MANEJO DA MANCHA DE RAMULÁRIA E MOFO BRANCO

MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS (MIPD)

INTEGRAÇÃO LAVOURA- PECUÁRIA NO NORTE DO PARANÁ

A complexidade e as alternativas num sistema intensificado para o manejo dos percevejos e da mosca-branca

CONSTRUÇÃO DA FERTILIDADE E MANUTENÇÃO DE AMBIENTES DE ELEVADO POTENCIAL PRODUTIVO. Álvaro Resende

ADUBAÇÃO DO ALGODOEIRO: Resultados obtidos em Goiás. Ana Luiza Dias Coelho Borin D.Sc. Ciência do Solo Pesquisadora da Embrapa Algodão

CONJUNTURAL AGROPECUÁRIO

BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS. Soluções para um Mundo em Crescimento

Manejo dos nematoides em sistemas produtivos. Andressa C. Z. Machado Pesquisadora IAPAR Nematologista

ESTRATÉGIAS E AÇÕES PARA O CONTROLE DE BICUDO NA BAHIA Programa Fitossanitário da Abapa

Transcrição:

DESAFIOS PARA A IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE ROTAÇÃO DE CULTURAS TENDO O ALGODOEIRO COMO COMPONENTE DO SISTEMA DE PRODUÇÃO. 1- Introdução A agricultura brasileira está passando por várias transformações. As grandes culturas migraram das regiões sul e sudeste do Brasil (até então as maiores produtoras agrícolas), nas décadas de 70 e 80 para as regiões de cerrado, principalmente Centro Oeste e o estado da Bahia. Inicialmente as áreas abertas deram lugar às culturas de arroz e soja, expandindo por áreas nos estados de GO, MS, MT, TO e MG. Com a incidência dessas culturas apareceram problemas característicos do monocultivo, principalmente na cultura da soja, como doenças (Cancro da haste) e nematóides (Nematóides de cisto). Isto obrigou os produtores de regiões afetadas a buscarem culturas alternativas para intercalar com essas culturas iniciais. Na região de Chapadão do Sul (MS), no início da década de 90, o milho foi a opção escolhida como cultura sucessora, o que propiciou bons resultados para o controle de pragas e doenças que estavam limitando a produção de soja. Também no início dos anos 90, os produtores continuaram a buscar alternativas para incrementar os resultados financeiros. Dessa forma, alguns produtores passaram a realizar testes com a cultura do algodoeiro obtendo, já nos primeiros anos, resultados satisfatórios, aumentando gradativamente as áreas de plantio nos anos seguintes. Assim as culturas de soja, milho e algodão passaram a ser, até hoje, as mais importantes da região. O cerrado brasileiro se estende por vários estados, abrangendo formações de solo com características físico-químicas diferentes. O assunto em questão é de uma região com solos de teores de argila de 20 a 60%, profundos, bem drenados, extremamente pobres (podzolicos), e mais precisamente em experiências nas propriedades do Grupo Schlatter e outros produtores das regiões dos chapadões no município de Chapadão do Sul (MS), Costa Rica (MS) e Chapadão do Céu (GO), que mantém desde 1994, em suas propriedades, as culturas de soja, milho e algodão no sistema de rotação. Nessa região, as três culturas podem ser implantadas satisfatoriamente numa propriedade para fazer o sistema de rotação, porque elas são plantadas e colhidas de forma escalonada o que permite a otimização de máquinas e mão-de-obra. Muitos benefícios têm sido obtidos com a rotação, porém, ainda têm-se desafios crescentes a serem superados como serão descritos. 2- Mudanças climáticas Nos últimos anos, nota-se que mudanças climáticas têm exercido efeito negativo sobre a produção na região. Entre outros fatores, destaca-se principalmente as chuvas que passaram a tomar uma forma irregular e mal distribuída durante o ciclo produtivo das culturas. A região sempre teve o privilégio de ter bons índices pluviométricos bem distribuídos ao longo do período produtivo ( figura 1).

Pode-se notar que nos últimos anos, as oscilações são maiores, inclusive de temperaturas, o que exige do agricultor a adoção de técnicas que ajudem a minimizar os efeitos dessas oscilações num determinado estádio da cultura. Um dos caminhos é aumentar a cobertura morta no solo através da adoção do plantio direto, que apresenta outros benefícios. Nas culturas de soja e milho esse sistema é plenamente viável e está praticamente consolidado devendo sofrer apenas ajustes. Para a inclusão da cultura de algodão no sistema, deve-se pensar que todas as culturas deverão obedecer ao sistema de plantio direto. Daí surgem os desafios para a implantação de um programa de rotação de culturas tendo o algodoeiro como componente do sistema de produção. Total Mensal da Leitura Pluviométrica (mm) Fazenda Campo Bom - Sede MS ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL 1977 282,00 113,00 202,00 117,40 109,02 124,20 0,00 10,00 276,00 161,00 479,20 323,00 2196,82 1978 449,00 220,00 252,00 77,00 158,00 0,00 10,00 0,00 122,00 115,00 306,00 349,00 2058,00 1979 366,50 198,10 225,50 63,00 44,50 0,00 49,00 23,00 281,00 96,00 128,00 540,00 2014,60 1980 248,10 343,00 93,50 171,00 35,00 25,00 24,00 10,00 122,20 139,40 225,10 215,00 1651,30 1981 138,40 204,50 0,00 52,60 0,00 82,10 0,00 72,00 30,00 70,90 353,10 505,60 1509,20 1982 0,00 151,10 445,50 113,70 60,50 50,30 22,00 0,00 122,30 354,10 288,40 446,10 2054,00 1983 309,94 298,30 237,82 241,50 86,40 15,50 35,00 0,00 52,20 221,90 234,40 341,10 2074,06 1984 313,80 152,20 153,60 229,00 132,20 0,00 2,60 151,00 45,80 137,20 267,20 231,70 1816,30 1985 463,80 219,60 269,50 113,70 64,00 2,00 17,00 5,00 31,40 81,60 153,80 125,80 1547,20 1986 420,80 297,80 516,30 69,20 182,50 0,60 32,60 91,60 58,40 111,60 179,30 327,00 2287,70 1987 446,10 303,80 311,60 104,40 60,50 24,20 4,60 16,40 80,30 273,60 205,80 211,56 2042,86 1988 306,40 262,30 355,20 264,30 79,20 0,00 1,00 0,00 0,00 114,90 174,00 252,70 1810,00 1989 301,90 302,00 266,80 264,20 110,80 85,80 24,00 91,20 29,40 191,80 353,60 226,80 2248,30 1990 190,70 134,70 153,80 74,10 196,70 26,70 20,80 67,80 209,80 244,00 227,00 323,30 1869,40 1991 198,50 246,40 353,20 164,37 14,00 9,50 0,00 0,00 39,50 202,20 141,70 292,00 1661,37 1992 268,60 311,80 361,20 159,90 142,20 0,00 0,00 84,00 197,10 258,00 328,00 189,80 2300,60 1993 248,70 386,90 118,60 132,90 31,00 37,00 0,00 30,00 98,60 203,50 154,00 399,30 1840,50 1994 312,00 198,20 263,60 65,00 77,00 30,00 19,10 0,00 15,60 197,00 176,30 154,09 1507,89 1995 265,70 483,70 142,00 127,80 24,50 28,00 0,00 0,00 56,20 95,00 115,20 240,40 1578,50 1996 237,00 339,50 345,50 113,50 89,00 9,00 0,00 10,00 107,50 181,50 408,00 301,00 2141,50 1997 365,00 147,00 120,00 89,00 99,00 127,00 0,00 6,00 72,00 123,00 434,00 147,00 1729,00 1998 191,00 212,00 250,00 218,00 96,00 0,00 0,00 100,00 87,00 196,00 269,00 264,00 1883,00 1999 452,00 103,00 21,00 7,00 1,00 0,00 75,00 201,00 220,00 257,00 1337,00 2000 276,00 289,00 397,00 81,00 10,00 0,00 25,00 130,00 87,00 67,00 169,00 142,00 1673,00 2001 164,00 272,00 340,00 119,00 106,00 105,00 105,10 13,30 130,00 116,00 204,00 272,00 1946,40 2002 305,00 354,00 171,00 36,00 46,00 0,00 143,00 41,00 110,00 122,00 427,00 164,70 1919,70 2003 360,40 143,80 169,40 66,40 31,00 2,30 0,50 18,80 18,80 151,10 145,80 176,30 1284,60 2004 334,30 141,50 117,10 113,30 150,60 23,10 13,20 0,80 2,50 219,20 193,00 205,70 1514,30 2005 335,00 45,20 153,70 68,80 78,00 13,20 693,90 Média 294,85 241,84 242,34 124,59 80,50 28,53 19,63 34,71 91,34 165,91 248,57 272,28 1845,09 Figura 1 - Fonte: Fazenda Campo Bom Chapadão do Sul-MS

3- Cultura do Algodoeiro O algodoeiro herbáceo é um dos fotossistemas de maior complexidade que se encontra na natureza, tendo hábito de crescimento indeterminado (Oosterhuis, 1999). Durante o ciclo da planta, há diversos fenônemos ocorrendo ao mesmo tempo, como crescimento vegetativo, aparecimento de gemas reprodutivas, florescimento, crescimento e maturação dos frutos. Cada um dos eventos é importante para a produção final, mas é necessário que ocorra de maneira balanceada. Em boa parte do ciclo da planta, há uma forte competição interna pelos carboidratos da fotossíntese. Em função da complexidade dessa cultura as respostas quanto às condições físicas, biológicas, químicas do solo e climáticas são muito grandes. Em uma mesma fazenda, em talhões diferentes, com mesmo tipo de solo (formação geológica), é comum obter resultados diferentes de produtividade em função de manejos inadequados anteriormente praticados. A dificuldade, portanto, é integrar o algodão ao milho e à soja, culturas com exigências diferentes. Enquanto o ciclo médio do milho e da soja é aproximadamente 130 dias, a do algodão em nossa região com altitudes próximas de 800 metros chega a ultrapassar a 180 dias. 4- Correção de perfil do solo e manejo de solo O solo e a água são fatores essenciais para a produção de alimentos e fibras. Assim, o manejo deve ser feito de tal forma que as condições de solo e água melhorem a cada ano de cultivo. É importante corrigir adequadamente o perfil do solo com calagem, fosfatagem, potassagem e outras formas de aplicação de macro e micro nutrientes antes da implantação de um sistema de rotação. A superfície do solo deve ficar coberta por mais tempo possível com palhada para aumentar o teor de matéria orgânica do solo e é importante que se faça uso das culturas de inverno. A dificuldade está em manter e melhorar as condições físico-químicas do solo ao longo dos anos, mantendo boa produtividade de maneira sustentável. Achar adequadamente o equilíbrio de nutrientes do solo para obter plantas com maior grau de resistência às pragas e doenças também é um desafio, já que as doenças têm aumentado em todas as culturas, além do algodoeiro. Ainda não se tem uma calibragem de adubação adequada para nossa região. 5- Uniformização da fertilidade do solo Áreas de solo com mais de vinte anos de cultivo, ou mesmo em alguns casos, com poucos anos, possuem uma diversidade de características físico-químicas. Isto reflete em grandes diferenças de produtividade num mesmo talhão. Talvez um dos motivos possa ser explicado pela má distribuição dos nutrientes em vários pontos do talhão. Têm-se dificuldades em estabelecer critérios de amostragens de solo: em que época; com qual umidade do solo; que profundidade no plantio direto; na linha ou entre linha, etc. Para a cultura do algodão, como para as outras culturas, quanto mais se corrigir as oscilações de produtividade nos talhões, melhores serão os resultados finais.

6- Cobertura do solo As principais culturas de inverno cultivadas na região são: sorgo; girassol; milho; milheto; nabo forrageiro e braquiária. É preciso cultivar plantas que façam palhada e que contribuam também para o aumento de matéria orgânica, que sejam rústicas, com maiores capacidades de enraizamento e ciclagem de nutrientes. Essas plantas não devem ser hospedeiras de pragas e doenças, que comprometam as culturas subseqüentes, além do mais é preciso melhorar as condições físico-químicas do solo sem causar efeito negativo como alelopatia para as culturas comerciais. Ainda é preciso estudar culturas alternativas, que façam a troca da monocultura do milheto, feita no inverno, por outras que propiciem maiores vantagens e sejam resistentes às condições adversas de solo e clima. 7- Máquinas e equipamentos No sistema de rotação de culturas é preciso aumentar o teor de matéria orgânica. Para isso há indução de formação de palhada, o que atrapalha, muitas vezes, o plantio. As plantadeiras devem ser constantemente adaptadas e até trocadas para fazer corretamente essa operação em diferentes tipos de solo. Isso consiste em colocar o adubo e semente em condições ideais de profundidade e alojamento para uma boa germinação. 8- Controle de ervas daninhas A biodiversidade de culturas de inverno tem aumentado o número de plantas daninhas, devido principalmente ao uso de sementes das culturas contaminadas com sementes de plantas daninhas. Algumas se adaptam muito bem à essas condições e outras já estão apresentando resistência. Em nossa região, algumas ervas tornaram-se problemas para o seu manejo como por exemplo o apaga-fogo e o picão-preto. Quando o manejo das plantas invasoras não é feito no inverno, aumenta-se o banco de sementes e torna-se ainda mais difícil seu controle durante o verão. 9- Controle de doenças Nos últimos anos, os danos causados por doenças nas principais culturas (soja, milho e algodão) têm crescido gradativamente. Para o controle dessas doenças usa-se como prevenção a rotação de culturas, a destruição de plantas hospedeiras, etc. Apesar desses esforços o uso de fungicidas também tem aumentado, elevando assim o risco do investimento e do custo de produção. No caso do algodão, é questionável muitas vezes o rigor da destruição de soqueiras tanto química quanto mecânica, pois mesmo quando as soqueiras são destruídas totalmente, plantas voluntárias podem sobreviver de uma safra para outra. Há algumas alternativas para minimizar parcialmente o problema, uma delas é plantando-se soja sobre a cultura do algodão, pois a soja fecha mais cedo e os herbicidas pós emergentes têm certo efeito nas plantas voluntárias. Não podemos atribuir o aumento da incidência de doenças somente pelo fato da destruição das soqueiras serem feitas quimicamente. As doenças mais incidentes são

ramulária (falso oídio), antracnose, ramulose, alternária e outras mais esporádicas, mas não menos destruidoras como ferrugem, mirotecium, mofo branco, podridão das maçãs, doenças viróticas, mancha angular (Bacteriose ou Mancha bacteriana). 10- Manejo de pragas No manejo de pragas, a cultura do algodoeiro requer cuidados ainda maiores. Historicamente a cultura migrou de certas regiões tradicionalmente produtoras para outras, muitas vezes inviabilizada por uma praga, como lagartas, bicudo ou nematóides. Nos últimos dez anos, houve aumento de custo para manter os níveis dessas pragas em nossa região. Além do aumento populacional das pragas habituais, outras até então desconhecidas para a cultura, fizeram parte do alvo de controle. Em 1995 as pragas preocupantes eram pulgão ( não contaminado por vírus), e lagartas ( das maçãs, curuquerê e rosada ). Em 2005 continuamos com pulgões na maioria contaminados por vírus, lagartas das maçãs, curuquerê, rosada, e ainda percevejos rajado e manchador, trips, mosca branca, vaquinhas, cigarrinhas das pastagens, lagartas falsa medideira, lagarta-do-cartucho do milho e outras do gênero Spodoptera, lagarta rosca, bicudo, broca das raízes, ácaros branco e rajado, nematóides, percevejos da soja, percevejo castanho das raízes. Pode-se notar que além das pragas habituais da cultura, outras pragas até então inofensivas apareceram aumentando custo de produção. Outra questão importante é que as intervenções químicas constantes prejudicam a preservação dos inimigos naturais e o equilíbrio ecológico. 11- Nematóides Os nematóides também passam a ser pragas preocupantes, pois, as principais culturas desenvolvidas na região são suscetíveis. Eles podem camuflar-se em outras plantas hospedeiras dificultando seu reconhecimento. Apesar de não se ter prejuízos comerciais conhecidos até hoje na região, essa praga é uma constante ameaça, pois seu controle é sabidamente difícil. 12- Destruição de soqueiras A metodologia utilizada para o controle de soqueira de algodão na região, é o controle químico e mecânico. Quando se pensa em integrar a cultura de algodão no sistema, o controle químico é muito interessante, pois, agride menos o solo. Equipamentos novos estão sendo testados com bom desempenho no controle de soqueira, mas ainda não foram totalmente aceitos por alguns agricultores. A destruição de soqueira acontece desde a implantação da cultura do algodão na região até hoje, sendo considerada um dos fatores mais importantes no processo de implantação da cultura do algodão no sistema de produção. A eficiência da destruição química, por exemplo, está de acordo com as condições da planta ( % de rebroto, tamanho do rebroto, umidade do solo, umidade relativa do ar, etc. ). Alguns agricultores têm dificuldade, por um motivo ou por outro, de destruir quimicamente ou mecanicamente as soqueiras e as plantas voluntárias de maneira eficiente. Isso pode ser uma das causas do aumento de pragas e doenças em toda região, como apontado anteriormente.

13- Material genético É preciso constantemente pesquisar materiais que se adaptam às condições edafoclimáticas adversas. Materiais que mantenham alto potencial produtivo, com ciclo mais curto, com rusticidade, qualidade de fibra e resistência múltipla às doenças e complexo fusarium-nematóide. 14- Agricultura de precisão Aumentar a eficiência dos insumos aplicados de forma mais racional também é um desafio. Adubos, inseticidas, fungicidas e herbicidas são os itens do custo de produção mais importantes. Mesmo com máquinas modernas já prontas para o mercado, é preciso que o custo para o produtor seja de acordo com a sua realidade de investimentos. Outras medidas de menor custo e maior simplicidade podem ser adotadas pelo produtor para racionalizar o uso de seus insumos. 15- Retorno econômico Algumas vezes o baixo preço de mercado de uma das culturas pode dificultar a permanência do agricultor no sistema de rotação. Nesse caso, alguns voltam para o sistema de sucessão. 16- Educação e mão-de-obra especializada Os produtores e técnicos têm que se conscientizar de que implantar a cultura de algodão no sistema requer um planejamento não só pensando isoladamente na propriedade como também em toda a região. No que tange respeito à destruição de soqueira é um exemplo clássico de que muitas vezes alguns produtores abandonam lavouras deixando fonte de inóculo para produtores vizinhos. Outro fato importante é que para a adoção do sistema de rotação com várias culturas, há a necessidade da reciclagem de conhecimento técnico, pelo fato do sistema ser totalmente dinâmico. Deve-se ter também metas de resultados para curto, médio e longo prazo, pois existem momentos de transição. Todos os envolvidos no processo de produção devem estar preparados para que se possa obter bons resultados, desde o produtor até os funcionários de campo que estão diretamente ligados à lavoura.

17- Referências bibliográficas BELTRÃO,N.E.M e ARAÚJO,A.E. Algodão: O produtor pergunta, a Embrapa responde. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. 265p. CIA.E; FREIRE,E.C.; SANTOS, W.J. Cultura do algodoeiro. Piracicaba: Potafós, 1999. 286p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA Algodão: Tecnologia de produção. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste/Embrapa Algodão, 2001, 296p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA Algodão:Informações técnicas. Dourados: Emprapa Agropecuária Oeste/Embrapa Algodão, 1998. 267 p. 9(Circular técnica,7) GONDIM,D.M.C.; BELOT,J.L.; SILVIE,P.; PETIT,N. Manual de identificação das pragas, doenças, deficiências minerais e injúrias do algodoeiro no Brasil.3.ed. Cascavel: Coodetec/Cirad, 1999. 120p. (Boletim técnico,33) IAMAMOTO,M.M. Doenças foliares do algodoeiro. Funep:Jaboticabal,2003, 41p. OOSTERHIUIS,D.M. Growth and development of a cotton plant. In: CIA,FREIRE,E.C.;SANTOS,W.J. (eds) Cultura do algodoeiro. Piracicaba:Potafós,1999.p35-55. SILVIE,P,; LEROY,T.; MICHEL,B.; BOURNIER,J.P. Manual de identificação dos inimigos naturais no cultivo do algodão.1.ed. Cascavel:Coodetec/Cirad,2001. 74p. (Boletim técnico,35)