Fotólise do ácido salicílico na presença de ciclo dextrina

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Transcrição:

Fotólise do ácido salicílico na presença de ciclo dextrina Reinaldo Aparecido Bariccatti* e Rosemeire Aparecida Silva-Lucca Centro de Engenharias e Ciências Exatas, Campus de Toledo, Unioeste, 85903-000, Toledo, Paraná, Brasil. *Autor para correspondência. e-mail: baricatti@unioeste.br RESUMO. Neste trabalho, utilizou-se a espectroscopia de UV/VIS para estudar a fotodegradação por luz UV do ácido salicílico em cavidade de β-ciclo dextrina. Verificou-se uma redução na velocidade de fotodegradação do ácido salicílico de 34,5% em ph 7 e de 17,5% em ph 4 quando se adiciona a β-ciclo dextrina na solução. O valor obtido para a constante de dissociação do complexo ácido salicílico e β-ciclo dextrina foi de 4,3±0,5 10-3 mol/l. Palavras-chave: acido salicílico, fotólise, ciclo dextrina. ABSTRACT. Photolisys of the salicylic acid in the presence of β-cyclodextrin. In this work the UV/VIS spectroscopy was used to study the photo degradation by UV light of the salicylic acid in cavity of β-cyclodextrin. A reduction in the speed of degradation of the salicylic acid of 34.5% in ph 7 and of 17.5% in ph 4 was observed when β-cyclodextrin is added to the solution. The obtained value to the constant of dissociation of the salicylic acid complex and of the β-cyclodextrin was of 4.3±0.5x10-3 mol/l. Key words: salicylic acid, photolysis, cyclodextrin. Introdução Ciclos dextrinas (CD) são oligosacarídeos cíclicos que possuem uma cavidade interna capaz de complexar moléculas orgânicas e compostos organometálicos hidrofóbicos em solução aquosa. A físico-química de complexação pela CD tem sido intensivamente estudada (Bender e Komiyama, 1978). Sua forma de cone truncado com grupos hidroxila em ambas as bases do cone e com uma rede de açúcar lateral fornece um ambiente interno hidrofóbico que serve para hospedar moléculas cuja dimensão é semelhante a um anel de seis membros. O interior da cavidade constitui um meio isolado cuja forma e tamanho podem favorecer conformações moleculares menos favorecidas em solução aquosa, reduzir ou aumentar a velocidade de reação de uma substância química, controlar a liberação de uma molécula para o solvente, alterar a característica física de moléculas, etc. A hidrofobicidade da cavidade pode afetar os fotoprocessos que são sensíveis à polaridade do solvente ou as propriedades dielétricas do meio, alterando o espectro de absorção, a fluorescência (Grabner et al., 1996), o tempo de vida e o dicroísmo circular (Azevedo et al., 2000). Essas características restringem a molécula hospedeira, quando hospedada na forma de monômero, a eventos intramoleculares, servindo como um nanovaso no qual se pode estudar foto-transformações específicas (Pitchumani et al., 1992; Netto-Ferreira e Lucas, 1997) daquela molécula sem a interferência do meio externo, servindo como modelo de enzima (D Souza e Bender, 1987), mas principalmente em estudos fotoquímicos. Sua estrutura rígida permite o isolamento e estudo de apenas um conformero, facilitando a compreensão de eventos fotofísicos e fotoquímicos. Os complexos de CD com compostos farmacológicos de baixa solubilidade e baixa estabilidade são muito estudados em diferentes meios e com diferentes métodos (Luzzi e Palmieri, 1984 e Szejtli e Osa, 1996), com objetivo de melhorar as propriedades dessas substâncias, pois a CD faz parte de uma família de compostos de origem natural, não tóxicos, servindo como um carregador e ambiente protetor para o fármaco. Em contra partida, o encapsulamento de substâncias altamente solúveis pela CD pode agir como um agente regulador da concentração do hóspede no meio celular, diminuindo os efeitos negativos no organismo (Szejtli, 1992; Rajewski e Stella, 1996). Desta forma, o estudo de encapsulamento de substâncias químicas nas cavidades da CD exibem um panorama interessante quanto a foto-física e foto-química do hóspede, podendo alterar acentuadamente o comportamento da molécula em meio aquoso. Por outro lado, os numerosos efeitos terapêuticos dos salicilatos, bem como seus efeitos

78 Baricatti e Silva-Lucca negativos têm sido estudados ao longo do tempo. Eles têm sido utilizados como diuréticos (salicilato de lítio), antiséptico intestinal (salicilato de bismuto), anti-inflamatório, analgésico e antipirético (salicilato de sódio e salicilato de lisina). Assim, neste trabalho será estudado o encapsulamento do ácido salicílico (ACSA) em β ciclo dextrina e o efeito da irradiação por luz UV no complexo e na forma livre, procurando verificar o efeito da radiação na estabilidade e fotoquímica deste ácido. Material e métodos os Na preparação das soluções foi utilizada água destilada. Os reagentes eram todos de grau analítico com exceção da β-cd que era grau farmacêutico. Para verificar o efeito da concentração da β-cd na banda de absorção UV do ACSA, preparou-se soluções estoques do ACSA e β-cd. Para isso, pesaram-se as substâncias ACSA e β-cd em balanças analíticas e com o auxílio de uma pissete cada substância foi transferida analiticamente para um respectivo balão volumétrico e seu volume foi completado com água destilada. Para cada solução adicionou-se uma massa pré-estabelecida das soluções estoque de ACSA e β-cd. Para as soluções foto-irradiada, preparou-se uma solução estoque de ACSA e pipetou-se 9 ml desta em dois balões volumétricos de 10 ml. Em um deles adicionou-se uma determinada massa de β-cd e 1ml de tampão (ph 7 ou ph 4), no outro foi adicionado apenas o tampão. As soluções ficaram em repouso, por 2 horas. Em seguida, foram obtidos os espectros de UV/VIS em um espectrofotômetro marca Shimadzu modelo UV-PC1601. A Figura 1 apresenta a concentração final de cada solução de β-cd e na legenda da Figura 1 se encontra a concentração do ACSA. As irradiações foram feitas com uma lâmpada de mercúrio (80 W) em cubetas de quartzo colocadas a 11 cm da fonte. A constante de dissociação do complexo foi calculada segundo método semelhante a Benesi e Hildebrand (Benesi e Hildebrand, 1949), equação 1, sendo que a é a concentração de ciclo dextrina, b é a concentração do ACSA, OD é a variação na intensidade de absorção, k d é a constante de dissociação do complexo e ε é a diferença entre o coeficiente de extinção molar da espécie complexada e livre. a b k d ( a + b) = + 1 OD ε ε Figura 1. Espectros de absorção do ACSA (3,91x10-4 moll -1 ), com adição de β-cd. As concentrações da β-cd estão em evidências na figura. Resultados e discussão A Figura 1 mostra a influência da concentração de β-cd nos espectros de absorção nas soluções de ACSA, na ausência de irradiação. O espectro de absorção do ACSA possui uma banda com o comprimento de absorção máximo em torno de 300 nm, representada pela curva em preto na Figura 1. Nota-se que com a adição de β-cd há deslocamento do máximo de absorção do ACSA em direção para maiores comprimentos de onda, indicando que o ACSA está em um ambiente cuja polaridade é ligeiramente diferente daquela sem a β- CD. Esse pequeno deslocamento do máximo de absorção também foi observado no fenol e em seus derivados metilados (Monti et al., 1993). A condutividade em função da concentração de β- CD esta representada na Figura 2. Observa-se que a condutividade diminui com o aumento na concentração de β-cd. Essa redução na condutividade já foi observada por Aircart (Junquera et al., 1998), confirmando a complexação entre as substâncias. Figura 2. Valores da condutividade de soluções contendo o ácido salicílico (3,91x10-4 mol L -1 ), com diferentes concentrações de β- CD.

Fotólise do ácido salicílico 79 A constante de dissociação foi calculada segundo método semelhante ao apresentado em Benesi e Hildebrand, sendo que as alterações na intensidade de absorção do ACSA a 315 nm (variação máxima) foram utilizadas no cálculo. A Figura 3 apresenta a variação de [(a*b) / DO] em função de (a+b) para o complexo do ACSA e β-cd. O coeficiente linear e o coeficiente angular da reta obtida permite calcular o valor para K d que é da ordem de 4,3±0,5 10-3 mol L -1. O valor obtido é da mesma ordem de grandeza daquele obtido para a α-fenoxiacetofenona (5,6x10-3 mol L -1 em Netto-Ferreira e Lucas, 1997), composto que possui uma parte de sua estrutura semelhante ao ácido salicílico, e difere do obtido para o salicilato de sódio por meio de técnicas de condutivimetria (9,5x10-3 mol L -1 em Junquera et al., 1998). Os resultados mostrados na Figura 3 possuem tendência não linear e de redução nos valores que se encontram no eixo das abscissas, com o aumento da concentração de ciclo dextrina. Isso levaria a valores de K d superiores ao obtido neste trabalho. Como o ph das soluções estavam com valores superiores a 5 e o pk a do ACSA é 2,95 (Junqueira e Aircart, 1997) a constante de dissociação aqui encontrada é da espécie desprotonada ou do salicilato. Figura 4. Espectros de absorção do ACSA em diferentes tempos de irradiação, em evidência no gráfico, [ACSA]=1,4 10-4 mol L -1 e ph 7. A Figura 5 apresenta o comportamento da intensidade de absorção em 205 nm para as soluções com e sem β-cd em ph 7 (Figura A) e ph 4 (Figura B). As retas ajustadas aos valores obtidos para a foto-degradação possuem inclinações diferentes independente do ph. Para ambos os phs a adição de ciclo dextrina reduz o decréscimo na intensidade de absorção em 205 nm (Tabela 1), possivelmente devido à estabilização do ACSA frente a fotólise, sendo a redução da velocidade de degradação de 34,5% em ph 7 e 17,5% em ph 4. Tabela 1. Valores da inclinação da reta ajustada às intensidades de absorção em 205 nm para a fotólise do ACSA. ph 7 (L.mol -1.cm -1.min. -1 ) ph 4 (L.mol -1.cm -1.min. -1 ) Sem β-cd 0,0055 0,0080 Com β-cd 0,0036 0,0066 Figura 3. Gráfico de (axb)/ OD vs a+b para o complexo do ACSA e β-cd. Nos experimentos com a foto-irradiação verificou-se a influência da luz UV nas soluções de ACSA na ausência de β-cd em ph 7. A irradiação de soluções contendo apenas o ácido salicílico provocou as alterações espectrais mostradas na Figura 4. Nessa observamos pontos isosbéticos próximos a 310 e 280 nm, comportamento também visualizado nas soluções contendo a β-cd, mas as alterações nas intensidades são diferentes, indicando que a β-cd não altera o foto-produto do ácido salicílico, mas a sua velocidade de decomposição. A Figura 6 apresenta o comportamento do coeficiente de absorção molar em 255 nm em função do tempo de irradiação em ph 7 e 4. Nesse comprimento de onda a absorção do ACSA é mínima (Figura 4), indicando que sua variação está associada ao foto-produto. Observa-se que em ph 7 e 4 a variação no coeficiente de absorção molar, inicialmente, é menor para as soluções contendo a β-cd. Essa observação está associada à estabilidade que o oligo-sacarídeo confere ao ACSA, reduzindo a formação do foto-produto. Entretanto, após um período de irradiação de 300 minutos para ph 7 e 200 minutos para ph 4, o coeficiente de absorção molar do foto-produto para as soluções contendo a CD são maiores que as soluções sem CD, indicando que o foto-produto também é estabilizado pela CD frente a fotólise.

80 Baricatti e Silva-Lucca A Figura 5. Coeficiente de absorção molar em 205 nm em função do tempo de irradiação em ph 7 (A) e ph 4 (B), na presença ([ACSA]=1,1x10-4 mol L -1, ) e ausência ([ACSA]=1,6x10-4 mol L -1, ) de β-cd ([β-cd]=2,0x10-3 mol L -1 ). B A Figura 6. Coeficiente de absorção molar em 255 nm em função do tempo de irradiação em ph 7 (A) e ph 4 (B), na presença ([ACSA]=1,1x10-4 mol L -1, ) e ausência ([ACSA]=1,6x10-4 mol L -1, ) de β-cd ([β-cd]=2,0x10-3 mol L -1 ). B Conclusão Neste estudo verificou-se que o ácido salicílico complexa-se com a β-cd, fato observado pelo deslocamento do máximo da absorção e redução da condutividade, sua constante de dissociação obtida, na região em estudo é de 4,3 10-3 mol L -1. O complexo reduz a fotólise do ACSA de valores significativos. Após um período de irradiação (300min em ph 7 e 250min em ph 4) forma-se um foto-produto que é estabilizado pela molécula de ciclo dextrina. Referências AZEVEDO, M.B.M. et al. Violacein/β-cyclodextrin inclusion complex formation studied by measurements of diffusion coefficient and circular dichroism. J. Incl. Phen. Mol. Rec., v. 37, p. 67-74, 2000. BENDER, M.L.; KOMIYAMA, M. Cyclodextrin Chemistry. New York: Spring-Verlag, 1978. BENESI, H.A.; HILDEBRAND, J.H. A spectrophotometric investigation of the interaction of iodine with aromatic hydrocarbons. J. Am. Chem. Soc., Washington, DC, v. 71, p. 2703-2707, 1949. D'SOUZA, V.T.; BENDER, M.L. Miniature organic models for enzymes. Acc. Chem. Res., v. 20, p. 146-152, 1987. GRABNER, G. et al. Spectroscopic and photochemical study of inclusion complexes of dimethoxybenzenes with cyclodextrins. J. Phys. Chem., v. 100, p. 20.068-20.075, 1996. JUNQUERA, E.; AICART, E.; Effect of ph on the encapsulation of the salicylic acid/salicylate system by hydroxypropyl--cyclodextrin at 25 C. A fluorescence enhancement study in aqueous solutions. J. Incl. Phenom., v. 29, p. 119-136, 1997. JUNQUERA, E. et al. Binding of Sodium Salicylate by b- Cyclodextrin or 2,6-O-Methyl-b-cyclodextrin in Aqueous Solution. J. Pharm. Sci., Washington, DC, v. 87, p. 86-90. 1998. LUZZI, L; PALMIERI, A.; Biomedical Applications of Microencapsulation. Boca Raton:CRC Press, 1984. MONTI, S. et al. Photophysics and photochemistry of methylated phenols in β-cyclodextrin inclusion complexes. J. Phys. Chem., v. 97, p. 13011. 1993.

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