Earnings Losses of Displaced Workers: Evidence from a Matched Employer-employee Dataset SUMÁRIO

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Transcrição:

Earnings Losses of Displaced Workers: Evidence from a Matched Employer-employee Dataset Anabela Carneiro Faculdade de Economia da Universidade do Porto e CETE Pedro Portugal Banco de Portugal e Universidade Nova de Lisboa Julho de 2006 SUMÁRIO O fenómeno do despedimento no mercado de trabalho tem sido objecto de estudo de uma extensa literatura empírica. Os custos do despedimento em termos de desemprego (incidência e duração) e de perdas salariais (magnitude e persistência) têm sido os aspectos mais estudados. Apesar da diversidade na metodologia e bases de dados utilizadas, a evidência empírica disponível para os Estados Unidos tem concluído que os trabalhadores norte-americanos geralmente experimentam reduzidos períodos de desemprego, mas substanciais e persistentes reduções nos salários, na ordem dos 10-25%. Para a Europa, a evidência empírica não é assim tão clara. Alguns estudos têm concluído pela existência de elevadas perdas salariais, enquanto que outros concluem o contrário. Num ponto, contudo, estes estudos parecem estar em sintonia. Trabalhadores despedidos que experimentaram períodos de duração do desemprego mais alargados são os mais afectados, em termos salariais, pelo fenómeno do despedimento. Neste estudo avaliam-se as perdas salariais associadas ao despedimento devido ao encerramento de empresas. De facto, a questão do despedimento e dos salários é relevante por vários motivos. No que respeita a este estudo, a principal razão é que pode ajudar a clarificar os mecanismos de determinação dos salários e sugerir medidas de política económica que possam minorar os efeitos negativos do despedimento laboral. Neste contexto, dois objectivos conduzem a investigação. O primeiro visa determinar a magnitude das perdas salariais antes e após o despedimento, bem como a sua persistência ao longo do tempo. O segundo visa determinar as principais fontes/causas de perdas salariais. A metodologia de análise consiste em comparar as variações salariais dos trabalhadores despedidos ao longo de um período relativamente alargado, 1

com aquelas que teriam ocorrido se os mesmos não tivessem perdido os seus postos de trabalho (Jacobson et al., 1993). Como esta informação não pode ser observada, um grupo de controlo constituído por trabalhadores que permanecem empregados em empresas sobreviventes é utilizado. Deste modo, as perdas salariais são medidas como a variação ocorrida no diferencial salarial entre trabalhadores despedidos e trabalhadores não-despedidos, tomando como referência o diferencial salarial verificado três anos antes do despedimento e após controlar para um conjunto de características observáveis das empresas e dos trabalhadores. Os dados utilizados neste estudo são os constantes dos Quadros de Pessoal (QP) do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS). Os QP são coligidos anualmente pelo Departamento de Estatística do MTSS e cobrem praticamente o universo de empresas portuguesas com trabalhadores por conta de outrem. A base de dados inclui informação sobre um conjunto de variáveis que caracterizam o estabelecimento e a empresa correspondente (distrito, concelho, actividade económica, natureza jurídica e forma de gestão, vendas, emprego) e, para além disso, informação individualizada sobre características do pessoal em serviço (sexo, idade, nível de escolaridade, nível de qualificação, profissão, antiguidade, remunerações, horas de trabalho). Há três razões fundamentais que tornam os QP uma fonte de dados apropriada para o estudo dos efeitos do despedimento sobre os salários. A primeira é a sua elevada representatividade. A segunda resulta da sua natureza longitudinal, o que permite identificar os encerramentos de empresas e seguir os mesmos indivíduos ao longo do tempo. A terceira advém da disponibilidade de informação ao nível da empresa e dos trabalhadores, e da possibilidade de cruzar a informação dos trabalhadores com a informação da empresa correspondente. A amostra utilizada inclui todos os trabalhadores que perderam o seu posto de trabalho em 1994, 1995 ou 1996 devido ao encerramento da empresa. Uma amostra aleatória de trabalhadores que permanecem empregados em empresas sobreviventes é igualmente utilizada como grupo de controlo. Ambos os grupos de indivíduos, despedidos e não-despedidos, são seguidos nos três anos que imediatamente precedem o despedimento e nos anos que se seguem ao mesmo, até 1998. 2

São três as principais conclusões que emergem deste estudo. Em primeiro lugar, os resultados indicam que as perdas salariais associadas ao despedimento devido ao encerramento da empresa são significativas, na ordem dos 10% a 12%. De facto, três anos após o despedimento, o diferencial salarial entre trabalhadores despedidos e não-despedidos aumentou cerca de 12 pontos percentuais (p.p.) para os homens e cerca de 10 p. p. para as mulheres (veja-se Anexo - Quadro 1). Os resultados da regressão por quantis não são substancialmente diferentes, isto é, os efeitos do despedimento sobre os salários (em termos de magnitude e persistência) não variam significativamente ao longo da distribuição dos salários (veja-se Anexo - Gráficos 1 e 2). A segunda conclusão é que estas perdas começam a verificarse pelo menos um ano antes do encerramento da empresa, sugerindo a existência de concessões salariais, e persistem quatro anos após o mesmo (veja-se ainda Anexo - Quadro 1). Em terceiro lugar, conclui-se que os três factores que mais contribuem para a perda de salários são: a perda de capital humano específico à empresa, a perda de capital humano específico ao sector de actividade e a experiência de um período de desemprego. Os resultados revelam que, no que respeita aos trabalhadores do sexo masculino, a perda de capital humano específico à empresa explica cerca de 40 a 46% do aumento do diferencial salarial entre trabalhadores despedidos e o correspondente grupo de controlo, a experiência de um período de desemprego explica cerca de 33-43% desse acréscimo e os restantes 14-24% são resultantes da perda de capital humano específico ao sector de actividade (veja-se Anexo - Quadro 2). Para as trabalhadoras femininas, essas mesmas percentagens são, respectivamente, de 45-52%, 16-34% e 16-31% (veja-se Anexo - Quadro 2). Refira-se, por último, que uma percentagem importante (cerca de 55%) dos despedidos não obtém um novo emprego como trabalhador por conta de outrem no sector privado da economia no período de seguimento da amostra. Algumas implicações de política poderão ser retiradas da análise efectuada neste estudo. Concluiu-se que os trabalhadores despedidos geralmente experimentam custos de ajustamento substanciais, que estão fundamentalmente associados à duração do período de desemprego e à perda de capital humano específico à empresa e/ou sector de actividade. Deste modo, políticas públicas que visem melhorar a eficácia dos programas de 3

colocação de trabalhadores e de formação profissional, podem ter um papel importante na minimização das perdas associadas ao despedimento. A alteração da lei sobre a notificação antecipada do despedimento, alargando, eventualmente, o prazo de notificação e impondo sanções severas às empresas que não o cumpram, pode igualmente ter um efeito importante com vista a reduzir as perdas associadas à duração do desemprego. Referências bibliográficas: Jacobson, L., R. Lalonde e D. Sullivan (1993), Earnings Losses of Displaced Workers, American Economic Review, Vol. 83, pp. 685-709. 4

ANEXO Quadro 1 Diferencial salarial entre trabalhadores despedidos e trabalhadores não-despedidos Anos antes/após o despedimento Homens Mulheres 3 anos antes 1,1%* 1,2%* 2 anos antes -0,6%* 0,4%* 1 ano antes -2,9% -0,6%* ano de despedimento -7,3% -4,4% 1 ano após -8,7% -5,6% 2 anos após -10,9% -8,4% 3 anos após -11,4% -8,9% 4 anos após -11,3% -8,3% Fonte: Quadros de Pessoal do MTSS e cálculos dos autores; * estatisticamente não significativo a 1%. 5

Quadro 2 - Fontes de perdas salariais Homens Mulheres Desemprego 33-43% 16-34% Perda de capital humano específico à empresa Perda de capital humano específico ao sector de actividade 40-46% 45-52% 14-24% 16-31% Fonte: Quadros de Pessoal do MTSS e cálculos dos autores. 6

Gráfico 1: Diferencial salarial entre trabalhadores despedidos e trabalhadores nãodespedidos Resultados por quantis/homens 2,0% 0,0% -2,0% -4,0% -6,0% -8,0% -10,0% -12,0% -14,0% -3-2 -1 0 1 2 3 4 Anos Antes/Após Despedimento Q=0.1 Q=0.5 Q=0.9 7

Gráfico 2: Diferencial salarial entre trabalhadores despedidos e trabalhadores nãodespedidos Resultados por quantis/mulheres 2,0% 0,0% -2,0% -4,0% -6,0% -8,0% -10,0% -3-2 -1 0 1 2 3 4 Anos Antes/Após Despedimento Q=0.1 Q=0.5 Q=0.9 8