ANÁLISE DAS TEMPESTADES SEVERAS RELACIONADAS À OCORRÊNCIA DE GRANIZO NA REGIÃO SUL DO BRASIL Rafael R. FELIX 1,2, Jorge A. MARTINS 1 1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná Londrina Paraná Brasil - 2 rafael.felix@atmospher.org Resumo - Neste trabalho foi realizada uma análise da ocorrência de eventos de granizo na Região Sul do Brasil. Os maiores esforços foram voltados para a organização de um banco de dados das ocorrências de tempestades relacionadas a granizo nos estados do sul do País, compreendendo o período de 2003 a 2009. Os dados foram obtidos através de pesquisas tendo como ponto de partida dados fornecidos pela Defesa Civil dos Estados estudados. A análise preliminar dos dados revela a importância do trabalho e o seu potencial para uma futura caracterização da ocorrência deste evento atmosférico pouco estudado e que tem causado sérios prejuízos à população, principalmente no setor agrícola. Abstract - In our study, an analysis of the occurrence of events of hail in southern Brazil. The main efforts were directed to organize a database of incidents related to hail storms in the southern states of the Country, comprising the period from 2003 to 2009. The data were obtained through surveys as a starting point with data provided by the Civil Defense of the states studied. The preliminary analysis of the data reveals the importance of the study and his potential for future characterization of the atmospheric occurrence of this event, little studied, and which has caused serious damage to the population, especially in the agricultural sector. 1 - INTRODUÇÃO Granizos são pedaços de gelo transparentes ou parcialmente opacos, que precipitam com o tamanho variando de pequenas ervilhas a bolas de golfe (WALLACE, 2006). Os granizos podem assumir várias formas, podendo ser redondas ou irregulares e caem de nuvens do tipo Cumulonimbus (AYOADE, 2010). A possibilidade de ocorrência de granizos com grande dimensão é um aspecto relevante porque o poder destrutivo aumenta consideravelmente com o tamanho. Granizos de grande dimensão podem quebrar janelas, amassar carros, destelhar casas, causar sérios danos à pecuária e à agricultura e ocasionar até a morte. De fato, tempestades de granizo podem destruir plantações em questão de minutos, especialmente aquelas que se encontram em fase de crescimento. Assim, o granizo é considerado um fator de risco à agricultura em regiões onde ocorre com maior frequência, motivo pelo qual alguns fazendeiros chamam o granizo de a praga branca (AYOADE, 2010). Dois dos maiores obstáculos no estudo meteorológico das tempestades de granizo se dão principalmente pelas características intrínsecas desses eventos: se tratarem de eventos localizados (o que prejudica o registro desses eventos por estações meteorológicas) e possuírem 1
normalmente curta duração (SMITH,1989), assim, muitas ocorrências e informações importantes para o estudo desses hidrometeoros não são registradas. Estima-se que somente nos Estados Unidos as chuvas de granizo acumulam prejuízos de centenas de milhões de dólares anualmente. A tempestade mais cara registrada nos Estados Unidos ocorreu em Rocky Mountains no Colorado, com pedras do tamanho de bolas de golfe a bolas de baseball no dia 11 de julho de 1990, danificando centenas de telhados, carros, caminhões e postes de luz, causando um prejuízo de 625 milhões de dólares (WALLACE, 2006). No Brasil os prejuízos contabilizados por ocorrência do fenômeno também são substanciais. Por exemplo, de acordo com reportagem do Diário Catarinense de 16/11/2010, produtores rurais do município de Campos Novos, no Meio-Oeste de Santa Catarina, contabilizaram os prejuízos causados por uma forte chuva de granizo, que caiu por volta das 18h do dia 15/11/2010. Lavouras de trigo e de aveia preta tiveram os maiores danos. As perdas ultrapassaram os R$ 5 milhões. Os gastos incluíram a necessidade de novos plantios e redução da colheita. A chuva de granizo atingiu, pelo menos, cinco mil hectares de plantio. No Brasil, os estados do sul são aqueles que registram maior número de ocorrências de granizo. Atualmente, nenhum estudo foi desenvolvido para um melhor entendimento dessas ocorrências. A compreensão desse fenômeno pode contribuir, de forma significativa, principalmente para a agricultura, setor em que a Região Sul tem destaque em âmbito nacional. Com a melhor compreensão desses eventos é possível o estabelecimento de padrões de prevenção e minimização de danos futuros que o granizo possa causar evitando prejuízos à agricultura da região. 2 DADOS E MÉTODOS DE ANÁLISE A metodologia utilizada para obter os dados de ocorrência de granizo se dividiu em duas etapas principais, a pesquisa e a organização dos dados numa tabela simples que possibilitasse trato computacional. Como ponto de partida para iniciarmos a obtenção de dados, foram utilizados os dados de ocorrência de granizo fornecidos pela defesa civil dos estados da Região Sul do País Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - para a construção de uma base de dados inicial. Os dados fornecidos pela defesa civil dos estados reportam ocorrências que causaram danos significativos ao município/localidade em questão, em geral sendo classificado como em estado de calamidade pública. Assim sendo, as datas dessas ocorrências foram importantes informações para uma pesquisa mais detalhada do que ocorreu na ocasião. Através das datas das ocorrências obtidas com a defesa civil, uma pesquisa foi realizada para melhorar as informações contidas nos relatórios da defesa civil, a fim de encontrar informações de utilidade científica que na maioria das vezes não eram encontradas nos mesmos como: diâmetro máximo dos granizos, horário exato das ocorrências, duração dos eventos e 2
informações adicionais. Além disso, outras ocorrências que não foram identificadas pela Defesa Civil, por se tratarem de ocorrências que não acarretaram danos significativos ao município, foram adicionadas ao banco de dados. Em muitos casos trata-se de ocorrência próxima àquela identificada nos relatórios da Defesa Civil, mas se tratando de um evento independente. As seguintes fontes de dados complementaram a base inicial proveniente da Defesa Civil dos estados em questão: jornais impressos, telejornais, revistas, páginas de meios de comunicação em geral, relatos de moradores, agricultores e vítimas das tempestades de granizo. A internet foi o mecanismo principal para se chegar às referidas fontes. 3 - RESULTADOS Através do levantamento de dados das ocorrências que envolveram queda de granizo na Região Sul foram obtidos 785 registros compreendidos entre os anos de 2003 até 2009. Dentre esses registros 201 são do estado do Paraná, 273 de Santa Catarina e 311 do Rio Grande do Sul. O Paraná apresenta uma significativa qualidade dos dados para fins de pesquisa científica, ressaltando que a grande maioria das ocorrências apresenta seu horário exato. O maior número de ocorrências, 62, foi registrado no ano de 2008, sendo mais da metade (32) delas registradas no mês de agosto. Além disso, o estado apresentou maior número de ocorrências nos meses de agosto, setembro e outubro, fase de transição entre o inverno e a primavera (Figura 1). Figura 1 Distribuição mensal do número de ocorrências para o estado do Paraná no período de 2003 a 2009. Os eventos de granizo também foram analisados quanto ao ciclo diário de ocorrência no estado do Paraná. A análise das ocorrências considerou períodos de duas em duas horas e os resultados estão apresentados na Figura 2. Os resultados mostraram que no estado do Paraná, a maioria das ocorrências acontece no período da tarde e início da noite. O período compreendido 3
entre as 16h00min e 20h00min é aquele com o número de ocorrências mais significativo. Além disso, a média de duração dos eventos no estado foi de aproximadamente 13min. Deve ser ressaltado que a duração é uma medida subjetiva e incompleta e serve apenas para fornecer uma idéia do tempo médio de duração das ocorrências. Figura 2 Ciclo diurno do número de ocorrências de eventos de granizo para o estado do Paraná entre os anos de 2003 até 2009. Em Santa Catarina o maior número de ocorrências, 69, foi registrado no ano de 2009, sendo a maioria delas (33) no mês de setembro. Santa Catarina acompanhou o padrão de comportamento do estado do Paraná, apresentando uma concentração de ocorrências durante a transição entre o inverno e a primavera, mais especificadamente nos meses de setembro e outubro (Figura 3). Figura 3 Distribuição mensal do número de ocorrências para o estado de Santa Catarina no período de 2003 a 2009. No estado do Rio Grande do Sul o maior número de ocorrências, 83, foi registrado no ano de 2007, sendo mais da metade delas (49) no mês de outubro. O Rio Grande do Sul 4
acompanhou o padrão de comportamento dos outros dois estados da região, apresentando novamente uma concentração de ocorrências durante a transição entre o inverno e a primavera, mais especificadamente nos meses de setembro e outubro (Figura 4) como ocorre também em Santa Catarina (Figura 3). Figura 4 Distribuição mensal do número de ocorrências para o estado do Rio Grande do Sul no período de 2003 a 2009. 4 - CONCLUSÕES Este trabalho analisou as ocorrências de tempestades severas relacionadas a granizo na Região Sul do Brasil. Esta análise permitiu concluir que o período de maior ocorrência desses eventos compreendeu os meses de setembro e outubro em todos os estados da Região Sul e também em especial o mês de agosto para o estado do Paraná, meses que correspondem à fase de transição entre o inverno e a primavera na Região Sul do Brasil. A análise dos ciclos diários das ocorrências no estado do Paraná constatou que a maioria dos eventos está entre o período da tarde e início da noite, o horário de maior ocorrência está entre as 16h00min e 20h00min. AGRADECIMENTOS Projeto financiado pelo CNPq, processo número 555768/2010-4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS WALLACE, John M; HOBBS, Peter V. Atmospheric science: an introductory survey. 2nd ed. Burlington, MA: Academic Press, c2006. 483 p. AYOADE, J. O.. Introdução à climatologia para os trópicos. 13ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010 332 p. SMITH, P.L., WALDVOGEL, A., 1989. On determinations of maximum hailstone sizes from hailpad observations. J. Appl. Meteorol. 28, 71 76. 5