Aspectos da fluência verbal em idosos com depressão. Palavras chave: fluência, cognição, idoso. Introdução No envelhecimento ocorre declínio de capacidades físicas e cognitivas (1-2). Aspectos psicossociais e orgânicos (3) concorrem para a depressão que afeta as relações comunicativas, a linguagem e a fala. A fluência pode ser medida por provas de fluência verbal semântica e fonológica (3,4-5). Pesquisadores (5,6-7) evidenciaram a presença de déficit cognitivo leve em idosos, que o teste de fluência verbal apresentou escore significativamente mais baixo para idosos deprimidos e que idosos institucionalizados apresentavam maior freqüência de depressão e pior desempenho na prova de fluência verbal. Objetivo Este trabalho objetiva avaliar idosos com depressão pelos testes de fluência verbal semântica e fonológica e analisar estratégias semânticas de derivação de gênero e fonológicas de extensão e classe gramatical de palavra. Casuística e método Trata-se de um estudo descritivo, transversal, quali-quantitativo. Foram incluídos como sujeitos: todos os pacientes do AG/CG do HGC Dom Pedro II, 60 anos, dos gêneros feminino e masculino, com diagnóstico de depressão, e linguagem preservada. Foram excluídos os que se recusaram a participar e os com diagnósticos de alterações neurológicas. As estratégias semânticas de derivação de gênero sofreram análise qualitativa e os outros resultados tratamento estatístico. Resultados Selecionaram-se 66 sujeitos compatíveis com os critérios, dentre 438 prontuários; ocorreu insucesso no contato (24), ausência (6), recusa a participar (6) e 30 formaram o
grupo de estudo, caracterizado por: 10 % sujeitos do gênero masculino e 90 % do feminino, média de 70,7 anos e 4 anos de escoralidade. A estatística descritiva do número de palavras em cada prova por gênero e a análise de variância do número de palavras produzidas em cada prova indicou que os gêneros diferenciam-se estatisticamente para todas. A estatística descritiva do número de palavras em cada prova por grupo e a análise de variância indicou que os grupos diferenciam-se estatisticamente apenas para a prova de fluência verbal fonológica /f/ (p-valor =0,030). Com p-valor = 0, 138, a comparação entre os gêneros indicou não diferenciação para escolaridade. Observou-se correlação linear positiva significativa entre escolaridade e fluência verbal fonológica /s/ e verbal semântica. Em relação à idade, houve correlação linear negativa, estatisticamente significativa embora fraca, entre idade e a fluência verbal fonológica tanto para /s/ como para /f/. TABELA 1. Efeito da extensão da palavra na prova fluência fonológica /s/. Média Desvio Padrão Monossílabos 0,2 0,48 Dissílabos 2,33 2,01 Trissílabos 3,37 2,31 Polissílabos 1,13 1,11 F p-valor Tukey 21,2 <0,001* mono di poli; di = tri; tri poli TABELA 2. Efeito da extensão da palavra na prova fluência fonológica /f/. Média Desvio Padrão Monossílabos 0,17 0,46 Dissílabos 2,90 2,18 Trissílabos 2,90 2,35 Polissílabos 1,27 1,17 F p-valor Tukey 18,04 <0,001* mono di poli; di = tri; tri poli
Observou-se significância estatística positiva para classe gramatical (substantivo) e para extensão da palavra nas provas de fluência fonológica /s/ e /f/. Os processos de derivação de gênero foram de número insuficiente para tratamento estatístico. Discussão Os dados da predominância do gênero feminino, aqui verificados, apresentam correlatos na literatura nacional (8, 9,10,11,12,13-14) e internacional (15,16-17), e os de nível de escolaridade (primário completo) nas pesquisas (18,19,20,21-22). Quanto às palavras produzidas, houve diferença estatística para /f/, em acordo com os estudos (20-23) sobre senescência e fluência verbal, escolaridade e fluência semântica. Ocorreu melhor desempenho no gênero masculino quanto ao número de palavras produzidas, corroborando estudo com sujeitos de baixo nível de escolaridade (15). Em pesquisas com sujeitos normais de diferentes idades, o gênero não influenciou as respostas (23,25-26). O nível de escolaridade foi proporcional à produção de palavras na fluência verbal semântica e na fonológica /s/, fonema de alta freqüência no Português (30), convergindo com estudos de idosos (20,25-27) e de sujeitos de diferentes idades (23,25,28-29). Déficits na recuperação das palavras decorrem de confusão fonológica do sistema de memória curta (25-29) e podem afetar o desempenho no teste. A extensão foi maior para dissílabos e trissílabos, mais recorrentes no Português (31), e para substantivos, maior classe morfológica (31). A uso da derivação de gênero indicia que idosos deprimidos utilizam processos mnésicos e executivos, necessários para um bom desempenho no teste (4). Conclusões Observamos neste estudo que: -a idade influênciou o desempenho somente para a prova fonológica /f/; -a produção de palavras nas provas foi proporcional à escolaridade; -o gênero influênciou o desempenho positivamente para o masculino;
- houve maior uso de substantivos, dissílabas e trissílabas e a derivação de gênero não foi conclusiva. Referências Bibliográficas 1. Mac-Kay APMG. Linguagem e gerontologia. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO. (Orgs.). Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca; 2004. p. 903-910. 2. Argimon IIL, Vivan AS, Timm LA, Andrade TMR. A escolaridade e a fluência verbal nos idosos. Porto Alegre: PUCRS; 2007. 3. Argimon IIL, Stein LM. Habilidades cognitivas em indivíduos muito idosos. Cad. Saúde Pública 2005 Jan-Fev; 21;(1):64-72. 4. Mansur LL, Radanovic M. Neurolingüística: princípios para a prática clínica. São Paulo: Edições Inteligentes, 2004. p. 43-60. 5. Lamberty GJ, Bieliauskas LA. Distinguishing between depression and dementia in the eldery. Arch Clin Neuropsychol 1991;8:149-70. 6. Emery OB, Breslau LD. Language deficits in depression: comparisons with SDAT and normal aging. J Gerontol 1989;44:85-92. 7. Plati MCF, Covre P, Lukasova K, Macedo EC. Depressive symptoms and cognitive performance of the elderly. Rev. Bras. Psiquiatr. 2006 June; 28(2):118-121. 8. Almeida OP. Elderly treated in mental health emergency rooms. Rev Bras Psiquiatr 1999;21(1):12-18. 9. Almeida OP, Almeida AS. Confiabilidade da versão brasileira da escala de depressão geriátrica - versão reduzida. Arq Neuropsiquiatr. 1999;57(2-B):421-426. 10. Gazalle FK, Hallal PC, Lima MS. Depression in the eldery. Rev. Bras. Psiquiatr. 2004a;26(3):145-149. 11. Gazalle FK, Lima MS, Tavares BF, Hallal PC. Sintomas depressivos e fatores associados em população idosa no Sul do Brasil. Rev Saúde Pública. 2004b:38(3):365-371. 12. Oliveira JCF. Insônia, sinais e sintomas depressivos e qualidade de vida em idosos institucionalizados [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2006. 13. Veras RP, Murphy E. The mental health of older people in Rio de Janeiro. Int J Geriatr Psychiatry. 1994;9:285-95. 14. Xavier FMF. Prevalência de declínio cognitivo associado ao envelhecimento de uma população de idosos com mais de 80 anos residentes na comunidade [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo; 1999. 15. Blazer DG, Williams CD. The epidemiology of dysphoria and depression in an elderly population. Am J Psychiatry. 1980;137:439-44. 16. Wagner FA, Gallo JJ, Delva J. Depresíon en la edad avanzada. Salud pública Méx. 1999;41(3):189-202. 17. Wilson KB, Bleecker ML. Absence of depression in elderly. Journal of Gerontology: Psychological Sciences. 1989;44(2):53-55. 18. Sitta MC, Jacob Filho W. Abordagem clínica da depressão no idoso e a contribuição do geriatra. In: Fráguas R Jr, Figueiró JAV. (Orgs.). Depressões em Medicina Interna e em outras Condições Médicas. São Paulo: Editora Atheneu, 2000, p. 557-562. 19. Cerqueira ATAR. Deterioração cognitiva e depressão. In: Lebrão ML, Duarte YAO (Orgs.). Projeto SABE no Município de São Paulo. Brasília: OPAS; 2003. p. 143-165. 20. Sanches M. Impacto de um instrumento de triagem sobre o reconhecimento e evolução da depressão em uma amostra de pacientes idosos atendidos em ambulatório de geriatria de um hospital universitário [tese]. São Paulo: Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo; 2004. 21. Camargo ABM, Saad PM. A transição demográfica no Brasil e seu impacto na estrutura etária da População. In: O idoso na Grande São Paulo. São Paulo: Fundação SEADE; 1990.
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