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DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 36/ CC /2017 N/Referência: P.º C.C. 59/2016 STJ-CC Data de homologação: 29-06-2017 Consulente: Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina.... Assunto: Assento de óbito - Doação de corpo para fins de ensino ou de investigação científica - Inumação Cremação Palavras-chave: Óbito - Doação de corpo - Ensino e investigação científica - Inumação - Cremação - Averbamento ao assento de óbito. 1 - O Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina.. veio expor as dificuldades, com que se tem confrontado, nos casos em que, após a conclusão do estudo anatómico dos corpos que foram doados para essa finalidade, é necessário dar um destino final aos respetivos restos mortais, procedendo, designadamente, à sua inumação ou cremação, de acordo com a vontade expressa do doador. 1.1 - No essencial, está em causa a questão de saber se pode ser averbado, ao assento de óbito, «o destino final de um corpo objeto de doação para efeitos de ensino e de investigação, quando o estudo deste corpo termina, ditando, assim, o seu verdadeiro e real destino». Acrescenta, ainda, o Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina... que, inicialmente, surgiram «vários entraves em relação aos assentos de óbito por questões relacionadas com o destino dos despojos mas que eventualmente foram ultrapassados», porque, entretanto, obtiveram a informação de que, não se sabendo, a priori, qual o destino final dos corpos, seria omitida, nos assentos de óbito, a menção, prevista na alínea e) do nº 1 do artigo 201º do Código do Registo Civil (CRC), relativa ao cemitério onde o falecido vai ser sepultado. Todavia, uma vez concluído o estudo anatómico, surgiu, agora, a necessidade de alterar a menção relativa ao destino do cadáver, que já consta do assento de óbito, por forma a permitir a cremação, o que foi inviabilizado pois, conforme tem sido transmitido, não é possível efetuar o averbamento dessa alteração. 1.2 - Como é referido na informação prestada pelo DGATJSR-STJSR, «a questão estará muito ligada àqueles casos em que já consta do assento de óbito um destino final, por exemplo, a menção de o corpo ter sido doado à Faculdade de Medicina ou outro. Nestes casos, após a conclusão do estudo e pretendendo dar um destino final aos restos mortais, de acordo com a vontade expressa pelo doador, não têm conseguido alterar a menção que consta do assento.» 1.3 - Em conclusão, solicita o Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina... que «a solução encontrada seja passível de ser aplicada a todos os corpos doados para ensino e investigação, independentemente de quem realize o registo de óbito junto da Conservatória, permitindo que seja omitido ou preterido no tempo a definição do destino final do corpo doado ou que 1/6

seja permitido o respetivo averbamento de situação de alteração do referido destino logo que terminado o estudo anatómico do corpo doado. Cumpre analisar 1 - Como é consabido, o óbito constitui um dos factos sujeito a registo civil obrigatório, sendo lavrado por assento, em suporte informático, de acordo com o modelo existente no Sistema Integrado de Registo e Identificação Civil (SIRIC). 2 - Os elementos que, em especial, devem constar do assento de óbito estão previstos no artigo 201º do CRC, neles se incluindo o cemitério onde o falecido vai ser ou foi sepultado - alínea e), do nº 1 do referido artigo. Todavia, para a realização do assento de óbito apenas são indispensáveis as menções necessárias à identificação do falecido, competindo ao conservador fazer ingressar, através de averbamento, as menções que, não podendo ser obtidas no momento em que o assento é efetuado, só mais tarde chegarem ao seu conhecimento cfr. nº 4 do mesmo artigo 201º do CRC. 3 - Importante nos parece referir, no contexto da questão em apreço, que o artigo 71º do CRC, na redação anterior ao Decretolei nº 228/2001, de 20 de agosto, previa, nas suas alíneas a) e b), que a trasladação, a cremação ou a incineração fossem objeto de averbamento ao assento de óbito. A fim de clarificar os motivos que terão estado na génese da eliminação dos averbamentos relativos à trasladação, cremação ou incineração de cadáveres, e socorrendo-nos do preâmbulo do referido Decreto-lei nº 228/2001, verifica-se que constituiu uma alteração pontual que, sem pôr em causa os valores de segurança e de certeza em que assenta a instituição registral, poderia contribuir para a desburocratização de procedimentos. Segundo cremos, ter-se-á partido do princípio de que as autarquias locais v.g. municípios e freguesias - enquanto entidades responsáveis pela administração dos cemitérios, já detinham o registo destes factos, não se justificando, assim, que o Código Registo Civil acolhesse idêntica obrigatoriedade de registo. 4 -Todavia, a menção relativa ao cemitério onde o falecido vai ser ou foi sepultado continua prevista na alínea e) do nº 1 artigo 201º do CRC, constituindo um dos elementos que, em especial, deve constar do assento de óbito, muito seguramente em resultado do interesse público subjacente ao conhecimento do destino do cadáver. A menção relativa ao cemitério onde o falecido vai ser sepultado encontrava-se, aliás, já prevista em diversos Códigos do Registo Civil, que precederam o atual, tendo vindo a ser sistematicamente transposta. Verifica-se, somente, uma mera alteração, relativa à redação deste requisito especial dos assentos de óbito (vai ser sepultado / vai ser ou foi sepultado), já que o cadáver poder ter sido sepultado em momento anterior àquele em que o assento de óbito é efetuado, como sucede, aliás, nos casos em que é emitido o boletim de óbito, nos termos previstos no nº 2 do artigo 9º do Decreto-lei nº 411/98, de 30 de dezembro, 1 diploma que estabelece o regime jurídico da remoção, transporte, inumação, exumação, trasladação e cremação de cadáveres. 2 Apesar de não constituir um elemento de identificação do falecido, não sendo, portanto, indispensável para a realização do assento de óbito, o local onde o cadáver se encontra constitui uma das menções do assento de óbito com particular relevância, 1 Cfr.artigo 17º, nº 3 da Lei 15/2012, de 3 de abril - Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO). 2 O Decreto-lei 411/98, de 30 de dezembro, foi alterado pelos DL 5/2000, de 29/01, DL138/2000, de 13/07, Lei 30/2006, de 11/07, DL nº 109/2010, de 14/10 e Lei 14/2016, de 9/06 2/6

designadamente nos casos em que as autoridades judiciais pretendem proceder a investigação, ordenando a exumação do cadáver para investigação criminal ou para proceder à colheita de material biológico, para outros fins. Do que vem exposto parece-nos resultar, desde já, a importância de, se possível, ser recolhida informação precisa, relativamente ao destino do cadáver. 5 - Acresce, que por força do disposto nos nºs 1 e 2 do artigo 9º do citado Decreto-lei nº 411/98, de 30 de dezembro, nenhum cadáver pode ser inumado ou cremado sem que tenha sido previamente lavrado o respetivo assento de óbito ou, fora do período de funcionamento das conservatórias do registo civil, emitido o boletim de óbito, pela competente autoridade de polícia. Do assento de óbito é sempre emitida certidão gratuita que serve de guia de enterramento cfr. nº 7 do artigo 215º do Código do Registo Civil. Estes documentos certidão do assento ou boletim de óbito - destinam-se, pois, a permitir a inumação ou cremação dos cadáveres 3, neles constando o local onde o falecido vai ser sepultado ou o local de destino do cadáver. 6 - Por outro lado, podem ser cremados cadáveres não inumados, isto é, cadáveres que não tenham sido previamente colocados em sepultura cfr. artigo 15º do Decreto-lei nº 411/98, de 30 de dezembro. Na atualidade, e como é referido no Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 14 de março de 2017, proferido no processo nº 151/14.4JASTB.L2-5 «O Decreto-lei nº 411/98, de 30 de dezembro, estabelece a plena equiparação das figuras da inumação e da cremação» 4. A cremação, ou seja a redução do cadáver a cinzas, constitui, aliás, uma opção frequente e, tendencialmente, cada vez mais utilizada. Ora, face à equiparação das duas figuras, e sendo a cremação o destino imediato do cadáver, parece-nos que tal deve, desde logo, ter acolhimento no assento de óbito, a tal não obstando, segundo cremos, o facto de a alínea e) do nº 1 do artigo 201º do CRC referir, como elemento especial do assento, o cemitério onde o falecido vai ser ou foi sepultado. Com efeito, a razão de ser do referido normativo - a sua ratio legis - assenta, precisamente, em recolher e dar publicidade à informação relativa ao destino do cadáver, parecendo-nos, assim, justificada uma interpretação atualista do disposto no referido normativo. Importa, também, referir que, de acordo com o disposto no artigo 1º da Portaria nº 1109/2009, de 25 de setembro, os assentos, efetuados nas conservatórias do registo civil, obedecem aos modelos constantes no Sistema Integrado de Registo e Identificação Civil (SIRIC) e, no que ao destino do cadáver diz respeito, encontram-se já previstas, para o assento de óbito, outras opções, para além de sepultado, como é, precisamente, o caso de cremado e doado, as quais devem ser completadas com os demais elementos que, em cada caso, se mostrem adequados. 7 - Aqui chegados, e para o adequado enquadramento das questões expostas pelo Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina..., importa chamar à colação o Decreto-lei nº 274/99, de 22 de julho, diploma que, nos termos do seu artigo1º, tem por objeto regular as situações em que é lícita a dissecação de cadáveres, ou de partes deles, bem como a extração de peças, tecidos ou órgãos, para fins de ensino e de investigação científica, enunciando, no artigo 2º, quais as entidades que 3 Para além disso, e a par de outros documentos, a certidão e o boletim de óbito, ou fotocópias simples dos mesmos, permitem, também, o transporte dos cadáveres fora do cemitério cfr. nºs 1 e 7 do artigo 6º do DL 411/98, de 30 de dezembro. 4 Com exceção das particularidades do regime da cremação, caso o cadáver tenha sido sujeito a autópsia médico-legal. 3/6

são autorizadas a praticar estes atos as Escolas Médicas das Universidades, os Institutos de Medicina Legal, os Gabinetes Médico-Legais e os Serviços de Anatomia Patológica dos Hospitais. 5 Para além de outros casos, a realização dos atos previstos no artigo 1º do Decreto-lei nº 274/99 é permitida, de acordo com o nº 1 do artigo 3º do mesmo diploma, quando a pessoa falecida tenha expressamente declarado, em vida, a vontade de que o seu cadáver seja utilizado para fins de ensino e de investigação científica. Por sua vez, determina o artigo 18º deste diploma que os despojos de cadáveres dissecados que não aproveitem à sua reconstituição e as peças, tecidos ou órgãos que não sejam conservados para fins de ensino e de investigação científica são inumados ou cremados, nos termos da lei, pelas entidades que procederam à respetiva dissecação ou extração. 8 - Da interpretação que defendemos para o disposto na alínea e) do nº 1 do artigo 201º do CRC, decorre que, por identidade de razão, entendemos que, quando o corpo foi doado para fins de ensino e de investigação científica, a uma das entidades autorizadas para o efeito, deve esse facto constar do assento de óbito, porque constitui, na realidade, o destino imediato do cadáver, podendo configurar-se, inclusivamente, a possibilidade de vir a ser esse o seu destino único e final. 9 Face ao que foi referido pelo Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina..., verifica-se que se pretende proceder à inumação ou cremação de despojos de cadáveres, após a conclusão do estudo/investigação científica. Como vimos, de acordo com o disposto no artigo 18º do Decreto-lei nº 274/99, os despojos de cadáveres dissecados que não aproveitem à sua reconstituição e as peças, tecidos ou órgãos que não sejam conservados para fins de ensino e de investigação científica são inumados ou cremados, nos termos da lei, pelas entidades que procederam à respetiva dissecação ou extração. A questão que se levanta é, pois, a de saber se pode ser averbada ao assento de óbito, a inumação ou a cremação desse cadáver, quando, no texto do assento, já consta que o corpo foi doado a entidade autorizada para proceder aos atos previstos no artigo 1º do Decreto-lei nº 274/99. Propendemos para uma resposta afirmativa, atendendo, por um lado, à relevância da existência de um registo dessa informação e, por outro lado, por nos parecer que o averbamento de qualquer um desses factos será adequado para que ocorrra a inumação ou cremação do cadáver. Com efeito, nenhum cadáver pode ser inumado ou cremado sem que exista um dos dois documentos idóneos para essa finalidade: a certidão do assento de óbito, que serve de guia de enterramento, ou o boletim de óbito, que é emitido nos casos previstos no nº 2 do artigo 9º do Decreto-lei nº 411/98, de 30 de dezembro. Estando, aqui, naturalmente afastada a emissão do boletim de óbito, o documento adequado para promover a inumação ou a cremação será, pois, a certidão do assento de óbito, com o correspondente averbamento de um daqueles factos. Não se poderá dizer, contra isto, que o procedimento que se defende está em desconformidade com a abolição dos averbamentos de trasladação ou de cremação/incineração de cadáveres, posto que, neste caso, é a própria inumação ou a cremação enquanto figuras equiparadas - que vão ingressar, ex novo, no registo. Pode, ainda, acrescentar-se que, nos casos de que nos ocupamos, não existe anterior registo no âmbito das entidades responsáveis pela administração dos cemitérios e, bem assim, que nos termos do artigo 13º do referido Decreto-lei nº 274/99, 5 O Instituo de Anatomia é uma unidade estrutural da Faculdade de Medicina da Universidade de., tal como decorre dos Estatutos daquela Faculdade cfr. Despacho 4824/2014, publicado no DR, 2ª série, de 3/04. 4/6

os dados pessoais são conservados, apenas, durante o prazo de cinco anos, a contar da data da realização dos atos previstos no seu artigo 1º. 10 - Pelo Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina... foi, também, referida a existência de assentos de óbito em cujo texto foi omitida a menção relativa ao destino do cadáver, por se tratar de corpos doados para fins de ensino e de investigação científica, não se ignorando que, por vezes, essa foi a solução adotada. Nestes casos, nada obsta a que, nos termos do nº 4 do artigo 201º do CRC se faça constar, por averbamento, o destino do cadáver. 11 - Cabe, por último, pronunciarmo-nos sobre o qual o documento que deve servir de base ao averbamento, a efetuar ao assento de óbito, relativo à cremação ou à inumação, após o termo da finalidade de ensino/ investigação científica a que o cadáver se destinou. Como vimos, determina o referido artigo 18º do Decreto-lei nº 274/99 que os despojos de cadáveres dissecados que não aproveitem à sua reconstituição e as peças, tecidos ou órgãos que não sejam conservados para fins de ensino e de investigação científica são inumados ou cremados, nos termos da lei, pelas entidades que procederam à respetiva dissecação ou extração. Por sua vez, o artigo 4º do Decreto-lei nº 411/98 dispõe que a inumação ou cremação são requeridas à entidade responsável pela administração do cemitério ou do centro funerário 6 onde as mesmas tiveram lugar. Deste modo, entendemos que a comunicação feita pelo responsável máximo do serviço das entidades referidas no artigo 2º do Decreto-lei nº 274/99, será documento bastante para o efeito, tal como o será a comunicação que for efetuada por entidade que, nos termos do artigo 4º do Decreto-lei nº 411/98, tem competência para autorizar a inumação ou a cremação. Em face do exposto, extraímos as seguintes conclusões: 1 - A menção relativa ao cemitério onde o falecido vai ser ou foi sepultado está prevista na alínea e) do nº 1 artigo 201º do Código do Registo Civil, como um dos elementos que, em especial, deve constar do assento de óbito. 2 - Sem prejuízo do regime aplicável aos casos em que tenha havido autópsia médico-legal, o Decreto-lei nº 411/98, de 30 de dezembro, estabelece a plena equiparação das figuras da inumação e da cremação, enquanto destinos do cadáver, pelo que, quando a cremação constituir o destino imediato do cadáver, deve esse facto constar do texto do assento de óbito. 3 - Idêntico procedimento deve ser adotado quando o cadáver é doado para fins de ensino e de investigação científica, nos termos do Decreto-lei nº 274/99, de 22 de julho. 6 Nos termos da alínea n) do artigo 2º do DL 411/98, de 30 de dezembro, considera-se centro funerário o edifício destinado exclusivamente à prestação integrada de serviços fúnebres, podendo incluir, a conservação temporária e preparação de cadáveres, a celebração de a conservação temporária e preparação de cadáveres, a celebração de exéquias fúnebres e a cremação de restos mortais não inumados ou provenientes de exumação. O modelo previsto no anexo i do DL 411/98, de 30/12, foi alterado pelo artigo 24º do DL109/2010, de 14/10, alterado pela Lei 13/2011, de 29/04 e pelo DL 10/2015, de 16/01 - regime de acesso e de exercício da atividade funerária. 5/6

4 - De acordo com o disposto no artigo 1º da Portaria nº 1109/2009, de 25 de setembro, os assentos, efetuados nas conservatórias do registo civil, obedecem aos modelos constantes no Sistema Integrado de Registo e Identificação Civil (SIRIC) e, no que ao destino do cadáver diz respeito, encontram-se previstas, para o assento de óbito, outras opções, para além de sepultado, como é o caso de cremado e doado, as quais são completadas com os elementos que, em cada caso, se mostram adequados. 5 - Constando, no texto de um assento de óbito, que o cadáver foi doado para fins de ensino e de investigação científica, a posterior inumação ou cremação é objeto de registo, se requerido, através de averbamento a esse assento. Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 29 de junho de 2017. Maria Regina Rodrigues Fontainhas, relatora, Benilde da Conceição Alves Ferreira, Maria de Lurdes Barata Pires de Mendes Serrano, Paula Marina Oliveira Calado Almeida Lopes. Este parecer foi homologado pelo Senhor Presidente do Conselho Diretivo em 29.06.2017. 6/6