CAMPUS DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CCS JACAREZINHO DANILO LUIZ FAMBRINI DEFICIT BILATERAL: COMPARAÇÃO ENTRE INDIVIDUOS TREINADOS E NÃO TREINADOS EM UM PROGRAMA DE TREINAMENTO COM PESOS JACAREZINHO 2013
DANILO LUIZ FAMBRINI DEFICIT BILATERAL: COMPARAÇÃO ENTRE INDIVIDUOS TREINADOS E NÃO TREINADOS EM UM PROGRAMA DE TREINAMENTO COM PESOS Artigo Cientifico apresentado à disciplina de Metodologia da Pesquisa Cientifica como requisito parcial à conclusão do curso de Especialização em Personal Trainer, da Universidade Estadual do Norte do Paraná UENP Orientador: Prof. Dr. Claudinei Ferreira dos Santos. Jacarezinho 2013
DEFICIT BILATERAL: COMPARAÇÃO ENTRE INDIVIDUOS TREINADOS E NÃO TREINADOS EM UM PROGRAMA DE TREINAMENTO COM PESOS Danilo Luiz Fambrini¹, Claudinei Ferreira dos Santos² ¹ Aluno de Especialização em Personal Trainer pela Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, Paraná. ² Docente do curso de Educação Física na Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, Paraná. Danilo Luiz Fambrini, Rua Pedro Leme Brisolla Sobrinho, 876, Centro, Ipaussu, São Paulo, CEP 18950-000, fambrinief90@hotmail.com. RESUMO O déficit bilateral pode ser conceituado de duas formas: Pela diferença de força gerada em um exercício bilateral e um unilateral, ou, pela desigualdade de força muscular gerada entre o membro dominante e não dominante do indivíduo em questão.o objetivo do estudo foi avaliar o nível de déficit bilateral em indivíduos treinados e não treinados em um programa de treinamento com pesos.foram avaliados 21 indivíduos com idade entre 18 e 30 anos, sendo divididos em dois grupos: Grupo Treinados (GT) e Não Treinados (GNT). Os testes de força isocinética foram realizados em um dinamômetro da marca BIODEX 4.0 nos movimentos de extensão e flexão de joelho a 60 e 300 /segundo, após sessão de familiarização que ocorreu 48 horas anteriormente ao teste. O teste foi precedido por dois minutos de aquecimento em bicicleta ergométrica. Após a coleta dos dados a normalidade foi verificado pelo tese de Shapiro Wilks, e para as comparações entre os membros e os grupos utilizou-se o teste Anova two-way e post hoc de Tukey, sendo adotado nível de significância p 0,05. O pacote estatístico utilizado foi o Statistica 6.0. O GT mostrou valores significativamente maiores no membro dominante em relação ao membro contralateral na flexão de joelho á 60 /s. Já o GNT não apresentou diferença significativa. Na velocidade 300 /s não foram encontradas diferenças significativas em nenhuma variável de ambos os grupos. Entre os grupos não foram constatadas diferenças significativas em nenhuma variável. Os valores médios de
déficit bilateral de cada grupo em nenhum momento ultrapassou 10%, assim não expressando indicadores de lesão. O achado nos leva a crer na possibilidade de influência pelo método de treinamento, pois, a utilização de exercícios bilaterais podem aumentar a assimetria muscular, já que o membro mais forte será mais exigido, compensando as limitações do membro contralateral. Palavras Chave: Dinamômetria Isocinética, Treinamento Resistido, Equilíbrio Muscular ABSTRACT The bilateral deficit can be conceptualized in two different ways: For the difference in force generated in a bilateral and unilateral exercise, or the unequal muscle strength generated between the dominant and non dominant. Had been evaluated 21 individuals aged 18 and 30 years, were divided into two groups: trained (GT) and not trained (GNT). The isokinetic strength tests were performed on a dynamometer brand BIODEX 4.0 movements of extension and knee flexion to 60 and 300 / second, after familiarization session that occurred 48 hours prior to the test. The test was preceded by two minutes of warming in bicycle. After collecting the data normality was verified by Shapiro Wilks thesis, and comparisons between members and groups used the two-way ANOVA and post hoc Tukey, with the level of significance of p 0.05. The statistical package the utilized was Statistica 6.0. The GT showed significantly greater in the dominant limb compared to the contralateral limb in knee flexion will be 60 / s. Already GNT showed no significant difference. At speed 300 / s were not significant differences in any variable in both groups. Between groups were not significant differences in these variables. The mean values for each group BD at no time exceeded 10% so not expressing indicators injury. This finding leads us to believe in the possibility of influence by training method, therefore the use of bilateral exercises can increase muscle asymmetry, as the strongest member will be required, offsetting the limitations of the contralateral limb. Keywords: Isokinetic Dynamometry, Resistance Training, Muscle Balance.
questão (2,3,4). O treinamento com pesos se tornou uma das atividades físicas mais INTRODUÇÃO A acentuada diferença de força entre o membro dominante e o membro contralateral é considerado um forte indicador de existência de lesão na articulação em questão (1). Sendo assim, o estudo busca analisar se o treinamento com pesos é uma pratica interessante para prevenir lesões. O déficit bilateral pode ser conceituado de duas formas: Pela diferença de força gerada em um exercício bilateral e um unilateral, ou, pela desigualdade de força muscular gerada entre o membro dominante e não dominante do individuo em populares para a melhora da aptidão física, condicionamento e diminuir risco de lesões em praticantes (5). O treinamento da potência e força muscular mostra-se efetivo na melhoria de várias capacidades funcionais e no aumento da força e hipertrofia muscular. Portanto, a prescrição de um treinamento dessas capacidades é de suma importância para diversas populações, como por exemplo, atletas, indivíduos que apresentam lesões ortopédicas, idosos, ou mesmo praticantes saudáveis que visam à promoção da saúde (6,7). A avaliação isocinética, tem sido um dos métodos mais utilizados na avaliação da força muscular. A dinamometria isocinética permite que o individuo tenha uma avaliação de força muscular em velocidade constante e com resistência cômoda em cada articulação. O método pode ser usado para avaliação de força, equilíbrio funcional muscular e também para reabilitação de lesões do sistema neuro-musculo-esquelético (8). Diferenças elevadas de força entre membros dominante e não dominante, avaliados por dinamômetria isocinética, sugerem que o indivíduo tenha alguma limitação muscular proveniente de lesão (1). O objetivo principal do presente estudo foi realizar a análise de equilíbrio muscular entre indivíduos sedentários e praticantes de um programa de treinamento com pesos.
MÉTODOS Voluntários Foram avaliados 21 homens saudáveis com idade de 18 à 30 anos, separados em dois grupos: Grupo Treinados (GT: n = 11) e Grupo Não Treinados (GNT: n = 10). Os critérios de inclusão para cada grupo foi a seguinte: Participação regular em um programa de treinamento com pesos a no mínimo 6 meses eram caracterizados como treinados e para se enquadrar ao GNT, tinha que estar isento de treinamento com pesos ou atividades físicas intensas por no mínimo 6 meses. Para divulgação do projeto, procedeu-se uma divulgação verbal no Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Norte do Paraná- CCS/UENP, após divulgação, os voluntários interessados assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Perfil antropométrico dos voluntários é ilustrado na tabela 1. Tabela 1: Perfil dos voluntários, expresso por média e desvio padrão. GT(n=11) GNT (n=10) Idade (anos) 23,1±2,6 22,1±1,6 Peso Corporal (kg) 70,4±8,1 72,5±3,7 Estatura (cm) 175,2±5,7 176,8±7,1 Avaliação Isocinética Para o teste de força isocinética foi utilizado um dinamômetro isocinético a marca BIODEX 4.0, sendo mensurada a força de extensão e flexão de joelho bilaterais, iniciando pelo membro dominante nas velocidades de 60 e 300 graus por segundo. Antes do início do teste o voluntário realizou aquecimento em uma bicicleta ergométrica da marca Monark durante dois minutos a 20 km/h. Logo em seguida o voluntário era conduzido à cadeira isocinética para o início da
avaliação. Os voluntários tiveram uma sessão de familiarização, com a finalidade de anular os efeitos de adaptação ao teste, na qual, foram instruídos sobre os métodos, nas condições relatadas acima, e no mínimo 48 horas após, realizaram o teste oficial. O teste era iniciado na velocidade de 60 por segundo, onde o voluntario realizava cinco movimentos de extensão e flexão de joelho (concêntrica/concêntrica) em sua amplitude completa. Depois os movimentos eram repetidos na velocidade de 300 por segundo, sucessivamente, com intervalo de 60 segundos entre as séries (9). A variável coletada para análise foi Pico de Torque (N/m). As avaliações ocorreram nas instalações do laboratório de Avaliação Física do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Norte do Paraná UENP/CCS. ANALISE ESTATÍSTICA A analise estatística foi realizada utilizando o teste de Shapiro Wilk para verificar a normalidade dos dados, e após ser constatada, foi utilizado ANOVA e post hoc de Tukey para identificar diferenças entre os membros e entre os grupos. O valor adotado foi de p < 0,05. RESULTADOS A tabela 2 apresenta os valores de média e desvio padrão de membros dominante e não dominante na extensão e flexão de joelho em dinamômetria isocinética á 60 por segundo, na qual, pudemos evidenciar diferença significativa entre os membros na flexão de joelho de GT (p = 0,03). Em extensão de joelho de ambos os grupos não foram encontradas diferenças significativas, o mesmo ocorreu com flexão de joelho dos indivíduos do GNT.
Tabela 2 Valores médios ± desvio padrão dos indicadores de força muscular de membros dominante e não dominante em dinamômetria isocinética á 60 /s. Grupos GT GNT Valor do F Valor de P Extensão (N/m) Grupo (GR) 3.67 0.07 Dom 270,2±24,7 252,6±39,0 Momento (M) 0.93 0.34 N.Dom 272,9±25,3 241,8±32,0 GR X M 2.63 0.12 Flexão (N/m) Grupo (GR) 2.58 0.12 Dom 138,9±23,3 119,1±22,1 Membros (M) 5.03 0.03* N.Dom 129,0±18,4** 117,5±26,3 GR X M 3.18 0.09 (*) efeito significativo. (**) diferença significativa entre os membros dentro do mesmo grupo. São apresentados na Tabela 3 os dados referentes á comparação entre membros dominante e não dominante de ambos os grupos com relação a avaliação isocinética á 300 por segundo. Não foram constatadas diferenças significativas em ambos os grupos na flexão e extensão de joelho, como também na comparação entre eles.
Tabela 3 Valores médios ± desvio padrão dos indicadores de força muscular de membros dominante e não dominante em dinamometria isocinetica á 300 /s. Grupos GT GNT Valor do F Valor de P Extensão (N/m) Grupo (GR) 0.62 0.44 Dom 144,1±19,6 137,0±20,9 Membros (M) 0.37 0.54 N.Dom 141,7±19,4 136,0±18,1 GR X M 0.06 0.80 Flexão (N/m) Grupo (GR) 0.01 0.92 Dom 96,7±30,7 95,7±20,3 Membros (M) 0.90 0.35 N.Dom 98,8±25,5 97,7±19,1 GR X M 0.00 0.97 DISCUSSÃO O objetivo do presente estudo foi analisar a existência de assimetria muscular em indivíduos sedentários e praticantes de um programa de treinamento com pesos. Um estudo analisou a força e potência muscular de atletas de salto em distância, corredores e não atletas, onde, este ultimo, apresentou diferença significativa entre os flexores de joelho (10). No presente estudo foram encontradas resultados que corroboram com esses achados no GT, levando em consideração que apesar de treinados, não são atletas (Tabela 2). Em outro estudo, os autores avaliaram atletas do sexo feminino com idade entre 18 e 30 anos, onde encontraram resultados semelhantes aos do presente estudo em relação a flexão de joelho á 60 por segundo e o membro dominante também se mostrou mais forte em relação ao membro contralateral (11). Quanto á extensão de joelho, alguns estudos mostraram que não houve diferença significativa entre os membros dominante e não dominante á 60 e 300 por segundo, dados que vem de encontro com os achados em nosso estudo. (10,12).
Uma das questões que mais divergem entre os estudo, é qual membro é mais forte/potente, o dominante ou não dominante. Dois estudos avaliaram jogadores de base e jogadores profissionais de futebol, respectivamente, onde encontraram diferença significativa em relação aos membros, sendo a perna não dominante mais forte (13,14). Esses achados diferem com outros experimentos,onde encontraram maior força no membro dominante, tendo avaliado atletas do sexo feminino e homens não atletas, respectivamente (10,11). O fato do presente estudo ter encontrado diferenças significativas entre os membros de indivíduos treinados (Tabelas 2 e 3), pode ser fundamentado pelo fato de utilizarem de exercícios bilaterais em seu treinamento. Essa pratica ocasionaria maior esforço do membro dominante em relação ao membro contralateral, acentuando a diferença entre eles, mesmo levando em consideração o efeito cruzado (15), que depois foi estudado por outro autor (16), no qual utilizou 8 semanas de treinamento apenas no braço não dominante. Foi encontrado aumento de nove vezes na força do membro treinado em relação ao não treinado, porém, ainda significativa em ambos. Esses dados sugerem que haverá aumento na força de ambos os membros treinando bilateralmente, porém, o membro que for mais exigido, terá um aumento mais acentuado. A ausência de estudos analisando indivíduos praticantes de treinamento com pesos nas variáveis do presente estudo, torna uma difícil comparação com outros estudos. São necessários novos estudos, para identificar a causa das diferenças de força encontradas no GT. Os resultados nos levam a crer em um maior desequilíbrio muscular neste grupo de praticantes de treinamento com pesos, em relação á indivíduos não treinados. Esse fenômeno pode estar relacionado ao fato dos praticantes utilizarem exercícios bilaterais durante o treinamento, o que ocasiona maior esforço do membro dominante e esforço sub-maximo do membro não dominante. (17)
CONCLUSÃO Os achados do estudo nos mostram diferenças significativas na flexão de joelho e na relação agônista/antagonista do membro dominante em relação ao membro não dominante á 60 por segundo. No entanto o GNT não apresentou diferenças significativas. Na velocidade 300 por segundo, para avaliação de potência muscular, não houve diferenças significativas em nenhuma variável de ambos os grupos. Esse fato pode ser evitado utilizando exercícios unilaterais ao invés de bilaterais, assim ocasionando esforço semelhante para ambos os membros e, assim, tendo desenvolvimento semelhante, e auxiliando na prevenção de lesões. O fato de não terem sido acompanhados os treinamentos dos voluntários, é um fator que limita o estudo, são necessários estudos longitudinais para uma avaliação mais precisa. REFERÊNCIAS 1. Sapega A.A. Progression models in resistance training for healthy adults. The Jour. Bone Joint Surgery;v.72, n.10,1990. 2. Jakobi J.M, Chilibeck P.D. Bilateral and unilateral contractions: possible differences in maximal voluntary force. Can J Appl Physiol 2001;26:12-33. 3. Sale D.J. Neural Adaptation to Resistance Training. Medicine & Science in Sports & Exercise 1988;20:135-45. 4. Rezende F.N. et al., - Déficit Bilateral em Exercício Multiarticular para Membros Superiores. Rev Bras Med Esporte Vol. 18, No 6 Nov/Dez, 2012. 5. Fleck, J.S., Kraemer W.J. Fundamentos do treinamento de força muscular 3 Ed. Porto Alegre. Artmed, 2006. 6. Pollock M.L. et al. The recommended quantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility in healthy adults. Med Sci Sports Exerc 1998;30:975-91. 7. Evans W.J. Exercise training guidelines for the elderly. Med Sci Sports Exerc 1999;31:12-7.
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