Jornalismo sobre e para o centro de São Paulo: um relato sobre o projeto Maria Antônia 1

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Transcrição:

Jornalismo sobre e para o centro de São Paulo: um relato sobre o projeto Maria Antônia 1 André SANTORO 2 Denise PAIERO 3 Manoel NASCIMENTO 4 (Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP) Resumo O jornal Maria Antônia é uma publicação mensal mantida pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e produzida por alunos do curso de Jornalismo da mesma instituição, com supervisão de professores e apoio da Gerência de Marketing e Relacionamento da universidade. O jornal, que circula desde 2010, tem como diretriz editorial a cobertura de temas relacionados aos bairros localizados no entorno da universidade, a saber: Bela Vista, Consolação, Santa Cecília, Vila Buarque, Higienópolis e Pacaembu. Apresentamos neste relato a rotina de produção do jornal (pauta, apuração, produção e edição de fotografias, redação, edição de textos, diagramação, fechamento, impressão e distribuição). Também discutimos a relevância da publicação em dois contextos: o processo de ensino de um curso de jornalismo e a criação de vínculos locais a partir de um jornal de bairro ou comunitário. Palavras-chave Jornalismo comunitário, jornal de bairros, jornal-laboratório O jornal Maria Antônia é uma publicação mensal realizada por alunos matriculados no curso de Jornalismo (geralmente apartir do terceiro semestre letivo) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, com acompanhamento direto de professores do curso e apoio da Gerência de Marketing e Relacionamento da mesma instituição. 1 Trabalho apresentado no GP 5 Produção Laboratorial Impressos, do 6º Encontro Paulista de Professores de Jornalismo, realizado na ESPM-SP, em 26 e 27 de abril de 2013. 2 Doutorando em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e professor de Jornalismo na mesma instituição. 3 Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e professora de Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie. 4 Doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e professor de Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie. 1

Os bairros abrangidos pelo jornal (Higienópolis, Santa Cecília, Pacaembu, Consolação, Bela Vista e Vila Buarque) fazem parte da região central da cidade de São Paulo, onde se localiza a universidade. Por ser um jornal de bairro ou, mais precisamente, um jornal de bairros o Maria Antônia trabalha com pautas diretamente relacionadas ao cotidiano da região. A tiragem é de 4 mil exemplares e a distribuição é realizada por empresa especializada, que prioriza pontos estratégicos dos locais de cobertura, como estabelecimentos comerciais, associações, consultórios, clubes, escolas e bancas de jornal. A equipe é montada semestralmente pelos professores responsáveis pelo projeto e é composta por grupos com 30 a 40 alunos. A elaboração das pautas, o processo de apuração e a redação das matérias são etapas realizadas de forma exclusiva pelos alunos-repórteres, que costumam se organizar em duplas, ficando a cargo dos professores responsáveis o direcionamento de cada pauta, a edição e organização dos textos e o tratamento das fotografias. O jornal tem como objetivo central proporcionar ao aluno de Jornalismo a experiência prática do exercício da atividade jornalística direcionada a um público que não faz parte do ambiente universitário. De forma complementar, o projeto tem como principal diretriz a oferta de informações interessantes e relevantes escritas de forma clara e objetiva para moradores e frequentadores do entorno da Universidade Presbiteriana Mackenzie, estreitando os laços entre a instituição e a comunidade. Desde a implantação do projeto e a partir da publicação de sua primeira edição, o jornal Maria Antônia caracteriza-se por ser uma publicação generalista, que busca informar e prestar serviços à comunidade dos bairros onde é distribuído. Tal projeto justifica-se devido à necessidade de aprimorar a cobertura de temas locais, que não costumam ser priorizados pelos veículos de maior tiragem e circulação mais ampla e que, por conta dessas características, privilegiam pautas com impacto direto ou indireto em parcelas numericamente mais significativas da população. Como diz Raquel Paiva: 2

A narrativa jornalística trafega, então, do eixo meramente informativo ou espetacular para o da composição de discursos ancorados em realidades quotidianas, objetivando uma existência mais integrada entre os indivíduos e o seu real histórico. (PAIVA, 2006, p. 70) Cabe, portanto, a um jornal de bairro ou comunitário como o Maria Antônia a oferta de informações relevantes sobre fatos, personagens e instituições relevantes nos microcosmos que formam uma metrópole como São Paulo. Ademais, cabe ressaltar a importância da manutenção de uma publicação de periodicidade fixa e circulação externa em um curso de Jornalismo, pois, nas palavras de José Marques de Melo: Formar jornalistas, sem que lhes desperte o interesse pela análise crítica dos padrões vigentes na sociedade e sem que lhes ofereça oportunidade de testar tais modelos em laboratórios e de criar alternativas inovadoras, é motivo de frustração generalizada na área desde a década de 50. (MELO, 1984, p. 16) Os padrões de pauta, apuração, redação e edição do jornal Maria Antônia se aproximam de alguns parâmetros delimitados nos principais manuais de redação dos jornais brasileiros, respeitando as diferenças naturais entre essas publicações, de natureza comercial, periodicidade diária e maior abrangência, e o jornal descrito neste artigo, que é produzido com base em uma periodicidade mensal (mais próximo, portanto, da rotina de produção de uma revista mensal) e tem como área de cobertura e circulação alguns bairros da região central de São Paulo. Para uma melhor compreensão dos processos de elaboração do jornal, apresentaremos a seguir cada uma das etapas de produção separadamente, com destaque para as suas principais especificidades. Por fim, detalharemos algumas características do produto em si. Pauta O desenvolvimento de pautas sobre temas locais no Jornal Maria Antônia pode ser definido como um momento de aplicação dos conceitos teóricos nos semestres iniciais do curso de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A elaboração de pautas é resultante de um olhar diferenciado do aluno sobre a realidade que cerca o 3

universo da instituição e suas proximidades. E o exercício desse olhar diferenciado sobre a realidade, destacando-se do senso comum, é um elemento definidor na formação do aluno de jornalismo. Este desafio se torna recorrente nas reuniões de pauta, pois à medida que os temas mais óbvios vão sendo abordados, há a necessidade novas visões, de novos pontos de vista sobre os temas locais. Como os temas raramente são quentes, tendo em vista principalmente a periodicidade mensal do veículo (mensal), as reportagens, além das limitações geográficas, têm ainda o limite de tempo, pois precisam estar atuais quando forem publicadas, muitas vezes um ou dois meses eventualmente mais que isso após a apuração. Isso serve também como exercício de reflexão e planejamento, o que normalmente é exigido nas redações nas publicações profissionais. Dois aspectos são incentivados durante o processo de elaboração das pautas. O primeiro é que as reportagens tenham pluralidade de entrevistas. Que mostrem mais do que apenas um ponto de vista do entrevistado. Que os entrevistados sejam pessoas do bairro, ainda que não sejam autoridades, no sentido estrito da palavra. O outro aspecto é a busca presencial dos entrevistados. Busca-se proporcionar ao aluno a possibilidade do diálogo próximo com a personagem, sempre que possível. Essa estratégia torna mais rica a reportagem, sobretudo em uma época em que há um predomínio de tecnologias que facilitam o acesso às fontes. O contato presencial é importante para que haja o diálogo aluno-entrevistado e não apenas um ponto de vista formal enviado via e-mail. A reunião da pauta, na qual são escolhidos os temas, é o brainstorming que a redações normalmente praticam. Os alunos sugerem, discutem e eventualmente trocam pautas entre eles. É também um momento que permite não só a troca de experiências e informações, mas também desenvolve no aluno a capacidade de expor suas ideias, defender seus pontos de vista e dialogar com os professores e colegas sobre suas propostas. As reuniões de pauta acontecem quinzenalmente durante o período letivo, com a presença de todos os alunos e professores envolvidos na elaboração do jornal. Em cada um desses encontros, os alunos-repórteres sugerem pautas que gostariam de apurar e/ou 4

indicam aos colegas assuntos que podem render matérias para o jornal. Os professoreseditores, a partir da lista inicial, delimitam os temas que serão aproveitados e descartam ou adiam as pautas que não serão aproveitadas na edição seguinte. Em seguida, cada repórter, individualmente ou em dupla, assume a missão de apurar e redigir ao menos uma matéria, com a respectiva produção de fotografias. As eventuais dificuldades para a conclusão das pautas constituem outro processo que tem a participação dos professores e colegas de sala. A estratégia de substituir os entrevistados, buscar novos focos para o assunto, assim como cancelar a pauta, devido à sua inviabilidade, fazem parte da práxis da produção da reportagem, que, no Maria Antônia, o aluno tem a possibilidade de desenvolver, conseguindo, desta forma, aliar as suas referências teóricas à prática jornalística de uma oficina de redação. Apuração e fotografias Por se tratar de um jornal com abrangência local, o Maria Antônia não exige dos alunos-repórteres deslocamentos significativos para a realização de boa parte das matérias. Com base nas recomendações iniciais de fontes a serem entrevistadas sugeridas pelos professores-editores ou pelos próprios alunos-repórteres, os depoimentos são colhidos, preferencialmente a partir de entrevistas feitas pessoalmente com as fontes, e as imagens são produzidas conforme as instruções dos professoreseditores de fotografia. Como parâmetro geral, recomenda-se que cada matéria tenha ao menos duas fontes com depoimentos relevantes, que devem ser citados no texto sempre que possível. Adicionalmente, recomenda-se que todas as fontes, com exceções devidamente justificadas, sejam identificadas de forma completa, com nome e sobrenome, idade, profissão, bairro de residência e outras informações complementares, quando necessário. Por se tratar de uma publicação subsidiada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, os alunos-repórteres são orientados a evitar fontes internas da instituição em matérias que não tratam da mesma, para evitar uma excessiva endogenia no processo de apuração. Redação 5

Concluída a apuração, os alunos-repórteres iniciam o trabalho de redação dos textos. Alguns padrões simples são recomendados durante esta etapa, a começar pelo título, que deve ser claro, conciso e despertar o interesse do leitor. Quando comparados aos títulos dos jornais diários tradicionais de grande circulação, os títulos do jornal Maria Antônia buscam um teor menos informativo, por se tratar de uma publicação com periodicidade mensal esta opção justifica-se pela necessidade de manter as matérias atuais durante o período em que o jornal estiver em circulação. Os elementos informativos, por este motivo, são deslocados para o subtítulo, que reúne os dados essenciais da matéria em uma frase mais extensa. Quanto ao texto, o jornal opta pelo modelo tradicional do chamado jornalismo informativo, sem valorizar preâmbulos excessivamente longos e priorizando matérias curtas e objetivas o tamanho dos textos oscila entre 1000 e 3500 toques, em média. A exceção à regra da objetividade são as eventuais crônicas, que, por sua natureza particular, incorporam elementos textuais diferenciados. Com justificadas exceções quando o aluno-repórter vivencia alguma situação relevante que demande o uso da primeira pessoa, por exemplo os textos são redigidos de forma impessoal. Há a padronização de alguns elementos, a saber: as aspas privilegiam declarações efetivamente relevantes e devem ser complementadas com verbos dicendi que reflitam o que de fato se expressou (exemplo: ao apontar que uma fonte exclamou algo, o aluno-repórter deve, antes, certificar-se de que houve realmente uma exclamação, e não apenas uma afirmação interpretada como exclamação), para que se evitem atribuições de sentido inadequadas às falas. Quando as aspas exigem um sinal de pontuação após a fala, este sempre deve ser posicionado após as aspas, e não dentro das mesmas. Por fim, a grafia de idades e números obedece a alguns padrões. Nas idades, a opção é pela grafia em algarismos com a palavra anos após os mesmos. Números em geral devem ser grafados com base em um padrão relativamente comum na imprensa: até o número 20, a grafia é feita por extenso. A partir daí, opta-se pelos algarismos. Valores financeiros são expressos com os algarismos seguidos pelo nome da moeda, descartando-se as casas decimais quando não houver centavos. Os demais números são grafados conforme opção direta da edição. Produção de fotografias 6

As fotos são realizadas com câmera digital do próprio aluno ou com equipamento fornecido pela universidade. Após reunião de pauta e a definição de qual pauta a dupla irá fazer, tem início uma discussão entre a dupla e o professor-editor de fotografia. Nessa discussão são definidos o que se deve fotografar, qual a técnica será utilizada e a abordagem a ser seguida. Com a orientação dos professores-editores de fotografia, os alunos-repórteres produzem imagens que tenham relação direta com as pautas que lhes são atribuídas quinzenalmente. Como regra geral, são solicitadas ao menos cinco fotografias com qualidade para cada matéria que é realizada. Por qualidade entende-se não apenas o conjunto de parâmetros técnicos indispensáveis para a boa impressão da imagem, mas também o valor estético da mesma, o teor informativo, a relevância para a matéria, o vínculo com as fontes entrevistadas, a possibilidade legal de utilização etc. O tratamento preliminar de imagens é realizado pelos próprios alunos-repórteres, sob supervisão dos professores-editores de fotografia. O tratamento final e a inserção nas páginas são etapas a cargo da equipe de diagramação. Edição Por se tratar de um projeto com um componente pedagógico significativo, todo o processo de edição é conduzido pelos professores-editores com acompanhamento direto dos alunos-repórteres envolvidos em cada matéria. De forma geral, a edição privilegia as soluções narrativas encontradas pelos alunos, sempre que possível, e é voltada apenas à adequação do tamanho do texto e tratamento final deste. Quando há necessidade de apuração complementar, o aluno-repórter é orientado a entrevistar novas fontes e redigir novamente a matéria, que só então é editada. Para facilitar o fluxo de produção, as matérias principais geralmente são definidas antes da apuração e redação. Desta forma, o aluno-repórter conduz as entrevistas e redige o texto de forma mais adequada. A edição final de títulos, subtítulos, textos (principalmente os cortes finais), fotografias e chamadas de primeira página é realizada pela equipe de fechamento, que trabalha em conjunto com os profissionais de diagramação. 7

Características do produto O jornal Maria Antônia é impresso em papel couchê 90 gramas no formato 30 x 40 cm, tem 8 páginas e padrão de cores 4 x 4. Na primeira página, o elemento superior é um quadro com publicidade, geralmente uma peça institucional da própria universidade. O título estilizado do jornal é posicionado abaixo do espaço publicitário. Sob o título, localizam-se os dados relativos ao mês, ano e número da edição, bem como os dizeres Publicação mensal do Mackenzie. As chamadas propriamente ditas situamse nos ¾ restantes do espaço da primeira página. Cada edição tem uma chamada principal, com tipografia maior, e quatro chamadas secundárias, todas com fotografias e textos que remetem diretamente ao conteúdo interno do jornal. As matérias são dispostas a partir da página 2, com base em critérios como relevância, tamanho do texto, espaço ocupado pelas fotografias e possibilidade de aproveitamento das páginas. Atualmente os únicos espaços fixos, que abrigam colunas específicas, são o expediente, roteiro gastronômico, a agenda cultural e a crônica. Quando há anúncios externos, estes são posicionados em espaços previamente definidos pela equipe de diagramação. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Maria Antônia foi lançado no primeiro semestre de 2010, já está em sua 36ª edição (dados de abril de 2013) e teve periodicidade regular desde a primeira edição, com doze edições mensais lançadas por ano, inclusive nos períodos de férias dos alunos. Com base nesses dados, pode-se afirmar que o jornal conquistou um destaque significativo no cotidiano de moradores e frequentadores dos bairros em que circula. Atualmente em seu quarto ano de publicação, o jornal já abordou assuntos diversos, dos quais destacamos alguns: problemas gerais relacionados aos bairros abordados (conservação de vias e calçadas, coleta de lixo, trânsito, pragas urbanas etc.); perfis de moradores, trabalhadores e pessoas que transitam pela região central da cidade; agenda cultural; roteiro gastronômico; relação da universidade com o seu 8

entorno; apresentação de instituições e espaços característicos dos bairros cobertos (parques, áreas de lazer, centros culturais, lojas especializadas etc.). Os objetivos iniciais (fornecer informações relevantes à comunidade e fomentar no aluno o interesse pela atividade jornalística voltada ao público externo) foram plenamente atingidos. Como desafios futuros, colocam-se algumas questões relevantes, como a aferição do processo de leitura do jornal para identificação de novas possibilidades editoriais, implantação de cadernos e edições especiais e/ou monotemáticas, conquista de um fluxo constante de anunciantes e aumento de circulação. Apesar das possíveis novas condições de produção que se avizinham, os processos já estabelecidos criaram uma identidade consistente Referências PAIVA, R. Jornalismo comunitário: uma reinterpretação da mídia (pela construção de um jornalismo pragmático e não dogmático). Revista Famecos, n. 30, agosto de 2006. Porto Alegre: PUC-RS. MELO, J. M. Laboratórios de jornalismo: conceitos e preconceitos. Cadernos de Jornalismo e Editoração, nº 14, 1984. São Paulo: ECA-USP. 9