EVIDENCIAÇÃO DO ANTÍGENO DA HEPATITE B (HBsAg) EM TRIATOMINAE

Documentos relacionados
NOTAS E INFORMAÇÕES/NOTES AND INFORMATION NOTA SOBRE DOMICILIAÇÃO DE PANSTRONGYLUS MEGISTUS NO LITORAL SUL DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL.

PREFERÊNCIA ALIMENTAR (ENTRE SANGUE HUMANO E AVE) DOS TRIATOMA SORDIDA ENCONTRADOS EM CASAS HABITADAS DA REGIÃO NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO BRASIL

XIII POTENCIAL ENZOÓTICO DOMÉSTICO EM ÁREA DE OCORRÊNCIA DE PANSTRONGYLUS MEGISTUS, SOB VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA *

ASPECTOS ECOLÓGICOS DA TRIPANOSSOM1ASE AMERICANA.

ASPECTOS ECOLÓGICOS DA TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA.

FREQÜÊNCIA DOMICILIAR E ENDOFILIA DE MOSQUITOS CULICIDAE NO VALE DO RIBEIRA, SÃO PAULO, BRASIL*

RELATIONSHIP BETWEEN THE PREVALENCE OF ANTIBODIES TO ARBOVIRUS AND HEPATITIS B VIRUS IN THE VALE DO RIBEIRA REGION, BRAZIL

DADOS PRELIMINARES SOBRE PARTÍCULAS SEMELHANTES A VIRUS EM CÉLULAS DE TRIATOMÍNEOS *

Simone Baldini Lucheis

NOTAS E INFORMAÇÕES/NOTES AND INFORMATION NOTA SOBRE CASO AUTÓCTONE DE TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA NO LITORAL SUL DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL *

INVESTIGAÇÃO DE FOCO, UMA DAS ATIVIDADES DAS CAMPANHAS DE CONTROLE DOS TRANSMISSORES DA TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA

Vigilância entomológica da doença de Chagas no Estado de São Paulo*

TRIATOMA SORDIDA CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMPO DE VIDA DAS FORMAS ADULTAS E SOBRE A OVIPOSIÇÃO DAS FÊMEAS*

ASPECTOS ECOLÓGICOS DA TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA. VII. PERMANÊNCIA E MOBILIDADE DO TRIATOMA SORDIDA EM RELAÇÃO AOS ECÓTOPOS ARTIFICIAIS *

MEDIDA DA INFESTAÇÃO DOMICILIAR POR TRIATOMA SORDIDA *

Revista de Saúde Pública

Controle do Triatoma sordida no peridomicílio rural do município de Porteirinha, Minas Gerais, Brasil

EPIDEMIOLOGIA DA DOENÇA DE CHAGAS NO CEARA X - HÁBITOS ALIM EN TARES DOS VETORES

ASPECTOS ECOLÓGICOS DA TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA.

DESCRITORES: Tripanossomose Sul-Americana, prevenção. Panstrongylus, controle de insetos, normas. Participação comunitária.

Broadening the scope of triatomine research in the attendance of notifications of Triatoma sordida (Stål, 1859) in the State of São Paulo

IMPORTÂNCIA DOS ANIMAIS SINANTRÓPICOS NO CONTROLE DA ENDEMIA CHAGÁSICA *

CURSO MEDICINA VETERINÁRIA

Levantamento das espécies de triatomíneos envolvidos na transmissão da Doença de Chagas no município de Arapiraca-AL

CONTROLO VERSÁTIL DE PRAGAS DE SAÚDE PÚBLICA

PREVALÊNCIA, ÍNDICES DE INFECÇÃO E HÁBITOS ALIMENTARES DE TRIATOMÍNEOS CAPTURADOS EM UMA ÁREA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

ASPECTOS ECOLÓGICOS DA TRIPANOSSOMOSE AMERICANA. IV Mobilidade de Triatoma arthurneivai em seus ecótopos naturais *

Trypanosoma cruzi Doença de Chagas

FREQÜÊNCIA AO AMBIENTE HUMANO E DISPERSÃO DE MOSQUITOS CULICIDAE EM ÁREA ADJACENTE À MATA ATLÂNTICA PRIMITIVA DA PLANÍCIE*

INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS EM GOIÂNIA, GOIÁS

Os vetores e sua relação com a saúde única: uma introdução ao estudo

ARTIGO ORIGINAL. ÍNDICE DE TRIATOMÍNEOS POSITIVOS PARA Trypanosoma cruzi, EM MONTE CARMELO (MG), NO PERÍODO DE 2005 A 2009

Palavras-chaves: Doença de Chagas. Controle vetorial. Triatoma sórdida.

Atualidades/Actualities

Rubens Antonio Silva, Paula Regina Bonifácio e Dalva Marli Valério Wanderley

NOTA SOBRE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR NO LITORAL SUL DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL *

DISTRIBUIÇÃO E ÍNDICE DE INFECÇÃO NATURAL DE TRIATOMÍNEOS CAPTURADOS NA REGIÃO DE CAMPINAS, SÃO PAULO, BRASIL

E d i t o r i a l. Chagas Disease: past, present and future. Alberto Novaes Ramos Jr. 1, Diana Maul de Carvalho 2

ASPECTOS ECOLÓGICOS DA TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA. VIII DOMICILIAÇÃO DE PANSTRONGYLUS MEGISTUS E SUA PRESENÇA EXTRADOMICILIAR *

Fontes alimentares de Triatoma pseudomaculata no Estado do Ceará, Brasil Feeding patterns of Triatoma pseudomaculata in the state of Ceará, Brazil

O CONTRÔLE DA DOENÇA DE CHAGAS NO MUNICÍPIO DE BARIRI, ESTADO DE SÃO PAULO (¹)

ANTICORPOS PARA OS VÍRUS DA RUBÉOLA, DO SARAMPO E DA CAXUMBA EM CRIANÇAS DE SÃO PAULO, BRASIL*

Doença de Chagas: situação vetorial no município de Limoeiro do Norte CE, no período de 2006 a 2009

BIOLOGIA. Qualidade de Vida das Populações Humanas. Principais doenças endêmicas no Brasil. Prof. ª Daniele Duó.

MEDIDA DA INFESTAÇÃO DOMICILIAR POR TRIATOMA INFESTANS (1)

Prevalência de marcadores sorológicos de hepatite B numa pequena comunidade rural do Estado de São Paulo, Brasil*

SOROPREVALÊNCIA DE DOENÇAS INFECCIOSAS EM DOADORES DE SANGUE DO HOSPITAL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PELOTAS, RS, BRASIL, ANO DE

DESCRITORES: Mosquitos. Preferências alimentares. Aedes scapularis. Culex. Antropofilia. Domiciliação.

Os vetores e sua relação com a saúde única: uma introdução ao estudo

DENGUE ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA GERÊNCIA DE VIGILÂNCIA DE ZOONOSES

EDIÇÃO 101 BEPA 2012;9(102):4-12

Fundamentos de Biologia para matemáticos. Minicurso Renata Campos Azevedo

Soroprevalência da doença de Chagas em crianças em idade escolar do Estado do Espírito Santo, Brasil, em

PREVALÊNCIA E CONTROLE DE VETORES DA DOENÇA DE CHAGAS NA PARAÍBA

protozoonoses AMEBÍASE MALÁRIA DOENÇA DE CHAGAS Saúde, higiene & saneamento básico 003 Doenças adquiridas transmissíveis Transmissão & profilaxia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA Tel (62) FAX

ASPECTOS ECOLÓGICOS DA TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA. XXI - COMPORTAMENTO DE ESPÉCIES TRIATOMÍNEAS SILVESTRES NA REINFESTAÇÃO DO INTRA E PERIDOMICÍLIO*

O RISCO DA INFESTAÇÃO EM ASSENTAMENTOS E REASSENTAMENTOS DO PONTAL DO PARANAPANEMA-SP POR VETORES DA DOENÇA DE CHAGAS

ROEDORES, MARSUPIAIS E TRIATOMÍNEOS SILVESTRES CAPTURADOS NO MUNICÍPIO DE MAMBAÍ-GOIÁS. INFECÇÃO NATURAL PELO TRYPANOSOMA CRUZI*

HIPOVITAMINOSE A EM FILHOS DE MIGRANTES NACIONAIS EM TRÂNSITO PELA CAPITAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL. ESTUDO CLÍNICO-BIOQUÍMICO.

ASPECTOS ECOLÓGICOS DA TRIPANOSSOMOSE AMERICANA. III Dispersão local de triatomíneos, com especial referência ao Triatoma sordida (1)

PESQUISA DE PARASITOS CARDIOVASCULARES EM CÃES (Canis familiaris) NO MUNICÍPIO DE CAROLINA, ESTADO DO MARANHÃO, BRASIL

ECOLÓGICOS DA TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA

Saúde. Perfil entomológico da doença de Chagas no município de Potengi CE, Brasil

BIOLOGIA DO Triatoma costalimai (VERANO & GALVÃO, 1959) (HEMIPTERA, REDUVUDAE)

Vigilância epidemiológica da doença de Chagas no estado de São Paulo no período de 2010 a 2012* doi: /S

SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE NATÁLIA DI GIAIMO GIUSTI PERFIL SOROLÓGICO PARA HEPATITE B EM EXAMES ADMISSIONAIS NO IAMSPE

ASPECTOS ECOLÓGICOS DA TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA. XI DOMICILIAÇÃO DE PANSTRONGYLUS MEGISTUS E POTENCIAL ENZOÓTICO. *

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Oswaldo Paulo FORATTINI (2) Ernesto Xavier RABELLO (2) Marcos L. Simões CASTANHO (3) Dino G. B. PATTOLI (2)

Ordem: Hemiptera Família: Reduviidae Subfamília:Triatominae

Alguns aspectos da biologia de Triatoma pseudomaculata Corrêa & Espínola, 1964, em condições de laboratório (Hemiptera:Reduviidae:Triatominae)

INFLUENCIA DA TEMPERATURA NA BIOLOGIA DE TRIATOMÍNEOS. XXI. Tríatomajurbergi CARCAVALLO, GALVÃO & LENT, 1998 (HEMIPTERA, REDUVIIDAE)

SUSCETIBILIDADE DE BIOMPHALARIA STRAMINEA (DUNKER, 1848) DE PIRIPIRI (PIAUÍ, BRASIL) A DUAS CEPAS DE SCHISTOSOMA MANSONI SAMBON, 1907*

Cadeia epidemiológica

OBSERVAÇÕES SOBRE O CICLO EVOLUTIVO DO TRIATOMA ARTHURNEIVAI, EM CONDIÇÕES DE LABORATÓRIO (HEMIPTERA, REDUVIIDAE) (1)

PROGRAMA DE PG EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL - PGBIOEXP

SUMÁRIO SUMÁRIO... LISTA DE FIGURAS... LISTA DE TABELAS... ÍNDICE DE ANEXOS... RESUMO... ABSTRACT INTRODUÇÃO... 1

24/02/2012. Conhecer o parasitismo num contexto ecológico e como forma de relação entre os seres vivos.

Palavras-chave: canino, tripanossomíase, Doença de Chagas Key-words: canine, trypanosomiasis, chagas disease

Doenças Infecciosas e Transmissão de Doenças: Conceitos Básicos

Toxoplasma gondii em Tamanduá Bandeira (Myrmecophaga tridactyla, Linnaeus 1758) da região Noroeste do Estado de São Paulo

Teste rápido para diagnóstico de hepatite B. Aula 3. Princípio do teste VIKIA HBsAg

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA Tel (62) FAX

Doença de Chagas no Brasil. Chagas disease in Brazil

ESTUDOS ECOLÓGICOS SOBRE MOSQUITOS CULICIDAE NO SISTEMA DA SERRA DO MAR, BRASIL.

ECTOPARASITOS. Prof. Dra. ISABELLA MARTINS Disciplina: Parasitologia

Estratégias que contribuem para a identificação e contenção de surto de Febre Amarela Silvestre no Goiás

Plano de Ensino-Aprendizagem Roteiro de Atividades Curso: Medicina

ARTIGO. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 31(4): , jul-ago, 1998.

JADIR RODRIGUES FAGUNDES NETO Gerência DST-AIDS e Hepatites virais

CONTRIBUTIONS OF BACKWOODS OF PAJEÚ - PERNAMBUCO/ BRAZIL, FOR THE NATIONAL CONDITION OF CHAGAS DISEASE

ESTUDOS SOBRE A EPIDEMIOLOGIA DA DOENÇA DE CHAGAS NO CEARÃ. XXII - ECOLOGIA DE TRIATOMINEOS EM PEREIRO *

ESTUDO MORFOLÓGICO DE SCHISTOSOMA MANSONI PERTENCENTES A LINHAGENS DE BELO HORIZONTE (MG) E DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP)

José V. Fernandes, Regina de F. dos S. Braz, Francisco V. de A. Neto, Márcia A. da Silva, Nancy F. da Costa e Aristotelino M.

HEPATITE B: Diagnóstico e Prevenção - Adesão dos acadêmicos à investigação da soroconversão Uma avaliação de 10 anos de atividade

ARTIGO/ARTICLE RESUMO ABSTRACT

Palavras-chave: dengue, sazonalidade, idade, gênero

Método de trabalho independente: elaboração de relatórios posteriormente às aulas práticas.

O Inquérito triatomínico ( )

Transcrição:

EVIDENCIAÇÃO DO ANTÍGENO DA HEPATITE B (HBsAg) EM TRIATOMINAE Oswaldo Paulo Forattini * S. Otatti** J. A. N. Candeias*** J. G. Vieira**** M. L. Rácz*** RSPUB9/499 FORATTINI, O. P. et al. Evidendação do antígeno da hepatite B (HBsAg) Triatominae. Rev. Saúde púb., S. Paulo, 14:194-8, 1980. RESUMO: De 3.200 "manchas" provenientes de insetos dos gêneros Triatoma e Panstrogylus, positivas para sangue humano, 12 deram resultados presuntivamente positivos, por imunodifusão, para HBsAg. Deste total, só 7 casos foram confirmados como positivos, por radioimunoensaio, correspondendo todos eles a "manchas" obtidas de ninfas de Triatoma infestans. UNITERMOS: Hepatite B (HBsAg). Triatomineos. Imunodifusão. Radioimunoensaio. em INTRODUÇÃO Blumberg e col. 2 (1970) e Szmuness e col. 19 (1973) referem-se à elevada freqüência de portadores de antígeno da hepatite B nas regiões tropicais. Considerando o íntimo contato da população dessas regiões com artrópodes hematófagos é previsível o encontro daquele antígeno no trato digestivo destes insetos. Prince e col. 14 (1972), Smith e col. 18 (1972), Byrom e col. 6 (1973) e Wills e col. 20 (1977) confirmaram essa previsão, tanto em trabalhos experimentais, quando em pesquisas de campo. Assim sendo, a possibilidade de artrópodes hematófagos serem eventuais vetores de vírus da hepatite B, quando considerada em termos das taxas de portadores crônicos desse antígeno, adquire particular importância (Blumberg e col. 3, 1966; McCollum 10, 1976). * Do Departamento de epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Av. Dr. Arnaldo 715 01255 São Paulo, SP, Brasil. ** Do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Av. Dr. Arnaldo 715 01255 São Paulo, SP Brasil. *** Do Departamento de Microbiologia e Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, "Setor Saúde Pública" Av. Dr. Arnaldo 715 01255 São Paulo, SP Brasil. **** Do Departamento de Endocrinologia da Escola Paulista de Medicina R, Botucatu, 720 04023 São Paulo, SP Brasil.

No caso específico de heterópteros hematófagos, seu possível papel nessa transmissão constitui hipótese ainda mais viável do que para os mosquitos culicídeos, dado o íntimo contato que, em alguns casos, se estabelece entre esses insetos e o homem. Nesse sentido, pode-se mencionar os dados conseguidos com Cimex hemipterus na Costa do Marfim e no Senegal, e com Cimex lectularis no Transval (Brotman e col. 5, 1973; Wills e col. 20, 1977; Jupp e col. 9, 1978). Tais observações obtiveram suporte em outras levadas a efeito em condições de laboratório (Newkirk e col. 11, 1975). No Continente Americano, os Triatominae têm merecido algumas atenções, limitadas até o momento ao resultado positivo com Triatoma sordida observado em condições naturais por Candeias e col. 8 (1976), e os obtidos em laboratório com Triatoma infestans por Rosa e col. 16 (1977). A finalidade do presente estudo foi a de identificar o antígeno da hepatite B (HBsAg) em material obtido de exemplares de Triatominae, coletados em trabalhos de campo. MATERIAL E MÉTODOS Foram examinadas 3.200 "manchas" de sangue humano provenientes de exemplares dos gêneros Triatoma e Panstrongylus. O termo "mancha" é usado como designação do material obtido por expressão do conteúdo da cavidade abdominal de insetos, material este adsorvido a papel de filtro. A coleta dos insetos foi feita em várias áreas do território do Brasil, classificandose os ecótopos em três tipos, domiciliar, peridomiciliar e silvestre. Técnica de imunodifusão (ID) Foi utilizada a técnica descrita por Schmidt e Lennette 17 com algumas modificações: o gel foi preparado com 0,8% de agarose em tampão de Tris 0,01M, 0,1M de cloreto de sódio, 0,001 M de EDTA e 0,05% de azida sódica, com um ph final de 7,6. Usou-se o volume de 1,5 ml de ágar por lâmina. Técnica de radioimunoensaio (RIE) Foram utilizados os conjuntos "Ausria" (Abbot Laboratories), tendo sido executados os exames segundo as instruções do fabricante. As amostras foram consideradas positivas por RIE quando a leitura obtida P, dividida pela média dos controles negativos N (10 amostras de soro humano normal diluído a 1/2 em solução fisiológica) dava valores 7,5. RESULTADOS Os resultados positivos para HBsAg foram obtidos somente em formas ninfais e são apresentados na Tabela. DISCUSSÃO De um modo geral, os mecanismos de transmissão humana da hepatite B nas regiões tropicais são semelhantes aos das regiões de clima temperado, havendo, no entanto, que considerar determinadas situações que naquelas parecem adquirir particular importância, dada a diferença existente nas taxas de prevalência de portadores em ambas as regiões. Algumas observações não evidenciam tal diferença mas, de um modo geral, os dados da literatura são concordes em salientar a ocorrência de taxas de portadores de antígeno Austrália mais elevadas nas regiões tropicais do que nas de clima temperado, merecendo referência o íntimo contato que, naquelas, ocorre entre o homem e artrópodes hematófagos (Prince 13 1970, Candeias 7 1971, Smith e col. 18 1972, Byrom e col. 6 1973, Brotman e col. 5 1973, Bensabath e Boschell 1 1973, Rosa e col. 16 1977). Não existem provas convincentes de que ocorra a multiplicação do virus da hepa-

tite B ou que haja persistência do antígeno de superfície após a digestão de repasto sanguíneo nos artrópodes hematófagos, mas não pode excluir-se a possibilidade de transmissão mecânica como resultado de contatos freqüentes, da elevada estabilidade do vírus da hepatite B e dos hábitos alimentares de certas espécies (Redeker e col. 15 1968, Byrom e col. 6 1973, Boreham e Garrett-Jones 4 1973). O antígeno Austrália já foi encontrado em diversas espécies de mosquitos dos gêneros Mansonia, Anopheles, Culex, incluindo Aedes africanus, que raramente picam o homem, além de no dermáptero Hemimerus talpoides cujos hábitos alimentares não incluem o sangue humano uma vez que se trata de ectoparasita de roedores alimentando-se dos produtos da pele desses animais (OMS 12, 1972). Os dados apresentados no presente trabalho, bem como nossas observações anteriores (Candeias e col. 8 1976), parecem abrir novas perspectivas de discussão do problema da participação dos artrópodes, ou pelo menos, de certas espécies desses animais no grupo de vetores da hepatite B. No que concerne aos heterópteros hematófagos, como algumas espécies de Cimicidae e de Triatominae, há que se levar em consideração determinados fatores. Em primeiro lugar, a acentuada domiciliação que faz com que esses insetos convivam estreitamente com o homem. Tal é o caso dos percevejos Cimex tectalarius e C. hemipterus entre os primeiros e do barbeiro Triatoma infestans entre os segundos. Tal comportamento, aliado a condições de elevada densidade de infestação, permite supor que a veiculação se torne viável. Outro aspecto a ser levado em conta vem a ser considerável persistência do antígeno no organismo desses insetos. As observações de Newkirk e col. 11 (1975) e de Wills e col. 20 (1977) têm indicado 30 dias ou mais, contados a partir do repasto infectante, para os Cimex, e as de Rosa e col. 16 (1977) de, pelo menos, até 15 dias para aquela espécie de Triatoma. Quanto aos resultados aqui relatados, a presença do antígeno em T. infestans re-

veste-se de significado análogo ao das espécies domiciliadas de Cimex. Eis que, sendo de comportamento semelhante, também o são quanto aos elevados valores a que a infestação domiciliar por esse barbeiro pode alcançar. Trata-se de triatomíneo de acentuada domiciliação e, como decorrência desse fato, um dos vetores epidemiologicamente mais poderosos da tripanossomíase americana. Assim sendo e conquanto não se tenha ainda podido evidenciar o possível papel de vetores biológicos, é de se admitir que alguma via de transmissão poderia existir. Tal seria o caso da possibilidade de contaminação pelas fezes desses insetos. Por outro lado, a supracitada convivência diária com o homem pode constituir-se em fator responsável pela manutenção do antígeno na população domiciliada. Finalmente, é digno de nota o encontro positivo em ninfa de T. infestans no peridomicílio. Tal fato vem evidenciar a mobilidade dessas formas, deslocando-se a distâncias apreciáveis dos seus locais de colonização. RSPUB9/499 FORATTINI, O. P. et al. [Hepatitis B antigen (HBsAg) in wild triatominae in Brazil]. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 14: 194-8, 1980. ABSTRACT: A total of 3,200 impressions were fixed on filter paper and were identified as containing human blood obtained from blood-sucking arthropods of the Triatoma and Panstrongylus genre. The impressions were then examined for the presence of the hepatitis B antigen (HBsAg). The immunodifusion technique showed that 12 impressions were presumably HBsAg positive, but the radioimmunoassay technique only confirmed 7 positive results. The positive samples were all obtained from Triatoma infestans nymphae. UNITERMS: Hepatitis B antigens. Triatomidae. Gel diffusion tests. Radioimmunoassay. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BENSABATH, G. & BOSCHELL, J. Presença do antígeno Australia (Au) em populações do interior do Estado do Amazonas. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 15:284-8, 1973. 2. BLUMBERG, B. S. et al. Australia antigen and hepatitis. New Engl. J. Med., 283:349-54, 1970. 3. BLUMBERG, B. S. et al. Family studies of a human serum isoantigen system (Australia antigen). Amer. J. hum. Genet., 18:594-608, 1966. 4. BOREHAM, P. F. L. & GARRETT-JONES, C. Prevalence of mixed blood meals and double feeding in a malaria vector (Anopheles sachavori Favre). Bull. Wld Hlth Org., 48:605-14, 1973. 5. BROTMAN, B. et al. Role of arthropods in transmission of hepatitis B virus in the tropics. Lancet, 1:1305-8, 1973. 6. BYROM, N. A. et al. Role of mosquitoes in transmission of hepatitis B antigen. J. infect. Dis., 128:259-60, 1973. 7. CANDEIAS, J. A. N. Studies of the hepatitis-associated-antigen (HAA) in patients with viral hepatitis and in "normal" population groups. Rev. Microb., 2:129-35, 1971. 8. CANDEIAS, J. A. N. et al. Evidenciação de antígeno da hepatite B (HBsAg) em "manchas" obtidas de exemplares de Triatominae (Nota Prévia). Rev. Saúde públ, S. Paulo, 10:268-9, 1976.

9. JUPP, P. G. et al. Infection of the common bedbug (Cimex lectularis L.) with hepatitis B virus in South Africa. S. Afr. med. J., 53:598-600, 1978. 10. McCOLLUM, R. W. Viral hepatitis. In: Evans, A. S. ed. Viral injections of humans: epidemiology and control. London, John Wiley Sons, 1976. p. 235-52. 11. NEWKIRK, M. M. et al. Fate of ingested hepatitis B antigen in blood-sucking insects. Gastroenterology, 69:982-7, 1975. 12. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Grupo Científico sobre Hepatitis Virica, Ginebra, 1972. Hepatitis virica, informe. Ginebra, 1973. (Ser. Inf. tecn., 512). 13. PRINCE, A. M. Prevalence of serum hepatitis related antigen (SH) in different geographic regions. Amer. J. trop. Med., 19:872-9, 1970. 14. PRINCE, A. M. et al. Hepatitis B antigen in wild-caught mosquitoes in Africa. Lancet, 2:247-50, 1972. 15. REDEKER, A. C. et al. A controlled study of the safety of pooled plasma stored in the liquid state at 30-32C for six months. Transfusion, 8:60-4, 1968. 16. ROSA, H. et al. Role of Triatoma (Conenose bugs) in transmission of hepatitis B antigen. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 19:310-2, 1977. 17. SCHMIDT, N. J. & LENNETTE, E. H. Complement fixation and immunodiffusion tests for assay of hepatitisassociated "Australia" antigen and antibodies. J. Immunol, 105:604-13, 1970. 18. SMITH, J. A. et al. Transmission of Australia antigen by Culex mosquitoes. Nature, 237:231-2, 1972. 19. SZMUNESS, W. et al. The epidemiology of hepatitis B infections in Africa. Results of a pilot survey in the Republic of Senegal. Amer. J. Epidem., 98: 104-10, 1973. 20. WILLS, W. et al. Hepatitis B virus in bedbugs (Cimex Hemipterus) from Senegal. Lancet, 2:217-9, 1977. Recebido para publicação em 30/11/1979 Aprovado para publicação em 21/02/1980