Gestação de Substituição ASPECTOS PSICOLÓGICOS II Simpósio de Direito Biomédico OAB Cássia Cançado Avelar Psicóloga Centro Pró-Criar
Gestação de Substituição Esse tratamento é indicado para pacientes que retiraram o útero (histerectomia), nasceram sem útero ou vagina ou que apresentam alterações importantes da cavidade uterina (aderências importantes, miomas múltiplos, adenomiose extensa). O procedimento é o mesmo que a FIV. Os óvulos e os espermatozóides do casal são fertilizados in vitro e no momento da transferência dos embriões, esses são colocados no útero de uma segunda mulher. Esse procedimento não deve ser anônimo, e sim realizado com parentes de 1 e 2 grau da mãe biológica. Quando a receptora ou paciente que vai albergar a gravidez não é parente de 1 ou 2 grau da mãe biológica é necessário uma autorização especial do Conselho Regional de Medicina Estadual.
Resoluções Conselho Federal de Medicina Resolução CFM n 1.358/92 Normas Éticas para Gestação de Substituição: 1 As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família da doadora genética, num parentesco até o segundo grau, sendo os demais casos sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina. 2 A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial. Resolução nº 1.957/10 Sobre a Gestação de Substituição(Doação Temporário do Útero) - Gestação de substituição, somente quando exista um problema médico que impeça ou contra indique a gestação na doadora genética. 1 - As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família da doadora genética, num parentesco até o segundo grau, sendo os demais casos sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina. 2 - A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial
Resolução Conselho Regional de Medicina Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais Resolução n 291/2007 I termo de consentimento, firmado pela doadora, pelo marido ou companheiro dessa, pela donatária do útero, pelo marido ou companheiro dessa e por duas testemunhas, visando à realização do procedimento; II laudo de avaliação psicológica, favorável à realização do procedimento de substituição uterina, da doadora, pelo marido ou companheiro dessa, da donatária do útero e do marido ou companheiro dessa; IIII termo de ciência, firmado pela doadora, pelo marido ou companheiro dessa, pela donatária do útero e pelo marido ou companheiro dessa, de que o médico somente poderá realizar o procedimento, se a doação uterina não tiver fins lucrativos; IV laudo de avaliação clínica da doadora uterina, favorável a sua participação no processo de gestação pretendido. 1 Recebido pedido de avaliação da conveniência de realizar-se o procedimento de substituição uterina, deverá ser instaurado processo de homologação de proposta de realização de procedimento de substituição uterina. 2 Do termo de consentimento a que se refere o inciso I deste artigo, deverão constar informações sobre os riscos psicológicos e clínicos do procedimento.
Protocolo Avaliação Psicológica Avaliação Psicológica: - Casal - Candidata ao empréstimo temporário do útero - Se a doadora for casada consulta individual com o marido e consulta com o casal -Se a doadora tiver filho(s) - avaliação -Casal, a candidata ao empréstimo do útero e família Parecer Psicológico Quando favorável - Comitê de Ética da clínica
Comitê de Ética do Centro Pró-Criar Formado por uma equipe multidisciplinar -QuandooparecerdoComitêdeÉticaéfavorávelaotratamentoe a candidata ao empréstimo temporário do útero é parente de 1º ou 2º grau da mãe biológica encaminhada ao médico para início do tratamento. -Quando o parecer do Comitê de Ética é favorável ao tratamento e a candidata não tem vínculo de parentesco com a mãe biológica encaminhado para avaliação junto ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais(CRM) * Neste caso específico, o tratamento só é realizado se aprovado pelo CRM
Modelo Parecer Psicológico - CRM Parecer Psicológico Fertilização in Vitro com Útero de Substituição Médico responsável: nome médico Ref.: nome casal X e candidata doadora temporária do útero Y Paciente X, aos 15 anos, teve diagnóstico de agenesia uterina, apresentando incompatibilidade para gestação natural e espontânea, motivo este que indica como método de reprodução assistida fertilização in vitro com útero de substituição. Casal X casados há três anos. O casal apresenta relacionamento estável e bem estruturado e relatam ter consciência das implicações biológicas, éticas e jurídicas do tratamento de gestação de substituição. Foram avaliados como plenamente capazes psíquica e emocionalmente para tal procedimento. A irmã do marido, Y, se prontificou a ser a candidata ao empréstimo temporário do útero, uma vez que a mãe da paciente X é diabética e ela tem somente uma irmã mais nova, que esta grávida. A candidata ao empréstimo temporário do útero Y foi casada e esta divorciada há dois anos. Tem dois filhos de 7 e 9 anos. Expressa forte vínculo afetivo com casal X e grande disposição de ajudá-los nesta busca pelo sonho de terem um filho, o que resultou na opção livre e espontânea para participar do tratamento de útero de substituição. No atendimento psicológico aos filhos de Y: Y1 9 anos e Y2 7 anos, foi realizada avaliação através do teste de desenho da família, que forneceu dados sobre a vivência das relações familiares, detectando adequados níveis de adaptação ao meio familiar, vivência com contexto e dinâmica familiar positivos, estado afetivo normal das crianças, com boa estruturação da personalidade. O parecer psicológico não aponta nenhum fator psíquico/emocional que impeça que o procedimento seja realizado, avaliando a escolha da candidata ao empréstimo temporário do útero como a mais adequada para o tratamento proposto. O caso foi apresentando ao Comitê de Ética da Clínica Pró-Criar e teve parecer favorável. Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2011 Cássia Maria de Carvalho Cançado Avelar Psicóloga CRP 04-16934
Acompanhamento Psicológico Acompanhamento Psicólogico do casal, da doadora temporária do útero e família: No decorrer do tratamento: - durante a estimulação ovariana - no dia da transferência embrionária - após a transferência, antes do resultado - após resultado negativo ou positivo - Trimestral durante a gravidez do casal, da doadora temporária do útero e família - Após o nascimento da criança acompanhamento pais biológicos, da gestadora e família
Gestação de Substituição Experiência de 10 anos Centro Pró-Criar De2001a2011 atendidos21casosparatratamentodegestação de substituição no Centro Pró-Criar: Destes, 5 tiveram parecer psicológico e do Comitê de Ética favorável, realizaram tratamento, resultando em gravidez, sendo que: Em 3 casos as donatárias do útero não tinham vínculo de parentesco com a mãe biológica e tiveram aprovação do CRM. (amiga, sogra, cunhada da mãe biológica) Em 2 casos, as donatárias eram parentes da mãe biológica (mãe e irmã)
Gestação de Substituição Experiência de 10 anos Centro Pró-Criar 5 casos tiveram parecer psicológico favorável e as donatárias do útero eram parente da mãe biológica, porém: - 3 casos tiveram resultado negativo -2 casos o tratamento foi cancelado, devido a má resposta ovulatória da paciente(mãe biológica).
Gestação de Substituição Experiência de 10 anos Centro Pró-Criar -5 casos foram avaliados psicologicamente como inaptos -3 casos as donátarias não tinham vínculo de parentesco com a mãe biológica e as relações não foram avaliadas como adequadas para o tratamento(duas donátarias desistiram de realizar o tratamento) -2 casos foi evidenciado durante a entrevista psicológica fins lucrativos -2 casos foram indeferidos pelo Comitê de Ética -1 caso casal homoafetivo (2009) paciente não tinha útero e queria utilizar seus óvulos com sêmen doado e transferir os embriões na parceira. Indeferido pelo Comitê de Ética, devido às diversas variáveis envolvidas: útero de substituição sem vínculo de parentesco, idade da paciente que iria utilizar os óvulos e sêmen doado -1 caso a paciente tinha problemas de saúde riscos com a estimulação Indeferido pelo Comitê de Ética
Gestação de Substituição Experiência de 10 anos Centro Pró-Criar -3casosemandamentoem2011,sendoque: 2 casos estão em processo de avaliação psicológica donatárias sem vínculo de parentesco com a mãe biológica(amiga e cunhada) 1 caso donatária do útero é cunhada da mãe biológica, teve autorização do CRM e esta em tratamento -1 caso a paciente tem 18 anos, irá retirar o útero e esta em tratamento de criopreservação, para tratamento de gestação de substituição futura.
Gestação de Substituição Considerações Finais -Resolução 1957/2010 do Conselho Federal de Medicina, estipula novas normas éticas em Reprodução Humana. Entre elas, está a questão de casais homoafetivos e famílias monoparentais. -Em maio último, em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), os homossexuais passam a ter reconhecido o direito de receber pensão alimentícia, ter acesso à herança de seu companheiro em caso de morte e podem ser incluídos como dependentes nos planos de saúde. Poderão adotar filhos e registrá-los em seus nomes, dentre outros direitos. Estando incluída, inclusive, tratamentos de fertilização in vitro.
-Aspectos éticos Gestação de Substituição Considerações Finais - Ao consideramos o casal infértil, a doadora temporária do útero não poderia ser também parente de 1º e 2º grau do pai biológico? - Somente casais formalmente constituídos poderiam dispor destes recursos? - Solteiras e solteiros, homoafetivos ou não, teriam vez no uso destas novas tecnologias? Para tantas questões, e outras mais, não existem respostas prontas. Acredito que a discussão bioética está começando, uma vez que a tecnologia da reprodução tem trazido ao centro do debate novos grupos que não se encaixam na definição clássica da família nuclear. E é este o nosso propósito aqui hoje!