Efetividade da legislação sobre agrotóxicos na zona rural de Barbacena Pablo Garcia de Oliveira 1, Marlene de Paula Pereira 2 1. Graduando do curso Superior em Agronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG) Campus Barbacena, 2. Professora do Núcleo de Gestão Ambiental do IF Sudeste MG - Campus Barbacena. pablo.g.oliveira@hotmail.com 1. Introdução As inovações técnicas introduzidas na agricultura brasileira nos anos sessenta, pelo processo conhecido como revolução verde, modificaram o meio rural em seus aspectos social e ecológico. Essas técnicas pretendiam obter níveis mais elevados de produtividade, desconsiderando as consequências relacionadas ao meio ambiente. Nessa época é que se inicia o uso massivo de agrotóxicos. Entretanto, o aumento considerável no volume de agrotóxicos aplicados promove transtornos e modificações no ambiente, ao contaminar a biota, o água, o ar e o solo. Muitos efeitos indesejados ocorrem e um deles é a contaminação de espécies não alva, ou seja, espécies que não interferem no processo de produção (RIBAS e MATSUMURA, 2009). Muitos fatores contribuíram na disseminação do uso dos agrotóxicos no Brasil como as isenções fiscais e tributárias vigentes até hoje no comércio desses produtos. Esse uso encontra-se incorporado e disseminado na agricultura convencional, como solução de curto prazo em casos de problemas com pragas e doenças (LONDRES, 2011). Entretanto, a escassez dos recursos naturais, a necessidade de maior qualidade de vida e a questão de saúde promoveu a procura consciente de proteção ao meio ambiente. O início desse processo no Brasil foi em 1989 pela edição da Lei nº 7.802, de 1989. Ainda no plano do Legislativo, em 2000 foi promulgada a Lei nº 9.974, regulamentada pelo Decreto Federal nº 4.074 (04/01/2002) que estabelece normas e procedimentos para a destinação de sobras e embalagens vazias de agrotóxicos e dita sobre as responsabilidades e os deveres das indústrias, dos revendedores e usuários de agrotóxicos e afins, por serem fontes adicionais de grandes intoxicações e contaminações ambientais e humana (LONDRES, 2011). Sendo assim, a partir de um estudo de campo realizado na Zona rural do município de Barbacena MG pretende-se demonstrar que, embora exista uma
legislação sobre agrotóxicos em vigor, ela pouco contribui para que os riscos químicos sejam minimizados. Palavras chave: agroquímicos, embalagens de agrotóxicos, pesticidas. Categoria/Área: BIC (graduação) / Ciências Agrárias e Ciências Ambientais 2. Objetivo Objetivou-se com esse trabalho investigar se a legislação pertinente aos agrotóxicos está sendo cumprida no município de Barbacena, ou seja, se existe registro dos produtos comercializados e fiscalização quanto ao uso irracional e ao destino adequado das embalagens. 3. Material e métodos A área de estudo foi o município de Barbacena, localizado no Campo das Vertentes, em Minas Gerais. Inicialmente foi realizado levantamento bibliográfico sobre a legislação de agrotóxicos que serviu à montagem de dois tipos de questionários: um aberto e outro semiestruturado versando sobre o comércio de agrotóxicos, o uso destes pelos produtores rurais e o destino das embalagens. O questionário aberto foi aplicado nos responsáveis pelos órgãos de assistência rural (Emater-MG) e no de fiscalização rural (Instituto Mineiro de Agropecuária - IMA). Questionários semiestruturados serviram à obtenção de dados das lojas que comercializam agrotóxicos e dos produtores rurais. A ordem de aplicação foi no comércio, depois nos órgãos de assistência/fiscalização e por fim nos produtores rurais. A tabulação dos dados e análise foi realizada nas dependências do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG) - Campus Barbacena. Os resultados foram apresentados em porcentagem (lojas comerciais e produtores rurais) e em forma descritiva (órgãos de assistência/fiscalização). 4. Resultados e discussão No município de Barbacena, os agrotóxicos comercializados são principalmente relacionados à horticultura, fruticultura e culturas anuais (feijão e milho), segundo os entrevistados e observação nas propriedades rurais.
A amostra do comércio foi obtida de cinco estabelecimentos comerciais localizados na área urbana de Barbacena. Todos vendem os agrotóxicos contidos no receituário agronômico e emitem a nota fiscal. Mas, em 60% desses ocorre também a exigência da apresentação do cartão de produtor rural (CPR). A necessidade do CPR, que é emitido pelo IMA, serve como comprovante de sanidade da pecuária, daí a não exigência do mesmo em 40% dos estabelecimentos. Todos os estabelecimentos comerciais conhecem a aplicação prática da legislação sobre agrotóxicos no que diz respeito ao descarte das embalagens vazias. O técnico da Emater-MG afirma que em alguns casos o uso dos defensivos ocorre de forma aleatória, sem atender os padrões e normas de segurança recomendados, geralmente sem uso de equipamento de proteção individual, e que realiza dias de campo e palestras sobre uso de agrotóxicos e descarte de embalagens, com orientação inconstante nas propriedades. O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) é o principal órgão fiscalizador no que se refere à venda e ao consumo de agrotóxicos. De acordo com informações obtidas na Sede do IMA, em Barbacena, das propriedades rurais existentes no município, apenas 57 estão cadastradas no órgão. Técnicos do IMA orientam agricultores quanto ao modo de aplicar defensivo, risco e uso de equipamento de proteção individual (EPI), entretanto, durante as inspeções as infrações mais frequentes são: descarte em locais inapropriados; não devolução das embalagens vazias; não uso de EPI. Dos 30 produtores rurais entrevistados, todos fazem uso de fertilizantes e agrotóxicos em seus cultivos, sendo que os produtos mais citados foram fungicida, acaricida, inseticida, herbicida e produtos foliares. A utilização de agrotóxicos pareceu, na maioria dos casos, tentar maximizar a eficiência econômica e aumentar a produtividade rural, trazendo benefícios socioeconômicos adicionais, (Veiga, 2007). Do total de entrevistados, 96,7% utilizam receituário agronômico na compra de agrotóxicos, todos leem os rótulos e bulas dos agrotóxicos antes das aplicações, 90% recebem recomendações de uso por agrônomos, sendo orientados quanto ao período e modo de aplicação. A aplicação dos agroquímicos é feita por homens acima de 18 anos e durante a aplicação, a maioria deles utiliza EPI (90%). Após a aplicação devolvem as embalagens no local indicado na nota fiscal (96,67%).
Nenhuma propriedade rural recebe assistência da Emater-MG e 80% são fiscalizadas pelo IMA. 5. Conclusão Os dados obtidos nas entrevistas e questionários, se analisados exclusivamente, levam à conclusão de que há efetividade da legislação sobre agrotóxicos na zona rural de Barbacena. Entretanto, se analisados juntamente com as observações, conclui-se que os agricultores estão bastante expostos aos riscos. Foi possível notar que, mesmo percebendo os males decorrentes do uso aleatório dos agrotóxicos, os produtores buscam argumentos para defender o uso dos defensivos, pois acreditam que isto levará a um aumento da produtividade. Concluiuse com esta pesquisa que, apesar de haver uma legislação que objetiva regular a venda e o uso dos agrotóxicos, falta uma atuação mais efetiva dos órgãos de assistência e extensão rural e políticas que incentivem métodos alternativos para o controle de pragas e doenças. 6. Referências bibliográficas 1. LONDRES, Flavia. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. Rio de Janeiro: AS-PTA Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, 2011. 2. MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2011. 3. RIBAS, P. P., MATSUMURA, A. T. S. A química dos agrotóxicos: impacto sobre a saúde e o meio ambiente. Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 10, n. 14, p. 149-158, jul./dez. 2009. 4. Veiga, M. M. Agrotóxicos: eficiência econômica e injustiça socioambiental. Ciência & Saúde Coletiva. 12 (1). 145-152, 2007. Agradecimentos A Deus pela oportunidade, por tuas promessas, por tudo que tens feito, e por tudo que há de fazer. A minha família pelo apoio moral.
À professora Marlene de Paula Pereira pela competente orientação e por me dar liberdade ao escrever, sem abdicar da técnica e do conhecimento científico. Aos órgãos de assistência e extensão rural (EMATER-MG, unidade Barbacena) e IMA pelas informações prestadas. Aos produtores rurais de Barbacena e a todos que colaboraram direta e indiretamente para a realização dessa pesquisa. Apoio financeiro: IF Sudeste MG Campus Barbacena. Agradecemos ao Instituto federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena pela bolsa e pelo apoio prestado.