Resenha. Arte e Técnica em Heidegger. por Dra. Paula Renata de Campos Alves Irene Borges-Duarte. DOI: /ek.2016.

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Transcrição:

Resenha Arte e Técnica em Heidegger DOI: 10.12957/ek.2016.19622 por paullare@gmail.com BORGES-DUARTE, Irene. Arte e Técnica em Heidegger. Documenta. Lisboa, 2014.

O importante livro da especialista no pensamento heideggeriano, a portuguesa, lançado no final de 2014, intitulado Arte e Técnica em Heidegger, surge como contribuição das mais preciosas para o âmbito de abordagens dos temas da arte e da técnica no pensamento do filósofo alemão. A contribuição se efetiva na medida em que temos o laborioso empenho da autora em mostrar-nos os termos chave do pensamento de Heidegger, através da transposição para a língua portuguesa. Como tradutora do pensamento do filósofo alemão para a língua portuguesa, o empenho da professora Irene é encaminhar-nos para aquilo que podemos chamar de uma recepção do pensamento da filosofia alemã de Heidegger em língua portuguesa. Heidegger é um autor conhecido por sua relação especial com a linguagem, que nos traz a perspectiva de que a linguagem é desveladora de mundo. O dizer cria a possibilidade de um mundo se mostrar ou abrir. A professora Irene nos faz recordar, no livro que temos em mão (e em todo o seu trabalho), que o empenho do pensar é o traduzir, é encontrar na orientação das palavras os acenos para o mundo que elas possibilitam criar e recriar, ofertando-nos, assim, o ver revelador de um mundo, de um povo histórico. Portanto, ao dar-nos a ver a questão da arte juntamente à da técnica, dá-nos a ver o modo como as palavras que Heidegger utiliza para dizer o acontecimento essencial de arte e de técnica traduzem-nos, aproximam-nos do que nessa ambiência de sentidos, convoca-nos a pensar. Como a autora nos alerta, não é um livro sobre palavras, mas sonda-as para escutar o que elas dizem sobre as coisas da arte e da técnica (BOR- GES-DUARTE, 2014, p. 5). Sondar significa mergulhar naquilo que se quer ver ou fazer ver. Mergulhando, adentramos o que é essencial. Ao traduzir-se, quer-se deixar ver. Elaborando as palavras de uma tradução, explicitando-as, encaminhando os motivos de uma escolha por uma palavra ao invés de outra, dando a mostrar o que se passa com essa palavra para que ela seja a escolhida para dar a ver uma outra, de outro idioma, a professora Irene nos possibilita um mergulho naquilo que se faz essencial no dizer de Heidegger. Nesse mergulho, entregamo-nos ao que arte e técnica podem dar-nos a ver. Certamente que o livro em questão é sobre arte e técnica em Heidegger, mas a indicação desse caminho de pensamento acontece através de uma cuidadosa elaboração de palavras. Um âmbito circunscrito, o mundo da arte e da técnica, é que se deixa ver. A distância que separa a téchne grega da arte moderna é a distância que separa o poético do meramente reprodutor. E há de se compreender em que medida as palavras de Heidegger podem dar a ver o que distancia e o que aproxima arte de técnica. Portanto, é importante notar que o livro da professora não se restringe a ser um livro sobre os aspectos e 9

desenvolvimentos da arte clássica em relação aos movimentos reprodutivos da arte entendida como técnica, no mundo hodierno. Não se trata de uma história das transformações estilísticas, ideológicas, meramente estéticas. O que se faz aqui é de outra natureza, e tem a ver com a assunção de uma importante tarefa: a de dar a pensar um lugar fundador de uma época histórica em que os modos do ser se mostrar se transformam. Ao nos apresentar os termos traduzidos por si, ao nos dizer do modo como sua interpretação desdobra sentidos para aquilo a que se põe a pensar, a professora Irene convidado-nos ao espaço de acontecimento de um pensamento, convida-nos a seguir os caminhos das palavras desse pensamento, de modo a perceber quais as leituras que ali se insinuam. Ao dar a perceber isto, a professora Irene nos chama a ver aquilo que arte e técnica podem nos dizer mais radicalmente, nos convida a escutar aquilo que arte e técnica podem querer nos dizer mais radicalmente. Não é mais tanto ou não é tão mais somente tanto o pensamento estrito do filósofo da floresta Negra, aquilo que mais nos concerne na tão bem empregada obra de explanação do pensamento de Heidegger, empregada pela professora portuguesa, mas a própria convocação para "pensar com, para auscultar aquilo que é essencial: o que arte e técnica convidam a pensar sobre nós, humanos, em nossas humanidades. O tecido em que traz à baila a possibilidade dessa escuta são os textos de Heidegger, selecionados pela autora de modo a compor um cenário em que apareça aquilo de que se está a falar, não como uma evidência, mas como uma indicação de caminho de pensamento. A professora, da Universidade de Évora, em Portugal, tornou-se uma das grandes divulgadoras do pensamento heideggeriano. O motivo desse êxito é, certamente, por um lado, sua dedicação intensa à obra desse autor, como tradutora de textos importantes do filósofo, pouco divulgados e comentados. Por outro, podemos dizer que esse êxito é oriundo da sua maneira peculiar de interpretar Heidegger, colocando- -nos o exercício da tradução e do cuidado com as palavras de um pensamento como uma necessidade, para que desse pensamento possamos avizinhar-nos. Ao apresentar-nos as questões que parecem imiscuídas em um cenário repleto de outras questões, esclarece-nos o entrelaçamento essencial do tecido compreensivo do pensamento heideggeriano, no qual as questões da arte e da técnica não fulguram como meras questões, como questões entre outras, por constituírem um eixo temático de Heidegger, mas que, antes, consistem em uma maneira possível de transluzir a questão sobre o dar- -se do ser em sua história. Na articulação temática entre arte, técnica e história do ser, são os termos chaves em uma tradução minuciosamente explicada pela 10

autora, que se mostram como peças fundamentais de desdobramento de uma interpretação que dá a pensar o grande contributo do pensamento do filósofo da Floresta Negra. Irene nos indica pontualmente este contributo no modo como a arte acena para a técnica. Esse desdobramento temático nos remete ao modo como o humano se realiza em sua essência, tanto no obrar que traz à luz o invisível, captado pelo olhar atento da deusa Atena, do que não se encontra visível, quanto no modo de reprodução que acontece a partir de um esquema, em que uma visão pré concebida dita sempre e a cada vez aquilo que pode e precisa aparecer como obra. Aquilo que se dá a pensar sobre arte e técnica vai nos indicando a relação entre pensamento e obra de arte, como bem nos ilustra a conferência de 1967 em Atenas, sobre a proveniência da arte e determinação do pensar, trabalhada pela autora (BORGES-DUARTE, 2014, 209). Para que as palavras arte e técnica sejam ouvidas como palavras do pensamento, é necessário que um outro pensar torne-se possível. Outro em relação àquele que chamamos de metafísico, que tem início, de acordo com Heidegger, com Platão e Aristóteles. O contributo que a professora Irene abre espaço para vermos em Heidegger é o de um outro pensar, que somente é possível através do exercício cuidadoso que devolve à linguagem a possibilidade de dizer uma vez mais, recompondo-se em seu vigor originário. Ao pensar a questão da técnica somos convocados a um passo atrás em direção à questão da arte. Nessa direção, ouvindo a origem, ronda o segredo impensado de nossa origem, da essência da técnica moderna. Ao movimento de trazer à luz, assim como ao movimento de manutenção da luz surgida em um mundo que se quer repleto de exatidão, Irene convoca a pensar como podemos trazer a proximidade entre as épocas e seus respectivos modos de abertura do ser, deixando que se mostre aquilo que possa ensinar-nos a olhar uma vez mais para essa mesma época, a nossa, dando um passo atrás, de modo a percebermos o que nela se deixa pensar mais profundamente. Ao pensarmos mais profundamente, aos voltarmos às palavras da origem, liberamo-nos para a tarefa toda especial de um recomeço. Irene nos leva a ver que, nas entrelinhas de Heidegger, escutamos o dizer: criar é recomeçar.recomeçar que só ocorre quando a origem ganha voz. Dar voz à origem é a tarefa do pensador que pretende perceber os descaminhos das construções da técnica hodierna, como próprias ao movimento da história do ser. Quando nos mostra que a essência da técnica moderna corrobora com a essência da arte, e isso em seu manancial constituidor de verdade e história, faz-nos ver que bem que onde está o perigo, também está a salvação, como pressentia o poeta Hölderlin. A salvação, portanto, como nos indica a professora Irene, bem está onde já não podemos deixar 11

de ser aquilo que nos tornamos, mas que, ao mesmo tempo, podemos recuperar algo daquilo que ainda podemos ser, nossas possibilidades de ser. O livro de Irene, portanto, fala-nos da recuperação de uma especial atenção para com a nossa essência, da possibilidade de reencontrarmo-nos com nossas possibilidades mais de ser, pouco percebidas. É nesse aspecto que reside o contributo de que ela está a nos falar: Heidegger, ao colocar a questão da arte e da técnica nos convida a recuperar nossa condição de zeladores da verdade do ser, de sapientes e pacientes mensageiros do ser. Para isto, para tanto, é necessário que estejamos dispostos a recomeçar os caminhos do pensamento, para que outros caminhos possamos criar. O convite da autora nos remete à urgente reflexão de que já não somos capazes de ouvir os apelos do ser, e que não há mágicas para que isso seja feito. Mas há um caminho: é preciso recomeçar, dar vez a um outro caminho para o pensamento, para que a a essência da técnica seja liberada em sua autêntica proximidade daquilo que os gregos compreendiam a partir da téchne. Para tanto, para que isso seja possível, a ressalva está feita: recomeçar é, a cada vez, criar. Recebido em: 15/11/2015 Aprovado em: 08/08/2016 Referência Bibliográfica BORGES-DUARTE, Irene. Arte e Técnica em Heidegger. Lisboa: Documenta, 2014. HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica. In Ensaios e Conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão e outros. Petrópolis: Vozes, 2002.. Caminhos de Floresta. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2012. vol.5 n.1 [2016]