SERMÕES DO PADRE VIEIRA (1)



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Transcrição:

SERMÕES DO PADRE VIEIRA (1) BIOGRAFIA MÍNIMA Imperador da Língua Portuguesa. Fernando Pessoa (1888 1935), poeta modernista português e uma das maiores expressões da literatura em língua portuguesa Padre Antônio Vieira (Lisboa, 1608 Bahia, 1697) veio morar no Brasil aos sete anos de idade. Estudou no Colégio dos Jesuítas e foi ordenado aos 25 anos, na Companhia de Jesus. Aos 43 anos, estava novamente em Portugal, onde já era reconhecido como o sujeito brilhante vindo da colônia. Foi protegido do rei D. João IV, o que lhe rendeu alguns cargos de prestígio, mas não o livrou de inimigos diversos, como a pequena burguesia cristã, os pequenos comerciantes e alguns administradores da colônia. A atuação de Vieira, como um membro da Companhia de Jesus, nem sempre esteve em consonância com os interesses dos colonos, com a política da coroa portuguesa ou mesmo com a do Santo Ofício. O efeito direto de tais conflitos? Chegou a ser considerado herege e condenado pela Inquisição. Após receber uma espécie de anistia, resolveu voltar ao Brasil, em 1681, onde permaneceu até o fim de sua vida, morrendo aos 89 anos. OBRA Em dezembro de 2014, em Portugal, houve a conclusão da publicação de toda a obra de Vieira, em aproximadamente 15.000 páginas. Pelo menos um quarto de toda essa publicação reuniu textos até então inéditos, como poesias e peças teatrais. Agora, a vasta obra do autor, que é mais conhecida e recorrente em vestibulares, assim está dividida: Profecias Escritos exagerados, nos quais Vieira acreditava ser Portugal um dos cinco grande impérios da humanidade, o que estaria segundo ele profetizado nas escrituras sagradas. Cartas Mais de 500, as quais tratam de assuntos diversos relacionados aos cristãos-novos, à situação da colônia e outros aspectos históricos. Textos de maior valor histórico do que artístico de fato. Sermões Cerca de 200, que consistem no melhor da produção de Vieira. Eis alguns de seus principais sermões: TÍTULO Da sexagésima Do mandato De Santo Antônio aos peixes Pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda Da quarta-feira de cinzas ASSUNTO Um esboço sobre a arte de pregar O amor místico de Cristo A escravização dos índios pelos colonos Cerco holandês à cidade da Bahia (hoje Salvador) A morte e suas implicações ASPECTOS CENTRAIS DA OBRA A literatura que sobe ao púlpito Como diz a epígrafe que abre esta aula, O maior orador em Língua Portuguesa : Padre Antônio Vieira é até hoje conhecido assim, tanto em Portugal como no Brasil. Figura de grande relevância no século 17, tomou parte por seus sermões e cartas em várias questões sociais, políticas e econômicas, tanto em Portugal como no Brasil, o que lhe rendeu alguns dissabores e alguns inimigos. Dotados de uma retórica aprimorada, totalmente enriquecida por elementos até meio teatrais e várias citações em latim, os sermões de Vieira o melhor de sua produção possuem, normalmente, a seguinte estruturação: Tema o texto bíblico-chave, no qual se baseia o sermão. Introito ou exórdio Antecipação da estrutura sequencial das ideias a serem explanadas. Invocação Pedido de inspiração e sabedoria para expor suas ideias (pedido feito normalmente a Virgem Maria). 1

Desenvolvimento ou argumento A defesa de suas ideias com base numa argumentação bastante sólida. Peroração ou conclusão A parte final, na qual normalmente convocava os fiéis à reflexão e à ação. Vale frisar que os sermões do Padre Vieira eram um instrumento muito eficiente para se formar a opinião dos colonos, entre tão poucos instrumentos disponíveis à época. Lembre-se de que o público não tinha a seu dispor jornais, revistas ou tantos outros meios de comunicação existentes hoje. O púlpito era, enfim, um centro irradiador de ideias; os sermões iam, portanto, muito além do mero discurso religioso. O estilo conceptista Na literatura barroca, comumente se destacam duas linhas principais: o Cultismo, voltado mais para as formas mais rebuscadas de expressão, sobretudo na poesia, e o Conceptismo, centrado mais nas ideias e no plano do conteúdo em geral, normalmente dispostos de forma mais direta. Padre Vieira articulava seus sermões em estilo primorosamente conceptista, pois se notam em sua obra a precisão, a naturalidade, o rigor e certa simplicidade, como atesta o crítico Antônio Sérgio. Agora, se a forma de Vieira procurava ser mais enxuta e precisa que a de autores de influência cultista, o conteúdo de seus textos muitas vezes embaralhava tal precisão e concisão, pois muitas vezes percebemos em seus sermões uma sobreposição de raciocínios, uma utilização de imagens e alegorias tão diferentes e exóticas que o que era para ser mais límpido se torna um pouco confuso e tão emaranhado como tantos outros textos cultistas. O fusionismo barroco Como integrante da Companhia de Jesus, padre Antônio Vieira pôde adquirir uma vasta cultura europeia, tanto do universo cristão (os formuladores da doutrina cristã e católica), como do universo pagão (os clássicos gregos e romanos). O resultado de toda essa mistura? Uma obra densa, complexa e paradoxal, pois temos um Vieira cristão, católico, num grande esforço de transmitir as verdades do evangelho, utilizando-se, muitas vezes, de uma retórica, de uma linha de argumentação, de alegorias filosóficas próprias da cultura greco-romana, considerada pagã, considerada herege e, por isso mesmo, combatida pela Igreja Católica em muitos aspectos. Como dissemos, este fusionismo era um tanto paradoxal, um tanto contraditório, mas em essência condizente com a época e a estética barrocas, tão demarcadas pelos conflitos e contrastes. Os temas desenvolvidos: contradições As contradições tão próprias da época barroca, visíveis nos aspectos formais, também se mostram nas temáticas abordadas por Vieira, conforme percebemos a seguir: Os índios Padre Antônio Vieira sempre foi radicalmente contrário à escravidão física dos indígenas e muito lutou para que isso acabasse na colônia o que lhe rendeu uma série de problemas. Entretanto, achava obrigatória a conversão de tais povos ao Cristianismo. Logo, os índios deveriam sujeitar-se à fé cristã, não lhes restando outra opção. Os negros Vieira sofria com a escravidão dos negros, mas não chegava a questioná-la ou condená-la de modo mais profundo, pois muitas vezes suas pregações dirigidas aos escravos levavam a mensagem de resignação a eles, isto é, que deveriam aceitar a condição em que se encontravam, por mais abjeta e desumana que fosse. O sermão conhecido como Sermão Vigésimo Sétimo, com o Santíssimo Sacramento Exposto (da série Maria, rosa mística ) é um exemplar disso. Os judeus (cristãos-novos) Era totalmente contrário às perseguições, confiscos, prisões e torturas impostas aos judeus pelo Santo Ofício, naquele contexto de Contrarreforma. Entretanto, seus interesses humanitários e cristãos eram muito convenientes a outros interesses de ordem mais prática: a importância dos capitais judeus para a retomada da expansão comercial portuguesa. Logo, os cristãos-novos eram os financiadores-novos do agora decadente império português, que teve as suas glórias no século XVI não mais repetidas no século XVII, em que viveu padre Antônio Vieira. Outros temas Além dos temas citados anteriormente, os sermões de Vieira também versaram sobre: a defesa dos interesses da colônia, mesmo que submissa à metrópole; a exposição das doutrinas cristãs fundamentais; a condenação dos costumes desregrados e imorais dos cristãos; o messianismo 2

01. (FEI SP) Texto: OBRAS LITERÁRIAS UEM 2015 Não é o homem um mundo pequeno que está dentro do mundo grande, mas é um mundo grande que está dentro do pequeno. Baste por prova o coração humano, que sendo uma pequena parte do homem, excede na capacidade a toda a grandeza do mundo. (...) O mar, com ser um monstro indômito, chegando às areias, para; as árvores, onde as põem, não se mudam; os peixes contentam-se com o mar, as aves com o ar, os outros animais com a terra. Pelo contrário, o homem, monstro ou quimera de todos os elementos, em nenhum lugar para, com nenhuma fortuna se contenta, nenhuma ambição ou apetite o falta: tudo confunde e como é maior que o mundo, não cabe nele". Podemos reconhecer neste trecho do Padre Antônio Vieira: a) O caráter argumentativo típico do estilo barroco (século XVII). b) A pureza de linguagem e o estilo rebuscado do escritor árcade (século XVIII). c) Uma visão de mundo centrada no homem, própria da época romântica (princípio do século XIX). d) O racionalismo comum dos escritores da escola realista (final do século XIX). e) A consciência da destruição da natureza pelo homem, típica de um escritor moderno (século XX). 02. (UFV MG) Leia atentamente o fragmento do sermão do Padre Antônio Vieira: A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande [...]. Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros. Tão alheia cousa é não só da razão, mas da TESTES mesma natureza, que, sendo criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer. VIEIRA, Antônio. Obras completas do padre Antônio Vieira: sermões. Prefaciados e revistos pelo Pe. Gonçalo Alves. Porto: Lello e Irmão - Editores, 1993. v. III, p. 264-265 O texto de Vieira contém algumas características do Barroco. Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela em que não se confirmam essas tendências estéticas: a) A utilização da alegoria, da comparação, como recursos oratórios, visando à persuasão do ouvinte. b) A tentativa de convencer o homem do século XVII, imbuído de práticas e sentimentos comuns ao semipaganismo renascentista, a retomar o caminho do espiritualismo medieval, privilegiando os valores cristãos. c) A presença do discurso dramático, recorrendo ao princípio horaciano de "ensinar deleitando" - tendência didática e moralizante, comum à Contrarreforma. d) O tratamento do tema principal - a denúncia à cobiça humana - através do conceptismo, ou jogo de ideias. e) O culto do contraste, sugerindo a oposição bem x mal, em linguagem simples, concisa, direta e expressiva da intenção barroca de resgatar os valores greco-latinos. 03. (UFSM RS) Texto: OS HOLANDESES NO BRASIL A carta que João Fernandes Vieira, um dos heróis da Restauração Pernambucana, escreveu em 1654 ao rei de Portugal dom João IV relatando o fim do domínio holandês no Brasil foi entregue na segunda-feira 18 à Universidade Federal de Pernambuco. O documento pertencia ao professor inglês Charles Ralph, um dos principais estudiosos do período da expansão portuguesa, falecido no ano passado. Pela primeira vez, o documento ficará guardado no Brasil. "Isto É", n 1656, 27 de junho de 2001 3

Quando, em 1640, os holandeses apertaram o cerco à cidade da Bahia, ameaçando invadi-la pela segunda vez, Padre Antônio Vieira, em seu "Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda", bradava aos céus, suplicando a proteção de Deus para a cidade de Salvador. Assinale a alternativa que apresenta um fragmento desse Sermão: a) Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-ia para que se conheça, há de dividi-ia para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar [...] b) Este foi, Cristãos, o amor de Cristo, esta a ciência e as ciências com que nos amou, e esta a ignorância e ignorâncias sobre que somos amados [...]. Sirvanos a sua ciência de espectador, para nunca deixar de amar; sirva-nos a nossa ignorância de estímulo, para sempre amar mais e mais a quem tanto nos amou [...] c) Enquanto Páris, ignorante de si e da fortuna do seu nascimento, guardava as ovelhas do seu rebanho nos campos do monte Ida, dizem as histórias humanas que era objeto dos seus cuidados Enone, uma formosura rústica daqueles vales. Mas quando o encoberto príncipe se conheceu e soube que era filho de Príamo, rei de Troia, como deixou o cajado e o surrão, trocou também de pensamento [...] d) Semeou uma semente só, e não muitas, porque o sermão há de ter uma só matéria, e não muitas matérias. Se o lavrador semeara primeiro trigo, e sobre trigo semeara centeio, e sobre o centeio semeara milho grosso e miúdo, e sobre o milho semeara cevada, que havia de nascer? - Uma mata brava, uma confusão verde [...] e) Que a larga mão com que nos destes tantos domínios e reinos não foram mercês de vossa liberalidade, senão cautela e dissimulação de vossa ira, para aqui fora e longe de nossa Pátria nos matardes, nos destruirdes, nos acabardes de todo. Se esta havia de ser a paga e o fruto de nossos trabalhos, para que foi o trabalhar, para que foi o servir, para que foi o derramar tanto e tão ilustre sangue nestas conquistas? [...] 04. (UNIOESTE PR) Com base na linguagem, na espécie literária empregada e no conteúdo apresentado, assinale a (s) alternativa (s) que caracteriza (m) o texto a seguir: Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado: porque padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz, e em toda sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três (...) Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. 01) Descrição do índio na Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel. 02) Referência cristã aos aborígenes, no Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Souza. 04) Relato do sofrimento dos índios, no Diálogo Sobre a Conversão dos Gentios, do Pe. Manoel da Nóbrega. 08) Exemplo de fragmento sacro, presente nos Autos do Pe. José de Anchieta. 16) Sensibilidade à situação dos escravos, no Sermão XIV do Rosário, do Pe. Antônio Vieira. 32) Exemplo conceptista da retórica barroca de Gregório de M. Guerra. 05. (UNOPAR PR) Fernando Pessoa dizia que o Padre Antônio Vieira era o imperador da língua portuguesa. No que diz respeito à criação literária, assinale a alternativa que justifica o fato de Vieira ser chamado de Imperador: a) Embora vivesse no Brasil, defendeu posições favoráveis à administração do império português. b) Era possuidor de alta espiritualidade e por isso não se interessava por assuntos mundanos. c) Revelava-se em seus sermões com uma arrogância desmedida que o distanciava das pessoas. d) Servindo-se de um sofisticado jogo de ideias e conceitos, acabou por aprimorar, em grande estilo, a esteticidade do idioma português. e) Utilizou-se de um discurso pedagógico e investiuse das funções de moralizador de todas as camadas sociais. 4

Texto para a próxima questão: Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado¹, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é também essa. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte (...) Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se uma parte está branco, da outra há de estar negro (...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação, muito distinto e muito claro. 06. (ESPM SP/2014) Assinale a incorreta sobre o texto de Padre Vieira: a) vale-se do estilo conceptista do Barroco, voltandose para a argumentação e raciocínio lógicos. b) ataca duramente os pregadores cultistas, devido ao estilo pomposo, de difícil acesso, e aos exageros da ornamentação. c) critica o sermão que está preocupado com a suntuosidade linguística e estilística. d) defende a pregação que tenha naturalidade, clareza e distinção. e) mostra que, seguindo o exemplo de Cristo, pregar e semear afetam o estilo, porque ambas são práticas da natureza Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira ¹empeçado: com obstáculo, com empecilho. 01. a 02. e 03. e 04. 16 (16) 05. d 06. e GABARITO 5