Análise comparativa do preparo químico cirúrgico através das técnicas automatizada híbrida e escalonada em canais curvos

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Transcrição:

Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo 2006 maio-ago; 18(2)123-128 Análise comparativa do preparo químico cirúrgico através das técnicas automatizada híbrida e escalonada em canais curvos Comparative analysis of the chemical-surgical preparation through the automatized hybrid and step-back techniques in curved canals Wânea Maria Volpato * Igor Prokopowitsch ** Andréa Kanako Yamazaki *** Luciano Natividade Cardoso **** Celso Ubirajara Carlos Filho ***** Cacio De Moura Netto ****** RESUMO Introdução - O presente trabalho teve por objetivo avaliar o desvio apical, em raízes mésio-vestibulares de molares superiores, valendo-se de técnica escalonada e técnica mecânico-rotatória Híbrida. Métodos - Foram utilizados 20 dentes molares superiores extraídos e radiografados no sentido vestíbulo lingual. Procedeu-se a cirurgia de acesso, esvaziamento e odontometria de cada dente e os mesmos foram divididos em dois grupos: GI - técnica manual escalonada e GII - técnica Híbrida. As limas utilizadas foram as do tipo K n. 10 e 15 marca Maillefer, limas tipo Flexofile 1ª serie (15 40) 21mm marca Maillefer e limas do sistema Profile 0.4 Maillefer de n. 20 a 35. Durante a instrumentação, utilizou-se como substâncias químicas auxiliares o creme Endo PTC neutralizado pela solução de hipoclorito de sódio 0,5% e EDTA T, na irrigação final. Os canais foram secos com cones de papel. A seguir, injetou-se o material de moldagem tipo silicona de condensação no interior de cada conduto radicular preparado. E, então, foram imersos em solução de acido clorídrico a 35% por, aproximadamente, 12hs, e descalcificados durante um período de 96hs. Obteve-se o molde do canal radicular preparado e cada um foi analisado com o auxílio de uma lente com 20 vezes de aumento. Resultados - Apenas um dente em cada grupo apresentou desvio apical. Conclusão - As técnicas de instrumentação propostas para canais curvos, escalonada e híbrida mecanizada, não apresentaram diferenças estatisticamente significantes, ao nível de 5%, no que se refere à ocorrência de desvio apical. DESCRITOR: Cavidade de polpa dentária Abstract Introduction The objective of the present study was to evaluate the apical displacement in upper molar vestibular mesial roots through step-back and Hybrid mechanical and rotatory techniques. Methods Twenty extracted upper molars were used and their radiographies taken in the lingual vestibule direction. Access surgery was performed, as well as emptying and odontometry of each tooth, and the latter was divided into two groups: GI - manual step-back technique and GII - Hybrid technique. The files utilized were Maillefer, type K no. 10 and 15, Maillefer s Flexofile Series 1 (15 40) 21mm, and Maillefer s Profile 0.4 no. 20 to 35. During instrumentation, Endo PTC cream was used as an auxiliary chemical substance neutralized by a sodium hipochlorite solution at 0.5% and EDTA T, in the final irrigation. The canals were dried with paper cones. Next, molding material of silicone condensation was injected in each prepared radicular space. Then, they were immersed in a chloride acid solution at 35% for approximately 12 hours, and decalcified for a period of 96 hours. A mold of the prepared radicular canal was obtained and each of them was analyzed through a 20X lens. Results Only one tooth in each group presented apical displacement. Conclusion The instrumentation techniques proposed for curved canals, step-back and mechanized hybrid, did not present statistically significant differences at 5%, with regard to the occurrence of apical displacement. DESCRIPTORS: Dental pulp cavity * Especialista em Endodontia pela APCD-São Caetano do Sul ** Professor Doutor da Disciplina de Endodontia da FOUSP. Coordenador do Curso de Especialização/Aperfeiçoamento em Endodontia da APCD-São Caetano do Sul *** Especialista em Endodontia. Assistente do Curso de Especialização/Aperfeiçoamento em Endodontia da APCD-São Caetano do Sul. Mestranda em Endodontia pela FOUSP **** Especialista em Endodontia. Mestre em Endodontia pela FOUSP. Assistente do Curso de Especialização/Aperfeiçoamento em Endodontia da APCD-São Caetano do Sul. Membro do corpo docente da Disciplina de Endodontia da FOUSP. ***** Especialista em Endodontia. Assistente do Curso de Especialização/Aperfeiçoamento em Endodontia da APCD-São Caetano do Sul. ****** Especialista em Endodontia. Mestre em Endodontia pela UNIP. Assistente do Curso de Especialização/Aperfeiçoamento em Endodontia da APCD-São Caetano do Sul. 123

INTRODUÇÃO O preparo químico cirúrgico compreende a limpeza, sanificação e modelagem do canal radicular, permitindo assim, através da obturação tridimensional e hermética do mesmo, que a reparação possa ser efetivada. Abou-Rass et al. 1, em 1982, apresentaram uma técnica de grande importância nos canais curvos, cujo objetivo é manter a integridade das paredes do canal radicular. Sugeriu-se uma técnica de instrumentação com o propósito de obter maior cuidado no preparo dos canais curvos, principalmente nas zonas de maior fragilidade e achatamento denominados anticurvatura. Foi realizado desgaste compensatório mais energético em direção oposta à curvatura e o preparo dos terços médio e apical, considerando-se os procedimentos escalonados, compreensão exercida no instrumento no sentido contrário a curvatura. Desta forma, concluíram que o incidente poderia diminuir. Além dos estudos referentes às técnicas de preparo dos canais radiculares, a literatura demonstra inúmeras modificações que foram aplicadas aos instrumentos com o objetivo de facilitar sua cinemática, concedendo-lhes melhor desempenho. Em 1996 Zmener e Banegas 7 analisaram comparativamente o preparo de canais radiculares conforme três técnicas e instrumentos diferentes. Utilizaram 45 canais artificiais confeccionados a partir de blocos de resina, divididos em três grupos de 15 canais cada. No grupo I os canais foram instrumentados com limas K-file acionadas por meio de ultra-som. No grupo II, os canais foram instrumentados pelo sistema Profile 0,04 série 29. O grupo III, considerado como controle, foi instrumentado manualmente e de maneira convencional, tipo K, com a técnica circunferencial. A eficiência das técnicas de preparo, comparadas, foi mensurada quanto ao transporte do canal em diferentes níveis, através da técnica da sobreposição fotográfica. Perante os resultados, os autores verificaram que o uso do sistema Profile 0,04 série 29 propiciou melhor centralização e conicidade em função do taper, dos canais preparados. Os outros grupos mostraram freqüentes alterações da forma do canal. No ano de 1997, Thompson e Dummer 4 desenvolveram um trabalho e na sua parte 1, analisaram a eficiência dos instrumentos Profile 0,4, quanto ao preparo do canal radicular. Foram utilizados 40 canais artificiais confeccionados a partir de resina, simulados de diferentes formas, com curvaturas entre 20 a 40 graus que se iniciavam a 8 ou 12 milímetros do orifício dos canais. Foram 124 instrumentados mediante a observação do tempo gasto para o preparo, falhas nos instrumentos, ocorrência de bloqueio nos canais, perda do comprimento de trabalho e a forma tridimensional dos canais preparados. Os resultados indicaram que o tempo de preparo não foi influenciado pela anatomia dos canais, sendo esse sistema considerado um meio rápido no preparo endodôntico. Não houve fraturas de instrumentos e as deformações foram atribuídas à natureza do modelo experimental ou ao desenho dos instrumentos. Não houve bloqueio dos canais e a perda de comprimento do trabalho foi limitada. As análises morfológicas realizadas utilizando moldagens de silicone dos canais preparados mostraram em geral que estes apresentaram constrições apicais definidas, lisura e conicidade das paredes. No mesmo ano e na parte II do trabalho, os autores Thompsom e Dummer continuaram os estudos sobre os instrumentos Profile 0,4 estudando a análise morfológica dos canais preparados e descritos no trabalho anterior. Imagens microscópicas pré e pós-operatórias foram analisadas com auxílio de software especializado. Não verificaram a formação de zips, perfurações nos canais, apesar de 60% deles apresentarem degraus, nas paredes externas. Segundo os autores, não foi possível determinar se essa ocorrência foi devida à seqüência de instrumentação, desenho das limas ou propriedades físicas dos instrumentos, salientando que no terço apical o transporte foi em direção à parede externa das curvaturas, achado que contrasta com o padrão de desgaste dos instrumentos. No ano de1998, Thompson e Dummer 6 realizaram um estudo que na parte 1, visava avaliar a forma que proporcionava o Sistema Quantec série 2000 em canais simulados. Foram utilizados 40 canais simulados, preparados conforme as instruções do fabricante. Nesse trabalho foram observados o tempo de preparo, fraturas de instrumentos, a mudança do comprimento e a forma tridimensional do canal. Após avaliarem as impressões intracanais dos preparos com o Sistema Quantec 2000, confirmaram que os instrumentos produziram paredes lisas e bem definidas. Logo puderam concluir, nessa primeira parte do estudo, que o sistema rotatório Quantec Series 2000 preparou os canais simulados rapidamente, com segurança e obteve ainda, uma boa forma tridimensional. Em 1999, Bryant et al. 2 e colaboradores realizaram um estudo com o objetivo de determinar a forma obtida com a utilização do sistema rotatório de níquel-titânio

Profile taper 04 e 06 em canais simulados, preparados utilizando a técnica crown- down seguindo as recomendações do fabricante. Foram comparadas as imagens pós-operatórias sobrepondo-se na imagem original. Os resultados demonstraram que não houve fraturas de instrumentos ou deformações e os canais não foram bloqueados por debris. Ocorreram alguns zips e perfurações. Mas a conclusão dos autores foi que o uso combinado do Profile 04 e 06 era rápido, efetivo e produzia canais com boas formas exceto naqueles espécimes com curvas próximas da parte apical. No curso de especialização da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas em São Caetano do Sul foi utilizada a técnica híbrida mecanizada, porém com algumas modificações. Segundo Prokopowitsch et al 3, 1999 primeiramente estabelece-se o comprimento real de trabalho, manualmente, instrumenta-se até a lima # 25 (memória) no comprimento real de trabalho. A partir daí utilizam-se as limas rotatórias do Sistema Profile Série 29 ou Quantec série 2000 com o recuo de 3mm e em rotação moderada, utilizando-se o próprio micromotor acoplado ao contraângulo convencional. Entre uma troca de lima rotatória por outra intercalou-se a lima memória # 25 e, chegando ao último instrumento rotatório, por exemplo # 40, retomou-se a instrumentação manual a partir da lima memória # 25. Essa técnica mostra-se bastante eficiente no tempo de preparo e segurança quanto à fratura. No presente trabalho, foi avaliado o desvio apical, valendo-se de técnica escalonada com recuo anatômico e técnica mecânico-rotatória híbrida com lima Profile 04. MÉTODOS Foram utilizados 20 dentes molares superiores, armazenados individualmente em frascos de vidro numerados contendo solução de timol a 1% - Fórmula e Ação Farmácia, com o objetivo de hidratação. A seleção desses dentes concentrou-se na raiz mésio vestibular, que deveria apresentar integridade, estando livre de reabsorções interna, externa ou calcificações. Para isso, os dentes foram previamente radiografados no sentido vestíbulo lingual. Cada dente foi fixado ao filme radiográfico por uma porção de fita crepe, atentando para que a raiz mésio vestibular ficasse paralela à película. O tempo de exposição utilizado foi 1,0 segundo. Em seguida, os filmes seguiram o processamento normal de revelação e as radiografias foram distribuídas em cartelas radiográficas. Foram realizadas as cirurgias de acesso utilizando-se brocas esféricas de alta rotação tronco-cônicas e Endo Z. O preparo de entrada de canal foi realizado com o auxílio de brocas Gates Glidden n. 01 e 02 e largo de mesma numeração, acopladas ao contra-ângulo de micromotor com rotação moderada. A seguir, promoveu-se o esvaziamento dos canais radiculares com limas tipo K, marca Maillefer n.10, juntamente com hipoclorito de sódio 0,5% (Líquido de Dakin) acondicionado em seringa de plástico com cânula metálica de diâmetro fino. O limite de instrumentação para cada dente foi determinado introduzindo-se um instrumento no canal, até que se observasse a coincidência da ponta do instrumento com o forame apical. Desse comprimento, subtraiu-se 1mm, obtendo-se desse modo o limite de trabalho para cada dente. Após esses procedimentos prévios, os vinte dentes foram aleatoriamente divididos em dois grupos denominados Grupo I e Grupo II: no Grupo I empregou-se a técnica manual escalonada e no Grupo II, a técnica híbrida, as limas utilizadas foram as do tipo K n. 10 e 15 marca Maillefer e limas tipo Flexofile 1ª serie (15 40) 21mm marca Maillefer. No Grupo I; a instrumentação teve início após a sondagem com a lima tipo K n. 10, 21mm; o primeiro instrumento utilizado foi a lima tipo K n. 15, 21mm, seguida da série Flexofile 21mm de n.20 a 40, sempre com o cuidado em manter o comprimento real de trabalho. Já no Grupo II cuja técnica é híbrida, novamente a sondagem foi realizada com a lima tipo K n.10, 21mm e a instrumentação inicial foi manual com as limas tipo K n. 15, 21mm e tipo Flexofile de n.20 e 25 (lima memória); a seguir com o contra-ângulo acoplado ao micromotor Kavo em rotação reduzida, foram utilizadas as limas do sistema Profile 0.4 Maillefer de n. 20 a 35 recuando-se 3mm do CRT. Entre uma lima rotatória e outra se intercalou a lima manual memória 25. Findo o uso dos instrumentos rotatórios, retomou-se a lima memória 25 seguindo até o n.40. Em ambos os grupos manteve-se a patência do forame apical pelo uso de uma lima calibre 10, ultrapassando 1,0mm o forame apical após cada troca de instrumento. Durante toda a instrumentação utilizou-se como substâncias químicas auxiliares o creme Endo PTC Polidental, neutralizado pela solução de hipoclorito de sódio 0,5%. Por fim os condutos radiculares foram irrigados com EDTA T Fórmula & Ação Farmácia e aspirados com cânulas de calibres médio e fino, sendo secos com o auxílio de cones de papel absorvente de numeração correspondente à lima de preparo apical. 125

Volpato WM, Prokopowitsch I, Yamazaki AK, Cardoso LN, Carlos Filho, CU, Moura-Netto C. Análise comparativa do preparo químico Em uma placa de vidro lisa foi manipulado, com o auxílio de uma espátula flexível nº 24, o material de moldagem tipo silicona de condensação Silon C juntamente com o Silon F. A seguir, injetou-se o material de moldagem no interior de cada conduto radicular preparado, com o auxílio de uma seringa apropriada, com aspiração simultânea por meio de bomba a vácuo acoplada ao terço apical. Os dentes, com os canais preenchidos, foram imersos em solução de ácido clorídrico a 35% Manifarma Farmácia por aproximadamente 12 horas após a moldagem, e descalcificados durante um período de cerca de 96 horas. Após a descalcificação, obteve-se o molde do canal radicular preparado. Esses moldes foram imersos em soro fisiológico em vidros individuais e adequadamente numerados. Os moldes obtidos foram analisados com o auxílio de uma lente com 20 vezes de aumento. Essa análise foi realizada por um avaliador importandose, somente, na deformação do terço apical do molde, ou seja, se este apresentava-se cônico ou não. Tabela I Análise de Variância dos desvios apicais durante o uso das técnicas Escalonada e Híbrida mecânico-rotatória Foto I Grupo 1 (Ampliação 20x): molde com desvio apical, depois de realizada a técnica escalonada Foto II. Grupo 1 (Ampliação 20x): molde sem desvio apical, depois de realizada a técnica escalonada Teste de U de MANN-WHITNEY Valores de U: U(1): 50 U(2): 50 Valor Calculado de z: 0 Probabilidade de Igualdade: 50,00% Não-Significante, amostras iguais: (α > 0,05) RESULTADOS Apenas um dente de cada grupo apresentou desvio apical. As duas técnicas comparadas não apresentaram diferenças estatisticamente no que se refere ao desvio apical (p<0,05). As fotos, a seguir, mostram os moldes com e sem desvio de cada grupo. Foto III. Grupo 2 (Ampliação 20x): molde com desvio apical, depois de realizada a técnica mecânico-rotatória Profile 0.4 DISCUSSÃO O funcionamento do aparelho mastigatório é extremamente complexo, pois uma enorme variedade de estruturas está envolvida no processo de mastigação. Os sistemas ósseo, muscular e nervoso atuam para a obtenção de um equilíbrio funcional nas arcadas dentárias, efetivando o ato mastigatório e agindo na formação e estabilização de outros órgãos a eles relacionados. 126 Foto IV. Grupo 2 (Ampliação 20x): molde com desvio apical, depois de realizada a técnica mecânico-rotatória Profile 0.4

Sob o ponto de vista embriológico, o elemento dental forma-se a partir do ectoderma e do mesoderma: o primeiro é responsável pela formação da carapaça coronária representada pelo esmalte e, o segundo, pela dentina e pelo aparecimento da polpa dental que lhe assegura sensibilidade, nutrição e defesa. Porém as inúmeras agressões do meio externo, sofridas pela polpa, prejudicam sua sobrevida no interior da cavidade endodôntica. Perante os quadros inflamatórios e degenerativos da polpa, a eficiência do tratamento endodôntico oferece o respaldo para garantir a permanência do dente envolvido na arcada dentária. A evolução técnica e científica das últimas décadas favorecem o aparecimento de novas perspectivas quanto ao uso e escolha de instrumentos e manobras operatórias. O sucesso do preparo do canal radicular depende, de forma mais direta, das condições anatômicas do elemento dental, uma vez que as curvaturas são um obstáculo a ser vencido pelo profissional, que deverá demonstrar sua habilidade além de escolher e dominar adequadamente o instrumento e a técnica a ser utilizada. O preparo químico-cirúrgico, em dentes portadores de curvatura, representa uma das etapas mais importantes da terapia endodôntica, necessitando de cuidados redobrados na sua execução, a fim de alcançar o tão almejado sucesso. Findo o preparo do canal, obtida a modelagem adequada, alcança-se um satisfatório ajuste do material obturador às paredes do canal radicular, reforçando a condição de saneamento e desinfecção obtidos na fase de preparo químico-cirúrgico. A presença de curvatura prejudica o controle do instrumento pelo profissional devido ao efeito de alavanca desenvolvido pela região interna da parede da curvatura, aliado à perda da flexibilidade do instrumento, decorrente do aumento crescente do diâmetro das limas. Sob esse aspecto, torna-se de suma importância a ampliação das entradas dos canais com o intuito de suavizar o grau de curvatura, permitindo-se que o instrumento trabalhe de maneira mais uniforme, contribuindo para a prevenção de acidentes, tais como: a deformação e o transporte do forame e possíveis perfurações em nível de região apical. A análise criteriosa da técnica a ser utilizada, bem como a escolha do instrumento ideal constituem os fatores mais importantes a serem considerados quando do tratamento de dentes que possuem curvaturas. E sob esse aspecto, vale citar Abou-Rass et al. 1, que, em 1980, propuseram uma técnica de instrumentação que objetivava manter a integridade das paredes do canal radicular, obtendo maior segurança no preparo de canais curvos, em especial nas zonas de maior fragilidade e regiões de maior achatamento; denominada técnica da anticurvatura. Nesse tipo de preparo, um desgaste compensatório mais enérgico é realizado em direção oposta à curvatura e os terços médio e apical são instrumentados com procedimentos escalonados. Nesse estudo, os autores puderam mostrar que essa forma de preparo diminui os acidentes. Durante o decorrer de pesquisas de instrumentos endodônticos e técnicas de instrumentação, limas diferentes foram confrontadas, sendo que as limas Flexofile provocaram menor índice de desvio apical, quando comparadas às limas tipo K. CONCLUSÃO Perante exposto e conforme as condições experimentais estabelecidas, parece lícito concluir que : As técnicas de instrumentação propostas para canais curvos, escalonada e híbrida mecanizada, não apresentaram diferenças estatisticamente significantes, ao nível de 5% no que se refere à ocorrência de desvio apical. 127

1. Abou-Rass M, Jastrab RJ. The use of rotary instruments as auxiliary aids to root canal preparation of molars. J Endod 1982 Feb; 08(2): 78-82. 2. Bryant ST, Dummer PM, Pitonic C, Bonsha M, Moghal SA. Shaping ability of 04 and 06 taper Profile rotary nickel-titanium instruments in simulated root canals. Int Endod J 1999 Mai; 32(3): 155-64. 3. Prokopowitsch I, Caldeira CL, Andrade WB. Instrumentação Rotatória Apostila do Curso de especialização em Endodontia APCD-S.C.Sul-1999. 4. Thompson AS, Dummer PMH. Shaping ability of Profile 04 Taper Series 29 rotary nickel-titanium instruments in simulated root canals: part 1. Int Endod J 1997 Jan; 30(1): 01-7. REFERÊNCIAS 5. Thompson AS, Dummer PMH. Shaping ability of Profile 04 Taper Series 29 rotary nickel-titanium instruments in simulated root canals: Part 2. Int Endod J 1997 Jan; 30(1):08-15. 6. Thompson AS, Dummer PMH. Shaping ability of Quantec series 2000 rotary nickel-titanium instruments in simulated root canals: Part 1. Int Endod J 1998 July; 31(4): 259-67. 7. Zmener O, Banegas G. Comparison of three instrumentation techniques in the preparation of simulated curved root canals. Int Endod J 1996 Sept; 29(5): 315-19. Recebido em: 12/10/2004 Aceito em: 30/06/2005 128