ECONOMIA PETROLÍFERA: UMA NOVA CONFIGURAÇÃO DA DIVISÃO TERRITORIAL DO TRABALHO

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ECONOMIA PETROLÍFERA: UMA NOVA CONFIGURAÇÃO DA DIVISÃO TERRITORIAL DO TRABALHO NA BACIA DE CAMPOS * Denise Cunha Tavares Terra Elzira Lúcia de Oliveira Gustavo Henrique Naves Givisiez A partir do final dos anos 90 com a promulgação da Lei do Petróleo e do Decreto das Participações Governamentais, aliados ao crescimento acelerado da produção de petróleo na Bacia de Campos, houve mudanças significativas nas formas de uso do território fluminense. Nesse contexto, pode-se observar uma nova configuração da divisão territorial do trabalho no estado do Rio de Janeiro especialmente na Zona de Produção Principal da Bacia de Campos. As transformações territoriais alteraram significativamente o perfil da economia de alguns municípios e conferiu a Macaé, caráter de centro dinâmico regional. Como estratégia para analisar a distribuição do trabalho no espaço territorial da Bacia de Campos foi estimado o Quociente de Especialização Municipal segundo os setores de atividade econômica. Adicionalmente, tendo em conta a possível alteração das regras de rateio das rendas do petróleo ou o esgotamento das reservas levantou-se junto às administrações municipais as estratégias e prioridades em relação ao desenvolvimento ou a um planejamento de médio ou longo prazo. Entre os principais achados observou-se que a tradição agrícola ainda é representativa. A especialização na indústria, excluindo-se o subsetor de Petróleo e Gás, não é expressiva. Foi somente a partir da década de 80 que se observa especialização no segmento Petróleo e Gás, destacando, como esperado, o município de Macaé com os mais elevados quocientes. Os dados atestam, portanto, a relação funcional existente entre estes municípios em função da aglomeração que se formou em torno da indústria de exploração de Petróleo e Gás e confirmam a centralidade de Macaé. A criação de fundos de desenvolvimento pelos municípios ainda é incipiente e as informações levantadas sobre os fundos de Campos dos Goytacazes e Quissamã não são suficientes para apontar se os reais benefícios que são oferecidos às empresas instaladas têm sido revertidos em retorno para a economia dos municípios. Palavras-chave: mercado de trabalho; quociente de especialização; divisão territorial do trabalho; * Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010. Doutora em Geografia; Professora da Universidade Candido Mendes; e-mail: deniseterra@gmail.com Doutora em Demografia; Professora Universidade Federal Fluminense; e-mail: elziralucia@globo.com Doutor em Demografia; Professor da Universidade Federal Fluminense; e-mail: ghnaves@globo.com 1

ECONOMIA PETROLÍFERA: UMA NOVA CONFIGURAÇÃO DA DIVISÃO TERRITORIAL DO TRABALHO NA BACIA DE CAMPOS Denise Cunha Tavares Terra 1 Elzira Lúcia de Olveira 2 Gustavo Henrique Naves Givisiez 3 1 INTRODUÇÃO A partir de 1970 ocorrem transformações socioespaciais no Norte Fluminense que alteram a centralidade exercida até então pelo município de Campos dos Goytacazes. Apesar de muitas das transformações na configuração e no perfil demográfico serem decorrentes de um processo mais geral, que ocorre em todo o Brasil, percebe-se algumas especificidades no caso da região Norte Fluminense, atreladas direta ou indiretamente à crise da indústria sucroalcooleira e, posteriormente, ao início da atividade petrolífera. Nesse contexto, pode-se observar uma nova configuração da divisão territorial do trabalho no estado do Rio de Janeiro especialmente na Zona de Produção Principal da Bacia de Campos em virtude dos efeitos multiplicadores da economia petrolífera. As transformações territoriais alteraram significativamente o perfil da economia de alguns municípios e conferiu a Macaé, principal base logística do complexo de exploração e produção de petróleo e gás da Bacia de Campos, caráter de centro dinâmico regional. A partir do final dos anos 90 a flexibilização do monopólio da Petrobras por meio da promulgação da Lei do Petróleo e do Decreto das Participações Governamentais, aliados ao crescimento acelerado da produção de petróleo na Bacia de Campos, provocaram mudanças significativas nas formas de uso do território fluminense e na especialização dos municípios produtores de petróleo. Os empreendimentos passaram a se orientar em direção a padrões produtivos intensivos em tecnologia, demandando uma mão-de-obra mais qualificada ao mesmo tempo em que os municípios implementavam políticas ativas de atração do capital produtivo visando a instalação de empreendimentos em seus territórios. Os maciços investimentos na indústria petrolífera geram diversos efeitos sobre a organização do espaço regional e nacional, provocando alterações na funcionalidade e no desempenho produtivo dos centros urbanos, que se traduzem por mudanças de grande relevância nas estruturas territoriais. Cumpre ressaltar que a crescente e acelerada produção de petróleo na Bacia de Campos aliada à flexibilização do monopólio da Petrobras e ao pagamento de rendas petrolíferas aos municípios, tornaram os municípios dessa região aqueles de maior receita orçamentária per capita do país. O surgimento de novos municípios na década de 1990 é, em parte atribuída, aos recursos provenientes das rendas petrolíferas e contribui para essa reorganização do espaço. Cruz (2006) alerta para o fato de terem sido criados entre 1991 e 2000 mais seis novos municípios, desmembrados dos antigos, passando o total para vinte e dois, sendo que nove pertencendo ao Norte e treze ao Noroeste fluminense. 1 Doutora em Geografia; Professora da Universidade Candido Mendes; e-mail: deniseterra@gmail.com 2 Doutora em Demografia; Professora Universidade Federal Fluminense; e-mail: elziralucia@globo.com 3 Doutor em Demografia; Professor da Universidade Federal Fluminense; e-mail: ghnaves@globo.com 2

No presente artigo, buscou-se investigar os efeitos da economia petrolífera na configuração da divisão territorial do trabalho dos municípios pertencentes à Zona de Produção Principal da Bacia de Campos. Para isso, inicialmente, procedeu-se uma análise descritiva da regionalização oficial, adotada pelo IBGE e por órgãos oficiais, ponto de análise freqüente em estudos aplicados à região. Concomitantemente a essa análise espacial, descreve-se as principais alterações na distribuição da população, nas taxas de urbanização e nos fluxos migratórios observados para a região. Em um segundo momento este artigo estima quocientes de especialização municipal dos municípios dessa região, como forma de aprofundar as discussões sobre as principais transformações ocorridas na especialização dos municípios selecionados, segundo os setores de atividade econômica, indicando para cada município as suas principais especializações.. As principais fontes de dados utilizadas nesse estudo referem-se aos Censos Demográficos Brasileiros de 1970 a 2000. Por fim, diante do debate maior acerca do novo marco regulatório para o setor de exploração e produção de petróleo e gás no país, foi feito levantamento, junto às administrações municipais, das estratégias e prioridades em relação ao desenvolvimento ou a um planejamento de médio ou longo prazo. 2 ÁREA DE ESTUDO Até 1970 o Norte Fluminense era formado por três microrregiões: a açucareira de Campos, a de Itaperuna e a de Miracema, num total de 14 municípios. A denominação de Norte Fluminense só foi reconhecida pelo IBGE no Censo Agropecuário de 1975, apesar de já ser utilizada freqüentemente pelos atores locais e externos das diversas escalas político-administrativas. Em 1980 o IBGE utiliza a denominação de mesorregião Norte Fluminense para essa área, mantendo as mesmas divisões de microrregiões anteriores. Em 1987 ocorre o desmembramento do Noroeste fluminense, que aparece no Censo de 1991 como uma nova mesorregião, contemplando as microrregiões de Itaperuna e de Santo Antônio de Pádua, totalizando 10 municípios. FIGURA 1: Municípios que compõem a OMPETRO Fonte: IBGE (2005) 3

A antiga microrregião açucareira de Campos perde esta denominação, a partir da década de 1990, passando a ser chamada de microrregião de Campos dos Goytacazes; e o município de Macaé, tornando-se, ao lado daquela, um dos dois pólos microrrregionais do novo Norte Fluminense. (CRUZ, 2006, p. 36) Neste sentido, passam a ser reconhecidos como pólos microrregionais pelo Censo de 1991 tanto Macaé, devido à sua condição de sede das atividades de apoio à produção e exploração de petróleo na Bacia de Campos, como Santo Antônio de Pádua que, além da tradição cafeeira, vinha se destacando no setor de indústria extrativa de rochas ornamentais, ganhando centralidade na mesorregião Noroeste Fluminense. As diferentes configurações da região Norte Fluminense, após a década de 1970, segundo Cruz (2006, p. 38), (...) foram determinadas fortemente pela dinâmica socioeconômica, material e simbólica, que produziu o território de referência para a construção e reconhecimento deste espaço social como uma região e, ao mesmo tempo, como uma região-problema. Os elementos que produziram o Norte Fluminense como região-problema, na sua dimensão mais remota, começaram a tomar corpo provavelmente na primeira metade do século XX, com a crise da lavoura cafeeira e a crescente perda relativa de importância da agroindústria açucareira regional no cenário nacional, bem como com a expansão das relações de produção capitalistas no campo. Até então, o Norte Fluminense possuía uma economia diversificada e bastante representativa em termos estaduais e nacionais. O pagamento de royalties aos municípios considerados produtores de petróleo 4 e a acelerada produção de petróleo na Bacia de Campos ensejam a criação da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo e Gás e Limítrofes da Zona de Produção Principal da Bacia de Campos OMPETRO. Os municípios que constituíram a Ompetro no seu ato de criação foram: Armação de Búzios, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras e São João da Barra. Na concepção de Egler e Rio (2004), a formação da OMPETRO representa (...) a busca por um tipo de representação e de controle das relações com o ambiente, pelo fato de que a OMPETRO emerge de um tecido social e econômico no qual os agentes possuem uma desigual capacidade de resposta, intervenção e investimento. Como organização de porte regional, a OMPETRO pode, a médio prazo, impor-se como articuladora de ações em escalas mais amplas. Ainda com um recorte setorial esse tipo de organização poderá impor-se como referência de um território produtivo ( EGLER e RIO, 2004, p.81) Percebe-se que esse conjunto de municípios não coincide com a região de governo denominada de Norte Fluminense, cujo recorte tomava como referência a produção 4 Os municípios produtores de petróleo do Rio de Janeiro e que pertencem a Zona de Produção Principal da Bacia de Campos são: Armação de Búzios, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São João da Barra, Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Angra dos Reis, Niterói. 4

sucro-alcooleira. A nova referência agora, e que passa a redefenir as alianças locais, excluindo os municípios interioranos e agregando os litorâneos, é a definição brasileira de município produtor de petróleo, ou seja, confrontante com os poços de exploração e produção de petróleo. Ficam de fora desse novo recorte regional os municípios de São Francisco do Itabapoana, Cardoso Moreira, Conceição de Macabu e São Fidélis que pertencem a Região Norte Fluminense. Os municípios que se agregam são os de Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Cabo Frio e Búzios, pertencentes à Região dos Lagos. 2.1 Rendas Petrolíferas As regras de rateio das rendas petrolíferas no Brasil priorizam mais a proximidade física ou a confrontação com as áreas de exploração e produção de petróleo na plataforma continental do que os reais impactos territoriais da indústria petrolífera. Essas particularidades fizeram a região da Bacia de Campos, que responde hoje por mais de 80% da produção de petróleo brasileira, transformar-se no novo eldorado, com municípios que apresentam as maiores receitas orçamentárias per capita do país. A Tabela 5 evidencia tanto a importância em termos absolutos, quanto a participação relativa dos municípios do Estado do Rio de Janeiro e, mais especificamente, dos municípios pertencentes à OMPETRO, na divisão das rendas petrolíferas destinadas, diretamente 5, ao conjunto dos municípios beneficiários em 2009. Note-se que os treze municípios da OMPETRO receberam mais de 60% de todo o volume de rendas petrolíferas distribuídas diretamente para um conjunto de 933 municípios. Rigorosamente, o conjunto dos 5562 municípios brasileiros recebe royalties, indiretamente, através do Fundo Especial que arrecada cerca de 8% dos royalties e os redistribui para a totalidade dos estados e municípios, de acordo, respectivamente, com as regras de rateio dos Fundos de Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios. Contudo, diretamente, em função das regras de rateio dos royalties, 933 municípios foram beneficiados por estas receitas em 2009. As rendas petrolíferas, para os treze municípios em análise, representaram fatias importantes das suas receitas orçamentárias. Além disso, é preciso alertar que a participação destas rendas deve ser também acrescida dos substanciais recursos da cota parte de ICMS que estes municípios recebem, em função das regras de rateio deste último tributo 6. Veja que somente o município de Campos dos Goytacazes recebeu em 2009, 25,69% do total dos recursos e Macaé recebeu 10%. Municípios como São João da Barra e Quissamã, apesar de receber, relativamente aos maiores recebedores, percentual menor, em virtude do reduzido contingente populacional, são grandes recebedores per capita (Tabela 1). No entanto, apesar de a atividade petrolífera ter beneficiado estes municípios com uma substancial elevação de suas receitas orçamentárias, esta exerceu muito pouca influência na divisão territorial do trabalho. As mudanças demográficas ocorridas na região, em virtude das atividades petrolíferas e parapetrolíferas, foi bem mais difuso espacialmente 5 Utiliza-se o termo diretamente para excluir deste cômputo as rendas petrolíferas distribuídas (indiretamente) pelo Fundo Especial ao conjunto dos municípios brasileiros. 6 Para análise sobre a importância da cota parte do ICMS, ver Serra (2005). 5

do que os impactos sobre a estrutura produtiva, restringindo os efeitos desencadeadores, tanto intersetoriais como espaciais, da atividade petrolífera na região TABELA 1 DISTRIBUIÇÃO DAS RENDAS PETROLÍFERAS SEGUNDO MUNICÍPIOS SELECIONADOS - 2009 Rendas Petrolíferas (1000 R$) Unidade Territorial Total Participações Percentual sobre o total de Royalties Especiais Total recursos Brasil 933 2.688.666 963.705 3.652.371 100,00 Estado do Rio de Janeiro 87 1.872.020 906.393 2.778.413 76,07 OMPETRO 13 1.342.652 906.171 2.248.823 61,57 Municípios da OMPETRO Municípios beneficiados Rendas Petrolíferas (1000 R$) Percentual sobre o total de Participações Royalties Total recursos Especiais Campos dos Goytacazes 419.628 518.829 938.457 25,69 Macaé 294.558 70.689 365.247 10,00 Rio das Ostras 117.771 134.452 252.223 6,91 São João da Barra 73.127 95.201 168.328 4,61 Cabo Frio 95.662 38.115 133.777 3,66 Quissamã 65.922 25.004 90.926 2,49 Angra dos Reis 66.102 66.102 1,81 Casimiro de Abreu 39.162 17.327 56.489 1,55 Rio de Janeiro 44.719 44.719 1,22 Armação dos Búzios 36.188 5.709 41.897 1,15 Duque de Caxias 33.957 33.957 0,93 Niterói 33.957 33.957 0,93 Carapebus 21.899 845 22.744 0,62 Fonte: ANP (www.anp.gov.br) 2.2 Distribuição espacial da população O município de Campos dos Goytacazes é o maior município do Norte Fluminense, com área de 4.040,6 km2, que representa 41,4% do território da região, seguido pelo município de Macaé com 12,5%, São Francisco do Itabapoana com 11,5% e São Fidélis com 10,6%. (Tabela 2) A disparidade é ainda maior quando se observam os dados demográficos. Há uma significativa desigualdade na distribuição da população entre os municípios da região. Campos dos Goytacazes responde por 58,2% da população da região em 2000, seguido por Macaé com 19%. As maiores densidades demográficas ocorrem em Macaé e Campos dos Goytacazes, municípios pólo das microrregiões do Norte Fluminense. Os demais municípios são de pequeno porte e baixa densidade demográfica. 6

TABELA 2 ÁREA TERRITORIAL DO NORTE FLUMINENSE E DENSIDADE DEMOGRÁFICA (2000) Norte Fluminense Área % População % Densidade demográfica Campos dos Goytacazes 4.040,60 41,4 406.989 58,2 100,7 Carapebus 310,6 3,2 8.666 1,2 34,5 Cardoso Moreira 517,2 5,3 12.595 1,8 24,3 Conceição de Macabu 388,6 4,0 18.782 2,7 47,1 Macaé 1.219,80 12,5 132.461 19 107,8 Quissamã 724,2 7,4 13.674 2,0 19,2 São Fidélis 1.035,60 10,6 36.789 5,3 35,5 São João da Barra 457,8 4,7 27.682 4,0 60,3 São Francisco de Itabapoana 1.122,30 11,5 41.145 5,9 36,7 Total da região 9.767,00 100,0 698.783 100 71,5 Fonte: Censo Demográfico do IBGE - 2000 Durante a década de 70 o crescimento populacional foi baixo e negativo nos municípios em análise em decorrência do esvaziamento econômico da região decorrente da crise da agroindústria sucroalcooleira. Durante a década de 80, somente Macaé apresenta um vigoroso crescimento populacional em virtude da instalação da indústria do Petróleo na região, na segunda metade da década de 70. Também impulsionada pela economia do petróleo, a partir da década de 90, verifica-se o crescimento significativo da população dos municípios de Macaé, Quissamã e São João da Barra (Tabela 3). TABELA 3 EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DO NORTE FLUMINENSE População Taxa de crescimento exponencial Município 1970/ 1980/ 1991/ 1970/ 1970 1980 1991 2000 1980 1991 2000 2000 Campos 287.733 320.868 376.290 406.279 1,09 1,45 0,85 1,15 Cardoso Moreira 1 18.130 14.728 12.819 12.579-2,08-1,26-0,21-1,22 São Fidélis 35.384 34.976 34.581 36.774-0,12-0,10 0,68 0,13 São Francisco. 2 40.010 35.932 38.714 41.046-1,08 0,68 0,65 0,09 São João da Barra 15.837 18.665 20.847 27.503 1,64 1,01 3,08 1,84 Macaé 47.882 59.397 93.657 131.550 2,16 4,14 3,77 3,37 Quissamã 3 9.996 9.620 10.467 13.668-0,38 0,77 2,96 1,04 Carapebus 4 8.226 6.834 7.238 8.651-1,85 0,52 1,98 0,17 Conc. de Macabu 11.739 13.624 16.963 18.706 1,49 1,99 1,09 1,55 Total da região 474.937 514.644 611.576 696.756 0,80 1,57 1,45 1,28 Notas: 1).Cardoso Moreira - ano de criação: 1989. Desmembrado do município de Campos. 2) São Francisco do Itabapoana foi desmembrado do município de São João da Barra, em 1997; 3). Quissamã foi desmembrado do município de Macaé, em 1989 4). Carapebus foi desmembrado do município de Macaé, em 1997 Fonte: Censos Demográficos do IBGE. Em conseqüência da dinâmica da indústria do petróleo e do esgotamento da economia sucroalcooleira, esses municípios, alteram de forma significativa a distribuição da população nos seus territórios. À exceção de Macaé, Campos e Conceição de Macabu, cujas taxas de urbanização em 1970, eram superior à média do conjunto dos municípios, os demais ainda eram predominantemente rurais. Contudo em 2000, ao longo do período todos têm sua taxa de urbanização aumentada de forma contínua, chegando em 2000 com taxas de urbanização elevadas. De 1970 para 2000, o Norte Fluminense perdeu, relativamente, mais de 50% da população rural e mais que duplicou a população urbana. 7

Os dados da Tabela 4 facilitam a percepção das transformações ocorridas e o processo diferenciado de urbanização no quadro intra-regional. Observa-se que o município de Macaé tornou-se quase que exclusivamente urbano, alcançando uma taxa de urbanização, em 2000, de 95,11%. Da mesma forma comportaram-se os novos municípios desmembrados de Macaé: Quissamã e Carapebus. Por outro lado, São Francisco do Itabapoana apresenta uma taxa de urbanização ainda bem inferior à média regional, com 46,65%. TABELA 4 TAXA DE URBANIZAÇÃO - MUNICÍPIOS DA REGIÃO NORTE FLUMINENSE - 1970 A 2000 (%) Municípios 1970 1980 1991* 2000 Campos 58,85 60,89 84,5 89,47 Cardoso Moreira 1 24,82 27,84 52,16 63,83 São Fidélis 33,57 43,55 64,08 72,1 São Franc. Itab. 2 6,88 26,32 39,15 46,65 São João da Barra 44,5 61,93 70,2 70,72 Macaé 73,85 82,4 91,74 95,11 Quissamã 3 28,24 33,68 42,13 56,33 Carapebus 4 28,94 43,42 47,2 79,33 Conc. de Macabu 63,16 70,92 82,43 88,12 Total da região 51,26 58,4 79,2 85,08 Observações: 1). Cardoso Moreira - ano de criação: 1989. Desmembrado do município de Campos. 2) São Francisco do Itabapoana foi desmembrado do município de São João da Barra, em 1997; 3). Quissamã foi desmembrado do município de Macaé, em 1989 4). Carapebus foi desmembrado do município de Macaé, em 1997 Fonte: Censos Demográficos do IBGE. 2.3 Migração Em estudo sobre a migração na região, Passos e Simões (2004) identificam um processo de reorganização espacial da população no território fluminense e reconhecem que o dinamismo da indústria petrolífera tem exercido uma atração para a sua área de influência de populações com perfis diferenciados e com inserções também distintas no mercado de trabalho. A tabela 5 apresenta além de Saldos Migratórios para municípios da região, a Taxa Líquida de Emigração, a Taxa Líquida de Imigração e o índice de eficácia migratória, sendo que as taxas líquidas foram estimadas com base na população residente em 2000 na localidade. O índice de eficácia migratória, por sua vez, estima o poder de atração e expulsão de uma determinada área, variando de -1 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o poder de atrair pessoas para esta localidade. Quanto mais próximo de -1, maior o poder de expulsão essa localidade. Valores próximos a zero podem significar alta circularidade. Quanto à origem dos fluxos, a grande contribuição, segundo os autores, é a Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) que obteve um saldo migratório negativo de cerca de 15.000 pessoas, segundo dados do Censo 2000. A Região das Baixadas Litorâneas recebe população tanto da RMRJ quanto da Região Norte-Fluminense, obtendo um saldo positivo de 40.000 pessoas. A Região Norte-Fluminense obteve um saldo migratório negativo de 8.000 pessoas, mesmo tendo os municípios de Macaé e Quissamã, contíguo a Macaé, obtido saldos positivos, conforme se observa pela análise da tabela 4. O Município de Rio das Ostras, 8

localizado na Região das Baixadas Litorâneas vizinho a Macaé, obtiveram um saldo positivo de 7000 pessoas, revelando que o dinamismo da atividade petrolífera e indicando a formação de um eixo integrado entre as regiões das Baixadas Litorâneas e Norte-Fluminense. Isso revelaria que os municípios da região Norte Fluminense, à exceção de Macaé e Quissamã, provavelmente não tem foram, na década de 1990, destino dos migrantes e seriam mais fielmente caracterizados como municípios expulsores de população que cujo destino seria os municípios ligados às atividades de E-P. Essa observação é ainda ressaltada pelo indicador eficácia migratório dos municípios, apresentado na tabela 4. A observação dos saldos migratórios demonstra que as duas maiores cidades em termos populacionais do Norte Fluminense vivem realidades muito diferentes. Enquanto Campos dos Goytacazes obteve um saldo negativo de -9.289, o menor da região, o município de Macaé obteve o maior, com um saldo positivo de 6.529. Isto expressa como este último município[macaé] tem registrado uma maior quantidade de entrada do que de saída de pessoas. Além disso, expressa também como as atividades desenvolvidas no setor petrolífero afetaram diferencialmente os municípios. (CARVALHO e SILVA, 2006, p. 159) O recente processo migratório para Macaé já tem suscitado estudos de diversos pesquisadores como Araújo (2005) e Totti e Pontes (2005) no intuito de melhor compreender quem são estes imigrantes, sua origem, nível de instrução, ocupação e local de moradia e constatam a atração de trabalhadores com os mais diferenciados níveis de qualificação, o que vem gerando sérios problemas ao município como se constata nos trechos selecionados a seguir: Aqueles migrantes com capacitação para trabalhar no ramo do petróleo ou nas atividades diretamente ligadas a ele conseguem emprego, recebem altos salários e estimulam um processo de especulação imobiliária no vetor de expansão sul do município, enquanto aqueles migrantes desqualificados, em sua maioria ficam subempregados e engrossam os bolsões de pobreza que crescem em ritmo acelerado no setor de expansão norte, principalmente. O crescimento da malha urbana da cidade baseada na expansão destes dois vetores principais, norte e sul, mostram claramente um processo de segregação espacial. (ARAÚJO, 2005, p. 6) (...) Em primeiro lugar, devemos registrar que a expectativa criada quanto ao número de empregos ofertados é muito maior do que a realidade, pois este tipo de atividade [petrolífera] se caracteriza, cada vez mais, pelo uso de tecnologia de ponta e pela mecanização das tarefas. Correlatamente, o grau de exigência quanto à qualidade da mão-de-obra vai se tornando cada vez maior, selecionando com rigor os trabalhadores. Da conjunção destes dois fatores, resulta que uma parte considerável das pessoas que procuram emprego na cidade [Macaé] não consiga se inserir no mercado de trabalho, ou o faça em condições de informalidade. (TOTTI e PONTES, 2005, p. 9) 9

TABELA 4 SALDOS E TAXAS LÍQUIDAS DE EMIGRAÇÃO E IMIGRAÇÃO E ÍNDICE DE EFICÁCIA MIGRATÓRIA Unidade Territorial Emigração Imigração Taxa Taxa Regiões de Governo e Municípios Absoluta Líquida Absoluta Líquida (por mil) (por mil) Saldo Migratório Eficácia Regiões Norte Fluminense 37.199 59 28.929 46-8.270-0,13 Campos dos Goytacazes 17.647 47 8.358 23-9.289-0,36 Carapebus 665 87 715 93 50 0,04 Cardoso Moreira 931 79 632 55-299 -0,19 Conceição de Macabu 7.045 312 1.380 82-5.665-0,67 Macaé 5.043 47 11.572 102 6.529 0,39 Quissamã 577 49 948 77 371 0,24 São Fidélis 2.805 81 1.752 52-1.053-0,23 São Francisco de Itabapoana 727 20 1.687 45 960 0,4 São João da Barra 1.759 71 1.885 75 126 0,03 Regiões das Baixadas Litorâneas 26.963 60 67.831 128 40.868 0,43 Araruama 3.499 53 10.125 138 6.626 0,49 Armação de Búzios 826 63 2.741 182 1.915 0,54 Arraial do Cabo 1.831 89 2.477 116 646 0,15 Cabo Frio 6.835 68 15.902 146 9.067 0,4 Cachoeiras de Macacu 2.696 63 3.082 71 386 0,07 Casimiro de Abreu 1.258 70 2.549 133 1.291 0,34 Aguba Grande 586 56 3.390 256 2.804 0,71 Rio Bonito 3.328 73 2.760 33-568 -0,09 Rio das Ostras 1.037 42 7.974 254 6.937 0,77 São Pedro da Aldeia 1.977 40 7.713 140 5.736 0,59 Saquarema 1.858 45 7.152 155 5.294 0,59 Silva Jardim 1.232 69 1.966 105 734 0,23 Fonte: Passos e Simões (2004, p. 5). 2.4 Migração Pendular De acordo com o Dicionário Demográfico Multilíngüe, migração pendular, como é comumente denominada no Brasil e em diversos países, está relacionada com deslocamentos com periodicidade definida entre um dia ou uma semana, de trabalhadores entre seu lugar de residência e o local de trabalho. Geralmente associado à expansão urbana e especulação imobiliária dos centros de atração populacional em função do mercado de trabalho, alguns autores associam o fenômeno à reprodução da pobreza, sob o pressuposto de que o crescimento da mancha urbana associada ao alto preço da terra faz com que os trabalhadores se desloquem em busca de locais mais baratos para moradia. Entretanto, pode-se também supor que a demanda por melhor qualidade de vida seja determinante da escolha do local de moradia por segmentos populacionais de renda média e alta. Por outro lado a mobilidade pendular está associada à integração e interdependência funcional que caracteriza as regiões conurbadas, como as metropolitanas e aglomerados especializados em determinada atividade econômica. Desse modo, pode-se dizer que o crescimento da mobilidade pendular ocorreu mais em função da integração metropolitana do que da dispersão espacial das atividades, uma vez que esse processo possibilitou uma maior facilidade de deslocamento dos contingentes de mão-de-obra para seus destinos de trabalho (SOBREIRA, 2005). 10

Este é um caso que se aplica aos municípios da Área de Abrangência Direta da Bacia de Campos, ou seja, Campos dos Goytacazes, Macaé, Rio das Ostras, Quissamã e Casimiro de Abreu. A proximidade territorial e a dependência funcional tornam os movimentos pendulares presentes na região dissociados da reprodução da pobreza. Nesses casos a pobreza está mais relacionada à migração de longa distância mal sucedida, principalmente devido a características de qualificação para o mercado de trabalho. Esses processos migratórios geram bolsões de pobreza nas periferias produzindo enormes aglomerados subnormais. No Brasil, a partir do Censo Demográfico de 1970 é possível mensurar os fluxos pendulares, entretanto para melhor comparabilidade do fenômeno decidiu-se trabalhar com os censos de 1980 e 2000, pois em 1991 essa questão não foi incluída. Os deslocamentos pendulares em 2000 são significativamente superiores aos verificados em 1980, na Área de Abrangência Direta da Bacia de Campos, o que é esperado dado o aumento constante da produção e adensamento da cadeia produtiva do petróleo. Foi em Casimiro de Abreu onde se verificou o maior percentual de deslocamento da mão-deobra em 2000 (14,64%), seguido por Quissamã com 13,91% e Rio das Ostras com 10,79%. O percentual de deslocamento da mão-de-obra de Campos dos Goytacazes foi de 3,76% e por fim, Macaé, que é lócus privilegiado de oferta de trabalho, apresenta o menor percentual de deslocamento 1,85%. Considerando a totalidade dos municípios, ou seja, os da Área de Abrangência Direta e Indireta da Bacia de Campos, não se percebem grandes variações entre 1980 e 2000, possivelmente pelo peso dos deslocamentos entre os municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O percentual máximo observado em 2000 foi de 56,48% da população ocupada do município de Japeri e o menor foi de 1,52% no município do Rio de Janeiro que é para onde se deslocam a maioria dos fluxos. TABELA 5 PERCENTUAL DA FORÇA DE TRABALHO QUE DESLOCA PARA TRABALHAR, MUNICÍPIOS SELECIONADOS, 1980-2000 Área de Abrangência Direta 1980 2000 Campos dos Goytacazes 1,53 3,76 Casimiro de Abreu 3,15 14,64 Macaé 2,51 1,85 Quissamã 13,91 Rio das Ostras 10,79 Máximo 3,15 14,64 Mínimo 1,53 1,85 Média 2,39 8,99 Desvio Padrão 0,81 5,87 Medidas de posição Área de Abrangência Direta e Indireta Máximo 68,55 56,48 Mínimo 1,05 1,52 Média 13,71 16,01 Desvio Padrão 16,98 13,18 Fonte: Elaborado a partir dos Microdados dos Censos Demográficos de 1980 e 2000 IBGE Na análise dos fluxos entre cinco municípios da Área de Abrangência Direta da Bacia de Campos por motivo de trabalho ou estudo, a tabela 6 apresenta a matriz de residência por local de trabalho ou estudo em números absolutos e percentuais. Entretanto, para melhor caracterizar os fluxos, eliminaram-se aqueles residentes que trabalham ou estudam no mesmo município. 11

Verifica-se que o total de residentes dos cinco municípios, da Área de Abrangência Direta, que realizam deslocamentos por motivo de trabalho ou estudo perfaz 12350 pessoas e os maiores fluxos são para fora da Área de Abrangência Direta e para Macaé, 39,85% e 30,21%, respectivamente. Note-se que a maior proporção de migrantes é de Campos dos Goytacazes, com 49,87% dos migrantes pendulares e Rio das Ostras com 15,5%; Macaé e Casimiro de Abreu estão representados por 14,41% e 14,11% respectivamente. O destino de 24,01% dos 49,87% de Campos de dirigem para Macaé e 21,49% para fora da Área de Abrangência. À exceção de Macaé cujo maior fluxo ocorre para fora da Área de Abrangência Direta, apenas Casimiro de Abreu não apresenta o maior fluxo com destino a Macaé e sim, para Rio das Ostras (6,7%). Esse fluxo, possivelmente ocorre em função de prestadores de serviços domésticos, pois Rio das Ostras tem atraído muitos moradores em função da qualidade de vida e, dessa forma, tem funcionado como cidade dormitório de Macaé. O percentual dos que se deslocam de Rio das Ostras para Macaé é de 9,46% de um total de 15,5%, ou seja, pouco mais de 5% não se destinam a Macaé. Os dados atestam a relação funcional existente entre estes municípios em função da concentração da aglomeração que se formou em torno da indústria de exploração de petróleo e gás e confirma a centralidade de Macaé como principal pólo de atração de mão-de-obra, sendo também o município mais impactado pelas pressões sobre a demanda de diversos serviços que esses deslocamentos provocam, principalmente sobre a malha viária. TABELA 6 TABELA DE CONTINGÊNCIA LOCAL DE RESIDÊNCIA POR LOCAL DE TRABALHO OU ESTUDO ÁREA DE ABRANGÊNCIA DIRETA DA BACIA DE CAMPOS -2000 Local de trabalho ou estudo Local de Residência Campos Casimiro Macaé Quissamã R. Ostras Total For a do RJ 3,21 0,40 0,91 0,05 0,30 4,87 Fora da Área de Abrang.Direta 21,49 4,30 8,27 1,86 3,94 39,85 Campos dos Goytacazes 0,00 0,07 3,24 0,88 0,59 4,79 Casimiro de Abreu 0,00 0,00 0,24 0,00 1,21 1,46 Macaé 24,01 2,53 0,00 3,21 9,46 39,21 Quissamã 0,81 0,11 0,53 0,00 0,00 1,44 Rio das Ostras 0,31 6,70 0,90 0,10 0,00 8,01 Outros Países 0,05 0,00 0,33 0,00 0,00 0,38 Total 49,87 14,11 14,41 6,11 15,50 100,00 Fonte: Elaborado a partir dos Microdados dos Censos Demográficos de 2000 IBGE 3 INDICADOR DE ESPECIALIZAÇÃO MUNICIPAL O indicador de especialização municipal teve como fonte de dados os microdados dos Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000. Desde já se esclarece que a coleta de dados do Censo é domiciliar, assim, os indicadores calculados por meio desses dados indicam o grau de especialização do ponto de vista da mão-de-obra ocupada e não do ponto de vista do estabelecimento industrial, comercial ou de serviços. Dessa forma é possível ocorrer em determinados municípios algum nível de especialização não condizente com os estabelecimentos mais significativos daquela localidade. Isso ocorre quando o município é o privilegiado para moradia dos trabalhadores, mas a atividade laboral é exercida em outro município e o trabalhador, neste caso, se desloca diariamente para o trabalho, num movimento pendular. 12

Para fins de análise trabalhou-se com os ocupados nos setores: Agrícola, Indústria (de transformação e de extração mineral, exceto Petróleo e Gás), Petróleo e Gás, Construção civil, Serviços e Administração Pública (inclusive segurança). Como estratégia metodológica para analisar a distribuição do trabalho no espaço territorial dos municípios selecionados da Zona de Produção Principal estimou-se o Quociente de Especialização Regional (QERij) segundo os setores de atividade econômica citados. Para tal, adaptou-se para a citada área geográfica o indicador utilizado em Kon (2002). Dessa forma o quociente é a razão entre a participação do emprego no setor i no município j em relação ao emprego total do município j e a participação do emprego do setor i em relação ao total de emprego na totalidade dos municípios recebedores de rendas petrolíferas do estado do Rio de Janeiro. Assim, o Quociente de Especialização Regional (QERij) denominar-se-á, após as adaptações para essa área de abrangência de Quociente de Especialização Municipal (QEMij), obtido por meio da fórmula seguinte. QEM IJ X X ij j X i X QEM Quociente de especialização municipal (setor i; município j) ij IJ X Número de ocupados no setor i no município j. X Número de ocupados no município j. j X Número de ocupados no setor i. i X Número de ocupados na totalidade dos municípios recebedores de rendas petrolíferas do estado do Rio de Janeiro. O quociente de valor igual à unidade representa a concentração média dos trabalhadores da área em estudo no setor analisado. Dessa forma, municípios que apresentam setores com quocientes superiores à unidade revelam uma concentração de trabalhadores naquele setor acima da média regional, ou seja, o município apresenta alguma especialização no setor estudado. De maneira análoga, municípios que apresentam quocientes inferiores à unidade são pouco especializados naquele setor, já que, apresentam concentração de trabalhadores abaixo da média regional. 3.1 Análise dos Quocientes de Especialização Municipal Os resultados foram apresentados em tabelas com resumo do indicador em cinco municípios selecionados em função da exposição direta aos efeitos da indústria petrolífera, bem como medidas de posição para os demais municípios do estado do Rio de Janeiro recebedores de royalties e participações especiais. Conforme se verifica na Tabela 7, no setor agrícola os níveis de especialização são bastante significativos, superando em até 27 vezes a unidade, em 2000, quando se considera a totalidade dos recebedores de royalties em decorrência da produção da Bacia de Campos. Quando se analisam apenas os municípios selecionados o valor máximo do indicador é 8,447 em 1991, valor que é influenciado diretamente pelo município de Quissamã. Entre esses municípios Macaé e Rio das Ostras são os que apresentam os menores níveis do indicador em 2000, sendo que Macaé apresentou 13

consistente queda ao longo do período, refletindo a presença de setores mais especializados, que, neste caso, é o de Exploração e Produção de Petróleo e Gás, como se verá no indicador próprio. Entretanto os indicadores de todos os municípios apresentam valores superiores à unidade refletindo ainda a presença de atividades agrícolas na região. O indicador de Rio das Ostras somente é apresentado em 2000, pelo fato de o Distrito, antes pertencente ao município de Casimiro de Abreu, ter obtido sua emancipação política. Rio das Ostras não tem tradição de atividade agrícola, apresenta vocação para o turismo e funciona como cidade dormitório para os trabalhadores de Macaé. TABELA 7 QUOCIENTES DE ESPECIALIZAÇÃO MUNICIPAL ZONA DE PRODUÇÃO PRINCIPAL E MEDIDAS DE POSIÇÃO 1970-2000 - AGRÍCOLA Municípios selecionados da Zona de Produção Principal Agrícola da Bacia de Campos 1970 1980 1991 2000 Campos dos Goytacazes 4,51 5,13 3,85 3,08 Casimiro de Abreu 5,87 7,22 3,89 3,30 Macaé 4,38 4,98 2,99 1,91 Quissamã - - 8,45 7,30 Rio das Ostras 1,43 Medidas de Posição - Municípios selecionados da Zona de Produção Principal Bacia de Campos Máximo 5,87 7,22 8,45 7,30 Mínimo 4,38 4,98 2,99 1,43 Média 4,92 5,78 4,79 3,40 Medidas de Posição Totalidade dos municípios recebedores de rendas petrolíferas RJ Máximo 9,96 18,13 18,23 27,23 Mínimo 0,03 0,02 0,05 0,02 Média 4,83 6,10 5,29 5,20 Fonte: Elaborado a partir dos Microdados dos Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 -IBGE Ao contrário do que se verificou em relação à especialização no setor agrícola, a Tabela 8 revela que o maior Quociente de Especialização na indústria foi de 2,97 em 1970 quando se observam todos os municípios recebedores dos recursos no estado do Rio de Janeiro. Quando se analisam os indicadores dos municípios selecionados, nota-se que estes superam a unidade, somente a partir de 1991, refletindo o Quociente do município de Quissamã e de Campos dos Goytacazes em 2000. Essa pequena especialização no setor industrial está refletindo, em maior parte, a indústria sucroalcooleira presente na região, ainda que em fase de contração. 14

TABELA 8 QUOCIENTES DE ESPECIALIZAÇÃO MUNICIPAL ZONA DE PRODUÇÃO PRINCIPAL E MEDIDAS DE POSIÇÃO 1970-2000 - INDÚSTRIA Municípios selecionados da Zona de Produção Principal Indústria da Bacia de Campos 1970 1980 1991 2000 Campos dos Goytacazes 0,66 0,81 0,86 1,10 Casimiro de Abreu 0,10 0,21 0,40 0,51 Macaé 0,47 0,61 0,54 0,66 Quissamã - - 1,05 1,30 Rio das Ostras - - - 0,50 Medidas de Posição - Municípios selecionados da Zona de Produção Principal Bacia de Campos Máximo 0,66 0,81 1,05 1,30 Mínimo 0,10 0,21 0,40 0,50 Média 0,41 0,54 0,71 0,82 Medidas de Posição Totalidade dos municípios recebedores de rendas petrolíferas RJ Máximo 2,97 1,90 1,90 2,19 Mínimo 0,03 0,06 0,09 0,15 Média 0,74 0,72 0,78 0,89 Fonte: Elaborado a partir dos Microdados dos Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 IBGE O subsetor da indústria de extração mineral, em particular o de Petróleo e Gás, foi investigado separadamente para identificar a intensificação ou diminuição da sua presença na região, especialmente na Zona de Produção Principal da Bacia de Campos. Conforme se observa na Tabela 9, em 1970, o valor máximo para o indicador é 19,54, entretanto, a presença do setor ainda não é verificada no Norte do Estado (região da Bacia de Campos), pois o valor máximo observado para o indicador nos municípios selecionados é 0,66. Assim, em 1970, a especialização no setor se verifica mais em virtude da localização dos trabalhadores do que presença da atividade. Note-se ainda que o indicador é superior à unidade a partir de 1980 e alcança valor máximo em Macaé nos períodos subseqüentes. A especialização dos demais municípios selecionados ocorre em função da centralidade que Macaé exerce sobre a oferta de mão-de-obra dos demais municípios da região. TABELA 9 QUOCIENTES DE ESPECIALIZAÇÃO MUNICIPAL ZONA DE PRODUÇÃO PRINCIPAL E MEDIDAS DE POSIÇÃO 1970-2000 PETRÓLEO E GÁS Municípios selecionados da Zona de Produção Principal Petróleo e Gás da Bacia de Campos 1970 1980 1991 2000 Campos dos Goytacazes 0,66 2,52 3,74 5,21 Casimiro de Abreu 0,00 1,35 3,19 2,18 Macaé 0,00 47,23 24,62 33,11 Quissamã - - 4,63 8,13 Rio das Ostras - - - 6,91 Medidas de Posição - Municípios selecionados da Zona de Produção Principal Bacia de Campos Máximo 0,66 47,23 24,62 33,11 Mínimo 0,00 1,35 3,19 2,18 Média 0,22 17,03 9,05 11,11 Medidas de Posição - Totalidade dos municípios recebedores de rendas petrolíferas RJ Máximo 19,54 47,23 24,62 33,11 Mínimo 0,00 0,00 0,00 0,00 Média 0,66 1,10 0,98 1,45 Fonte: Elaborado a partir dos Microdados dos Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 -IBGE 15

O Quociente de Especialização Municipal na construção civil apresenta valor máximo de 2,04 em 1970 e chega a 3,65 em 1980, considerando todos os municípios beneficiários dos recursos dos royalties no estado. Entre os municípios selecionados, o valor máximo em 1970 é de 1,76 em Casimiro de Abreu refletindo principalmente a dinâmica do turismo em Rio das Ostras, que até 1991 era distrito de Casimiro de Abreu. Note-se que em 2000, o maior indicador de especialização é justamente em Rio das Ostras, sendo que o valor apresentado em Casimiro cai de 2,33 em 1991 para 1,33. Em Macaé o setor apresenta indicador superior à unidade em 1980 e aumenta nos dois períodos subseqüentes. A Construção Civil supera a média da região em Campos dos Goytacazes e, em Quissamã, somente a partir de 2000. Tendo-se em conta que a construção civil é bastante sensível a modificações no cenário econômico, é possível supor que este setor tenha sentido os primeiros reflexos da instalação da indústria petrolífera na Bacia de Campos, a partir da década de 80, em Macaé e Rio das Ostras, tendo se espraiado para os demais municípios, de forma significativa, a partir de 2000 (Tabela 10). TABELA 10 QUOCIENTES DE ESPECIALIZAÇÃO MUNICIPAL ZONA DE PRODUÇÃO PRINCIPAL E MEDIDAS DE POSIÇÃO 1970-2000 CONSTRUÇÃO CIVIL Municípios selecionados da Zona de Produção Principal Construção Civil da Bacia de Campos 1970 1980 1991 2000 Campos dos Goytacazes 0,56 0,92 0,92 1,07 Casimiro de Abreu 1,76 2,19 2,40 1,33 Macaé 0,81 1,13 1,17 1,26 Quissamã - - 0,97 1,11 Rio das Ostras - - - 2,34 Medidas de Posição - Municípios selecionados da Zona de Produção Principal Bacia de Campos Máximo 1,76 2,19 2,40 2,34 Mínimo 0,56 0,92 0,92 1,07 Média 1,05 1,42 1,37 1,42 Medidas de Posição - Totalidade dos municípios recebedores de rendas petrolíferas RJ Máximo 2,04 3,65 2,63 2,58 Mínimo 0,24 0,25 0,33 0,42 Média 0,91 1,23 1,23 1,29 Fonte: Elaborado a partir dos Microdados dos Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 -IBGE O indicador de especialização do Setor serviços, segundo a Tabela 11 apresenta seu valor máximo em 1970, mesmo sendo de apenas 1,20. Em geral os valores estimados estão, abaixo, revelando baixa especialização no setor, ou próximos da unidade, tendose por base todos os municípios recebedores de royalties. Entretanto, nos municípios selecionados da Zona de Produção Principal da Bacia de Campos, apesar de o indicador ter aumentado ao longo do tempo, ele ainda é inferior à unidade em todos os municípios. A instalação da atividade de exploração e Produção de Petróleo e Gás em Macaé não foi suficiente para produzir um cluster de serviços especializados nesses municípios. 16

TABELA 11 QUOCIENTES DE ESPECIALIZAÇÃO MUNICIPAL ZONA DE PRODUÇÃO PRINCIPAL E MEDIDAS DE POSIÇÃO 1970-2000 SERVIÇOS Municípios selecionados da Zona de Produção Principal Serviços da Bacia de Campos 1970 1980 1991 2000 Campos dos Goytacazes 0,75 0,82 0,90 0,91 Casimiro de Abreu 0,49 0,57 0,84 0,92 Macaé 0,75 0,79 0,89 0,88 Quissamã - - 0,57 0,52 Rio das Ostras - - - 0,89 Medidas de Posição Municípios selecionados da Zona de Produção Principal - Bacia de Campos Máximo 0,75 0,82 0,90 0,92 Mínimo 0,49 0,57 0,57 0,52 Média 0,67 0,73 0,80 0,82 Medidas de Posição - Totalidade dos municípios recebedores de rendas petrolíferas RJ Máximo 1,20 1,14 1,12 1,09 Mínimo 0,17 0,26 0,34 0,31 Média 0,62 0,72 0,79 0,81 Fonte: Elaborado a partir dos Microdados dos Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 -IBGE Embora do ponto de vista dos ocupados na Administração Pública e Segurança, o indicador na maior parte dos municípios tenha se apresentado abaixo da unidade ou próximo dela, o valor máximo encontrado foi de 2,67 em 2000, considerando todos os municípios beneficiários no estado do Rio de Janeiro. Na Zona de Produção Principal o valor máximo encontrado foi de 2,49 em 2000. A média de 1,16 ficou muito próxima da média da totalidade dos municípios recebedores de rendas petrolíferas do estado do Rio de Janeiro, de 1,17. Embora não se tenha observado especialização significativa nesse setor, o fato não desqualifica o argumento de que os municípios recebedores de royalties tenham inchado sua máquina administrativa, especialmente os maiores recebedores. Sabe-se que em muitos desses municípios, uma parcela significativa de trabalhadores presta serviços à administração direta por meio de fundações ou outro tipo de arranjo contratual. Isso faz com que, não obstante, sejam de fato funcionários públicos, de júri não o sejam (Tabela 12). TABELA 12 QUOCIENTES DE ESPECIALIZAÇÃO MUNICIPAL ZONA DE PRODUÇÃO PRINCIPAL E MEDIDAS DE POSIÇÃO 1970-2000 ADM. PÚBLICA E SEGURANÇA Municípios selecionados da Zona de Produção Principal Adm Pública e Segurança 1970 1980 1991 2000 da Bacia de Campos Campos dos Goytacazes 0,52 0,59 0,65 0,79 Casimiro de Abreu 0,50 1,25 0,68 1,22 Macaé 0,66 0,69 0,76 0,95 Quissamã - - 0,87 2,49 Rio das Ostras - - - 0,98 Medidas de Posição Municípios selecionados da Zona de Produção Principal-Bacia de Campos Máximo 0,66 1,25 0,87 2,49 Mínimo 0,50 0,59 0,65 0,79 Média 0,56 0,69 0,76 1,16 Medidas de Posição Totalidade dos municípios recebedores de rendas petrolíferas RJ Máximo 1,47 1,52 2,18 2,67 Mínimo 0,13 0,27 0,40 0,22 Média 0,53 0,69 0,89 1,17 Fonte: Elaborado a partir dos Microdados dos Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 -IBGE 17

As especializações verificadas são coerentes com a estrutura produtiva da região analisada. Verificando a forte presença da Indústria Petrolífera no Norte Fluminense e setores como a construção civil que crescem impulsionados por outros. Destaca-se ainda a baixa especialização no setor serviços, necessitando maiores incentivos para a exploração da indústria do turismo que tem potencial na região. Embora se saiba que esta atividade esteja presente, o pessoal empregado, especialmente em função do caráter sazonal do setor, não é suficiente para superar o nível médio na região, sem que seja desagregado em subsetores. 4 OS FUNDOS DE DESENVOLVIMENTO DOS MUNICÍPIOS. O recente debate sobre a possível alteração nas regras de rateio das compensações financeiras (royalties e participações especiais) e a conseqüente redução das receitas orçamentárias dos municípios da Bacia de Campos, altamente dependentes destes recursos, motivou o levantamento de algumas informações sobre os fundos de desenvolvimento criados por estes municípios com o suposto objetivo de incentivar novos setores industriais, diminuindo, dessa forma a dependência da economia do petróleo. Diminuir o peso da economia petrolífera nas economias locais é positivo, mesmo sem considerar a possível finitude do recurso, questionada por alguns pesquisadores, deve-se levar em consideração as mudanças na matriz energética. Parece ser uma tendência mundial, mesmo que seja a passos lentos, a convergência para uma matriz energética mais limpa. O primeiro incentivo para a diversificação produtiva já existe, pois, todos os municípios do norte e noroeste fluminense são beneficiados com a redução da alíquota do ICMS de 18% para 2%, por meio da Lei Estadual 4533 de 04 de abril de 2005. Este fato torna-se um grande diferencial para a atração de empresas para a região, contudo, a guerra fiscal se estabelece por meio das diferentes taxas de ISSQN e prazos diferenciados de isenção do imposto, que os municípios oferecem. Também faz parte do pacote de incentivos a cessão da infraestrutura industrial subvencionada e até cedida por um longo período por alguns destes municípios. O município de Campos dos Goytacazes foi o primeiro a criar um fundo com o objetivo precípuo de promover a diversificação produtiva, o Fundo de desenvolvimento de Campos (FUNDECAM), gerido por um Conselho Gestor, vinculado ao Gabinete do Prefeito, foi criado em 2001. Em 2006 foi criado o Fundecana, especialmente voltado para incentivar o plantio de cana-de-açúcar. De forma diferente do FUNDECAM, este é administrado pela Cooperativa Mista dos Produtores de Cana-de-açúcar (Cooplanta). Entre as facilidades oferecidas pelo FUNDECAM às empresas que se instalam no município de Campos encontram-se: i) distrito Industrial com áreas apropriadas e facilidade de escoamento de produção; ii) localização próxima a BR-101, aeroporto e ferrovia; iii) localização privilegiada do município dentro da área de maior produção de Petróleo e Gás do país; iv) logística facilitada face sua proximidade dos grandes centros consumidores - num raio de 750km mais de 45 milhões de consumidores e mais de 50% do PIB nacional; v) infraestrutura adequada para novos investimentos. Vi) fartura de água e energia (eletricidade e gás); vii) maior pólo educacional e de qualificação do interior do estado do Rio de Janeiro, contando com 11 instituições de ensino superior, 18