OCORRÊNCIA DE FUNGOS FITOPATOGÊNICOS EM MUDAS DE VIDEIRAS DA SERRA GAÚCHA R. S. BEHLING 1 ; S. A. CARVALHO 1 ; M. A. K. ALMANÇA 2 RESUMO: O declínio e morte de videiras jovens vem sendo frequentemente observadas durante os últimos anos em todo o país. Diagnosticar mudas de videiras se faz necessária para conhecimento da amplitude do problema neste segmento da cadeia vitícola. Este trabalho tem como objetivo isolar e identificar fungos em mudas de videiras provenientes de viveiros da região da Serra Gaúcha. Estão sendo avaliadas mudas de 7 viveiros pertencentes à Serra Gaúcha, através do isolamento de fragmentos das raízes, colo e região de enxerto de 15 mudas de cada viveiro. As mudas de videiras são da cultivar Bordô enxertadas sobre Paulsen 1103. Para o processo de isolamento são retiradas amostras das três regiões da plantas, no qual são desinfestadas, e retirados fragmentos que são dispostos em Placas de Petri contendo meio BDA, sendo posteriormente inseridos em câmara do tipo BOD. Por fim, os fungos que cresceram sobre os fragmentos foram repicados e identificados. Até o presente momento foram encontrados os fungos Cylindrocarpon sp., Pestalotiopsis sp. e Ulocladium sp.em uma porcentagem de presença de 33,3%, 20% e 26,6%, respectivamente. O trabalho continua em andamento. PALAVRAS CHAVES: Declínio de videiras, diagnóstico, fitossanidade. INTRODUÇÃO A viticultura brasileira desenvolveu-se principalmente no estado do Rio Grande do Sul, onde apresenta significativa importância sócio-econômica. Este estado, em uma área de 50.389 ha plantados, colhe 791.845 megagramas, correspondendo nacionalmente à 60.1% e 57%, respectivamente (IBGE, 2012). As principais regiões produtoras gaúchas são a Serra Gaúcha, a Região da Campanha, a Serra do Sudeste e a Região Central (PROTAS & CAMARGO, 2011). 1
Existem vários fatores envolvidos à uma produção satisfatória de uvas, tais como: obtenção de mudas de qualidade, manejo e condução correta da videira, controle de pragas e doenças, e realização de colheita e conservação adequada dos frutos. Porém, poucos estudos no Brasil falam sobre a qualidade de mudas de videira, principalmente quanto a sanidade. Segundo Kuhn (2003), é de fundamental importância para o sucesso num empreendimento vitícola, a utilização de material vegetativo de boa qualidade, livre das principais pragas e doenças transmitidas por mudas. Ao longo dos últimos anos tem sido observada uma redução na taxa de sobrevivência de mudas de videira, bem como de vinhas jovens no RS. Este fato que vem causando sérios prejuízos tem causado inúmeras reclamações por parte dos viticultores da região da serra gaúcha, no qual argumentam insatisfação quanto a qualidade fitossanitária das mudas recebidas pelos viveiros. Trabalhos realizados em outros países mostram que a principal causa da morte de videiras jovens tem sido relacionada à fungos, principalmente aos que provocam o complexo conhecido como declínio ou morte de videiras no qual a incidência afeta o sistema vascular da videira. Dezenas de espécies fúngicas foram isoladas de plantas com sintomas de declínio. Em trabalho realizado por Garrido et al. (2004) os fungos Cylindrocarpon sp., Phaeoacremonium sp., Verticillium sp., Botryosphaeria sp., Fusarium oxysporum f.sp. herbemontis, Graphium sp. e Cylindrocladium sp. foram isolados em maior ocorrência de plantas sintomáticas. Quando tais fungos parasitam o tecido lenhoso das raízes ou colo da planta, pode ocorrer o desencadeamento de infecções extremamente severas e podridões que irão comprometer ou impedir a sobrevivência da planta (CAVALCANTI et al., 2013). Segundo este mesmo autor, o que pode tornar-se uma grande ameaça à viticultura são as evidências de que os fungos causadores das podridões vasculares possuem grande habilidade de sobrevivência no solo, ao lado da entrada dos mesmos nos parreiras por meio do plantio de material propagativo infectado, porém assintomático. Neste contexto objetiva-se com este trabalho isolar e identificar fungos em mudas de videiras provenientes de viveiros da região da Serra Gaúcha. MATERIAIS E METODOS O trabalho foi realizado no Laboratório de Fitossanidade do IFRS Bento Gonçalves com início das atividades durante o mês de Julho deste ano. Primeiramente foi realizada a 2
coletada de mudas provenientes de 7 viveiros situados na região da Serra Gaúcha. Foram coletadas 15 mudas de cada viveiro pertencentes à cultivar Bordô enxertadas sobre o porta enxerto Paulsen 1103, sendo armazenadas em câmara fria sob temperatura armazenada de 0ºC e utilizadas conforme iriam sendo realizados os isolamentos. Para o isolamento, inicialmente as mudas foram levadas em água corrente e secas em papel toalha. Feito isto, foram retiradas amostras das raízes, região do colo e região do enxerto no qual foram desinfestadas através da imersão em solução de etanol 70% (30 segundos), hipoclorito de sódio 3,5% (dois minutos) e novamente etanol 70% (30 segundos). Logo após a desinfestação, na câmara de fluxo laminar, foram retiradas com a ajuda de um bisturi, fragmentos das amostras e inoculadas em placas de Petri contendo meio BDA (batatadextrose-ágar) comercial. Foram colocados quatro fragmentos de tecido de cada uma das regiões distintas por cada placa, contendo 3 repetições. Estas foram incubadas em câmara BOD, à 25ºC, sob fotoperíodo de 12h claro/escuro. Foi acompanhado o crescimento das colônias fúngicas diariamente, e no momento que as colônias estiveram estabelecidas nas placas, foram repicadas as colônias axênicas afim de obter a colônia pura. Por fim, foram feitas lâminas para a caracterização morfológica com posterior identificação em microscópio óptico. A identificação dos gêneros fúngicos foi realizado com o auxílio de chaves de identificação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Até o momento foi realizada a identificação de três fungos provenientes de um viveiro. Das 15 plantas avaliadas, observou-se a presença de Cylindrocarpon sp. (33,3 %) (Figura 1A), Pestalotiopsis sp. (20%) (Figura 1B) e Ulocladium sp. (26,6%) (Figura 1C). A ocorrência de Cylindrocarpon sp aconteceu nas raízes e colo. Resultado semelhante foi encontrado por Garrido et., al (2004), no qual em isolamentos realizados no porta-enxerto Paulsen 1103 observou a ocorrência de Cylindrocarpon sp. em 33% das plantas com sintomas de declínio. Este fungo é o agente causador do pé preto da videira sendo responsável em Portugal pelo declínio de videiras jovens no início da década de 90 (REGO et., 2000). Os fungos Pestalotiopsis sp. e Ulocladium sp. foram isolados em sua maioria da região de enxerto. Hallen et., al (2003) estudando fungos associados à mudas de videiras saudáveis na Africa do Sul, também observou a presença destes dois fungos. Apesar de serem 3
pouco estudados, estes fungos são frequentemente isolados de videiras e estando envolvidos na causa de declínios de videiras, principalmente quando refere-se à Pestalotiopsis sp. Figura 1 Colônias miceliais em meio de cultura. As imagens A, B e C correspondem aos fungos Cylindrocarpon sp., Pestalotiopsis sp. e Ulocladium sp., respectivamente. CONCLUSÃO Até o presente momento foram isoladas das mudas de videira Bordô os fungos Cylindrocarpon sp., Pestalotiopsis sp. e Ulocladium sp. O experimento continua em fase de andamento. 4
REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAVALCANTI, F. R.; BUENO, C. J.; ALMANÇA, M. A. K.; Declínio e Morte de Plantas de Videira. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho. Documentos. 2013. GARRIDO, L.R.; SÔNEGO, O. R.; GOMES, V. N. Fungos associados com o declínio e morte de videiras no Estado do Rio Grande do Sul. Fitopatologia Brasileira, v.29, n.3, p.322-324. 2004. HALLEEN, F.; CROUS, P.W.; PETRINI, O. Fungi associated with healthy grapevine cuttings in nurseries, with special reference to pathogens involved in the decline of young vines. Australasian Plant Pathology, v.32, p.47-52, 2003 IBGE, Produção Agrícola Estadual 2010. Rio de Janeiro: IBGE 2010. Disponível em:http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=rs&tema=lavourapermanente2010, acesso em 26/03/2012. KUHN, G. B. Mudas de Videira Qualidade do Material e Enxertia. Curso de Capacitação Técnica em Viticultura; Módulo 2. Bento Gonçalves: Embrapa, p.34-67, 2003. PROTAS, J. F. S.; CAMARGO, U. A. Vitivinicultura brasileira: panorama setorial de 2010. Brasília: SEBRAE; Bento Gonçalves: IBRAVIN: Embrapa Uva e Vinho, 2011. 110 p. REGO, C., OLIVEIRA, H., CARVALHO, A. & PHILLIPS, A. Involvement of Phaeoacremonium spp. and Cylindrocarpon destructans with grapevine decline in Portugal. Phytopathologia Mediterranea 39:76-79. 2000. 5