Troca-troca partidário pode alcançar 10% dos deputados A promulgação, prometida para a próxima quinta-feira, da emenda constitucional que cria a chamada janela da infidelidade, liberando o troca-troca partidário sem perda de mandato por 30 dias, vai provocar uma intensa movimentação no Congresso Nacional, assembleias legislativas e câmaras de vereadores. No caso dos deputados federais, eleitos há apenas um ano e meio, as estimativas no Congresso são de que cerca de 10%, ou seja, 50 deles, podem deixar suas legendas por outros partidos. Dirigentes das principais legendas acreditam que os recém-criados PMB e PROS podem ser os principais atingidos, mas admitem que as mudanças devem atingir muitos partidos com perdas e ganhos. De olho nas movimentações, várias legendas escalaram parlamentares para ficarem como responsáveis por tentar convencer deputados a engordarem suas bancadas na Câmara e evitar as debandadas. Há também uma preocupação em fortalecer as legendas para a disputa municipal deste ano. A oposição, certa de que poderá capitalizar a insatisfação de deputados de bancadas governistas diante da crise política, aposta no aumento de suas bancadas. O governo, por sua vez, acompanha atento as mudanças que poderão afetar sua base aliada e, segundo deputados, tem estimulado que a migração se dê para outros partidos aliados, 1 / 5
especialmente o PDT e PSD. PT PREJUDICADO Criado em 2015, o PMB (Partido da Mulher Brasileira) alcançou uma bancada de 20 deputados. Muitos deles se filiaram na nova legenda para não perder os mandatos com a troca, diante da demora na votação da PEC da janela. Mas, com a janela, estariam optando por legendas mais fortes. Quando entraram para o PMB, em momento algum os deputados falaram que iriam sair. Se saírem, não podemos fazer nada afirma a presidente nacional da legenda, Suêd Aidar. No PROS (Partido Republicano da Ordem Social), a debandada pode acontecer por incompatibilidade de deputados com a direção nacional. Muitos deles não escondem a insatisfação. Em conversas com parlamentares, o próprio líder da bancada, Givaldo Carimbão (AL), admitiu que muitos devem sair. A maioria dos partidos evita citar os nomes dos que podem mudar de partido. No DEM, o trabalho de convencimento é liderado pelo ex-líder Mendonça Filho (PE). Estamos num regime de mutirão em busca de novos quadros. O DEM começa a recuperar o espaço perdido por conta da hegemonia do lulopetismo, que agora afunda. O deputado Juscelino Filho (PMB-MA) já participa das nossas reuniões de bancada e com outros cinco deputados as conversas estão bem adiantadas afirma Mendonça Filho. O PSB investe na conversa com dissidentes: O PSB terá um balanço positivo. Hoje temos 34 deputados, poderemos perder um ou dois por problemas locais, mas vamos ganhar mais. Nossa meta é chegar a 40 deputados afirmou o vice-presidente nacional do PSB, Beto Albuquerque. 2 / 5
Muitos congressistas apostam também que o PT será um dos partidos mais prejudicados com a janela, por conta do desgaste político do governo. O líder da bancada na Câmara, Afonso Florence (BA), porém, não acredita. Já houve saídas. Muita gente está jogando mau agouro para cima do PT, existe um ataque político eleitoral muito forte, mas petista histórico convive com isso, disse. Janela da infidelidade A emenda constitucional que criou a chamada janela da infidelidade permite que o detentor de mandato eletivo deixe o partido pelo qual foi eleito nos 30 dias seguintes à promulgação da medida sem o risco de perder o mandato. O texto deixa claro, no entanto, que a sigla ao qual se filiarem não receberá maior cota de recursos do Fundo Partidário e do tempo gratuito de rádio e TV. Atualmente, a Lei da Minirreforma Eleitoral, sancionada no ano passado, deixa claro que o detentor de cargo eletivo que deixar o partido pelo qual foi eleito perde o mandato. Mas há três exceções para evitar a perda de mandato por infidelidade partidária: a mudança do programa partidário, a grave discriminação política pessoal ou quando o parlamentar utilizar a janela de 30 dias para troca partidária que é aberta no ano da eleição, apenas para quem está no final do mandato. A janela se abre sete meses antes da eleição. Por exemplo, vereadores que queiram se candidatar este ano poderão mudar de legenda, sem risco de perder o mandato, em março. Os deputados federais, em março de 2018. Paes tenta atrair vereadores Aproveitando a janela para a troca de partidos, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), está montando uma operação para aumentar a bancada do PMDB na Câmara de Vereadores, que já é a maior da Casa, com 18 dos 51 vereadores. 3 / 5
Um dos que estaria negociando a ida para o PMDB é Junior da Lucinha (PSDB), que costuma votar com os peemedebistas. Nesse caso, o PSDB ficaria com apenas um representante na Câmara, a vereadora Teresa Bergher. Na bancada federal do Rio, o PMDB conversa com o deputado federal licenciado Sergio Zveiter (PSD), atual secretário municipal de Habitação do Rio; com o deputado Altineu Côrtes (PR); e com o deputado federal Dr João (PR). Esse último pretende ser candidato a prefeito de São João de Meriti. O presidente do PT fluminense, Washington Quaquá, disse que os vereadores Elton Babú e Marcelo Arar devem aproveitar a janela e deixar o partido. Hoje, a bancada petista tem quatro vereadores: É provável que haja alguma movimentação, porque queremos que a bancada seja mais petista. O PT abriu demais a sua legenda. O Marcelo Arar não tem o perfil do PT. A mesma coisa o (Elton) Babú. Neste momento em que o PT passa por uma crise, chegou a hora de depurar o partido. Eles não vão fazer falta à bancada. Prefiro diminuir com qualidade disse Quaquá. PSOL deve manter quadros Elton Babú é irmão do ex-deputado estadual Jorge Babú, expulso do PT após ser acusado pelo Ministério Público de comandar uma milícia na Zona Oeste. Arar é egresso do PSDB. Procurado, não retornou. Babú não foi localizado. O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) criticou a criação da janela para a troca de partido sem perda de mandato, e disse que o PSOL do Rio não ganhará nem perderá quadros: A gente não vai perder ninguém, porque quem está no PSOL está por convicção. Votamos contra essa janela porque ela é um oportunismo. Quem tinha que vir para o PSOL veio, como o (deputado federal) Glauber (Braga), independente de janela. Essa janela é um desrespeito à cidadania. 4 / 5
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) Impacto Granja Até a criação da janela, as brechas para justificar a mudança de partidos eram: mudança no programa partidário, perseguição política ou filiação a uma sigla recém-criada. Nesses casos, deputados e vereadores poderiam trocar de partido sem perder o mandato. Informações O Globo 5 / 5