Resumo Executivo do Relatório Final CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DA ATIVIDADE DE COLETA E COMERCIALIZAÇÃO DE ISCA VIVA NA BAP-MT

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Transcrição:

PROJETO IMPLEMENTAÇÃO DE PRÁTICAS DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE BACIA HIDROGRÁFICA PARA O PANTANAL E BACIA DO ALTO PARAGUAI ANA/GEF/PNUMA/OEA Subprojeto 5.1 MT - Coleta e Comercialização de Iscas Vivas na Bacia do Alto Paraguai em Mato Grosso Resumo Executivo do Relatório Final CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DA ATIVIDADE DE COLETA E COMERCIALIZAÇÃO DE ISCA VIVA NA BAP-MT Cuiabá Mato Grosso

PROJETO IMPLEMENTAÇÃO DE PRÁTICAS DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE BACIA HIDROGRÁFICA PARA O PANTANAL E BACIA DO ALTO PARAGUAI ANA/GEF/PNUMA/OEA Subprojeto 5.1 MT - Coleta e Comercialização de Iscas Vivas na Bacia do Alto Paraguai em Mato Grosso Relatório Final CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DA ATIVIDADE DE COLETA E COMERCIALIZAÇÃO DE ISCA VIVA NA BAP-MT Coordenação do Subprojeto MSc. Edilaine Theodoro Bióloga Fundação Estadual do Meio Ambiente-FEMA-MT Contrato CPR/OEA nº 31014 Outubro de 2003

CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DA ATIVIDADE DE COLETA E COMERCIALIZAÇÃO DE ISCA VIVA NA BAP-MT INTRODUÇÃO RESUMO EXECUTIVO O Subprojeto 5.1. MT é parte do Projeto Implementação de Práticas de Gerenciamento Integrado de Bacia Hidrográfica para o Pantanal e Alto Paraguai - ANA/GEF/PNUMA/OEA, e está incluído no Componente V Envolvimento dos Interessados e Desenvolvimento Sustentável. A pesca é uma atividade tradicional da região, sendo praticada profissionalmente como também amadorísticamente de forma intensiva. A Lei Estadual de Pesca nº 7881 de 30 de dezembro de 2002 estabelece que a prática de pesca no estado somente será realizada com petrechos de pesca como: caniço simples, vara com molinete/carretilha, sendo proibido o uso de petrechos de emalhar, considerados predatórios. Em conseqüência desta proibição há um grande consumo de iscas vivas para captura de peixes, pelas duas categorias de pesca. Este Subprojeto tem como objetivo a caracterização sócio-econômica da atividade de coleta e comercialização de isca viva na BAP-MT e seus objetivos específicos são: Identificação de áreas de coleta; Identificação das espécies coletadas; Avaliar o grau de organização social dos coletores; e Avaliar a importância econômica e social da atividade. 1. ANTECEDENTES NO PCBAP 1.1. Informação disponível A ictiofauna desempenha papel de fundamental importância, enquanto componente do ecossistema do Pantanal. Os grandes estoques pesqueiros provavelmente representam um dos maiores compartimentos de reserva viva de nutrientes e de energia do sistema. Os peixes, entre outras funções, atuam como dispersores de sementes e constituem a alimentação básica para muitos componentes da fauna. Os peixes são de grande importância sócio-econômica na Bacia do Alto Paraguai, explorados como recursos pesqueiros. Participam da ciclagem de nutrientes e fluxo de energia, como alimento básico para muitas aves e animais da região (CATELLA, 1992) e desenvolvem diferentes estratégias de vida e reprodução, adaptadas às condições que o sistema oferece. Distinguem-se três modalidades principais de pesca: pesca de subsistência, integrada na cultura regional, como importante fonte de proteína nobre para as populações riberinhas; pesca amadora (esportiva), que se tornou o principal atrativo do turismo regional, especialmente em Mato Grosso do Sul e a tradicional atividade de pesca profissional. i

1.2. Recomendações apresentadas A premissa fundamental que deve nortear o desenvolvimento de um programa para a pesca na BAP é a exploração dos recursos pesqueiros de modo auto-sustentado, isto é, em níveis compatíveis com a capacidade de renovação anual dos estoques. O manejo da pesca, portanto, deve ser adaptativo, considerando-se, por exemplo, a menor produção de peixes em períodos onde ocorrem, sucessivamente, anos com pequenas inundações. Para tanto, é preciso conhecer os processos ecológicos que ocorrem nos diversos ambientes, a biologia de espécies exploradas e com potencial para pesca, a capacidade de renovação dos recursos e a evolução da atividade de pesca, a fim de otimizar o uso e estabelecer os limites de exploração. 2. CADASTRAMENTO DA ATIVIDADE DE COLETA DE ISCAS VIVAS 2.1. Importância econômica e social da atividade e a organização social dos coletores A coleta e comercialização de iscas vivas oriundas do Pantanal de Mato Grosso eram proibidas até dezembro de 2002. As iscas vivas que eram comercializadas nos diversos estabelecimentos eram procedentes de outros estados como Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás. Estes estabelecimentos eram obrigados a manter documentação específica que comprovassem a origem das iscas que estavam comercializando. Mas, apesar desta proibição, foram detectadas algumas atividades de coleta de iscas clandestina (Foto 1). Foto 1. Estabelecimento comercial de iscas vivas em Cuiabá. No contexto do universo trabalhado, foram nos municípios de Barão de Melgaço e Cáceres que encontramos o desenvolvimento das atividades de coleta e comercialização de iscas na Bacia do Alto Paraguai, respectivamente, de forma mais intensa (Fotos 2). ii

Foto 2. Técnico da FEMA entrevistando um coletor de isca viva residente no município de Barão de Melgaço. Geograficamente essa região se caracteriza pela geomorfologia plana, das planícies e do pantanal mato-grossense. Faz parte da Bacia do Prata, sendo que os seus principais rios são tributários das Bacias do Cuiabá e do Paraguai. (Figura 1). Figura 1. Mapa de localização da área de estudo. 2.2. Análise dos dados de socioeconômica e de comercialização das iscas coletadas Atividade de captura no município de Barão de Melgaço. A maioria dos isqueiros, que exercem as suas atividades no município de Barão de Melgaço, atuam a mais de 10 anos, são naturais do próprio município como pode ser observado na figura 2, e obedecem a um perfil socioeconômico quase lógico, de acordo com as condições levantadas, como veremos a seguir: iii

6% 3% 91% Barão de Melgaço Cuiabá Corumbá Figura 2. Naturalidade dos coletores de iscas. Pouco significativa é a presença dos cuiabanos mesmo que consideremos a proximidade do município da capital Cuiabá. Do universo pesquisado, nota-se a presença de um indivíduo natural de Corumbá, por acaso ou não, a região de maior concentração de isqueiros do Mato grosso do Sul. A grande maioria 97% dos entrevistados reside em casa própria, junto aos locais onde exercem as atividades, a mais de 20 anos. O nível de escolaridade dos indivíduos é baixo, 25% são analfabetos, 50% não conseguiram finalizar o ensino fundamental, apenas 25% conseguiram finalizar o primeiro grau (Figura 3). Os indivíduos casados, que representaram 66% do universo pesquisado, têm em média de 3 a 4 filhos e destes, 55% dos que tem idade escolar, freqüentam a escola. 25% 25% 50% Completo Incompleto Analfabeto Figura 3. Escolaridade, ensino fundamental. Apesar de apresentar uma infraestrutura precária, 44% das residências tem água encanada, embora em apenas 39% destas, chegue a água tratada, distribuída pela Estação de Tratamento de Água da Prefeitura Municipal de Barão de Melgaço. O perfil com relação à disponibilidade da energia elétrica para as residências é quase o mesmo. 55% das residências têm acesso a energia distribuída pela rede CEMAT, outros 6% utilizam gerador e 39% não tem acesso à energia. iv

A coleta de iscas na região de Barão de Melgaço é para a maioria das famílias (78%), a sua principal fonte de renda. Mas, apenas 17% destas coletam dentro de áreas da sua propriedade (Figura 4). 17% 83% Sim Não Figura 4. Coleta de iscas efetuadas em sua propriedade. Muitos isqueiros desenvolvem outras atividades como a pesca (54%) (Figura 5). 5% 54% 30% 11% Agricultor Piloteiro Pescador Não Figura 5. Outras atividades exercidas. Na temporada de pesca que ocorre no período de março a novembro, a maioria das famílias (78%) têm conseguido uma renda razoável, na ordem R$ 200,00 ( US$ 66,67) a R$ 500,00 ( US$ 166,67).(Figura 6). Aproximadamente 8% das famílias conseguem uma renda de até R$ 3.000,00 ( US$ 1.000,00). Na baixa temporada, um percentual acima de 80%, consegue sobreviver com a renda mínima, na faixa de R$ 200,00 ( US$ 66,67) a R$ 500,00 ( US$ 166,67). v

8% 8% 6% 78% R$ 200,00 (US$ 66,67) a R$ 500,00 (US$ 166,67). R$ 800,00 (US$ 266,67) R$ 1.600,00 (US$ 533,33) R$ 3.000,00 (US$ 1.000,00) Figura 6. Renda média familiar no período de pesca. A atividade de coleta de iscas representa em média, para a maioria das famílias, entre 50 e 100% da sua renda e 40% destas sobrevive às custas do seguro desemprego, outras 40% como ajudantes nas lavouras e serviços gerais. (Figura 7 e 8). 6% 6% 88% R$ 200,00 (US$ 66,67) a R$ 500,00 (US$ 166,67) R$ 600,00 (US$ 200,00) R$ 1.200,00 (US$ 400,00) Figura 7. Renda média familiar na baixa temporada, período de piracema. 42% 58% Seg. desemprego Não Figura 8. Porcentagem de coletores de iscas que possuem seguro desemprego. vi

O quadro a seguir resume o tipo de equipamentos ou utensílios necessários para a coleta dos determinados tipos de iscas, distribuídos de acordo com a forma de uso dentre os entrevistados. Quadro 1. Equipamentos e/ou utensílios utilizados para os determinados tipos de iscas. TIPO DE ISCA APETRECHO N o USUÁRIOS APETRECHO N o APETRECHO USUÁRIOS N o USUÁRIOS Tuvira Peneira 35 - - - - Muçum Enxadão 24 Peneira 3 mão 3 Jejum Anzol 10 Peneira 13 tarrafinha* 2 Cascudo Tarrafa 9 Anzol 13 peneira 17 Pirambóia Anzol 1 - - - - Caranguejo Mão 27 Lata 2 peneira 9 Minhoca Enxadão 1 - - - (*) Tarrafinha, tarrafa com a malha bem pequena, também conhecida como lambarizeira, utilizada para coleta de peixes menores do tipo do Jejum. Considerando o meio onde desenvolvem as suas atividades, em geral os isqueiros utilizam embarcações para locomoverem-se, neste sentido, 78% deles possui embarcação própria, destas, 57% tem motor. A atividade diária envolve para a maioria dos isqueiros de 10 a 11 horas de trabalho. No diaa-dia, eles trabalham em comitiva como dizem. Uma comitiva, envolve em média 4 pessoas, que se ajudam nas tarefas da coleta. Em função do tipo de isca a ser coletada, o isqueiro tem algumas preferências por determinado período do dia. Perguntados sobre a atividade da coleta de iscas na piracema, 83% disseram que não a exercem no período. Apenas 1%, alegou o fato da proibição, 66% alegaram que simplesmente não coletam porque o comércio é ruim. 17% disseram que mantém a atividade, mesmo com o comércio ruim, para estocar. (Figura 9). 11% 3% 17% 3% 66% Proibido Ruim comércio Rio cheio Estocar Fiscalização Figura 9. Atividade dos coletores de iscas vivas no período de piracema. vii

2.3. A comercialização de iscas no município de Cáceres/MT No contexto da comercialização de iscas no município de Cáceres/MT, ocorre principalmente no comércio local da sede municipal. Estes comerciantes por sua vez são abastecidos por atravessadores de Cuiabá. Apenas dois dos entrevistados disseram adquirir iscas de outros estados, Mato Grosso do Sul (Corumbá, principalmente Tuviras), São Paulo e Goiás, com lotes de 2 a 3 mil unidades. Mas, esse é um investimento que depende muito do fluxo de turistas na região. A armazenagem dos lotes se dá geralmente em tambores plásticos, tanques de Eternit ou nos galões em que são entregues pelos fornecedores. A água desses reservatórios pode ser renovada periodicamente ou pode ser oxigenada com a utilização de bombas apropriadas. Esses sistemas de armazenagem são os utilizados pelos proprietários dos dois tipos de estabelecimentos, reservatórios maiores nas pousadas, com uma média de 500 unidades e menores nos barcos com até 250 unidades. O volume médio do consumo de iscas por pescaria pode variar muito, depende do grupo de turistas, mas existe uma perda de 3 a 10% do volume de iscas destinado. Uma temporada de pesca pode necessitar uma quantidade que pode variar de: 4.000 a 25.000 Tuviras, dependendo da temporada (boa/ruim), do estabelecimento ou barco; de 6.000 a 10.000 Mussums; e, de até 15 dúzias de minhocas/mês; os demais tipos de iscas são utilizados em escalas bem menores. Para a maioria dos entrevistados, o fluxo de turistas tem diminuído a partir de 1998, mas que o ano de 2000 foi classificado como muito ruim. Chama atenção a resposta de um dos entrevistados, dono de uma pousada, para ele o fluxo de turistas aumentou, por causa dos investimentos em infraestrutura e a uma mudança de concepção, menos pesca mais lazer. Os turistas que freqüentam as áreas de pesca de Cáceres são oriundos de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, principalmente. Na realidade vêm turistas de todos os estados e mesmo de outros países como EUA, Áustria, Portugal e outros tantos. Na relação entre os proprietários e o fornecedor, a forma mais praticada de negociação é a de venda à vista. Mas boa parte, 40% do proprietário pode solicitar prazos para o pagamento que pode chegar a 10 dias. Foram registradas a seguintes sugestões no sentido de disponibilizar de uma forma mais farta as iscas para a melhoria das atividades de pesca na região: Programas de criação de iscas em cativeiro; Normatização e liberação da coleta. A coleta clandestina encarece as iscas; Definição de áreas de coleta, com a organização dos isqueiros. viii

3. ESPÉCIES UTILIZADAS COMO ISCAS VIVAS 3.1. Identificação taxonômica das espécies utilizadas como iscas vivas As espécies utilizadas como iscas vivas na pesca amadora e profissional são bastante diversificadas, pois varia com a exigência alimentar da espécie de peixe que se pretende capturar (Figura 10). 15% 14% 1% 2% 0% 2% 0% 16% 6% 14% 15% 15% Tuvira Mussum Jeju Cascudo Caranguejo Minhoca Isca Branca Camboatá Camarão Cará Pirambóia Gafanhoto Figura 10. Principais espécies de iscas vivas coletadas para serem utilizadas pela pesca profissional e amadora. Embora há uma grande variedade de iscas vivas, existem algumas espécies que são mais procuradas pelos pescadores (Figura 11). Tuvira Caranguejo 12% 12% 1% 1% 1% 1% 38% Cascudo Jeju Mussum Minhoca 16% 18% Isca Branca Cará Pirambóia Figura 11. Espécies de iscas vivas mais procurada pelos pescadores. Das principais iscas vivas procuradas pelos pescadores, as espécies tuvira (Gymnotus cf carapo), mussum (Synbranchus marmoratus), jeju (Hoplerythrinus unitaeniatus) e caranguejo (Dylocharcinus pagei) são as que obtêm um maior valor comercial (Figura 12). Elas são facilmente capturadas nos meses de abril a setembro (início da vazante até a seca). ix

17% 17% 21% 45% Tuvira Mussum Jeju Caranguejo Figura 12. Espécies de isca viva com maior valor comercial. Diante da variedade de iscas utilizadas restringiremos a descrição somente das espécies de maior valor econômico: TUVIRA Gymnotus cf carapo (Linnaeus,1758) Pertence a ordem dos Gymnotiformes, esta ordem compreende peixes de corpo muito alongado, abertura branquial muito estreita e desprovidos de nadadeiras dorsal e ventrais; muitos deles também não possuem nadadeira caudal e, neste caso, o pedúnculo caudal é semelhante a uma cauda de rato. Excetuando Electrophoridae (a família do peixe-elétrico ou poraquê), representantes de todas as demais famílias dessa ordem ocorrem no Pantanal. (Foto 3). Foto 3. TUVIRA Gymnotus cf carapo (Linnaeus,1758). MUSSUM Synbranchus marmoratus (Bloch, 1795). Pertence a ordem Synbranchiformes, da família Synbranchidae, são peixes serpentiformes, facilmente reconhecíveis porque possuem uma só abertura branquial localizada sob a cabeça. Vivem principalmente em charcos, águas pobres em oxigênio, e são capazes de respirar o oxigênio do ar. Sobrevivem em charcos que secam, permanecendo enterrados na lama. O único gênero e espécie dessa família no Pantanal é Synbranchus marmoratus. (Foto 4). x

Foto 4. MUSSUM Synbranchus marmoratus (Bloch, 1795). JEJU (Hoplerythrinus unitaeniatus) Pertence a ordem Characiformes, da família Erythrinidae, peixes carnívoros, predadores, de corpo grosso, nadadeira caudal arredondada (nunca bifurcada). Comprimento: cerca de 250mm.(Foto 5). Foto 5. JEJU - Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix, 1829). Dylocharcinus pagei caranguejo Apresenta distribuição neotropical, é animal de médio porte no Pantanal (15 a 90 milímetros de largura da carapaça), típicos de rios de planície, apesar de ocorrerem também em altitudes superiores a 300 metros. 3.2. Mapeamento de áreas potenciais e áreas de coleta de iscas vivas Dentre estas espécies a tuvira obteve a maior porcentagem de procura 38% e conseqüentemente o melhor valor comercial. Esta preferência está relacionada à sua alta taxa de sobrevivência em ambientes confinados, pelo fato de possuir respiração aérea acessória, possibilitando um maior índice de sobrevivência no transporte até os locais de pesca. xi

Além desta característica, a tuvira também é a isca que proporciona a captura de espécies de peixes como pintado, cachara, jaú que tem um alto valor comercial para os pecadores profissionais e são peixes de grande porte que são vistos como um troféu para os pescadores esportivos. Diante destes atributos esta isca agrega um maior valor comercial que a torna um recurso natural com intenso esforço de pesca para suprir a demanda do consumo tanto da pesca amadora como da pesca profissional. 3.3. Mapeamento de áreas potenciais e áreas de coleta de iscas vivas Por ser a tuvira a isca viva de maior importância econômica, o mapeamento das áreas de coleta de isca viva concentrou-se nas áreas de ocorrência da tuvira. Foram mapeados 29 pontos de coleta de tuvira. Estes locais são os principais pontos de captura, devido o seu fácil acesso, sua proximidade e sua produtividade. (Figura 13). Figura 13. Mapa de pontos de coletas da tuvira (Gymnotus carapo), na região de Barão de Melgaço. 3.3.1. Locais de ocorrência da Tuvira Os locais de ocorrência da tuvira são basicamente baías (Foto 6), corixos (Foto 7), vazantes e áreas inundadas (Foto 8), com abundante vegetação aquática. As tuviras geralmente são capturadas em áreas rasas, sob densas aglomerações de macrófitas aquáticas, com raízes bem desenvolvidas, como Limnobium laevigatum e Oxycaryum cubense, associadas a Eichornia crassipes, Eichornia azurea, Salvinia auriculata, Ludwigia lagunae e Utricularia gibba, xii

comportamento similiar observado no baixo rio Negro-MS (Relatório interno da EMBRAPA PANTANAL,1999). Foto 6. Local de coleta de tuvira na Baía de Siá Mariana. Foto 7. Local de coleta no corixo da Baía de Chacororé. Foto 8. Local de coleta na Baía da Figueira, margem esquerda do rio Piraim. xiii

3.3.2. Caracterização dos locais de coleta Foram tomadas medidas de parâmetros físico-químicos de alguns ambientes de ocorrência das tuviras, apresentados no quadro 2, juntamente com a descrição dos petrechos de pesca utilizados. Elas ocorrem em ambientes com grande variação de teor de oxigênio - 290mg/l a 2.6mg/l, essa resistência a ambientes anóxio se dá pelo fato da tuvira possuir respiração aérea acessória. 3.3.3. Petrechos utilizados na coleta de tuvira Para a coleta da tuvira são utilizados vários petrechos de pesca que possibilitam a exploração de ambientes com diferentes características: A peneira é feita em tela de nylon tipo mosquiteiro, montada em uma armação de ferro com dimensões que variam de 165cm de comprimento x 110cm de largura a 180cm de comprimento x 120cm de largura (Foto 9). Foto 9. Peneira, petrecho de pesca utilizado para captura de tuvira. xiv

Quadro 2. Medidas de parâmetros físico-químicos de alguns ambientes de ocorrência das tuviras, petrechos de pesca utilizados e coordenadas geográficas. xv AMOSTRA 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Latitude 16º.16.427 16º.23.835 16º22.817 16º25.312 16º.25.171 16º24.707 16º13.248 16º15.108 16º14.102 16º.14.691 16º12.006 Longitude 55º50.287 056º.04.092 056º.022.815 056º.00708 056º00.620 056º.00.393 055º.58.996 055º.57.051 055º58.516 056º00.404 055º57.833 Local Baiazinha Arrombado Corixo do Arrombado Rio Tucum Corixo da Canga rio Tucum Rio Tucum Corixo Campo Cumprido Corixo Chacororé Corixo da Passagem Grande Baia Curral de Palma Baia do Recreio Data 29/08/2003 30/08/2003 30/08/2003 30/08/2003 30/08/2003 30/08/2003 31/08/2003 31/08/2003 31/08/2003 29/08/2003 31/08/2003 Sub-bacia Rio Cuiabá Rio Cuiabá Rio Cuiabá Rio Cuiabá Rio Cuiabá Rio Cuiabá Rio Cuiabá Rio Cuiabá Rio Cuiabá Rio Cuiabá Rio Cuiabá ph 4.28 5.48 5.54 5.85 6.01 5.98 5.91 5.51 6.03 5.6 5.68 OD 2.9mg/l 2.3mg/l 1.6mg/l 4.6mg/l 2.6mg/l 4.0mg/l 2.6mg/l 2.1mg/l 2.6mg/l 1.0mg/l 2.4mg/l Temp. água 20.7º 21.5º 21.9º 26º 23º.9 24º.2 26º 23º.8 20º.8 19º 25.3 Transp 60 cm 65 cm 150 cm 48 cm - 60 cm 45 cm 30 cm 60 cm 62 cm 55 cm Profundidade 80 cm 70 cm 165 cm 70 cm - 120 cm 45 cm 70 cm 60 cm 67 cm 55 cm Condutividade 112µs/cm 58.7µs/cm 59.7µs/cm 65.8µs/cm 60.9µs/cm 58.0µs/cm 103.1µs/cm 86.7µs/cm 142.3µs/cm 100µs/cm 148.6µs/cm Vegetação Macrófita Vegetação ciliar Vegetação ciliar Vegetação ciliar Vegetação ciliar Vegetação ciliar Macrófita aquática Vegetação Ciliar Macrófita aquática aquática densa, vegetação ciliar conservada densa, macrófita aquática densa densa, macrófita aquática densa densa, macrófita aquática densa densa, macrófita aquática densa densa, macrófita aquática/batume em menor quantidade densa, macrófita em relação aos outros aquática/batume ambientes densa e batume. amostrados, Apetrecho utilizado Peneira retangular (165x110cm) e armadilha jiqui Vegetação ciliar densa, macrófita aquática densa cobrindo totalmente o leito do corixo Armadilha jiqui com isca de cupim Peneira e jiqui com isca de cupim Peneira e jiqui com isca de cupim jiqui com isca de cupim Peneira e jiqui com isca de cupim Vegetação ciliar densa, macrófita aquática densa. Este corixo tem conexão temporária com a Baia de Chacororé vegetação ciliar densa Peneira Peneira coado Armadilha Coado com isca de cupim jiqui

A peneira é mais utilizada em locais rasos, quando usada de dia ocorre da seguinte forma, sempre em dupla,os coletores de iscas entram nas baías ou corixos em meio aos camalotes de aguapé (Foto 10) e submergem a peneira sob os bancos de macrófitas (Foto 11) em seguinte há o soerguimento da tela, as macrófitas aquáticas são removidas (Foto 12) e as tuviras são acondicionadas em baldes com água (Foto 13) Foto 10. Seqüência1 de captura de tuvira utilizando a peneira. Foto 11. Seqüência2 de captura de tuvira utilizando a peneira. Foto 12. Seqüência3 de captura de tuvira utilizando a peneira. Foto 13. Seqüência4 de captura de tuvira utilizando a peneira. A armadilha do tipo coado (Foto 14) é utilizada geralmente a noite em locais mais profundos com auxílio do girau (Foto 15). O coado é pendurado por uma alça em um cabo feito de galho de árvore, onde ficará apoiado no girau durante o período que estiver submerso, o cupim é colocado para atrair as tuviras, também é utilizada a lona preta para cobrir impedindo a passagem da luz. Foto 14. COADO, petrecho de pesca utilizado para captura de tuvira. xvi

Foto 15. GIRAL, estrutura montada em meio ao aguapé para captura de tuvira. O Jiqui é a armadilha predileta dos pescadores, ela foi trazida por um pescador de isca viva do interior de São Paulo (Fotos 16 e 17).Também é utilizado tela de nylon tipo mosquiteiro e armação de ferro para a sua confecção. Possui 100cm de comprimento x 67cm de diâmetro, nas laterais há duas aberturas circulares de 30 cm cada (Foto 16), nestas aberturas foram costurados um pedaço de tela de nylon em formato de funil, que possui 26 cm de comprimento e a sua menor extremidade com uma abertura de 7cm, este funil fica voltado para o lado de dentro do jiqui, também há uma abertura circular de 36cm em cada lateral, com o funil costurado (Foto 17). Foto 16. JIQUI, petrecho de pesca utilizado para captura de tuvira vista de frente. Foto 17. JIQUI, petrecho de pesca utilizado para captura de tuvira vista lateral. 3.3.4. Acordos de Pesca A pescaria de tuvira se dá geralmente em dupla, com duração de 5 dias. As duplas de pescadores possuem acordos tanto para dividir a despesa quanto o lucro, dos mais variados como se segue: xvii

Quando um dos componentes da dupla é o dono do barco: A despesa e o lucro são partilhados em três, pois o barco é contato como mais um componente do grupo, ficando o dono do barco com 2 partes, ou seja, a parte dele e a do barco. Quando a dupla é dona do barco (sócios): partilha é feita em duas partes iguais, tanto para a despesa como para o lucro. Quando a viagem é totalmente custeada por terceiros: Esta opção é geralmente aceita nas épocas fracas. Arrendamento: Os proprietários da terra arrendam os locais de interesse de coleta de isca para uma dupla de pescadores de tuvira, por um determinado valor. Essa dupla tem a possibilidade de realocar essas áreas se houver interesse, cobrando dos outros pescadores o valor que lhe convier, ou também, os arrendatários podem cobrar uma cota dos coletores de iscas pelo uso das áreas por eles arrendadas, ambas as opções de negociação entre os pescadores não há interferência do dono da terra. Cobrança direta: Alguns proprietários cobram individualmente pelo uso das áreas de coleta de tuvira, é uma cobrança direta, ou seja, é cobrado por pescador/por noite ou dia de pesca. Foi relatado que os pescadores chegaram a pagar R$ 50,00 ( US$ 16,67) por noite pescada. 4. DIRETRIZES PARA ORDENAMENTO DA CAPTURA E COMERCIALIZAÇÃO DE ISCAS VIVAS NO PANTANAL DE MATO GROSSO 4.1. Definição de tamanho e época de captura de das espécies utilizadas como iscas A tuvira é uma espécie carnívora, que se alimenta preferencialmente de insetos e microcrustáceos cladóceros. Apresenta desova do tipo parcelada e reproduz-se na planície de inundação, quando as águas da enchente chegam à região, geralmente de fevereiro a abril. O comprimento total em que todas as fêmeas alcançam a maturação gonadal é de 24 cm. Como recomendações ao manejo sustentado dessa espécie no Pantanal, o tamanho mínimo de captura deve ser de 24cm e o período de defeso de reprodução, de 1º de dezembro a 28 de fevereiro, a fim de assegurar que todas as fêmeas tenham se reproduzido ao menos uma vez antes de serem capturadas, de forma a garantir a reposição do estoque.(relatório Interno da EMBRAPA PANTANAL, 1999). 5. CONCLUSÕES E IMPACTOS A isca viva com maior valor comercial é a tuvira (Gymnotus carapo), particularmente usada para o exercício da pesca esportiva, tornando-se importante recurso natural econômico, xviii

considerando que a atividade de pesca amadora proporciona um valor agregado e um efeito multiplicador significativo na economia regional. As principais atividades econômicas da cidade de Barão de Melgaço são, o turismo, principalmente o de pesca, a pecuária de corte e a pesca que representa a maior fonte de renda do município. A pesca representa significativa participação na receita percebida pela sociedade na região. Seu benefício local é direto (apropriação e comercialização de pescado, geração de empregos) e indireto (valor agregado ao turismo de pesca despesas em hotéis, restaurantes e empresas de turismo da região). A pesca profissional, além de sua atividade de captura, vem se aproveitando do nicho de mercado aberto pela categoria amadora, a qual demanda iscas vivas (Copatti et.al., documento em preparação). Apesar de alguns pescadores profissionais também praticarem a captura e comercialização de isca viva como uma fonte alternativa de renda, há coletores de isca que tem essa atividade como principal fonte de renda. Em 30 de dezembro de 2002, foi sancionada uma nova Lei Estadual de Pesca, a de nº 7881, que em seu artigo 38 permite a captura e comercialização das iscas vivas somente para pescadores profissionais devidamente cadastrados na FEMA. Até esta data a atividade de coleta e comercialização de iscas vivas era proibida pela Lei Estadual de Pesca 7155 de 21 de julho de 1999. O seu artigo 12 dispunha: Fica proibido a captura e comercialização de iscas vivas e peixes ornamentais no estado de Mato Grosso, salvo provenientes de outros Estados da Federação ou de criatórios autorizados pela FEMA Mesmo com esta proibição atividade vinha sendo desenvolvida de modo clandestino e desordenada. Este procedimento legal ao invés de proporcionar uma ação benéfica em relação à proteção ambiental, induziu perdas ambientais significativas, tendo em vista a freqüência de apreensões ocorridas e o transporte inadequado levando uma mortandade de iscas vivas consideráveis. Embora previsto a legalização da atividade na lei atual, os coletores de iscas vivas ainda estão sendo prejudicados pela falta de regulamentação da lei, que impossibilita o cadastramento e a definição dos procedimentos legais para o exercício desta atividade. O principal prejuízo sofrido pelos coletores de iscas é o econômico, ou seja, a impossibilidade de comercialização direta de sua produção nos centros comerciais e da venda direta das iscas viva para o turista, ficando a mercê dos atravessadores que impõe um valor de mercado muito baixo. Como exemplo, um coletor de isca viva vendeu toda a sua produção de tuvira a um atravessador por R$0,20 ( US$ 0,07)a unidade ao mesmo tempo em que um estabelecimento comercial estava vendendo a dúzia da tuvira por R$8,00 ( US$ 2,67), ambas negociações realizadas em Barão de Melgaço. E também há o prejuízo ambiental, pois em conseqüência da clandestinidade vivida pelos catadores de iscas vivas, a utilização dessas espécies vem ocorrendo de maneira irracional, evidenciando alterações na estrutura das populações e no ambiente onde são capturadas. A importância do cadastramento para o órgão responsável pela gestão do recurso é que esta informação é um dos instrumentos necessários para a proposição do ordenamento, tendo em xix

vista que possibilita o dimensionamento da atividade pelo conhecimento do número de pessoas atuantes e locais de atuação. A implementação da lei em conjunto com o ordenamento da atividade de coleta de isca proporcionará aos coletores o reconhecimento específico desta categoria, como um profissional de pesca, dando-lhes o direito de receber os benefícios legais previsto para estes profissionais como, o seguro desemprego durante o período de defeso da piracema, a aposentadoria, entre outros. Embora esta categoria ainda não tenha sido reconhecida oficialmente, é percebida a grande necessidade da organização, seja ela em associações ou em cooperativas, para buscar melhores condições de comercialização do seu produto, visando à obtenção de uma maior renda e em conseqüência uma melhoria da qualidade de vida, pois as condições de trabalho são severas, tendo o coletor de enfrentar ambientes insalubres, estando exposto as situações das mais adversas, ficando sujeito a contaminação por agentes patológicos ocorrentes nos locais de coleta e ataques de animais. A ocorrência de coleta de iscas vivas no Pantanal de Mato Grosso concentra-se nas proximidades do município de Barão de Melgaço, é uma cidade que está as margens do rio Cuiabá, um dos maiores contribuintes na produção pesqueira da BAP, possui apenas 2,5% de seu território em terra firme, o restante é pantanal. Diante desta peculiaridade, detém um grande potencial para o turismo de pesca e para o ecoturismo. O fomento do turismo nesta região proporcionará aos trabalhadores uma alternativa de renda bastante promissora, pois o efeito multiplicador desta atividade é muito amplo, absorvendo mão de obra desde a mais especializada até a menos qualificada. Para o coletor de isca viva, o desenvolvimento do turismo regional é uma fonte significativa de comercialização direta de sua produção, proporcionando ainda uma aproximação do turista, dando ao coletor e sua família a oportunidade de oferecer outros serviços por eles prestados como, guia de pesca, artesanato, entre outros, agregando um maior valor à atividade de coleta de iscas vivas. A estratégia do desenvolvimento sustentável desta atividade requer a articulação dos atores sociais públicos e privados, desde a esfera regional até a federal, concomitantemente com a obtenção do conhecimento científico dos aspectos biológicos e ecológicos da tuvira, que propiciará a proposição de diretrizes para o manejo sustentável, sendo necessário, portanto, um maior investimento nas pesquisas, pois atualmente os conhecimentos científicos sobre esta espécie são escassos. 6. RECOMENDAÇÕES 6.1. AÇÃO 1: Relacionar a integridade ambiental e a atividade de coleta da tuvira na Bacia do rio Cuiabá-MT Objetivos: Identificar as suas funções ecológicas das áreas de coleta da tuvira. Identificar áreas prioritárias para reprodução, crescimento e recrutamento de peixes. xx

Relacionar os atributos ambientais responsáveis pela manutenção da produção da tuvira com as alterações hidrológicas. Definir indicadores de qualidade ambiental para manutenção das populações da tuvira. Subsidiar o delineamento de plano de manejo sustentável para a atividade de coleta da tuvira. Local Potencial: Na bacia do rio Cuiabá, região de Barão de Melgaço. Duração: 36 meses. Estimativa de custos: US$ 100,000 6.2. AÇÃO 2: Aprimorar a Lei Estadual de Pesca e elaborar um Projeto de Lei visando a normatização da atividade de coleta e comercialização de iscas vivas na BAP Objetivos: Revisão da Legislação de Pesca. Aprimorar a lei de Pesca Estadual. Elaborar uma minuta de projeto de lei para a atividade de coleta e comercialização de iscas vivas. Local Potencial: Bacia do Alto Paraguai. Duração: 24 meses. Estimativa de custos: US$ 80,000 6.3. AÇÃO 3: Fomentar a organização social dos coletores de iscas vivas da BAP Objetivo: Fortalecer a categoria dos coletores de iscas vivas, agregando um maior valor econômico à atividade, visando a melhoria de qualidade de vida. Local Potencial: Bacia do Alto Paraguai. Duração: 24 meses. Estimativa de custos: US$ 60,000 6.4. AÇÃO 4: Promover o turismo da pesca e o ecoturismo como alternativa para geração de emprego e renda na da BAP-MT Objetivos: xxi

Incentivar o desenvolvimento do turismo sustentável nos municípios com potencial turístico da BAP; Sensibilização da comunidade sobre a importância do turismo para a região; Elaboração dos diagnósticos municipais das potencialidades turísticas; Elaboração do plano regional de desenvolvimento do turismo integrado da BAP. Divulgação das atividades e potencialidades turísticas municipais. Implementar as ações estabelecidas no plano regional do turismo integrado, como infraestruturas, capacitação e sinalização turística. Local Potencial: Bacia do Alto Paraguai. Duração: 48 meses. Estimativa de custos: US$ 380,000 Quadro 3. Ações recomendadas AÇÃO PRAZO VALOR ESTIMADO ESTIMADO (US$) 1. Relacionar a integridade ambiental e a atividade de coleta da tuvira na Bacia do rio Cuiabá-MT 36 meses 100,000 2. Aprimorar a Lei Estadual de Pesca e elaborar um Projeto de Lei visando a normatização da atividade de coleta e comercialização de iscas vivas na BAP 24 meses 80,000 3. Fomentar a organização social dos coletores de iscas vivas da 24 meses 60,000 BAP 4. Promover o turismo da pesca e o ecoturismo como alternativa 48 meses 380,000 para geração de emprego e renda na da BAP-MT TOTAL 620,000 xxii

CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DA ATIVIDADE DE COLETA E COMERCIALIZAÇÃO DE ISCA VIVA NA BAP-MT SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 1. ANTECEDENTES NO PCBAP 2 1.1. Informação disponível 2 1.2. Recomendações apresentadas 3 2. CADASTRAMENTO DA ATIVIDADE DE COLETA DE ISCAS VIVAS 3 2.1. Importância econômica e social da atividade e a organização social dos coletores 3 2.2. Análise dos dados de socioeconômica e de comercialização das iscas coletadas 7 2.3. A comercialização de iscas no município de Cáceres/MT 11 3. ESPÉCIES UTILIZADAS COMO ISCAS VIVAS 13 3.1. Identificação taxonômica das espécies utilizadas como iscas vivas 13 3.2. Mapeamento de áreas potenciais e áreas de coleta de iscas vivas 17 3.2.1. Locais de ocorrência da tuvira 19 3.2.2. Caracterização dos locais de coleta 20 3.2.3. Petrechos utilizados na coleta de tuvira 25 3.2.4. Acordos de pesca 29 4. DIRETRIZES PARA ORDENAMENTO DA CAPTURA E COMERCIALIZAÇÃO DE ISCAS VIVAS NO PANTANAL DE MATO GROSSO 31 4.1. Definição de tamanho e época de captura de das espécies utilizadas como iscas 31 4.2. Definição de áreas de coleta e áreas de controle para o manejo e conservação das iscas vivas 31 5. CONCLUSÕES E IMPACTOS 32 6. RECOMENDAÇÕES 34 6.1. AÇÃO 1: Relacionar a integridade ambiental e a atividade de coleta da tuvira na Bacia do rio Cuiabá-MT 34 6.2. AÇÃO 2: Aprimorar a Lei Estadual de Pesca e elaborar um Projeto de Lei visando a normatização da atividade de coleta e comercialização de iscas vivas na BAP 35 6.3. AÇÃO 3: Fomentar a organização social dos coletores de iscas vivas da BAP 36 6.4. AÇÃO 4: Promover o turismo da pesca e o ecoturismo como alternativa para geração de emprego e renda na da BAP-MT 37 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 39 8. ATORES 40 ANEXOS 1. QUESTIONÁRIO 1 xxiii

2. QUESTONÁRIO 2 3. QUESTIONÁRIO 3 4. LEI N 7.155, DE 21 DE JULHO DE 1999 5. DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE MATO GROSSO - 30 DE DEZEMBRO DE 2002 6. FOTO DE SATÉLITE PONTOS DE COLETA DE TUVIRA (GYMNOTUS CORAPU) NA REGIÃO DE BARÃO DE MELGAÇÕ PANTANAL DE MATO GROSSO LISTA DE FIGURAS 1. Mapa de localização da área de estudo 6 2. Naturalidade dos coletores de iscas 6 3. Escolaridade, ensino fundamental 7 4. Coleta de iscas efetuadas em sua propriedade 8 5. Outras atividades exercidas 8 6. Renda média familiar no período de pesca 9 7. Renda média familiar na baixa temporada, período de piracema 9 8. Porcentagem de coletores de iscas que possuem seguro desemprego 10 9. Atividade dos coletores de iscas vivas no período de piracema 11 10. Principais espécies de iscas vivas coletadas para serem utilizadas pela pesca profissional e amadora 13 11. Espécies de iscas vivas mais procurada pelos pescadores 14 12. Espécies de isca viva com maior valor comercial 14 13. Mapa de ponto de coleta da Tuvira, na região de Barão de Melgaço 18 LISTA DE QUADROS 1. Equipamentos e/ou utensílios utilizados para os determinados tipos de iscas 10 2. Medidas de parâmetros físico-químicos de alguns ambientes de ocorrência das tuviras, petrechos de pesca utilizados e coordenadas geográficas (amostras 1 a 7) 21 3. Medidas de parâmetros físico-químicos de alguns ambientes de ocorrência das tuviras, petrechos de pesca utilizados e coordenadas geográficas (amostras 8 a 15) 22 4. Medidas de parâmetros físico-químicos de alguns ambientes de ocorrência das tuviras, petrechos de pesca utilizados e coordenadas geográficas (amostras 16 a 22) 23 5. Medidas de parâmetros físico-químicos de alguns ambientes de ocorrência das tuviras, petrechos de pesca utilizados e coordenadas geográficas (amostras 23 a 29) 24 6. Ações recomendadas 38 LISTA DE FOTOS 1. Estabelecimento comercial de iscas vivas em Cuiabá 3 2. Técnico da FEMA entrevistando um coletor de isca viva residente no município de Barão de Melgaço 4 3. Técnica da FEMA entrevistando os ribeirinhos do rio Cuiabá que coletam iscas 4 4. Técnica da FEMA entrevistando comerciantes de iscas vivas do município de Cáceres 5 5. TUVIRA Gymnotus cf carapo (Linnaeus, 1758) 15 6. MUSSUM Synbranchus marmoratus (Bloch, 1795) 16 7. JEJU - Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix, 1829) 16 8. Local de coleta de tuvira na Baía de Siá Mariana 19 xxiv