PROCESSO N. 0600195-23.2017.6.04.0000 CLASSE: REPRESENTAÇÃO (11541) REPRESENTANTE: AMAZONINO ARMANDO MENDES, JOAO BOSCO GOMES SARAIVA Advogados: CARLOS EDGAR TAVARES DE OLIVEIRA, ALEXANDRE PENA DE CARVALHO, CLOTILDE MIRANDA MONTEIRO DE CASTRO, PAULO BERNARDO LINDOSO E LIMA, TERESA CRISTINA CORREA DE PAULA NUNES, DOUGLAS RUI PESSOA REIS AGUIAR, LUIS FELIPE AVELINO MEDINA, SIMONE ROSADO MAIA MENDES, YURI DANTAS BARROSO REPRESENTADO: COLIGAÇÃO UNIÃO PELO AMAZONAS Advogados: DANIEL FABIO JACOB NOGUEIRA, MARCO AURELIO DE LIMA CHOY, NEY BASTOS SOARES JUNIOR, MARCOS DOS SANTOS CARMO FILHO SENTENÇA Trata-se de Representação ELEITORAL POR PROPAGANDA ILEGAL C/C PEDIDO LIMINAR manejada pelos candidatos Amazonino Armando Mendes e João Bosco Saraiva em face da Coligação Majoritária União pelo Amazonas (PTB PMDB PR PSDC PC do B e SD), ao argumento de que a Representada vem utilizando o seu horário eleitoral gratuito para veicular inserção com nítida intenção de degradar, ridicularizar e ofender os candidatos Representantes. Os Representantes fundamentam a inicial em duas teses: (i) inadmissibilidade jurídica de propaganda negativa em inserções no horário gratuito; (ii) inveracidade das matérias veiculadas, impugnando-as especificadamente. Pedido liminar indeferido. A Representada em suma alega: (i) tratar-se de crítica dura com base em fatos veiculados na imprensa acerca da administração do então Prefeito, ora Candidato, Amazonino Mendes; (ii) não ter caluniado, difamado, injuriado, degradado ou ridicularizado os Representados, manifestando-se especificamente sobre as matérias impugnadas.
O Ministério Público Eleitoral pugnou pela improcedência, consignando tratarse de crítica de caráter político oriunda de matérias jornalísticas. Em suma, é o relatório. Passa-se a examinar a causa. A propaganda eleitoral rege-se pelo princípio da informação. Os cidadãos tem direito a obter informações relacionadas aos candidatos, a fim de votarem com consciência e responsabilidade. Do direito de informação do eleitor exsurge o direito de o candidato informar seja mediante propaganda positiva, seja mediante propaganda negativa. A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral está sedimentada acerca da admissibilidade/tolerância da propaganda negativa, ainda que no horário eleitoral gratuito, observe-se: [...] A propaganda eleitoral gratuita que, sem ofender nem falsear a verdade, se limita a rememorar fato passado, inclusive informando data e disponibilizando dados que permitem compreender que se trata de acontecimento há muito ocorrido, não autoriza o deferimento de pedido de resposta (TSE Rp no 366.217/DF PSS 26-10-2010). [...] Rememorar fatos da história de políticos não constitui ofensa a ensejar direito de resposta. Recurso não conhecido (Ac. no 20.501, de 30-9-2002). [...] As críticas apresentadas no horário eleitoral gratuito, buscando responsabilizar os governantes pela má-condução das atividades de governo são inerentes ao debate eleitoral e consubstanciam típico discurso de oposição, não ensejando direito de resposta (Ac. no 349/2002, rel. Min. Sálvio de Figueiredo; Ac. no 588/2002, rel. Min. Caputo Bastos). Cautelar deferida liminarmente e referendada pela Corte (Ac. no 1.505, de 2-10-2004). Alardeando aspecto salutar da propaganda negativa o doutrinador José Jairo Gomes (2017, p. citando Aline Osório pondera : No entanto, é preciso ponderar que, como bem ressalta Aline Osorio (2017, p. 228): A crítica política dura, mordaz,
espinhosa, ácida é peça essencial ao debate democrático, sendo natural em campanhas eleitorais a utilização de estratégias de desqualificação de oponentes, realçando defeitos, pontos fracos, erros e manchas em suas biografias. Além de inevitável, a propaganda negativa pode ser benéfica ao processo democrático. Afinal, assevera a autora, por meio da crítica à figura dos candidatos, os eleitores têm acesso a um quadro mais completo das opções políticas. Considerações a respeito do caráter, da idoneidade e da trajetória dos políticos não são indiferentes ou [ir]relevantes para o eleitorado e fazem parte do leque de informações legitimamente utilizadas na definição do voto. (Direito Eleitoral, 13ª edição. Atlas, 03/2017.) Dessarte, cediço é a aceitabilidade da propaganda eleitoral negativa pela jurisprudência e doutrina. No ponto, mister ressaltar a inexistência de vedação legal à propaganda eleitoral negativa no âmbito do horário eleitoral gratuito. O uso do espaço gratuito para veiculação de críticas ao candidato adversário é admitido pela legislação eleitoral, desde que não contenha informação inverídica, da qual resulte ofensa de caráter pessoal a candidato, partido ou coligação. Nesta esteira, destaque-se a evolução da jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral para não admitir ofensa pessoal na propaganda eleitoral gratuita, admitindo, contudo, críticas duras relacionadas às propostas: PROPAGANDA ELEITORAL. PEDIDO DE LIMINAR. OFENSA PESSOAL. ARTIGO 53, 1º, DA LEI DAS ELEIÇÕES. APLICAÇÃO. NOVA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. 1. Na sessão de 16.10.2014, o TSE, por maioria, decidiu que, em homenagem ao debate eleitoral fértil e autêntico, a propaganda eleitoral deve ater-se às propostas de planos de governo, divulgação e discussão de ideias, lastreadas no interesse público e balizadas pela ética, decoro e urbanidade. 2. O horário eleitoral não é ambiente próprio para ataques e ofensas, com críticas destrutivas ao adversário, com nítido desvirtuamento do espaço reservado à propaganda eleitoral.
3. Eventuais críticas e debates, ainda que duros e ásperos, devem estar relacionados com as propostas, os programas de governo e as questões de políticas públicas. 4.Deferimento da liminar. (Representação nº 172445, Acórdão, Relator(a) Min. Admar Gonzaga Neto, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 21/10/2014) Imperioso consignar, ofensa pessoal deve ser entendida como termos ou xingamentos injuriosos, bem como aquela oriunda de fatos atinentes tão somente à vida privada da pessoa política. No caso em tela, a crítica perpetrada pela Representada direciona-se especificamente às propostas dos Representantes. Mais precisamente, a Representada questiona se os Representantes cumprirão suas propostas, atribuindo-lhes fatos relacionados à gestão passada. Da averiguação do contraditório realizado acerca de cada uma das matérias, não se vislumbra a imputação de fatos manifestamente inverídicos, não competindo à Justiça Eleitoral valorar, em juízo aprofundado, a veracidade ou não dos fatos expostos nas matérias. Neste sentido a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral: [...] Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Fato sabidamente inverídico. 1. A mensagem, para ser qualificada como sabidamente inverídica, deve conter inverdade flagrante que não apresente controvérsias. 2. Não é possível transformar o pedido de resposta em processo investigatório com intuito de comprovar a veracidade das versões controversas sustentadas pelas parte. 3. Pedido de resposta julgado improcedente. (Ac. de 26.10.2010 na Rp nº 367516, rel. Min. Henrique Neves.) Ademais, no tocante à ofensa a honra dos Representantes, não se verifica ofensa pessoal, ridicularização ou degradação, tampouco calúnia, difamação ou injúria. Insta ressaltar: o homem político tem a esfera de proteção jurídica de sua honra mitigada uma que vez presta conta de seus atos ao povo, tendo
condutas publicamente avaliadas. Assim, determinados atos que são considerados ofensivos à honra do homem comum não devem ser considerados ofensivos à honra do homem político. Nesta docência, José Jairo Gomes (2017, p. 551): [...]Mas esses conceitos extraídos do Código Penal não têm aplicação rígida na esfera eleitoral. Dada a natureza de suas atividades, o código moral seguido pelo político certamente não se identifica com o da pessoa comum em sua faina diuturna. Tanto é que os direitos à privacidade, ao segredo e à intimidade sofrem acentuada redução em sua tela protetiva. Afirmações e apreciações desairosas, que, na vida privada, poderiam ofender a honra objetiva e subjetiva de pessoas, chegando até mesmo a caracterizar crime, perdem esse matiz quando empregadas no debate político-eleitoral. Assim, não são de estranhar assertivas apimentadas, críticas contundentes, denúncias constrangedoras, cobranças e questionamentos agudos. Tudo isso insere-se na dialética democrática. (Direito Eleitoral, 13ª edição. Atlas, 03/2017.) Por derradeiro, destaque-se, é na dialética democrática que os Representantes, querendo, deverão apresentar suas versões dos fatos e ao povo competirá formar juízo acerca da veracidade ou não destes. Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTE a presente representação. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se. Manaus, 23 de julho de 2017. ANA PAULA SERIZAWA SILVA PODEDWORNY Juíza Auxiliar do TRE/AM no Pleito Suplementar 2017