A POLÍTICA DE IMPLEMENTAÇÃO DE CANAIS DE TELEVISÃO DO GOVERNO FEDERAL



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Transcrição:

A POLÍTICA DE IMPLEMENTAÇÃO DE CANAIS DE TELEVISÃO DO GOVERNO FEDERAL Autor (a): Luciene Pazinato da Silva, PUC-SP CAPES lu_pazinato@hotmail.com

A POLÍTICA DE IMPLEMENTAÇÃO DE CANAIS DE TELEVISÃO DO GOVERNO FEDERAL Luciene Pazinato da Silva 1 RESUMO: A Empresa Brasil de Comunicação, a EBC é responsável pela instituição de todo o Sistema Público de Comunicação do governo federal. Será apresentado neste artigo, como ocorreu a política de formulação e implementação de dois de seus canais de televisão: a Televisão Nacional Brasil - TV NBR, criada em 1997 e a TV Brasil, criada em 2007. O objetivo é analisar a comunicação pública no Brasil, como um novo período de mudanças históricas entre poder político e visibilidade política, esfera pública e os meios de comunicação, reabrindo o debate sobre as concessões de canais de televisão de interesse público e a relação do poder público institucionalizado como órgão de fomento da política de comunicação no pais. O que suscita a discussão sobre o papel da televisão na sociedade e a centralidade das informações (visibilidade) dos processos políticos. PALAVRAS-CHAVE: comunicação pública, visibilidade, poder CONTEXTO POLÍTICO BRASILEIRO Com as mudanças políticas nacionais nos anos 90, as eleições para presidente e as demandas econômicas mundiais, com a globalização, as telecomunicações no Brasil são expandidas com a criação do serviço da Lei a Cabo. Portanto nos interessa argumentar sobre a normatização das televisões públicas a partir deste período, quando a referida lei entra em vigor em 1995. Em relação às telecomunicações, foi durante a década de 90 que ocorreu a separação da radiodifusão das telecomunicações, alterando o Código Brasileiro de Telecomunicações de 1962, e em janeiro de 1995 criou-se a lei que dispõe sobre o Serviço de TV a Cabo 2, conhecida como a Lei a Cabo. Na referida lei, o que chama 1 Professora de Ciências Sociais da UNIBRASIL, lu_pazinato@hotmail.com, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP. 2 LEI Nº 8.977, DE 06 DE JANEIRO DE 1995. Dispõe sobre o Serviço de TV a Cabo e dá outras providências. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1995/lei-8977-6-janeiro-1995-374633-normaatualizada-pl.pdf>.

atenção é o artigo 5 o., que considera que o serviço de TV a cabo pode ser executado e explorado com critérios definidos em regulamento baixado pelo Poder Executivo (Correia, 2011). Com a aprovação desta lei, as operadoras de TV a cabo passam obrigatoriamente a reservar o uso gratuito de canais para o Senado, para a Câmara dos Deputados e para as Assembléias Legislativas/Câmaras Municipais (Santos, 2006). Para a presente pesquisa foram selecionados dois dos canais oriundos da Lei a Cabo, reservados para o poder executivo: a TV NBR e a TV Brasil, ambos os canais gerenciados pela Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, como veremos a seguir, porém é mister contextualizar ainda mais o período da criação dos canais. As mudanças na Lei de Telecomunicação e Radiodifusão no Brasil ocorreram devido às reformulações nas economias dos países capitalistas no período de aceleração da globalização e da política neoliberal, com o propósito de modernizar e expandir o setor com o incremento de novas tecnologias, como a TV a cabo e os sinais de transmissão de imagens. Pois, conforme Chaia (2007, p. 164), os governos militares (1964-1985) desenvolveram uma política de comunicação, integrando o país através de uma expansão das telecomunicações, mas ao mesmo tempo reprimiram qualquer autonomia dos meios de comunicação, exercendo censura e controle neste setor da sociedade brasileira. Portanto, com a Lei a Cabo, houve um marco na exploração de canais de TV. A partir daí o Poder Executivo passa a ser responsável pela definição de critérios para o uso dos chamados canais básicos de utilização gratuita, que incluem os canais que passam a transmitir a agenda dos poderes do Estado. A institucionalização de canais de televisão centralizados pelo poder do Estado recoloca o debate sobre o papel da televisão na sociedade e a centralidade das informações dos processos políticos envolvendo pesquisas para compreender o debate político sobre a esfera pública. Com a expansão do acesso a estes canais, a polêmica permanece sobre o papel do Estado na veiculação de informações e o papel da mídia na construção da imagem pública. Sobre como o desenvolvimento da mídia transforma a natureza do caráter público Thompson (1998, p. 109-110) reavalia como a evolução histórica entre poder e visibilidade criou novas oportunidades para os líderes políticos mas fez surgir novos

riscos, preocupações, gafes e escândalos, que são um permanente risco para o exercício do poder. Para ele: O desenvolvimento da mídia criou novas formas de publicidade que são bem diferentes da publicidade tradicional e co-presença. A característica fundamental desta nova forma é que, com a extensão da disponibilidade oferecida pela mídia, a publicidade de indivíduos, ações ou eventos, não está mais limitada à partilha de um lugar comum. Ações e eventos podem se tornar públicos pela gravação e transmissão para outros fisicamente distantes do tempo e do espaço de suas ocorrências. Ações e eventos podem adquirir uma publicidade que independe de serem vistos ou ouvidos diretamente por uma pluralidade de indivíduos copresente. O desenvolvimento da mídia deu origem assim a novas formas de publicidade mediada que vêm assumindo um importante papel no mundo moderno. (idem, p. 114) Ao constatar a importância da publicidade mediada, em que ações e eventos políticos tornam-se públicos, o autor indaga sobre as características das formas mediadas de publicidade criadas pela TV. A televisão, em virtude da riqueza visual de suas deixas simbólicas, estabelece uma nova e distinta relação entre publicidade e visibilidade (idem, p. 117). Com o advento da imprensa, a partir do Estado moderno e posteriormente, o desenvolvimento dos meios de comunicação os governantes políticos tiveram cada vez mais que se preocupar com a apresentação diante de audiências, não somente como promulgação de suas ações políticas mas como meio de projetar uma imagem. E desta forma o desenvolvimento da televisão reenfatizou a importância da visibilidade no sentido estreito de visão a auto-presença, bem como o grau de vigilância e de monitorização reflexiva requeridas pelos lideres políticos e por aqueles a quem confiaram a administração de sua visibilidade (Thompson, p. 123-124). Desta forma, novos canais criados pelos Estado brasileiro irão refletir um novo processo histórico no Brasil e a partir dele propõe-se ressaltar os condicionantes históricos, econômicos, institucionais e legais para o desenvolvimento de políticas de comunicação pública do governo federal e acompanhar como se desenvolveu a implantação dos referidos canais e a própria transformação do caráter público de televisão como agente político.

Discute-se neste texto a política de comunicação do governo federal em implementar modelos de televisão no país, o que requer o enfoque da comunicação e da política, o papel desempenhado pelos mass media no cenário político brasileiro, que se tornou cada vez mais significativo com a ampliação do processo democrático (Chaia, 2007, p. 172). De acordo com a autora (Chaia, 2007, p. 174-176), ocorre um novo momento do cenário político nacional em que deve-se enfatizar a importância dos meios de comunicação decorrente da centralidade destes na sociedade contemporânea, a crise dos partidos políticos e da ideologia neste momento histórico e a importância da televisão e do rádio face à desconfiança das instituições políticas e ao descrédito da classe política. Assim, a importância dos meios de comunicação que informam e formam a opinião pública, as campanhas realizadas no espaço televisivo e a construção da imagem dos políticos, da política é construída na e pela televisão. Uma abordagem institucionalista, continua a autora, poderia limitar a compreensão do fenômeno e deixando de captar as influências que a mídia de modo geral pode exercer no processo eleitoral. Daí a necessidade de incorporar na análise política, os recursos propiciados pela abordagem dos meios de comunicação (Chaia, 2007, p.177). O fato da televisão ter conquistado um papel central como um agente de promoção da cultura política que dissemina as informações não significa que ela tenha se inserido com o único objetivo de reduzir as assimetrias de informações entre o público e o governo, afirma Schuck (2011, p. 13). Para a autora, a mídia assim como outros atores envolvidos nesse processo, tem seus próprios interesses, sejam eles políticos ou econômicos. Assim como os demais atores, ela irá avaliar as demandas e ofertas de informação em função de seus interesses e suas preferências. Todavia, para que ela se consolide como tal, há de haver uma demanda. Tem-se assim um novo modelo de TV pública e um novo momento de redemocratização política no país. É deste cenário que emerge a questão central para os propósitos da presente pesquisa, que buscará responder às seguintes questões: como ocorreu a implementação da política de comunicação pública televisiva no Brasil, a partir das mudanças históricas e sociais entre poder público e visibilidade política e entre esfera pública e os meios de comunicação? Porém, aproximando-se mais das análises da Comunicação Política dos anos 90, as

investigações do uso da televisão como veiculo de informação e trans(formação) no campo da política, tem revelado uma ampliação desta discussão sobre as transformações políticas na esfera da visibilidade pública para visibilidade midiática, principalmente com a mediação da comunicação televisiva. De acordo com Gomes (2006) a Esfera de Visibilidade pública inclui o repertório de idéias, opiniões, noções, informações e imagens que constitui o conhecimento comum, isto é, tudo aquilo que é publicamente visível e acessível ao conhecimento de um determinado público. A visibilidade pública ultrapassa o particular e se torna de conhecimento público. E é nesse espaço visível que a esfera da visibilidade torna possível compartilhar valores, crenças e hábitos que são característicos de uma sociedade. No caso da esfera política, pode-se afirmar que do ponto de vista da esfera política, a esfera de visibilidade pública é a forma com que um agente político ou uma matéria da pauta política, por exemplo, podem assegurar o reconhecimento público da sua existência Gomes, 2004a, p.115, apud Drummond, (2011). Na atualidade, com a expansão das comunicações e os avanços tecnológicos essa esfera de visibilidade assume diversas configurações. Assim a visibilidade pública é importante por ser ela que torna um fato publicamente conhecido. Em tempos de política mediática, a comunicação de massa é decisiva para o ingresso no círculo da representação política (ou, como se diz popularmente, para se chegar ao poder ) e muito importante para se continuar nele. (Gomes, 2004b, p.20). A execução da política de comunicação de canais de televisão públicos no Brasil, a partir dos anos 90 foi uma decisão oriunda da esfera dos poderes do Estado, o que significou uma centralidade na condução de criação destes canais. Porem, neste contexto houveram os embates com uma ampla participação da sociedade civil no contexto político da época, o que levou a mobilização de setores da comunicação e entidades afins, reabrindo o debate sobre as concessões de canais de interesse público. Quais as decisões do poder público para a implantação destes canais ampliando assim a visibilidade do poder público sobre a esfera pública de comunicação? Qual o envolvimento da sociedade civil durante este processo? Como se fez representar as entidades do setor de televisão?

Os anos 90 marcam um novo período da radiodifusão no Brasil. Valente (2009), apresenta uma extensa pesquisa histórica do modelo de regulação da TV pública no Brasil, dividindo-a em periodização que são: 1 a. Fase: Instrumento de Teleducação (1967-1981); 2 a. Fase: Inserção Mais Qualificada na Concorrência Televisiva (1981-1993); e a 3 a. Fase: Crise e Reestruturação (1993-2007). 3 Nos importa aqui a discussão sobre a terceira fase deste período histórico das TV públicas no pais, na qual são criadas a TV NBR e TV Brasil e, na esteira das mudanças estruturais da radiodifusão, é criada a Empresa Brasileira de Comunicação, a EBC, que será responsável pelo gerenciamento dos respectivos canais analisados. Assim, as mudanças históricas e sociais no Brasil nos anos 80 e 90 darão outro caráter à formação da 3 a. fase de Crise e Reestruturação da TV pública brasileira, que de acordo com (Valente, 2009, p. 76), quando das: [...] sucessivas crises econômicas na década perdida [anos 80], e ameaçada pelo ascenso das forças populares no momento de redemocratização, a burguesia aderiu ao projeto neoliberal de maneira intensa. Esta postura refletiu-se, como em todos os setores, inclusive na radiodifusão. São decorrentes das crises as dificuldades orçamentárias, restrição na legislação para angariar recursos, sucateamento das estruturas, desativação das emissoras, foram as principais discussões que desarticularam as TV públicas existente no pais. Mediante este quadro e a discussão tem torno da reestruturação das telecomunicações no pais houve uma mobilização dos representantes das TVs públicas com a criação de associações para regatar e fortalecer a infra-estrutura e a programação cultural e reabrindo o debate sobre as concessões de canais de interesse público, que incluíam os canais comunitários, educativos, governamentais, estaduais e locais. As mudanças na radiodifusão iniciam-se pelo poder executivo quando em 1988, no governos de José Sarney (1986-1990), assinou decreto regulamentando o Serviço Especial de Televisão por Assinatura, porém é no governo de Fernando Collor (1990-3 Para conhecer mais detalhes destas fases acesse: <http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/5468/1/2009_jonaschagasluciovalente.pdf> p. 52-76.

1992) que é publicado a portaria 51 para a pretensa Norma de Serviços de TV a Cabo, que fora colocada em consultoria pública. Esta mudança, que chamou a atenção da sociedade civil representada pelo Fórum Nacional de Luta pela Democratização da Comunicação - FNDC, e demais entidades de interesse nos debates sobre a TV pública, e que mobilizou-se em impedir que a regulamentação da TV a Cabo viesse por ato executivo, mas que a deliberação sobre o assunto viesse do Congresso Nacional. Em 1991 chega ao Congresso a portaria 51 para ser votada, que dentre as propostas era garantir o interesse público da nova tecnologia. De acordo com a pesquisa de Correia (2011, p. 83-87), em 1995, a emenda constitucional visando a flexibilização do monopólio estatal nas telecomunicações, é encaminhada ao Congresso, quando naquele mesmo ano, foi aprovada a quebra do monopólio estatal das telecomunicações pela Emenda Constitucional n. 8, na qual modifica o artigo n. 21 da Constituição Federal, relativo as competências do Estado, privatizando o Sistema Telebrás permitindo a entrada de capital estrangeiro nas telecomunicações. O artigo 21 substitui a frase controle acionário estatal por criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais, referente ao parágrafo XI dos serviços público de telecomunicação e radiodifusão. 4 Sobre o modelo de regulamentação da TV pública no Brasil e as mudanças a partir da Lei a Cabo, anos 90, Santos (2006, pp. 14-15) apud Valente (2009, p. 90) apresenta o universo das TVs Públicas como aquelas vinculadas, mantidas, exploradas e controladas pelo Estado, cujo termo ligada, ou vinculada, reforça Santos (idem), é empregado para circunscrever todas aquelas TVs que são mantidas pelo Estado, mesmo que possuam figura jurídica de fundações de direito privado, como no caso da Cultura, ou Organização Social, como no caso da Rede Minas. No conjunto das TVs públicas estão incluídas: (1) emissoras controladas pelos Poderes da União; (2) as educativas mantidas por governos estaduais - incluídas aí as universitárias que desempenham o mesmo papel (TVU-UFPE, TVU-UFRN e TVU-UFMT); e as (3) legislativas estaduais e municipais. 4 Constituição de 1988. Disponível em : <http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/con1988_05.10.1988/con1988.pdf>

Conforme Santos (2006, pp. 14-15) apud Valente (2009, p. 91), o primeiro grupo compreende as televisões ligadas ao governo federal, TV Brasil e TV NBR, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal. O segundo compreende as 21 geradoras espalhadas por boa parte das Unidades da Federação. O terceiro envolve as 17 televisões mantidas por Assembléias Legislativas e 49 por Câmaras de Vereadores. Centrando a discussão neste artigo no item (1) emissoras controladas pelos Poderes da União, estas emissoras assumem, a partir de 1995, um novo formato normativo que irão regular a organização dos serviços de telecomunicação, o que dá início a uma nova forma de se estabelecer a comunicação pública no Brasil e suas TVs públicas, com a produção e veiculação de programações do Estado, com canais próprios. A partir deste período da criação de canais de âmbito federal se concretizam no Brasil. Portanto, com a Lei a Cabo, houve um marco na exploração de canais de TV. A partir daí o Poder Executivo passa a ser responsável pela definição de critérios para o uso dos chamados canais básicos de utilização gratuita, que incluem os canais que passam a transmitir a agenda dos poderes do Estado. Assim, são criados na segunda década dos anos 90 e primeira do século XXI ao todo sete canais de televisão, que passam a transmitir programação exclusiva dos três poderes. São elas: TV Assembléia de Minas Gerais (1995), a primeira emissora legislativa; TV Senado (1996); TV NBR (1997), criada pelo então governo de Fernando Henrique Cardoso e voltada para a agenda do poder executivo; TV Câmara (1998) e TV Justiça (2002). O sétimo e último canal ligado ao governo federal criado neste período foi a TV Brasil, em dezembro de 2007, no governo Lula, cuja finalidade é complementar e ampliar a oferta de conteúdos, oferecendo uma programação formadora da cidadania. 5 As dificuldades orçamentárias, legislação, sucateamento das estruturas, desativação das emissoras, foram as principais discussões que desarticularam as TV públicas existentes. É quando houve uma mobilização dos representantes das TVs públicas com a criação de associações para regatar e fortalecer a infra-estrutura e a programação cultural e reabrindo o debate sobre as concessões de canais. Em 1988, José Sarney (1986-1990), assina decreto regulamentando o Serviço 5 Informações retiradas dos sites oficiais das próprias TVs.

Especial de Televisão por Assinatura, porém é no governo de Fernando Collor (1990-1992) que é publicado a portaria 51 para a pretensa Norma de Serviços de TV a Cabo, que fora colocada em consultoria pública o que chamou a atenção da sociedade civil representada pelo Fórum Nacional de Luta pela Democratização da Comunicação - FNDC, e entidades de interesse nos debates sobre a TV pública. Neste aspecto, Miguel (2002), enfatiza a importância de se compreender a relação entre meio de comunicação e política, pois para ele o meio dominante é a televisão pois revolucionou nossa percepção do mundo, dentre eles a atividade política e que aprofundou as transformações no discurso político, o sentido de intimidade (p. 155). Passa ser a mídia um fator central na vida política contemporânea, frisa este autor, os meios de comunicação ampliam o acesso aos agentes políticos e os seus discursos, que ficam expostos de forma mais permanente, o que para Miguel (2002) a desmistificação dos lideres políticos pode ser encarada como um progresso, e o que a mídia coloca é, na verdade própria da democracia de massas: a junção de um demos heterogêneo, dividido por interesses contraditórios sempre em estado de conflito e a necessidade a toda sociedade de manter um mínimo de unidade entre seus integrantes. Os meios de comunicação não são imparciais no debate político, pois a mídia defenderá certos segmentos sociais e que a mudança passa pela pressão da sociedade, pois, na afirmação do autor há uma imperfeição da democracia formal pela limitação da participação política popular e que o papel dos meios de comunicação na produção desta passividade, carece de investigação. Assim, os meios de comunicação são em si mesmos uma esfera da representação política. A mídia é, nas sociedades contemporâneas o principal instrumento. Os meios de comunicação reproduzem mal a diversidade social, o que acarreta conseqüências significativas para o exercício da democracia, pois como afirma o autor: É a ausência de voz na disputa pelas representações do mundo social que se trava nos meios de comunicação. Portanto os interesses e as preferências dos indivíduos são permanentemente definidos e redefinidos na luta política e assim a democratização da esfera política implica, tornar mais equânime o acesso aos meios de difusão das representações do mundo social, para que participem do debate político e também gerar espaços que permitam aos grupos sociais, os dominados, formular suas próprias interpretações.

O autor usa o conceito de campo para entender a interação entre mídia e política duas esferas que se guiam por lógicas diferentes, mas que interferem uma na outra. Usa portanto a definição de campo político de Bourdieu 6, cujo conceito de campo permite entender a interação entre mídia e política, duas esferas que se guiam por lógicas diferentes, mas que interferem uma na outra. O cerne de sua defesa, é que a mídia e política formam dois campos diferentes, guardam autonomia e a influência de um sobre o outro não é absoluta nem livre de resistências, tem processo de mão dupla. Desta forma, a partir de 1995 as emissoras controladas pelo poder da União assumem um novo formato normativo que irão regular a organização dos serviços de telecomunicação, o que dá início a uma nova forma de se estabelecer a comunicação pública no Brasil e suas TVs públicas, com a produção e veiculação de programações do Estado, com canais próprios, os quais fazem parte os canais já citados para esta pesquisa. A seguir, uma explanação sobre os canais desta presente pesquisa: TV NBR e TV Brasil, ambos os canais gerenciados pela Empresa Brasil de Comunicação, a EBC. EMPRESA BRASIL DE COMUNICAÇÃO EBC A EBC é uma empresa pública federal criada em 2007, com o intuito de gerenciar o sistema público de comunicação no que diz respeito a canais de comunicação de televisão pública, agência de notícias e oito emissoras de rádios que compõem a Rede Pública de Rádio da EBC. Fazem parte dos canais de comunicação de televisão a TV Brasil e a TV Brasil Internacional. 7 A EBC é criada no momento que estava ocorrendo na área de telecomunicações debates sobre a TV pública no Brasil. Naquele ano, em maio, durante I Fórum Nacional de TVs Públicas, com a participação de comunicadores, cineastas, jornalistas, movimentos sociais, dirigentes de rádio e televisão não-comerciais, resultou uma 6 O campo político é, segundo a definição de Bourdieu, o lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos, entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de consumidores, devem escolher. Bourdieu (2002) apud Miguel p. 166. 7 Site da EBC.

proposta de comunicação pública chamada Carta de Brasília. Esta Carta, um documento elaborado a partir das propostas profissionais da área que dentre suas recomendações traz a necessidade de políticas voltadas para a construção e desenvolvimento de um sistema de comunicação e informação no país, por meio da articulação entre os canais públicos de televisão. Assim, recomendam - A nova rede pública organizada pelo Governo Federal deve ampliar e fortalecer, de maneira horizontal, as redes já existentes 8 A representação da Presidência da República, naquele momento dos debates sobre a TV pública, estava sendo organizada por um grupo de trabalho da SECOM, com base na Carta de Brasília que o Brasil precisa, no seu trilhar em busca da democracia com igualdade e justiça social, de TVs Públicas independentes, democráticas e apartidárias (ibidem), antecipa a criação de uma televisão pública com a elaboração da Medida Provisória 398 9, propondo a criação de uma nova empresa pública federal, como base jurídica no artigo 223 da Constituição Federal. Este processo ocorrera entre os meses de maio a outubro daquele ano, cuja missão institucional desta empresa seria implantar e gerir os serviços de radiodifusão públicas federais. Assim a MP 398 converte-se na Lei 11.652, em abril de 2008, autorizando a criação da EBC, que institui serviços de radiodifusão públicas explorados pelo Poder Executivo ou a entidades de sua administração indireta. 10 Conforme informações do site da EBC, as atribuições desta empresa, tem como resultado os debates pela criação de um canal de comunicação federal de informação plural. E ainda do site complementa que as emissoras da EBC, por sua independência editorial, distinguem-se dos canais estatais ou governamentais, com conteúdos diferenciados e complementares aos canais privados. Os veículos da EBC têm autonomia para definir produção, programação e distribuição de conteúdos. 11 Ao novo grupo empresarial da EBC foram incorporados a antiga Radiobrás e a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto ACERP, responsável pela coordenação da TVE do Rio de Janeiro, incluídas também a TVE do Maranhão e a TV Nacional de Brasília, formando o embrião da TV Pública, que passa a vincular-se a nova empresa e chamar-se TV Brasil, gerenciado pelo mesmo grupo, conforme discurso 8 I Fórum Nacional de TVs Públicas: Manifesto pela TV Pública independente e democrática. 9 Medida Provisória que cria a TV Brasil. MP nº 398, de 10 de Outubro de 2007. 10 Lei no. 11.652. de 07 de abril de 2008. 11 Site da EBC

do diretor-presidente da TV Brasil. 12 Todas estas mudanças irão instituir o Sistema Público de Televisão e somando as suas atribuições a implantação da Rede Nacional de Comunicação Pública, assumindo portanto a operação e a gestão de todas as atividades de interesse da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal SECOM, que estavam sob a responsabilidade da Radiobrás. Uma das críticas feitas pelos analistas em comunicação esta relacionado ao orçamento financeiro da TV Brasil, o que vale também para a TV NBR, pois ambos os canais estão ligados a Empresa Brasileira de Comunicação - EBC. De acordo com Bucci (2011), é a Presidência da República que nomeia o diretorpresidente e o diretor-geral da EBC, sendo esta uma Empresa, uma estatal, como tantas outras e que para ele, não é, na forma da lei, o que as democracias aprenderam a chamar de emissora pública, pois neste caso, o executivo-chefe é escolhido por um conselho de representantes da sociedade. Outro ponto levantado por Bucci é que além de ter a natureza jurídica de uma estatal, a EBC é encarregada de operar, produzir e veicular comunicação governamental e outras atividades afins que lhe forem atribuídas pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República SECOM. O que corresponde a programação da TV NBR que, em sua grade horária, transmite ao longo do dia a agenda do poder executivo com exclusividade, alem de lançamentos de ações do governo federal, como ministérios e secretarias. A própria TV Brasil veicula estas ações em seus programas jornalísticos. Na análise do autor, a EBC reporta-se diretamente a SECOM, sendo assim, a EBC é parte orgânica da estratégia do Planalto do Palácio, e isso não atende aos requisitos conceituais de uma emissora pública, e transformar a velha radiofonia (antiga Radiobras) numa instituição de comunicação pública foi tímida demais, afirma Bucci. A inovação positiva, e que não existia na Radiobrás, embora nomeado pela Presidência da República, é reunir especialistas independentes e isto inclina a estimular uma comunicação não governamental, mas que não exerce poder de fato, quem detém o comando é o Conselho Administrativo, nomeados pela Presidência da República e entre 12 Site TV Brasil

eles ha representantes dos Ministérios. Esse Conselho é quem manda, elege e destitui os seis diretores da empresa (com exceção do diretor-presidente e do diretor-geral, nomeados diretamente pelo Palácio). Na visão do autor, cindida por duas vocações contraditórias, a estatal hoje tem mais cara de governo (e para o governo) do que de projeto da sociedade (e para a sociedade). TV NACIONAL BRASIL TV NBR, A TV DO GOVERNO FEDERAL Com 15 anos de existência, a Televisão Nacional Brasil - TV NBR, tem em sua história como emissora o registro visual das principais ações políticas, agenda e enquadramento dos presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio da Silva e as atuais ações da presidenta Dilma Roussef. A TV NBR, criada em 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), foi a segunda emissora de televisão governamental oriunda das mudanças das telecomunicações no Brasil, conforme comentado anteriormente. Embalado pelas novas concessões dos canais de televisão, e dos debates sobre comunicação pública, e com o discurso de produção e acesso as informações sobre as políticas governamentais, a TV NBR, cujo slogan é a TV do governo Federal. Tem como foco central transmitir em ao vivo as atividades e atos do Poder Executivo, eventos e pronunciamentos oficiais com enfoque na Presidência da República e ministros do Poder Executivo Federal além de telejornais, séries especiais, documentários e programas de entrevistas e debates, que abordam as políticas públicas do Brasil. Quando criado o canal era gerenciado pela antiga Radiobras, e atualmente gerenciada pela EBC. No período de sua criação o canal recebeu várias criticas, como a de promover a recuperação da popularidade do então presidente da república nas pesquisas, levando o apelido de TV FHC, além de ser critica por utilizar a estrutura fornecida pelas TVs educativas dos estados governados por aliados, de empresas estatais e com o auxilio da Rede Globo, que cedeu um canal da NET. Período que foi considerado maior escândalo já visto no pais do uso ilegal dos meios de comunicação para campanha eleitoral. 13 13 TV Critica

TV BRASIL, A TV PÚBLICA DO BRASIL A TV Brasil, criada em 2007, foi a sétima e última televisão do governo federal que surgiu no período da regulamentação do setor de telecomunicações no Brasil. Instituída no início do segundo mandato do governo Lula (2003-2010), com o slogan a TV Pública do Brasil, esta veio atender à antiga aspiração da sociedade brasileira por uma televisão governamental nacional, independente e democrática, cujo objetivo constituise na preocupação de garantir "pluralidade de fontes de produção e distribuição do conteúdo; (...) programação com finalidades educativas, culturais, científicas e informativas". Sua finalidade é complementar e ampliar a oferta de conteúdos, oferecendo uma programação de natureza informativa, cultural, artística, científica e formadora da cidadania. A TV Brasil conta também com a TV Brasil Internacional, que é o canal da TV Pública brasileira para o exterior, destinado a divulgar a realidade econômica, política, social e cultural do Brasil para outros povos e para os milhões de brasileiros que vivem em outros países. 14 O segundo canal analisado é a TV Brasil que veio atender à antiga aspiração da sociedade brasileira por uma televisão pública nacional, independente e democrática. Há também a TV Brasil Internacional e que veicula o canal da TV Pública brasileira para o exterior, destinado a divulgar a realidade econômica, política, social e cultural do Brasil para outros povos e para os milhões de brasileiros que vivem em outros países, transmitido em Língua Portuguesa. A programação é composta por programas da própria TV Brasil, de emissoras regionais associadas e de produtores independentes brasileiros. As transmissões da TV Brasil Internacional tiveram início em 24 de maio de 2010, alcançando inicialmente 49 países africanos, através da operadora de DTH e cabo Multichoice. A TV Brasil Internacional começou a ser transmitida por inúmeras empresas de TV a cabo na América Latina em diferentes cidades de 12 (doze) países, e também já se faz presente em Portugal, nos Estados Unidos e no Japão. Dos analistas brasileiros sobre a televisão pública no Brasil a autora Corrato (2008) aborda especificamente o caso da TV Brasil e a considera como pública, inclusive um 14 Informações de ambos os canais retiradas do site e dos canais veiculados na televisão.

sonho do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação FNDC, um sonho desde Roquette Pinto, precursor da radiodifusão pública no pais em 1952, enfatiza a autora, cujo quesito de discussão sobre este aspecto é o debate das modalidades existentes hoje na televisão nacional que engloba: a modalidade pública, estatal e comercial. A autora (idem) aponta que o artigo 5 o. da Constituição prevê a existência e a complementaridades entre estas modalidades, e que a origem da concessão é a mesma: o Estado. E indaga: tanto a TV pública como a estatal dependem de financiamento público, então não estariam próximas? A idéia defendida pela autora diz respeito a criação da primeira TV pública no Brasil, a TV Brasil e que em sua análise, a televisão passa a ser utilizada como a forma mais avançada da produção capitalista, característica do capitalismo monopolista, é a única verdadeira indústria cultural, o elemento que articula o grande capital, e comunicar-se com a população, continua a autora, é necessidade básica do Estado e do capital, e entende-se, por um lado, a necessidade que o Estado brasileiro tem de um canal próprio para essa comunicação. Para Rincón (2006) apud Corrato (ibidem), a TV pública dentre suas características e atribuições deve ser experimental e inovadora em formatos, estilos, temáticas e estéticas [...] ter o dever de promover telespectadores melhores e cidadãos ativos para a democracia, o que para Corrato a diferenciação entre TV pública e comercial recai muito mais uma série de intenções (boas, se dúvida), o próprio FNDC criticou o modelo adotado pela TV Brasil e que desconsiderou a participação da sociedade civil dos movimentos sociais que lutam pela democratização da comunicação, dos pesquisadores e trabalhadores da comunicação, e que sem esses segmentos não há como garantir um estatuto público à televisão, afirma a autora. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Estado brasileiro passa a configurar um novo marco para a política e para a comunicação televisiva nacional. Com a NBR, o objetivo é criar um canal de televisão para a transmissão da agenda do poder executivo. Já no caso da TV Brasil, o objetivo é implantar um novo modelo de televisão cidadã.

Com uma nova política de comunicação televisiva e um novo processo da democracia representativa no pais, ocorre um processo para a ampliação dos espaços do debate público e político no pais, o que acarretará uma transformação da natureza da esfera da visibilidade política e a relação do poder, entre mídia e poder na arena do debate político no Brasil. E na análise de Miguel (2002), a compreensão da relação entre o campo da mídia e o campo político, fundamental para a política contemporânea, os meios de comunicação não são canais neutros, são agentes políticos plenos, com a força de sua influencia, reorganizam todo o jogo político. A mídia e campo político não depreende a dominação da política pelos meios de comunicação, há uma tensão de embate entre lógicas do campo mediático e do campo político, necessário de ser observado em detalhe e dentro de sua complexidade. E parafraseando Rubin (1994), numa perspectiva mais otimista a respeito das investigações da política e da mídia, emerge o tema do direito à comunicação, da redemocratização radical da mídia, ainda que ele considere tais campos centralizadores, como temática central para a maior igualdade e reequilíbrio na ecologia dos poderes entre mídia e política. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUCCI, Eugênio. TV Brasil: pública, estatal ou governamental? O Estado de São Paulo, secção Espaço Aberto, 22 set. 2011, p. A2. CHAIA, Vera. Investigação sobre Comunicação Política no Brasil. Revista ponto-e-vírgula, 2: 160-177, 2007. Disponível em: <http://www.pucsp.br/ponto-e-virgula/n2/pdf/12-vera.pdf>. Acesso em: fev. 2012. CORRATO, Ângela. É possível inventar a TV pública brasileira. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación. Disponível em <http://www.eptic.com.br>, vol. X, n. 3, Sep. Dic. / 2008. Acesso em: via e-mail Fev. 2012. CORREIA, Genira Chagas. Na freqüência do poder: radiodifusão no Brasil. Tese de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da profa. Vera Lúcia Michalany Chaia. São Paulo, SP, 2011.

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