Dicionário Terminológico uma ferramenta auxiliar do professor de português

Documentos relacionados
Relatório. Ano lectivo Dados extraídos da Plataforma Moodle da DGIDC.

Relatório. Ano lectivo

Planificação Longo Prazo

Língua Portuguesa 8º ano

ÍNDICE. Capítulo 1 - Fonética e fonologia. Capítulo 11 - A frase

Capítulo1. Capítulo2. Índice A LÍNGUA E A LINGUAGEM O PORTUGUÊS: uma língua, muitas variedades... 15

ELEMENTAR da LÍNGUA PORTUGUESA

Apresentação 11 Lista de abreviações 13. Parte I: NATUREZA, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA LINGUAGEM

Planificação Longo Prazo

Curso: 3.º Ciclo do Ensino Básico Disciplina: Português Ano: 7º, 8.º e 9.º

ESCOLA SECUNDÁRIA DE SAMPAIO Ano Lectivo 2008/ Planificação a Longo Prazo ESPANHOL L/E (Iniciação nível I) 10ºAno Formação Específica

DICIONÁRIO TERMINOLÓGICO PRINCIPAIS ALTERAÇÕES

ESCOLA SECUNDÁRIA DR. GINESTAL MACHADO PLANIFICAÇÃO ANUAL DE PORTUGUÊS 11º ANO

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS Nº1 DE GONDOMAR PLANIFICAÇÃO ANUAL DE PORTUGUÊS - 8º ANO 2014/20145

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE VALE DE MILHAÇOS ESCOLA BÁSICA DE VALE DE MILHAÇOS PLANIFICAÇÃO ANUAL 7.º Ano

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PAREDE

1 Complementos e modificadores Distinção estrutural entre complementos e modificadores... 3

PLANIFICAÇÃO DE PORTUGUÊS Básico II

Português. Índice de aulas. Tipologias textuais

NPPEB ANUALIZAÇÃO POR COMPETÊNCIAS 3º CICLO CONHECIMENTO EXPLÍCITO DA LÍNGUA

Escrita (expressiva e lúdica) Texto narrativo Texto poético Texto descritivo Texto instrucional

Centro de Estudos em Letras. Revista de Letras. Série II N.º 5. Dezembro de 2006 Vila Real

Português. Índice de aulas. Tipologias textuais

2011/2012 (Despacho nº 5238/2011 de 28 de Março) 2º Ano CONTEÚDOS ANUAIS DISCIPLINA: Língua Portuguesa. CEF Serviço de Bar

DOMÍNIOS DE REFERÊNCIA/CONTEÚDOS

Novo Programa de Português do Ensino Básico

Valor modal e aspetual.

Parte I 1. Variedades e variações do português Português e comunidade linguística lusófona* 18 Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) 19

CONSTITUINTES DA FRASE E FUNÇÕES SINTÁCTICAS

Áreas de conhecimento de Geografia

1º PERÍODO COLÉGIO DE SANTA DOROTEIA LISBOA ANO LETIVO 2016/2017 DEPARTAMENTO DE PORTUGUÊS DISCIPLINA: PORTUGUÊS 7º ANO ...

Lições de Português pela análise sintática

Escola Básica da Madalena Grelha de Conteúdos de Português 7º ano Ano letivo

Português. Índice de aulas. Tipologias textuais

Ano lectivo 2010 / 2011 Conteúdos programáticos essenciais

CLASSIFICAÇÃO DAS CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS

PORTUGUÊS III Semestre

Sumarizando: o que é uma língua. Métodos para seu estudo...44

Pronome relativo A língua portuguesa apresenta 7 formas de pronomes e advérbios relativos consensuais: Que O que Quem O qual Onde Quanto Cujo

AGRUPAMENTO de ESCOLAS Nº1 de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo 2013/2014 PLANIFICAÇÃO ANUAL

1 Complementos e Modificadores de Nome... 2

PLANO DE ESTUDOS PORTUGUÊS 8.º ANO 2015/2016

8.º ano po port r uguês ês Oo CTEP-PORT8_ _P001_016_3P_CIMG.indd 1 01/08/17 15:07

5 CLASSE, ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS, 7/ Palavra e morfema, 7/ Formação de palavras, 82 Famílias de palavras, 83

índice geral Prefácio, X/77

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS Nº1 DE GONDOMAR PLANIFICAÇÃO ANUAL DE PORTUGUÊS - 7º ANO 2015/2016. Conteúdos

2.º CICLO CARACTERIZAÇÃO

Sumário PARTE 1. Gramática

Capítulo 2 - Acentuação gráfica Regras gerais...10 Casos especiais...10 Prosódia...12 Exercícios...14

Funções sintáticas. Porto Editora

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DANIEL SAMPAIO. Departamento de 1º Ciclo. Ano letivo 2016/2017 PLANIFICAÇÃO A LONGO PRAZO. 4º ANO DISCIPLINA: Português

Adjetivos e advérbios

Sumário PARTE 1. Apresentação da Coleção Apresentação Sobre português... 23

PLANIFICAÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA _ 8.º ANO

Planificação a longo prazo - programa do 6º ano - disciplina de Português Ano letivo de AULAS PREVISTAS (blocos 90)

Planificação Longo Prazo

PLANO DE ESTUDOS DE PORTUGUÊS - 7.º ANO

Sumário PARTE 1. MORFOLOGIA Pronomes demonstrativos Pronomes relativos O relativo que O relativo qual O relativo quem...

2014/ º Período Unidades. Domínios / Conteúdos. Unidade 3 Narrativas juvenis. Unidade 0 Uma nova viagem

CLARA AMORIM CATARINA SOUSA SUPERVISÃO CIENTÍFICA: ANA MARIA BRITO CARMO OLIVEIRA ENSINO SECUNDÁRIO. GPORT_ _P001_017_5P.

Processo Seletivo Estudantes/2018 Conteúdo Programático

ÍNDICE ALFABÉTICO DO DICIONÁRIO TERMINOLÓGICO

EXTERNATO S. VICENTE DE PAULO Lisboa DEPARTAMENTO DE LÍNGUA MATERNA E HUMANIDADES DOMÍNIOS 1.º PERÍODO 2.º PERÍODO 3.º PERÍODO

10.º ANO ENSINO SECUNDÁRIO Latim A

Domínios / Conteúdos. Flexão adjetival; Classes de palavras: Funções sintáticas; Tipos de frase; Relações semânticas entre palavras.

PORTUGUÊS ABEL MOTA PREPARAR OS TESTES

PLANO DE ESTUDOS DE PORTUGUÊS - 7.º ANO

Sumário. Edital sistematizado Apresentação da Coleção Apresentação Sobre português PARTE 1

DESCRITORES DE DESEMPENHO CONTEÚDOS COMPETÊNCIA: CONHECIMENTO EXPLÍCITO DA LÍNGUA 7º ANO 8º ANO 9º ANO 7º ANO 8º ANO 9º ANO

3. Sintagma. denominado núcleo, subdividimos os sintagmas em: nominal, verbal, adjectival, adverbial e preposicional. 3. Sintagma

OBJETIVOS DESCRITORES DE DESEMPENHO CONTEÚDOS. 1. Identificar o tema e explicitar o assunto. 2. Distinguir o essencial do acessório.

..AASsrâT" ROSA VIRGÍNIA MATTOS E SILVA. O Português Arcaico. Uma Aproximação. Vol. I Léxico e morfologia

Dados pessoais. Nome. Apelido. Morada. Estado Civil

BOLSÃO 2017 / 6º ANO

PRÁTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA PLANIFICAÇÃO A MÉDIO PRAZO. Ano Letivo 2012/2013. Disciplina de Língua Portuguesa-8ºano-Turma 1

Classes. de Palavras

Novo Programa de Português do Ensino Básico SD3_ANO7. Leitura. Compreensão do oral/ ESCRITA. Expressão oral. Conhecimento explícito da língua

METAS CURRICULARES DE PORTUGUÊS 3.º CICLO 7.º ANO

CURRÍCULO DA DISCIPLINA DE PORTUGUÊS/ CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 2013/2014

ENSINO FUNDAMENTAL II

COESÃO COERÊNCIA. É um dos meios que garante a unidade semântica e a organização de um enunciado.

Classificação de Palavras/Vocábulos

O contributo da avaliação formativa com feedback de qualidade para a melhoria dos resultados escolares

Agrupamento de Escolas D. Pedro IV, Vila do Conde PLANIFICAÇÃO RESUMIDA - PORTUGUÊS - 8º ANO 1º PERÍODO 2º PERÍODO 3º PERÍODO

ESTUDOS DE DETERMINAÇÃO

CURRÍCULO DA DISCIPLINA DE PORTUGUÊS/ CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 2013/2014

FUNÇÕES SINTÁTICAS NA ORAÇÃO FUNDAMENTOS DE SINTAXE APOIO PEDAGÓGICO 11/05/2018 SAULO SANTOS

OS DIFERENTES CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA CLASSIFICAÇÃO DE PALAVRAS EM GRAMÁTICAS ESCOLARES

Escola Básica da Madalena Grelha de Conteúdos PORTUGUÊS 8º ano Ano letivo

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PAREDE

Síntese da Planificação da Disciplina de Língua Portuguesa 5 º Ano

ESCOLA SECUNDÁRIA DE GONDOMAR Planificação Anual de Português - 10º ANO Ano letivo MANUAL: Com Textos (Edições ASA)

AULA 11. Sintaxe da oração e do período MINISTÉRIO DA FAZENDA

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

AGRUPAMENTO de ESCOLAS Nº1 de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo 2013/2014 PLANIFICAÇÃO ANUAL

DISCIPLINA PORTUGUÊS 2º CICLO

Agrupamento de Escolas General Humberto Delgado Sede na Escola Secundária/3 José Cardoso Pires Santo António dos Cavaleiros

FUNÇÕES SINTÁTICAS. Ficha 2 FUNÇÕES SINTÁTICAS A NÍVEL DA FRASE. 1. Sujeito. Classificação do sujeito

Conhecimento explícito da língua LEITURA

Transcrição:

Dicionário Terminológico uma ferramenta auxiliar do professor de português Paula Batista Guerreiro Escola Secundária Mouzinho da Silveira O Dicionário Terminológico (DT) apresenta-se como uma ferramenta electrónica, a ser usada por professores dos ensinos básico e secundário, e está disponível em http://dt.dgidc.minedu.pt/. Este documento resultou da revisão da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS), fundamentada nas conclusões da experiência pedagógica (levada a cabo no ano lectivo de 2005-2006) e nos pareceres de especialistas de várias áreas da linguística e de professores dos diferentes níveis de ensino. Como consequência dessa revisão, foram eliminados alguns termos considerados redundantes, inadequados ou pouco relevantes para o ensino, e foram acrescentados outros nos domínios da análise do discurso e da retórica. O DT deve, então, ser entendido como um documento de consulta e uma ferramenta de auxílio ao ensino da gramática e ao estudo dos textos, cuja função é regular a associação entre os termos e os significados relevantes a utilizar na descrição e análise de diferentes aspectos do funcionamento do sistema linguístico, com vista ao desenvolvimento do conhecimento explícito da língua. Esta função primordial do DT (já presente na TLEBS que lhe deu origem) pretende, entre outros aspectos, superar duas lacunas óbvias no ensino da língua materna, há muito sentidas pelos professores: a desactualização da Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967 e a deriva terminológica presente quer nos materiais didácticos, quer nos próprios documentos orientadores. Importa ainda relembrar e esclarecer que o DT, como o próprio nome indica, é um dicionário terminológico, não é uma gramática nova nem uma lista de conteúdos programáticos. Assim, as alterações que o DT introduz face às abordagens escolares tradicionais, no que respeita aos termos e conceitos utilizados, são resultantes da investigação linguística dos últimos anos, que veio revelar alguma desadequação na análise de alguns aspectos do sistema linguístico e na utilização de certos termos para identificação de determinadas unidades. Para além disso, os conteúdos declarativos respeitantes ao ensino da gramática são determinados pelos programas disciplinares, pelo que o DT não apresenta uma distribuição dos termos por anos ou por ciclos de escolaridade. Perante a estes dois aspectos, torna-se imprescindível que o professor de português conheça a estrutura organizativa do DT e as principais inovações e alterações que introduz face às abordagens escolares tradicionais, bem como a relação que se estabelece entre este documento e os programas. Comecemos, então, pelo último aspecto referido, considerando o Programa de Português do Ensino Secundário, no qual se pode ler, no domínio do Funcionamento da 1 Paula Guerreiro

Língua, que a terminologia usada nos conteúdos é a que consta da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário. Sendo assim, considerando a revisão da TLEBS, é fundamental que o professor proceda a uma releitura do programa com vista a uma actualização dos termos a utilizar no trabalho sobre o Funcionamento da Língua à luz do referencial actual que é o DT. No que respeita ao ensino básico, o novo Programa de Português do Ensino Básico (PPEB), que entrará em vigor no próximo ano lectivo (2011-2012), nos primeiros anos dos três ciclos do Ensino Básico (1º, 5º e 7º), apresenta o DT como um dos referenciais a ter em conta pelos professores, utilizando os termos deste documento nos conteúdos relativos às diferentes competências. Para além disso, a organização do programa no que respeita à competência Conhecimento Explícito da Língua (CEL), segue de muito perto a organização do próprio DT, tornando visível o diálogo desejado entre os diferentes documentos normativos em vigor. Vejamos, então, como se organiza o Dicionário Terminológico e em que consistem algumas da principais alterações, numa abordagem que não se pretende exaustiva, mas de sensibilização para uma leitura e para um entendimento de um documento que se afigura essencial para o professor de português. O DT apresenta-se estruturado em cinco domínios (que se organizam em subdomínios), dentro dos quais os termos se organizam hierarquicamente: Os domínios (e subdomínios) do Dicionário Terminológico A. Língua, comunidade linguística, variação e mudança A.1. Língua e comunidade linguística A.2. Variação e normalização linguística A.3. Contacto de línguas A.4. Mudança linguística B. Linguística descritiva B.1. Fonética e Fonologia B.2. Morfologia B.3. Classes de palavras B.4. Sintaxe B.5. Lexicologia B.6. Semântica C. Análise do discurso, retórica, pragmática e linguística textual C.1. Análise do discurso e áreas disciplinares correlatas D. Lexicografia D.1. Obras lexicográficas D.2. Informação lexicográfica E. Representação Gráfica E.1. Grafia E.2. Pontuação e sinais auxiliares de escrita E.3. Configuração gráfica E.4. Convenções e regras para a representação gráfica E.5. Relações entre palavras escritas e entre grafia e fonia Consideremos agora as principais novidades introduzidas pelo DT face às abordagens pedagógicas mais tradicionais, destacando-se apenas os aspectos relacionados com o domínio B (Linguística descritiva), por serem os que mais importam na análise e na descrição do sistema linguístico e que mais implicações didácticas terão na prática lectiva. Assim, neste domínio, ressalta em primeiro lugar a introdução do subdomínio Classes de palavras, onde surge parte dos aspectos que tradicionalmente surgiam associados à Morfologia. Esta separação deixa ao subdomínio Classes de palavras a categorização das palavras da língua, com base nas características morfológicas, 2 Paula Guerreiro

sintácticas e/ou semânticas que partilham e ao subdomínio Morfologia o tratamento dos aspectos relacionados com a flexão e com a formação de palavras. No âmbito da Morfologia, a grande novidade introduzida pelo DT surge associada aos processos morfológicos de formação de palavras, nomeadamente à composição, onde desaparecem os conhecidos termos aglutinação e justaposição por serem considerados pouco rigorosos e desadequados face ao processo que efectivamente ocorre na formação de novas palavras por composição. Assim surgem os termos composição morfológica, para designar o processo de composição que associa um radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais palavras (como agricultura, luso-descendente e psicopata), e composição morfossintáctica para designar o processo de composição que associa duas ou mais palavras (como surdo-mudo e guarda-chuva). Relativamente às Classes de palavras, são de destacar as seguintes alterações: O nome deixa de ser classificado como concreto e abstracto e introduzem-se as subclasses contável (nomes que admitem o plural em todos os contextos) e nãocontável (nomes que não admitem o plural ou em que o plural não designa uma oposição quantitativa mas qualitativa, como em Há várias águas no mercado. ); O verbo principal subdividese em classes em função da presença/ausência e tipo de complementos (intransitivo, transitivo directo, transitivo indirecto, transitivo directo e indirecto e transitivopredicativo, passando o verbo transitivo indirecto a ser aquele que selecciona um complemento indirecto ou um complemento oblíquo (o constituinte sublinhado na frase O Pedro mora em Lisboa ) e o transitivo directo e indirecto aquele que selecciona um complemento directo e um complemento indirecto ou um complemento directo e um complemento oblíquo (o termo complemento oblíquo é outra das novidades introduzidas pelo DT e pertence ao subdomínio da sintaxe, pelo que será apresentado nesse ponto). O adjectivo pode pertencer a uma de três subclasses, a saber o adjectivo qualificativo, o adjectivo relacional e o adjectivo numeral (tradicionalmente classificado como numeral ordinal); A classificação do advérbio deixou de ser fundamentada em critérios meramente semânticos, razão pela qual surgem novos termos para designar certas subclasses. Assim o advérbio classifica-se agora em advérbio de predicado, de frase, conectivo, de negação, de afirmação, de quantidade e grau, de exclusão, de inclusão, interrogativo e relativo; O surgimento de uma nova classe de palavras: o quantificador, definido como palavra ou locução que contribui para a construção do valor referencial de um nome com que se combina e cujo significado expressa expressa informação relacionada com número, quantidade ou parte do seu referente, 3 Paula Guerreiro

independentemente da sua definitude, que apresenta as seguinte subclasses: universal, existencial, numeral, interrogativo e relativo. A classificação das palavras porém, todavia e contudo, consideradas tradicionalmente como conjunções coordenativas adversativas, em advérbios conectivos, por exibirem comportamentos sintácticos característicos desta classe de palavras e não das conjunções. Assim, uma das condições para que uma palavra possa ser considerada conjunção é a de ocupar, obrigatoriamente, a posição inicial na oração coordenada que introduz, como acontece com a palavra mas. Repare-se no contraste entre as palavras mas e porém nas frases seguintes: A. O Pedro convidou a Ana para ir ao cinema, mas ela não A. *O Pedro convidou a Ana para ir ao cinema, ela mas não A. *O Pedro convidou a Ana para ir ao cinema, ela não aceitou mas. B. O Pedro convidou a Ana para ir ao cinema, porém ela não B. O Pedro convidou a Ana para ir ao cinema, ela, porém, não B. O Pedro convidou a Ana para ir ao cinema, ela não aceitou, porém. O que as frases anteriores mostram é que, ao contrário da palavra mas, a palavra porém apresenta uma mobilidade na oração coordenada que integra, não sendo obrigatória a sua ocorrência no início da mesma. Esta mobilidade na frase, que também acontece com as palavras todavia e contudo, é própria dos advérbios, razão pela qual, surgem nessa classe de palavras, mesmo que, do ponto de vista do sentido, sejam equivalentes ao mas. No que diz respeito ao domínio da Sintaxe, as funções sintácticas organizamse consoante o nível em que se situam (ao nível da frase, do grupo verbal, do grupo nominal, do grupo adjectival ou do grupo adverbial) e apresentam alterações significativas, das quais se destacam as seguintes: A definição de sujeito em função de critérios sintácticos, pelo seu papel de controlador da concordância verbal, em vez das definições tradicionais de aquele que pratica a acção ou o ser sobre o qual se diz alguma coisa, por serem definições desadequadas em grande parte das frases; A introdução do termo sujeito nulo que engloba o sujeito subentendido, o indeterminado e o inexistente (agora expletivo), uma vez que todos correspondem à mesma situação sintáctica: a possibilidade de, em português, o sujeito não ser lexicalmente realizado (ao contrário do que acontece em inglês, por exemplo); O desaparecimento do termo complemento circunstancial, por se revelar um termo desadequado à classificação das unidades em causa, que apresentam propriedades muito 4 Paula Guerreiro

distintas. Tradicionalmente, classificar-se-ia como complemento circunstancial o constituinte sublinhado nas frases seguintes: A. O Pedro está em Lisboa. B. O Pedro mora em Lisboa. C. O Pedro adoeceu em Lisboa. Na verdade, apesar de ser o mesmo grupo preposicional, ocorre em frases com verbos de natureza muito diferente, pelo que não pode ser classificado da mesma forma em todos os contextos. Na frase A, o verbo é copulativo, pelo que o constituinte que ocorre com ele desempenha a função de predicativo do sujeito. Este aspecto é outra novidade do DT: o alargamento da definição de predicativo de sujeito a todos os constituintes que ocorrem com verbos copulativos, seja um grupo nominal, um grupo adjectival, um grupo preposicional ou um grupo adverbial. Na frase B, o verbo é transitivo, uma vez que necessita de complemento, pois, sem ele, a frase resultaria agramatical (*O Pedro mora). O complemento de verbos deste tipo designa-se complemento oblíquo, o que constitui outro termo introduzido pelo DT. Finalmente, na frase C, surge um verbo intransitivo (que não selecciona qualquer complemento) pelo que o constituinte em Lisboa se designa modificador. Como vimos a etiqueta complemento circunstancial era desadequada, uma vez que servia para designar constituintes que desempenhavam, nas frases em ocorriam, funções sintácticas diferentes, relacionadas com o tipo de verbo presente. Relativamente ao domínio da Lexicologia, não são muitos os termos novos introduzidos, mas destaca-se a inclusão das relações de parte-todo (que há muito fazem parte de gramáticas de referência, mas que estavam ausentes do programa), no subdomínio Relações semânticas entre palavras e dos conceitos de holonímia e de meronímia que lhe estão associados. Assim uma relação de holonímia/meronímia é uma relação de hierarquia semântica entre palavras, em que o significado de uma (designada de holónimo) refere um todo do qual a outra (designada de merónimo) é parte constituinte. Assim, numa frase como O corpo humano é constituído pela cabeça, pelo tronco e pelos membros, corpo humano é o holónimo e cabeça, tronco e membros são os merónimos. No domínio da Semântica, que não apresenta alterações significativas, encontramos organizados, entre outros, os conceitos associados aos valores temporal, aspectual e modal com a especificação dos mecanismos lexicais e gramaticais que os expressam. A título de exemplo, a categoria gramatical tempo pode ser expressa através da morfologia verbal (como nas frases O João está em Lisboa. / O João esteve em Lisboa. ) ou através de grupos adverbiais (como nas frases Hoje vou a Lisboa. / Amanhã vou a Lisboa. ). Dos vários aspectos aqui referidos (bem como de muitos outros que se descobrem ao consultar o Dicionário Terminológico), ressalta a necessidade de o professor de português se manter actualizado no que respeita ao seu conhecimento sobre a estrutura da sua língua e de aceitar que os resultados da uma investigação linguística sólida (tal como acontece noutras áreas do saber, como a biologia ou a física, por exemplo) podem contribuir para uma melhoria das práticas de ensino. 5 Paula Guerreiro

6 Paula Guerreiro