DELIBERAÇÃO DO CONSELHO JURISDICIONAL DA FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE GOLFE RELATÓRIO D.O. veio recorrer da decisão proferida pelo Conselho Disciplinar da Federação Portuguesa de Golfe no Processo Disciplinar nº 2/2009, invocando, no essencial, o seguinte: 1. Os mesmos factos cuja veracidade ele não impugna foram objecto de procedimento disciplinar no âmbito do E.G.C., antes de agora, e de novo, terem voltado a estar na origem e no centro do presente processo. 2. Em consequência do processo instaurado no E.G.C., já o Recorrente foi condenado a várias penas, entre as quais a suspensão por 6 meses de toda a actividade social do clube, de frequentar as suas instalações e do Handicap. 3. Entretanto, a decisão ora recorrida visa também a aplicação de uma pena de suspensão de 6 meses para punição dos mesmos factos já anteriormente castigados pelo E.G.C.. 4. A decisão da qual recorre viola claramente um direito fundamental consagrado na Constituição da República Portuguesa, designadamente no seu art. 29º n.º 5 onde se plasma que «Ninguém pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime».
5. Em função disso, veio o Recorrente requerer: a) que seja absolvido o arguido da condenação de que é alvo no presente acórdão pelas razões acima já aduzidas, ou seja, por se considerar cumprida já a pena que agora quer ver aplicada pela FPG ; b) subsidiariamente, e caso entendam que andou bem na sua decisão o ex-clube do arguido que o tempo que o mesmo cumpriu seja descontado no tempo de suspensão que ora se pretende aplicar ao arguido, aliás, por analogia ao que bem se plasma no Regulamento Disciplinar da FPG, no seu art. 13º n.º 5 última parte, considerando assim a pena já cumprida ; c) que caso assim não entendam, e julguem que o arguido deva ser condenado, aplicando uma repreensão escrita ou suspendendo-o pelo período mínimo atendendo à condição de primário do arguido, e sua conduta posterior à infracção. CUMPRE DECIDIR: I O da Federação Portuguesa de Golfe é um órgão dotado de autonomia, funcionando como instância de recurso das decisões do Conselho Disciplinar. Tem, por isso, competência para proferir decisão final no recurso apresentado pelo Recorrente D.O. da decisão do Conselho Disciplinar.
II O poder decisório do, enquanto instância de recurso, está balizado pelos termos em que a pretensão do Recorrente se encontra formulada, quer quanto ao seu objecto, quer quanto aos seus fundamentos. O Recorrente não impugna a veracidade dos factos (nem, por via disso, a falta que lhe vem imputada). Admite, por conseguinte, a sua censurabilidade (expressando, inclusive, arrependimento) e a sua punibilidade. O Recorrente põe em causa a competência do E.G.C. para julgar e para decidir a pena que lhe aplicou. Mas aceita, em contrapartida, a jurisdição do Conselho Disciplinar e a sua competência. Esses seus pressupostos carecem, porém, de fundamento. Na verdade, o clube de filiação, enquanto Autoridade de Handicap, tem competência para aplicação da sanção disciplinar de suspensão de handicap (ponto 5 do Apêndice P, anexo ao Regulamento do Sistema de Handicaps EGA). Desse Regulamento do Sistema de Handicap EGA da Associação Europeia de Golf, vale a pena reter e transcrever os seguintes pontos do parágrafo 23, relativos à suspensão ou perda de handicap: 23.4 Salvo disposição em contrário estabelecida pela FPG, o processo disciplinar com respeito a uma alegada irregularidade cometida no Clube de Filiação do jogador, deverá ser instruído e decidido pelo respectivo Clube de Filiação. Nos restantes casos, a Autoridade de Handicap deve ouvir e decidir sobre o processo.
23.6 Se um jogador for suspenso enquanto membro do seu Clube de Filiação, o seu Handicap Exacto será automaticamente suspenso até ser novamente reintegrado. 23.7 Enquanto o handicap do jogador estiver suspenso, o praticante não poderá competir ou entrar em qualquer evento de golfe que requeira Handicap EGA. 23.8 A suspensão do handicap de um jogador tem efeito em todos os Clubes Filiados dos quais ele é ou venha a ser membro durante o período de suspensão.. Por sua vez, do Apêndice P, anexo àquelas Regras, que incorpora as Opções Tomadas pela FPG, vale a pena reter que: (i) a Autoridade de Handicap de um jogador é o seu Clube de Filiação (ponto 1.2 do Apêndice P; e que, (ii) por força do ponto 5. (do mesmo Apêndice P), que regula a Suspensão de Handicap, o Clube de Filiação, enquanto Autoridade de Handicap, tem competência para aplicação de sanção disciplinar de suspensão do handicap. Devemos, por conseguinte, concluir que, diferentemente do que ficou questionado na decisão recorrida, o Clube de Filiação, enquanto Autoridade de Handicap, tem poderes para exercer o poder disciplinar e para aplicar a sanção de suspensão. E mais: que a suspensão tem efeitos perante todos os clubes e obsta à participação em torneios em que seja requerido um handicap EGA. Em face disso, afigura-se-nos que, ao contrário do que vem alegado pelo Recorrente, a decisão de suspensão aplicada pelo E.G.C. é inteiramente válida e eficaz. Nessa medida, não podiam os mesmos factos, as mesmas condutas, as mesmas infracções voltar a ser apreciadas, julgadas e sancionadas.
Seria, na verdade, inaceitável que, por motivo de um mesmo comportamento e de uma mesma falta, o Recorrente pudesse ser julgado duas vezes e ter de suportar a aplicação duplicada de uma mesma pena. Os valores constitucionais protegidos pelo por ele invocado nº 5 do artº 29º da CRP resultariam substantivamente violentados. Face ao exposto, nos termos e com os fundamentos acima referidos, acordam os membros do da Federação Portuguesa de Golfe em conceder provimento ao recurso interposto, determinando-se a revogação do Acórdão do Conselho Disciplinar, com a consequente anulação da pena por via dele aplicada ao Recorrente. 29 de Outubro de 2011 Os membros do da Federação Portuguesa de Golfe Benjamim Mendes Gonçalo Sequeira Braga Manuel Cavaleiro Brandão