OCORRÊNCIA DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO ESTADO DO PARANÁ NO ANO DE 2011 Heitor Renan Ferreira, Alexandre França Tetto, Antonio Carlos Batista Departamento de Ciências Florestais Universidade Federal do Paraná, Av. Pref. Lothário Meissner, 900, 80.210-170, Curitiba/Paraná, heitor.ferreira@ufpr.br, tetto@ufpr.br, batistaufpr@ufpr.br RESUMO Os incêndios florestais são um dos principais agentes responsáveis pelos prejuízos causados a todos os tipos de vegetação. Para a realização de políticas adequadas de prevenção e de combate aos incêndios é essencial o uso da estatística sobre a ocorrência dos mesmos. O presente trabalho teve como objetivo analisar os atendimentos realizados pelo Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná, referentes aos incêndios florestais, no ano de 2011. Com base nos resultados foi constatado que o ano de 2011 apresentou 5.635 ocorrências de incêndios florestais, apresentando uma área queimada de 5.731,03 ha. O período de maior ocorrência de incêndios compreendeu os meses de julho a setembro, com 3.003 ocorrências (53,29% do total) e uma área queimada de 4.028,09 ha (70,29% do total). O período do dia com maior número de detecções foi das 13:00 às 16:59 horas, com 2.537 ocorrências (45,02% do total), embora entre as 12:00 e 14:59 horas tenha sido verificada a maior quantidade de área queimada 2.646,18 ha (46,17% do total). Os municípios da 3ª e da 5ª COREDECs (localizados no Norte do Estado) apresentaram o maior número de incidência de incêndios e de área queimada, totalizando 2.171 ocorrências (38,53% do total) e 2.845,96 ha (49,66% do total) de área queimada, respectivamente. Conclui-se que nos meses que antecedem e que compreendem o período normal de ocorrência de incêndios, sobretudo entre 13:00 e 16:59 horas, há necessidade de se intensificar ações de prevenção e combate aos incêndios. Salienta-se também a importância de um maior acompanhamento preventivo na região Norte do Estado, por apresentar maior problema com incêndios florestais. Introdução Os incêndios florestais representam uma das principais ameaças à sobrevivência das florestas e aos outros tipos de vegetação (SOARES; SANTOS, 2002), sendo que o Estado do Paraná tem apresentado várias ocorrências de incêndios em áreas de cultivos florestais, em campos nativos e em unidades de conservação, o que é extremamente preocupante, devido aos danos econômicos e ambientais causados à flora, à fauna e ao solo (NUNES et al., 2010). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2006), o Estado do Paraná possui 3.172.889 ha com algum tipo de cobertura vegetal. Para a preservação desse percentual, deve-se impedir o avanço e viabilizar medidas preventivas para a extinção dos incêndios florestais, sendo necessária a realização de pesquisas e políticas adequadas de prevenção e combate aos mesmos (SOARES; BATISTA, 2007). Nesse aspecto, a estatística das ocorrências de incêndios florestais é uma ferramenta muito
importante para o desenvolvimento de metodologias e sistemas de manejo ou controle do fogo (SOARES, 1992), levando-se em consideração parâmetros como: a data de ocorrência, a localização, a área queimada, a vegetação atingida e o horário de incidência. De acordo com Soares et al. (2009), a data da ocorrência do incêndios possibilita a estruturação dos serviços de prevenção e combate dentro de limites economicamente viáveis, podendo ativar o sistema durante os períodos mais críticos e desativá-lo parcialmente nos períodos de menor risco. Além disso, para Soares e Santos (2002), é fundamental saber onde ocorrem, para assim definir as regiões de maior risco e estabelecer programas intensivos de prevenção para essas regiões. A falta de informações referentes às estatísticas de incêndios florestais pode causar graves danos econômicos e/ou ambientais, podendo levar a dois extremos: gasto muito alto, além do necessário para uma política de prevenção, ou gasto muito pequeno, arriscando a sobrevivência das florestas (SOARES; SANTOS, 2002). O objetivo deste trabalho foi analisar o registro de ocorrências de incêndios florestais no Estado do Paraná no ano de 2011, como subsídio para a elaboração de políticas de prevenção adequadas contra incêndios florestais. Metodologia O trabalho analisou os dados referentes aos incêndios florestais atendidos pelo Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná no ano de 2011, disponibilizados no Sistema de Registro e Estatística de Ocorrências (SysBM-CCB, versão 3.3) (COMANDO DO CORPO DE BOMBEIROS (CCB), 2012), tendo como área de estudo o Estado do Paraná, localizado na região Sul do Brasil, entre os paralelos 22º 30 58 de latitude Norte e 26º 43 00 de latitude Sul e os meridianos 48º 05 37 e 54º 37 08 a Oeste de Greenwich, compreendendo um território com área de 199.314,850 km², representando 2,4% da área do Brasil (VOSGERAU et al., 2006). Nos registros de ocorrência de incêndios foram encontrados 42 tipos de vegetação e/ou locais de ocorrências, tendo sido considerados 17 destes como incêndios florestais. Esses foram agrupados em 4 classes: cultivo florestal, cultivo agrícola, floresta, e outro tipo de vegetação. Foi realizada a distribuição das ocorrências de incêndios florestais, bem como suas respectivas áreas queimadas, através dos meses do ano, dias da semana e horário do dia, visando obter o período de maior ocorrência de incêndios e de maior área queimada. As ocorrências também foram classificadas em classes de tamanho de acordo com suas áreas queimadas, conforme proposto por Ramsey e Higgins (1981): I) até 0,1 ha; II) de 0,1 a 4,0 ha; III) de 4,1 a 40,0 ha; IV) de 40,1 a 200,0 ha; V) acima de 200,0 ha. Este parâmetro é importante para se avaliar a eficiência do combate (SOARES; SANTOS, 2002). Além desses parâmetros, as ocorrências e as suas respectivas áreas queimadas também foram classificadas de acordo com o tipo de vegetação e distribuição espacial no Estado do Paraná, utilizando a divisão de Coordenadorias Regionais de Defesa Civil (COREDECs), totalizando 15 COREDECs no Estado, conforme apresentado na Figura 1.
Figura 1 Divisão do Estado do Paraná em COREDECs Fonte: Defesa Civil do Paraná (2012), adaptado pelos autores (2012) Resultados e discussão Na Figura 2 é apresentada a distribuição do número de ocorrências e das áreas queimadas, referentes aos incêndios florestais, de acordo com os meses do ano de 2011. 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Mês Nº ocorrência de incêndio Área queimada (ha) Figura 2 Distribuição mensal do número de ocorrências de incêndios florestais e áreas queimadas em 2011 no Estado do Paraná Fonte: CCB (2012), elaborado pelos autores (2012)
Foram atendidas 5.635 ocorrências de incêndios florestais que atingiram uma área de 5.731,03 ha. O período de maior ocorrência se verificou entre os meses de julho e setembro, com 3.003 ocorrências (53,29% do total) e 4.028,09 ha (70,29% do total) de área queimada, coincidindo com estudos realizados por Vosgerau et al. (2006), Tetto et al. (2012) e Soares e Santos (2002), que classificaram o 2º semestre como o período de maior incidência de incêndios florestais no Paraná, mais especificamente entre os meses de julho e setembro, devido o final do inverno e início da primavera, época da limpeza e preparo dos solos para o plantio agrícola (VOSGERAU et al., 2006). Verificou-se que o horário com maior incidência de incêndios compreendeu o período entre 13:00 e 16:59 horas, apresentando 2.537 ocorrências (45,02% do total), embora no período das 12:00 às 14:59 horas tenha se verificado a maior área queimada, com 2.646,18 ha (46,17% do total). Estes resultados concordam com Tetto (2012) que constatou que entre 12:00 e 17:00 horas houve 61,3% do total das ocorrências, na Fazenda Monte Alegre PR, fato relacionado diretamente às variações diárias da temperatura e da umidade relativa, que influem na umidade do material combustível (RODRÍGUEZ; SOARES, 2004). Com a finalidade de se verificar a existência de relação entre as ocorrências e as atividades realizadas nos dias úteis e nos finais de semana, foi realizado uma análise do número de ocorrências e da quantidade de área queimada durante os dias da semana, não tendo sido constada diferença significativa, muito embora os finais de semana tenham sido os responsáveis pelo maior número de ocorrências, totalizando 1.838 ocorrências (32,62% do total), sendo o domingo responsável pela maior área queimada, com 1.417,53 ha (24,73% do total), coincidindo com estudos realizados por Vosgerau et al. (2006). Dos 5.635 registros de ocorrências analisados, apenas 3.971 especificaram a extensão da área queimada (70,47% do total), e dessas, as classes de tamanho I e II foram responsáveis por 2.169 (54,62%) e 1.559 (39,26%) das ocorrências respectivamente, demonstrando que o combate aos incêndios florestais no Paraná foi eficiente. Com relação aos tipos de vegetação, a classe que mais se destacou foi outro tipo de vegetação, com 3.471 (61,60% do total), seguido por florestas, com 1.115 (19,79% do total), embora a classe que apresentou maior área queimada tenha sido cultivo agrícola, com 2.544,41 ha (44,40% do total). Os municípios pertencentes à 3ª e 5ª COREDECs, situados na região Norte do Estado apresentaram maior número da incidência de incêndios, totalizando 2.171 ocorrências (38,53% do total) e uma maior área queimada de 2.845,96 ha, coincidindo com estudos realizado por Tetto et al. (2012), que constataram que a região Norte do Estado foi responsável pela maior incidência de incêndios florestais no Paraná. Conclusão Com base nos dados analisados conclui-se que: A maior incidência de incêndios florestais no Estado do Paraná, durante o ano de 2011, se verificou entre os meses de julho e setembro. O tipo de vegetação mais afetado por incêndios no período analisado foi cultivo agrícola. As regiões mais afetadas por incêndios foram as que estão situadas na 3ª e 5ª Coordenação Regional e Defesa Civil, localizadas no norte do Paraná.
Referências Anais do III Seminário de Atualização Florestal e XI Semana de Estudos Florestais COMANDO DO CORPO DE BOMBEIROS (CCB). SysBM-CCB, versão 3.3. Cascavel. Disponível em: <http://www.bombeiroscascavel.com.br/registroccb/imprensa.php>. Acesso em: 14/06/2012. DEFESA CIVIL DO PARANÁ. Curitiba. Disponível em: <http://www.geo.pr.gov.br/mapserver/defesacivil/coordenadores/geo.html>. Acesso em: 15/06/2012. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Agropecuário 2006. Rio de Janeiro. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/2006/agropecuario.pdf>. Acesso em: 25/06/2012. NUNES, J. R. S.; FIER, I. S. N.; SOARES, R. V.; BATISTA, A. C. Desempenho da Fórmula de Monte Alegre (FMA) e da Fórmula de Monte Alegre Alterada (FMA+) no Distrito Florestal de Monte Alegre. Floresta, v. 40, n. 2, p. 319-326, 2010. RAMSEY, G. S.; HIGGINS, D. G. Canadian forest fire statistics. Ontario: Canadian Forestry Service, 1981. 71 p. Information Report PI-X-9. RODRÍGUEZ, M. P. R.; SOARES, R. V. Análisis comparativo entre los incêndios forestales en Monte Alegre, Brasil y Pinar del Rio, Cuba. Floresta, v. 34, n. 2, p. 101-107, 2004. SOARES, R. V. Ocorrência de incêndios em povoamentos florestais. Floresta, v. 22, n. 1-2, p. 39-53, 1992. SOARES, R. V.; BATISTA, A. C. Incêndios florestais: controle e uso do fogo. Curitiba, 2007. 264 p. SOARES, R. V. Estatísticas dos incêndios florestais no Brasil. In: SOARES, R. V.; BATISTA, A. C.; NUNES, J. R. S. Incêndios florestais no Brasil: o estado da arte. Curitiba, 2009. p. 1-20. SOARES, R. V.; SANTOS, J. F. Perfil dos incêndios florestais no Brasil de 1994 a 1997. Floresta, v. 32, n. 2, p. 219-232, 2002. TETTO, A. F. Comportamento histórico dos incêndios florestais na fazenda Monte Alegre no período de 1965 a 2009. 114 f. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal) Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. TETTO, A. F.; BATISTA, A. C; SOARES, R. V. Ocorrência de incêndios florestais no Estado do Paraná, no período de 2005 a 2010. Floresta, v. 42, n. 2, p. 391-398, 2012. VOSGERAU, J. L.; BATISTA, A. C.; SOARES, R. V; GRODZKI, L. Avaliação dos registros de incêndios florestais no Estado do Paraná no período de 1991 a 2001. Floresta, v. 36, n. 1, p. 23-32, 2006.