Foliar Anatomy of Pedra-hume-caá (Myrcia sphaerocarpa, Myrcia guianensis, Eugenia

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ANATOMIA FOLIAR DE PEDRA-HUME-CAÁ (Myrcia sphaerocarpa, Luzia I. F. JORGE 1 ; Jaime P. L. AGUIAR 2 ; Maria de Lourdes P. SILVA 1 RESUMO As folhas de Myrcia multiflora (Lam.) DC, Myrcia guianensis (Aubl.) Urb. e Eugenia punicifolia (H. B. K.) DC. são anatômica c morfologicamentc descritas. As espécies revelaram diversos elementos histológicos universais para a família, bem como peculiares das mesmas e importantes para orientar a diagnose desses vegetais e para o reconhecimento de fraudes, que ocorrem através de substituições intencionais ou não. Entre os elementos histológicos característicos, destacam-se: ornamentações de cutícula foliar, tipos de estômatos, tipos de contornos celulares das células epidérmicas em vista facial, tipo e abundância relativa de inclusões celulares inorgânicas. Palavras-chave: Myrcia sphaerocarpa, Eugenia punicifolia, Myrcia guianensis, morfologia Foliar Anatomy of Pedra-hume-caá (Myrcia sphaerocarpa, Myrcia guianensis, Eugenia ABSTRACT The anatomy and morphology of the leaves of Myrcia multiflora (Lam.) DC, Myrcia guianensis (Aubl) Urb. and of Eugenia punicifolia (H. B. K.) DC. are described. Although these species show the universal characteristics of the Myrtaceae, they also present some Key-words: Myrcia sphaerocarpa, Eugenia punicifolia, Myrcia guianensis, leaf morphology, INTRODUÇÃO A família Myrtaceae é uma das mais características da flora brasileira, apresentando potencial e significativo interesse econômico para o Brasil. Entre suas espécies são encontrados vegetais medicinais, ornamentais, produtores de madeiras e de frutos comestíveis. A família compreende cerca de 3500 espécies distribuídas em aproximadamente 100 gêneros, que apresentam dois grandes centros de dispersão: a América tropical e a Austrália (Barroso, 1984). As plantas conhecidas como "pedra-hume-caá" são indicadas no tratamento da diabete, segundo conhecimento empírico indígena e africano, que tanta influencia exerceu na formação da cultura brasileira (Almeida, 1993; Conceição, 1982; Cruz, 1982; Pio Corrêa, 1926). São mais comumente relacionadas as seguintes espécies, como sendo pedrahume-caá: Myrcia sphaerocarpa DC, Eugenia punicifolia (HBK) DC, Myrcia citrifolia (Lam.) DC. e Myrcia guianensis (Aubl) Urb. A espécie Myrcia citrifolia não foi estudada neste trabalho porque não foi encontrada nos locais visitados para coleta. A associação de pedra-hume-caá 1 2 IAL Laboratório I de Santos, Rua Silva Jardim, 90, Macuco, Santos, SP. Brasil - 11015-020. INPA, Alameda Cosme Ferreira, 1756, Aleixo, Manaus, Amazonas, Brasil - 69083-030.

com pau-ferro proprociona terapêutica eficaz no tratamento da diabetes (Conceição, 1982). Emprega-se o decocto das folhas. Essa planta é chamada de insulina vegetal. O decocto tanto das folhas como da raízes é útil nos casos de diarréia, entente, hemorragia e aftas (Almeida, 1993). Enfim, o vegetal tem aplicação em todos os pacientes que se beneficiam de sua ação antisséptica. Estudos farmacológicos com Myrcia citrifolia e Myrcia sphaerocarpa evidenciaram ações hipoglicemiante, diurética, hipotensora e antagonista da bradicinina (Mors & Grune, 1978). São repetidas as referências populares verbais acerca da ação hipoglicemiante de Eugenia punicifoua, porém não foram encontrados estudos farmacológicos que comprovassem cientificamente esse efeito. O gênero Myrcia parece apresentar amplo espectro de atividades farmacológicas, abrangendo também ação anti-tumoral observada para Myrcia fallax (Hecht, 1984) e anti-microbiana (mais anti-fúngica do que anti-bacteriana) confirmada para Myrcia acris (Nadai, 1959). As Myrtaceae, de um modo geral, são de difícil identificação, e mesmo mateiros experientes podem se enganar, tomando uma espécie por outra. Este trabalho tem por objetivo contribuir para o esclarecimento dessas dúvidas, discutindo conjunta e comparativamente as características organográficas e histológicas das espécies conhecidas como pedra-humecaá. MATERIAL Ε MÉTODOS São descritas neste trabalho folhas adultas e frescas, que tiveram as seguintes procedências: Eugenia punicifoua (H.B.K.) DC. - Bosque do INPA, Manaus, AM, Brasil. Coletor: Jaime P. L. Aguiar. Eugenia cf punicifoua (H.B.K.) DC Estrada de Manaus-Itacotiara, Km 198, município de Itacotiara (campos do Pereu, confluência do rio Pereu), AM, Brasil. Capoeira de transição, campina com afloramento arenoso. Coletores: José F. Ramos e Jaime Paiva Lopes Aguiar, herbário INPA n 191774. Myrcia guianensis (Aubl.) Urb. material de herbário, coletado no município de Alter do Chão, PA, Brasil. Coletor: Branch, L. C, n de herbário INPA 106352. Myrcia sphaerocarpa (ou multiflora) DC. Rua Simão-Bianchini, S. Paulo, SP, Brasil. Coletora: Maria Lúcia Kawasaki, n de herbário Instituto de Botânica 306966. Procedeu-se ao estudo da morfologia externa à vista desarmada ou com auxílio de lupa estereoscópica (8 a 40 vezes de aumento) segundo Foster & Gifford (1974). O estudo morfológico interno (anatômico), realizado segundo Oliveira & Akisue (1989) deu-se através de cortes a mão livre (transversais e paradérmicos) ao nível do terço médio inferior das folhas, bem como por trituração em almofariz de folhas inteiras, pelos detalhes histológicos que esse procedimento pode revelar (Oliveira

& Akisue, 1989). A seguir, efetuou-se clareamento desses materiais com solução comercial de hipoclorito de sódio (cândida) e colorações com solução de lugol e de floroglucina clorídrica, alternadamente, preparadas conforme a Farmacopéia Brasileira (1929). Os equipamentos empregados foram: microscópio ótico Leitz com aumentos de 100, 250 e 400 vezes, para interpretação dos elementos histológicos; câmara clara e régua micrométrica para a elaboração dos desenhos e mensuração desses elementos (Sass, 1940). RESULTADOS Ε DISCUSSÃO As folhas das mirtáceas estudadas neste trabalho são simples e hipoestomáticas, com estômatos do tipo ranunculáceo, embora o tipo paracítico seja o mais freqüente para a família (Metcalfe & Chalk, 1950). As folhas de Eugenia punicifoua têm contorno predominantemente oboval, enquanto que as de Eugenia cf punicifoua são sempre elípticas (Figs. 1.1,1.2). As duas espécies de Myrcia descritas também apresentaram contorno foliar elíptico (Figs. 1.3, 1.4). O exame microscópico revelouse insuficiente para a distinção entre as plantas do táxon Eugenia aqui estudadas (Figs. 2.1, 2.2): células epidérmicas de contorno onduloso, recobertas por cutícula estriada, em secção paradérmica (Figs. 2. Ia, 2.2a); nervuras medianas plano-convexas com feixes bicolaterais envoltos por bainha esclerenquimática (Figs. 2.Id, 2.2d); esporádica presença de cristais dos tipos drusa e cristais prismáticos. A única distinção histológica observada refere-se ao número de camadas do parênquima paliçádico: Eugenia punicifoua revelou duas camadas de parênquima paliçádico e Eugenia cf punicifoua apresentou apenas uma camada de parênquima paliçádico (Figs. 2.1c, 2.2c) Somente estudos conjuntos com químicos e taxonomistas permitiriam definir conclusivamente se estão sendo observadas variedades da mesma espécie ou espécies diferentes do gênero Eugenia. As Myrcias, contudo, são histologicamente bem diferentes entre si, o que torna ágil e seguro o reconhecimento de substituições entre as folhas de Myrcia guianensis e Myrcia sphaerocarpa através de exame microscópico, caracteristicamente rápido e econômico (Figs. 2.3, 2.4). As células epidérmicas de Myrcia guianensis têm contorno onduloso, com paredes anticlinais fortemente espessadas em forma de "rosário" (Figs. 2.3a, 2.3b). Por outro lado, as células epidérmicas de Myrcia multiflora apresentam paredes retas, perfazendo contornos poligonais (Figs. 2.4a, 2.4b). O mesofilo é do tipo dorsiventral, com uma camada de parênquima paliçádico em Myrcia guianensis (Figura 2.3c) e três camadas em Myrcia sphaerocarpa (Fig. 2.4c). A presença de cristais de oxalato de cálcio é esporádica em Myrcia guianensis e abundante em Myrcia

Figura 1. Ramos vegetativos de: I - Eugenia punicifoua (H.B.K.) DC; II - Eugenia (cf) punicifoua (H.B.K.) DC; III - Myrcia guianensis (Aubl.) Urb.; IV - Myrcia mulliflora (Lam.) DC. ou Myrcia sphaerocarpa DC

Figura 2. Elementos histológicos foliares diagnósticos de: I - Eugenia punicifoua (H.B.K.) DC; II - Eugenia (cf) punicifoua (H.B.K.) DC; III - Myrcia guianensis (Aubl.) Urb.; IV - Myrcia mulliflora (Lam.) DC. Sendo: A. Epidemic da face adaxial (superior); B. Epidemic da face abaxial (inferior); C. Mcsofilo em corte transversal: e.s.= epidemic da face superior; p.p.= parênquima paliçádico; p.l.= parênquima lacunoso; cr.= cristais; dr.= drusas; c. i.= epidemic da face inferior; D. Nervura central em secção transversal (desenho esquemático): + += colênquima; 111= xilcma; 1= csclerênquima; 0= glândulas olcíferas.

Figura 2. cont. Ill - Myrcia guianensis (Aubl.) Urb.; IV - Myrcia mulliflora (Lam.) DC. Sendo: A. Epidemic da face adaxial (superior); B. Epidemic da face abaxial (inferior); C. Mcsofilo em corte transversal: c.s.= epiderme da face superior; p.p.= parênquima paliçádico; p.l.= parênquima lacunoso; cr.= cristais; dr.= drusas; c. i.= epiderme da face inferior; D. Nervura central em secção transversal (desenho esquemático): + += colênquima; 111= xilema; 1= esclcrênquima; 0= glândulas oleiferas.

multiflora, formando séries cristalíferas ao longo dos feixes vasculares nesta espécie (Figs. 2.3a, 2.4c). A nervura central é bi-convexa em Myrcia guianensis e planoconvexa em Myrcia multiflora (Figs. 2.3d, 2.4d). As espécies aqui estudadas apresentam as características histológicas universais para a família Myrtaceae: presença de glândulas oleiferas de localização subepidérmica, presença de tricomas tectores simples de formato cônico, dorsiventralidade foliar, hipoestomatismo, presença de bainha esclerenquimática em torno dos feixes vasculares, ocorrência de cristais de oxalato de cálcio no mesofilo e presença de feixes vasculares do tipo bicolateral nas nervuras de maior porte (Metcalfe & Chalk, 1950, citados por Jorge et ai, 1994, 1996). A presença de estômatos do tipo anomocítico observada nas mirtáceas, apesar de não ser universal para a família, não chega a constituir casos de exceção, uma vez que esse tipo de estômato é também relatado para os gêneros Paivaea e Plinia (Jorge et ai, 1992). Villaça & Ferri (1954) apresentam esquema tridimensional de estrutura "em telefone" que as células estomáticas foliares de diversas mirtáceas apresentam. Esse tipo de estômato não apresenta peculiaridades quando observado rigorosamente em vista facial. Somente cortes paradérmicos profundos ou cortes transversais-longitudinais permitem observar o arranjo "em telefone", à semelhança das gramíneas e das ciperáceas. As espécies estudadas nesse trabalho não apresentam esse arranjo. Incluímos a discussão desse item por sua singularidade no reino vegetal e, ao mesmo tempo, representatividade para as mirtáceas. CONCLUSÕES Embora apresentem as características gerais das Myrtaceae (Jorge et ai, 1992; 1994; 1996) as espécies aqui estudadas também revelam peculiaridades histológicas que permitem seu reconhecimento mesmo quando não há disponibilidade de ramos vegetativos e/ou floríferos, tais como: contornos celulares epidérmicos, ornamentações de paredes epidérmicas e de cutículas, contorno de nervura central, número de camadas do parênquima paliçádico e freqüência relativa de inclusões celulares. As células epidérmicas de Eugenia são recobertas por cutícula estriada, característica suficiente para separar esse gênero de Myrcia, cujas espécies apresentam folhas recobertas por cutícula lisa. A separação entre Myrcia guianensis e Myrcia sphaerocarpa é farta e seguramente obtida através dos seus respectivos elementos histológicos: 1 Myrcia guianensis - Paredes celulares epidérmicas ondulosas e ornamentadas " em rosário" em vista facial. - Parênquima paliçádico constituído de apenas uma camada de células.

- Escassa presença de cristais isolados de oxalato de cálcio. - Nervura central de contorno côncavo-convexo no corte transversal. 2- Myrcia sphaerocarpa - Paredes celulares epidérmicas retas e lisas. Parênquima paliçádico constituído de três camadas de células. - Abundante ocorrência de cristais de oxalato de cálcio, isolados e em séries cristalíferas. - Nervura central de contorno plano-convexo no corte transversal. AGRADECIMENTOS Agradecemos às Doutoras Lúcia Rossi e Maria Lúcia Kawasaki, taxonomistas do Herbário do Instituto de Botânica, São Paulo, SP, pela identificação das espécies estudadas neste trabalho, bem como pelas sugestões apresentadas. Bibliografia citada Almeida, E.R. 1993. Plantas medicinais brasileiras. Hemus Ltda., São Paulo. p.289-90. Barroso, G.M.1984. Sistemática de angiospermas do Brasil v.2. Imprensa Universitária, Universidade Federal dc Viçosa, Viçosa, p. 114-120. Conceição, Μ. 1982. As plantas medicinais do ano 2000. 2 o ed. TAO Ltda, São Paulo. 11 lp. Cruz, G.L. 1982. Dicionário das plantas úteis do Brasil. 2 o ed. Civilização Brasileira, Rio dc Janeiro. 498p. Farmacopéia dos Estados Unidos do Brasil. 1929. Nacional, São Paulo. p. 1020-1085. Foster, A.S.; Gifford Jr., E.M. 1974. Comparative morphology of vascular plants. 2" cd. W. Η. Freeman & Company, S. Francisco. 387p. Hecht, S.M. 1984. Biologically active extracts from Myrcia fallax (Myrtaceae) Peru, apud. Chem. Absir., 101 p. Jorge, L.I.F. 1992. Caracterização farmacohotânica e microscópio alimentar de seis es-pècies brasileiras de Myrtaceae Jussieu. Tese dc mestrado, Faculdade dc Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, São Paulo. Jorge, L.I.F.; Markman, B.E.; Silva, C.B.M. 1994. Jambolào: Syzygium cumini (L.) Skeels Elementos histológicos característicos das folhas, frutos c cascas. Rev. Bras. Farm., 75(2):38-39. Jorge, L.I.F.; Ferro, V.O.; Oliveira, I. 1996. Exame diagnóstico das folhas e frutos dc Plinia glomerata (cabeludinha) c Eugenia pyriformis (uvalha). Rev. Bras. Farm., 77(1):7-10. Martins de Toledo, O. 1929. Pedra-hume-caá ação hipoglicemiante. Tese de doutoramento Faculdade dc Medicina dc São Paulo, São Paulo. Maruzzella, J.C.; Henry, PA. 1958. Antimicrobial activity of perfume oils. J. Am. Pharm. Assoc., 47:471-476. Mendes dos Reis Arruda, L.F; Castro da Costa, P. R. 1978. Efeito hipoglicemiante induzido pelo extrato farmacológico preliminar. V Simpósio dc plantas medicinais do Brasil, 4 a 6 de setembro, Escola Paulista dc Medicina, São Paulo. p.74. Mors, W.B.; Grune, U. 1978. Myrcia sphaerocarpa DC. Planta diabética. V Simpósio dc plantas medicinais do Brasil, 4 a 6 dc setembro, Escola Paulista dc Medicina, São Paulo. p.72. Nadai, N.G.M. 1959. Nonterpenic fraction of Puerto Rican bay oil, Myrcia acris. Am. Perfumer Aromat., 73(6):22-24. Oliveira, F; Saito, M.L. 1991. Práticas de morfologia vegetal. Livraria Athcncu, Rio de Janeiro c São Paulo. 187p. Pio Corrêa, Μ. 1926. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. v.l pt 2 Ministério da Agricultura, Rio dc

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