PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO 20 MAIO 2016 Área de Prática Processual Penal (5,5 Valores) GRELHA DE CORREÇÃO
Grupo I (4 Valores) António Silva, residente na Praceta Alves Redol, em Lisboa, deslocou-se no dia de hoje, 20 de maio, ao seu escritório relatando-lhe que um seu vizinho, de nome Alexandre Castro, pessoa irrascível e que se incompatibiliza com todos os residentes do prédio, tem vindo a implicar consigo, por tudo e por nada, e que entre 15 de Outubro e 17 de Novembro de 2015, efetuou dezenas de chamadas telefónicas quer para o seu telefone fixo, quer para o seu telemóvel, muitas delas durante a noite, enviando-lhe também inúmeras mensagens de texto com idêntico teor, dizendo-lhe, nomeadamente: queres dormir, não queres?, vou chatear-te tanto que vais querer ir embora daqui, ontem na reunião do condomínio até parecias um doutor, ó espertalhão, então, ainda cá moras?. Que no dia 18 de Novembro de 2015, pelas 17h, ao sair do prédio onde residem, foi por aquele abruptamente abordado, em tom de voz alto e intimidatório, dirigindo-lhe as expressões: achas que és muito esperto, mas não passas de um chulo, cabrão, ganancioso. E ontem, pelas 10 horas da manhã, quando se encontrava na varanda da sua casa, este seu vizinho, que reside no andar por cima do seu, começou novamente com impropérios, a apodá-lo de cabrãozinho e chulo, o que foi ouvido pela sua vizinha do lado, que se encontrava a sacudir uns tapetes, e que, visivelmente incomodada, até se recolheu apressadamente para casa. Mais tarde, cerca das 19h, quando saía do supermercado, dirigiu-se-lhe em passo acelerado, vociferando não sabes com quem te meteste, já estive no xadrez, mas faço-te a folha. Vais ver, mato-te a ti e à tua família.. Ficou tão atemorizado que não reagiu, tendo sido puxado para dentro do supermercado pelo gerente, enquanto o agente da PSP que ali se encontrava em prestação de serviço abordava o seu vizinho, e ao que veio mais tarde a saber lhe transmitiu que o acompanhasse à Esquadra. Mais lhe referiu ser um homem que vive para o trabalho e para a família e que nunca teve problemas com ninguém, mas que este circunstancialismo o tem vindo a abalar, sentindo profunda vergonha, angústia e medo. 1) O consulente António Silva pretende saber o que pode e deve fazer, pelo que deve prestar-lhe informação detalhada e fundamentada quanto ao enquadramento jurídico-penal dos crimes em causa e respetiva marcha processual. (1,50 Valores) Enquadramento jurídico-penal das descritas condutas: - Entre 15 de Outubro e 17 de Novembro de 2015: um crime de perturbação da vida privada, p. e p. pelo artigo 190º do Código Penal, crime de natureza semi-pública - art. 198º do CP (0,20V) - Em 18 de Novembro de 2015: um crime de injúria, p. e p. pelo artigo 181º, n.º 1 do Código Penal, crime de natureza particular (art. 188º, n.º 1 do CP) (0,10V) - Em 19 de Maio de 2016: um crime de injúria, p. e p. pelo artigo 181º, n.º 1 do Código Penal, crime de natureza particular (art. 188.º, n.º 1 do CP) e um crime de ameaça agravada, p. e p. pelas 2
disposições conjugadas dos artigos 153º, n.º 1 e 155º, n.º 1, al. a) do Código Penal, crime de natureza pública (0,25V) Marcha processual: - Crimes de natureza particular: exigem queixa do ofendido, a sua constituição como assistente e acusação particular. Arts. 113º, n.º 1, 115º, n.º 1 e 117º do Código Penal; art. 50º, n.º 1 e 51º, n.º 2, 68º, nº 2, 70º, nº1, 285, nº1 e 77º, nº 1 do CPP e art. 8º, nº 1 do RCP. (0,25 V) - Crime de natureza semi-pública: exige queixa do ofendido. Arts. 113º, n.º 1 e 115º, n.º 1 do Código Penal; art. 49º, n.º 1 e 51º, n.º 2 do CPP. Notificada a acusação pública, deduzir pedido de indemnização: art. 77º, nº1 do CPP. (0,20V) - Crime de natureza pública: não exige qualquer impulso por parte do ofendido para que o MP instaure o inquérito: art. 48º CPP. É um crime de denúncia obrigatória (agente da P.S.P.): arts. 242º, nº 1, al. a) e 243º do CPP. Notificada a acusação pública, deduzir pedido de indemnização: art. 77º, nº1 do CPP. (0,25V) - Em relação aos crimes ocorridos até 18 de Novembro de 2015, o direito de exercício de queixa já se encontra extinto por efeito de caducidade - art. 115º, n.º 1 e 117º (0,25V) 2) Na qualidade de mandatário(a) de António Silva, redija a peça ou peças processuais pertinentes, ficcionando os elementos necessários à sua elaboração. (2,50 Valores) Elaboração das seguintes peças processuais: - Queixa-crime: (1,75V) Cabeçalho: (0,10V) - Procurador-Adjunto do DIAP de Lisboa Intróito: (0,35V) - Identificação do queixoso, da peça processual, do agente do crime e referência aos arts. 113º, n.º 1, 115º, n.º 1 e 117º do CP e arts. 50º, 246º, n.º 4 do CPP Corpo: (0,80V) - Descrição dos factos, referência aos elementos objetivos e subjetivos do tipo de ilícito; qualificação jurídica dos factos crime de injúria, p. e p. pelo art. 181º, n.º 1 do CP e declaração do art. 246º, n.º 4 do CPP. Não deve requerer a constituição de assistente nesta peça Pedido: (0,35V) - Requerer a instauração de procedimento criminal; Menção aos arts. 48º e 53º n.º 2 al. a) CPP Prova: (0,10V) - Testemunhal Juntada: (0,05V) - Procuração forense 3
- Constituição de assistente: (0,75V) Cabeçalho: (0,15V) - Processo n.º ; Secção do DIAP de Lisboa - Juiz de Instrução Criminal Intróito: (0,10V) - Identificação do ofendido Corpo: (0,40V) - Legitimidade (art. 68º, n.º 1, alíneas a) e b) do CPP), tempestividade (art. 68º, n.º 2 do CPP), representação judiciária (art. 70º, n.º 1 do CPP), autoliquidação da taxa de justiça (art. 519º, n.º 1 do CPP e art. 8º, n.º 1 do RCP), pedido para ser admitido a intervir como assistente. Juntada e subscrição: (0,10V) - Comprovativo do pagamento da taxa de justiça, duplicado e cópias legais e assinatura do advogado Grupo II (1,50 Valores) Investigando-se nos autos de inquérito n.º 243/16.9LSB, a prática de um crime de furto qualificado, p. e p. pelos arts. 203 e 204, n. 2, al. e) do Cód. Penal, perpetrado no transato dia 10 de Maio, a PSP intercetou ontem, pelas 16 horas, o arguido Luís Cristiano. Não se encontrando munida de mandado que autorizasse a busca, mas tendo obtido junto do proprietário da casa onde o arguido reside, consentimento para a sua realização, a mesma teve lugar pelas 18 horas, na sequência da qual foram apreendidos vários objetos que tinham sido subtraídos da residência de Leonor Armindo. a) Encontrando-se o arguido detido para ser presente ao juiz, no dia hoje, às 15h, para primeiro interrogatório judicial e tendo sido contactado(a) para o representar, que posição tomaria nesta diligência perante a factualidade supra descrita? (1Valor) - Mediante requerimento oral arguir a nulidade da busca e consequente nulidade da apreensão efetuada (art. 126º, n.º 3 e 122º, n.º 1 do CPP). A busca domiciliária é ordenada ou autorizada pelo juiz (art. 177º, n.º 1 do CPP), podendo ser efetuada por órgão de polícia criminal, sem a mencionada ordem ou autorização nos casos delimitados no art. 174º, n.º 5 do CPP, que não se verificam no caso vertente. O consentimento prestado pelo proprietário da casa não é válido para legitimar a realização da busca (art. 174º, n.º 5, alínea b) do CPP), traduzindo-se num método proibido de prova. (1Valor) 4
b) Se, concluída a referida diligência, fosse proferido despacho aplicando ao arguido medida de coação de prisão preventiva, fundamentado na busca e apreensão, diga sumariamente como e em que prazo, reagiria ao mesmo. (0,50 Valores) - A utilização das provas obtidas nessa busca proibida para fundamentar o despacho que aplicou a prisão preventiva, torna-o nulo (art. 122º, n.º 1 do CPP). Interposição de recurso no prazo de 30 dias, endereçado à autoridade judiciária que proferiu a decisão, com subida imediata, em separado e com efeito meramente devolutivo, nos termos dos arts. 399º, 401º, n.º 1, al. b), 407º, n.º 1, al. c), 406º, n.º 2, 408ºa contrario sensu, 411º, n.º 1, al. a) e 412º, n.ºs 1 e 2 do CPP. (0,50 Valores) 5