ADUBAÇÃO FOSFATADA PARA MILHO SAFRINHA ANTECIPADA NA CULTURA DA SOJA* Darly Geraldo de Sena Júnior 1, Vilmar Antonio Ragagnin 1, Marcelo Marques Costa 2, Ricardo Souza Lima 3, Vania Klein 4 1. Introdução A cultura do milho é segunda em importância no estado de Goiás, sendo que o município de Jataí foi responsável por 11,5% das 5,1 milhões de toneladas do cereal colhidas na safra 2008 (Seplan, 2009). De acordo com dados da Conab (2009) o estado de Goiás cultivou 371.400 ha de milho safrinha com produtividade média de 4.569 kg/ha. Uma fase crítica na cultura do milho é a época de semeadura. No Brasil Central, dependendo do híbrido cultivado, o atraso na semeadura, pode resultar em redução no rendimento de até 30 kg ha -1 por dia (Coelho et al., 2004). Para o milho safrinha o atraso é ainda mais danoso, pelas baixas temperaturas, menor radiação solar e redução na disponibilidade de água durante seu ciclo. Além disso, o atraso na semeadura aumenta o risco de frustração de safra. Na região de Jataí a época limite para plantio é 28 de fevereiro (Embrapa, 2009). A semeadura do milho safrinha é realizada em uma época de intensa atividade nas propriedades, coincidindo com a operação de colheita da soja precoce. Parte da mão de obra e máquinas está dedicada à colheita, o transporte e armazenamento da safra de soja. Em geral, a operação de semeadura é uma das que apresenta menor capacidade * Projeto financiado pelo CNPq 1 Professor Adjunto, Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, Caixa Postal 03, Jataí, GO, CEP 75800-000. E-mail: darly.sena@gmail.com 2 Mestrando em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa, Bolsista CNPq 3 Graduando em Agronomia, Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí 4 Mestranda em Agronomia, Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí 181
operacional, pois além da impossibilidade de trabalho em velocidades elevadas, é freqüente a obstrução dos mecanismos de abertura de sulcos, de distribuição de sementes e de fertilizantes. Em alguns trabalhos constatam-se eficiências de campo próximas a 50% (Silveira et al., 2006). Além disso, especialmente nas áreas de cerrado que exigem altas doses de fertilizantes, há necessidade de freqüentes paradas para abastecimento da semeadora. Essa operação exige uma boa logística para o transporte dos fertilizantes e sementes até o local de semeadura e os meios de realizar o reabastecimento da semeadora. Para melhorar a eficiência das semeadoras alguns produtores já vêm utilizando a distribuição antecipada de fertilizantes, a lanço, na cultura da soja. Isso pode propiciar um aumento na capacidade operacional das máquinas ao reduzir a necessidade de paradas para reabastecimento. Essa estratégia foi simulada por Matos (2006) que verificou a possibilidade de redução do número de semeadoras e o custo operacional. Entretanto, para o milho safrinha essa estratégia pode ser dificultada, pois irá exigir dois conjuntos de máquinas, um para distribuição dos fertilizantes e outro para as sementes. Na cultura da soja essa estratégia pode ser interessante, pois na época que antecede a semeadura as máquinas estão ociosas. Para a cultura do milho safrinha, outra estratégia pode ser mais viável, a chamada adubação de sistema. Nessa situação a antecipação é realizada na forma de adubação de uma cultura antecessora, sobre a qual será efetuada a semeadura direta da cultura seguinte (Segatelli et al., 2006). Em geral é utilizada em uma cultura de cobertura, de modo que a partir do momento em que essa cultura é dessecada, haveria a liberação dos nutrientes para a cultura principal. Outra questão importante é a forma de distribuição do fertilizante. Inegavelmente a forma mais econômica é a lanço, pela capacidade operacional e demanda de potência. Entretanto, Lopes (1999) recomenda a aplicação dos fertilizantes fosfatados em sulco, em solos com baixos teores desse nutriente. Por outro lado, Lana et al. (2003) consideram que no caso de teores elevados de fósforo, a aplicação superficial torna-se eficiente. O objetivo desse trabalho é avaliar o efeito da distribuição antecipada da adubação fosfatada para a cultura do milho safrinha juntamente com a adubação da cultura da soja, em plantio direto. Utilizou-se o sistema tradicional, com adubação das duas culturas no momento da semeadura, antecipação da adubação fosfatada no momento da semeadura da soja, adubação fosfatada antes da semeadura da soja, à lanço e incorporada, e a supressão da adubação fosfatada para a cultura do milho safrinha. 2. Material e Métodos O trabalho foi desenvolvido na área experimental do Campus Jataí da Universidade Federal de Goiás. O solo da área do experimento é um Latossolo Vermelho distrófico, 182
com teor de argila de 530 g kg -1. Antes da instalação do experimento a área vinha sendo cultivada no sistema de plantio direto há pelo menos sete anos, com a sucessão da cultura da soja no verão e milho ou sorgo na segunda safra. Os resultados da análise de solo, com amostras coletadas antes da semeadura da soja, no primeiro e segundo ano do experimento, são apresentados na Tabela 1. TABELA 1. Resultados das análises de solo, na camada de 0-20 cm. Jataí - GO. Ano ph K P Ca Mg Al H+Al CTC SB MO H 2 O ---mg dm -3 --- --------------cmol c dm -3 --------------- --%-- g dm -3 2008 6,38 109,80 2,88 3,65 1,55 0,04 4,57 10,05 54,53 34,51 2009 5,30 100,50 4,80 3,39 1,00 0,02 3,60 8,26 56,40 40,00 O experimento foi instalado no delineamento em blocos casualizados com cinco repetições e cinco tratamentos (Tabela 2). TABELA 2. Descrição dos tratamentos utilizados. Tratamentos LançoSM LinhaSM SemSM TradS AusP Descrição Distribuição antecipada do fertilizante para a cultura da soja e do fósforo para o milho safrinha à lanço. Distribuição antecipada do fertilizante para a soja e do fósforo para milho safrinha incorporado em linha e semeadura coincidindo com o sulco de adubação. Distribuição do adubo para a cultura da soja e do fósforo para milho safrinha no momento da semeadura da soja. Distribuição dos fertilizantes no momento da semeadura das culturas. Distribuição dos fertilizantes para a soja no momento da semeadura e supressão do fósforo para o milho safrinha. As parcelas foram constituídas de cinco linhas, espaçadas de 45 cm, com dez metros. Nos dois anos, na safra a área foi cultivada com soja cultivar M-SOY 6101. A semeadura do milho safrinha foi realizada nos dias 20/02/2008 e 18/02/2009, também com espaçamento entre linhas de 45 cm. No primeiro ano foi utilizado o híbrido Pioneer 30F87 com população de 55.000 plantas por hectare e no segundo ano o híbrido AG 7000YG com 60.000 plantas por hectare. Para a cultura da soja, utilizou-se a dose de 90 kg de P 2 O 5 e 60 kg de K 2 O por hectare. Para o milho safrinha foi utilizada a dose de 100 kg de P 2 O 5, por hectare na semeadura ou antecipada na cultura da soja. A fonte de fósforo utilizada foi o superfosfato triplo. A cobertura foi realizada com as plantas no estádio V6 utilizando 183
52 kg de K 2 O e 52 kg de N por hectare. No tratamento com antecipação da adubação incorporada em linha foi utilizada uma semeadora adubadora equipada com sulcador (botinha) para a distribuição dos fertilizantes, cerca de 20 dias antes da semeadura da soja. A distribuição do fertilizante no momento da semeadura foi realizada com sistema de disco duplo. A distribuição a lanço foi realizada manualmente. O experimento foi repetido, alocando os tratamentos nas mesmas parcelas nos dois anos. Nos dois anos foi avaliada a produtividade de grãos, procedendo-se a análise de variância e comparação de médias pelo Teste Tukey (5%). 3. Resultados e Discussão Os resultados de produtividade de grãos do milho safrinha nos dois anos de utilização dessa estratégia são apresentados na Tabela 3. TABELA 3. Produtividade média do milho safrinha, nos anos 2008 e 2009. Jataí - GO. Produtividade (kg ha -1 ) Tratamentos 2008 2009 TradS 7824,48 a 6876,50 a SemSM 7646,28 a 6844,60 a LançoSM 7732,20 a 6241,40 ab AusP 7204,32 a 5609,60 bc LinhaSM 7433,52 a 5137,60 c CV% 5,92 8,49 Médias seguidas por mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade Não houve diferença significativa na produtividade entre os tratamentos no primeiro ano. Esse resultado indica que embora a disponibilidade de fósforo seja considerada baixa, a cultura não respondeu à aplicação do fertilizante. Assim, pode-se inferir que a disponibilidade de fósforo está adequada ao desenvolvimento da cultura, de modo que o fertilizante fosfatado aplicado está sendo destinado à reposição da exportação pela cultura. Coelho et al. (2002) cita trabalho de Cantarella & Duarte (1997) que observaram baixa resposta ao P e K em trabalho realizado com milho safrinha no Estado de São Paulo. Essa baixa resposta pode ser decorrente de condições climáticas desfavoráveis, o que reduz a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes. Deve-se ressaltar ainda, que por se tratar de sistema de plantio direto, a decomposição dos 184
resíduos da cultura anterior irá fornecer nutrientes, que não são detectados na análise de solos. Isso pode se tornar mais evidente quando a cultura antecessora é a soja, cuja palhada tem baixa relação C/N, com decomposição relativamente rápida. Esses resultados concordam ainda com os obtidos por Lana et al. (2003) com antecipação da adubação para a cultura da soja e por Bertolini (2005) para a cultura do milho. No segundo ano do experimento, os tratamentos: adubação no momento da semeadura, adubação fosfatada antecipada a lanço e na semeadura da soja não diferiram. A antecipação do fósforo para milho safrinha incorporado em linha não diferiu do tratamento com supressão de fósforo. Nos tratamentos com maior produtividade, a adubação foi distribuída mais superficialmente, a lanço ou com disco duplo na semeadora. É possível que a disposição do fósforo em camadas mais profundas, no perfil do solo, tenha dificultado a absorção do nutriente pela maior concentração radicular nas camadas superficiais, associado ainda ao elevado teor de umidade no solo no início do desenvolvimento da cultura (Figura 1). Nos dois anos houve boa precipitação durante o ciclo da cultura o que pode ter favorecido os tratamentos com adubação mais superficial, mas a melhor distribuição da precipitação no primeiro ano pode ter aumentado a eficiência de utilização do fósforo no solo.. Figura 1. Precipitação pluvial (mm) e temperaturas máxima e mínima ( C) registradas na safrinha de 2008 (A) e 2009 (B), no Campus Jataí, UFG, Jataí - GO. 185
4. Conclusões No primeiro ano da utilização da antecipação da adubação fosfatada para o milho safrinha na cultura da soja, não houve diferença entre a produtividade dos tratamentos com a adubação no momento da semeadura e antecipação, independente da forma de aplicação. No segundo ano, a maior produtividade foi verificada com adubação distribuída mais superficialmente, a lanço ou com disco duplo na semeadora. No primeiro ano não houve diferença entre os tratamentos com aplicação e supressão da adubação fosfatada em termos de produtividade, já no segundo ano verificou-se diferença significativa na produtividade para estes tratamentos. 5. Agradecimentos Ao CNPq pelo financiamento concedido ao projeto. 6. Referências BERTOLINI, E. K. Adubação de pré-semeadura na cultura do milho em diferentes manejos do solo. 2005. 122p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu. COELHO, A. M.; CRUZ, J. C.; PEREIRA FILHO, I. A. Desafios para a obtenção de altas produtividades de milho. Embrapa Milho e Sorgo Comunicado Técnico 99. Sete Lagoas, MG. 2004. 20p. COELHO, A. M.; FRANÇA, G. E.; PITTA, G. V. E.; ALVES, V. M. C.; HERNANI, L. C. Cultivo do milho - Nutrição e Adubação. Embrapa Milho e Sorgo Comunicado Técnico 44. Sete Lagoas, MG. 2002. 12 p. CONAB. Milho 2ª Safra Brasil. Série histórica 1976/77 a 2008/09. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conabweb/index.php?pag=131>. Acesso em: 14 set. 2009. EMBRAPA CNPMS. Zoneamento agrícola. Disponível em: < http://www.cnpms. embrapa.br/publicacoes/milho/zoneamento.htm> Acesso em: 22 set. 2009. LANA, R. M. Q; VILELA FILHO, C. E; ZANÃO JUNIOR, L. A; PEREIRA, H. S; LANA, A. M. Q. Adubação superficial com fósforo e potássio para soja em diferentes épocas em pré-semeadura na instalação do sistema de plantio direto. Scientia Agrária, Paraná, v. 4, p. 53-60, 2003. 186
LOPES, A.S. Recomendações de calagem e adubação no sistema plantio direto. In: RIBEIRO, A. C; GUIMARÃES, P. T. G; ALVAREZ V, V. H. (eds). Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais 5ª Aproximação. Viçosa, MG, 1999. 359p. MATOS, M. A. Pontualidade na operação de semeadura e a antecipação da adubação e suas influencias na receita liquida da cultura da soja. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 26, p.493-501, 2006. SEGATELLI, C. R.; HEIFFIG, L. S.; CÂMARA, G. M. S.; FRANCISCO, E. A. B.; MARQUES, L. A.; PEDROSO, D. B. Altura e estande final, acamamento e ocorrência de haste verde em plantas de soja em sistema de adubação antecipada. Revista de Agricultura, Piracicaba, SP, v. 81, p. 1-9, 2006. SEPLAN - Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento do Estado de Goiás. Disponível em: <http://www.seplan.go.gov.br/sepin/ >. Acesso em: 22 set. 2009. SILVEIRA, G. M; YANAI, K; KURACHI, S. A. H. Determinação da eficiência de campo de conjuntos de maquinas convencionais de preparo do solo, semeadura e cultivo. Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 10, p. 220-224, 2006. 187