CAL ARTESANAL VERSUS CAL INDUSTRIAL: Reflexos da tecnologia de produção na sua constituição e aplicação

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Transcrição:

CAL ARTESANAL VERSUS CAL INDUSTRIAL: Reflexos da tecnologia de produção na sua constituição e aplicação MARIA DO ROSÁRIO VEIGA rveiga@lnec.pt

Conteúdo Cal no Património com valor cultural Importância dos processos de preparação da cal Processos de preparação da cal Composição da cal Características das argamassas de cal Considerações finais LNEC 2

Cal no Património A cal tem uma grande importância no Património construído europeu (e não só) Pelas suas características físicas (permeabilidade, deformabilidade, higroscopicidade, absorção do som) e químicas (redução do CO 2, poder biocida) e imagem (textura, reflexão da luz, etc.) tem uma marca forte no ambiente. Aldeia no Alentejo: caiação Aldeia na Escócia Sul de Inglaterra (East Anglia) LNEC 3

Cal no Património Rebocos exteriores Revestimentos decorativos interiores (fingidos) Gaiola Pombalina Revestimentos decorativos exteriores Assentamento de azulejos Casa no Alentejo: caiação Argamassas Romanas LNEC 4

CAL AÉREA Ligante aéreo Cal no Património A cal aérea pode ser de origem cálcica ou dolomítica. Obtida por calcinação, a temperaturas da ordem de 800 a 1000 ºC, de rochas carbonatadas, constituídas predominantemente por carbonato de cálcio (calcário) ou por carbonato de cálcio e magnésio (calcário dolomítico) Cal viva: CaCO 3 + calor CaO + CO 2 Hidratação: CaO + H 2 O Ca (OH) 2 +calor Endurecimento: Ca (OH) 2 + CO 2 CaCO 3 + H 2 O (entre 50% HR e 85% HR) LNEC 5

Processos de preparação da Cal A produção da cal depende das tecnologias disponíveis: inicialmente simples fogueiras; fornos intermitentes; fornos contínuos; fornos industriais verticais; fornos industriais rotativos. Temperatura e uniformidade dependentes do combustível e das características do forno. Mas também seleção da pedra, dimensões, tempo. O carbonato de cálcio decompõe-se em CaO e CO 2 a cerca de 900ºC por isso a eficiência da calcinação dá-se a essa temperatura (900 1000 ºC). CaCO 3 + calor (900ºC) CaO + CO 2 Temperaturas mais elevadas podem produzir recozimento e reatividade reduzida; temperaturas baixas produzem grânulos crus, ou seja que se mantêm como carbonato de cálcio (inertes). Forno intermitente de Trigaches Forno vertical Itália foto cedida por Ewa Malinowski Forno contínuo de Pataias foto cedida por Goreti Margalha Forno construído no Scottish Lime Center LNEC 6

Processos de preparação da cal Em 1997 ainda havia 6 ou 7 fornos tradicionais em laboração no Alentejo e Algarve. Eram fornos intermitentes (pouco rentáveis). Em 2007 já só se encontraram 2 (Montes Claros) que entretanto deixaram de laborar. Combustível: madeira e mato (verde, para ser mais lento) ramos de eucalipto, oliveira, sobro, azinho. Pedra: resíduos da indústria de extração da pedra, no Alentejo era muito usado o mármore (por ex. em Trigaches). Fornos de Trigaches LNEC 7

Processos de preparação da Cal Antigamente: A maioria dos fornos que se encontram em Portugal, em particular no Alentejo e Algarve, eram fornos intermitentes alimentados com o combustível lenha: ramos e mato. A madeira escolhida assegurava (pela experiência) temperaturas adequadas de cozedura. O tempo era doseado pelos caleiros, que sabiam ver quando a pedra estava cozida pela experiência: cor do fumo que saía pela abertura superior; cor da pedra. Sabiam também partir a pedra e colocá-la de acordo com o tempo de cozedura e temperatura de que cada tipo e tamanho de pedra necessitava. LNEC 8

Processos de preparação da Cal Antigamente: Tudo dependia dos artesãos caleiros: do seu conhecimento empírico da sua experiência da sua arte e do seu engenho do seu saber do seu empenho O fator humana era muito importante. LNEC 9

Processos de preparação da cal O processo de fabrico da cal teve grandes avanços no final do século XIX e início do século XX mas os fornos industriais eficientes, com estruturas metálicas, zonas distintas de pré-aquecimento, calcinação e arrefecimento, começaram a surgir na década de 50 do século passado (Boynton). Os fornos tradicionais começaram a ser abandonados em Portugal a partir daí (1960?) mas só no início do século XXI foram extintas as últimas produções artesanais (de que se tem conhecimento). LNEC 10

Processos de preparação da cal Hoje: Pedra selecionada e controlada por análises químicas Moída a dimensões pré-definidas para uniformizar as necessidades de calor/temperatura/tempo de cozedura Temperatura controlada durante todo o processo Tempo de exposição uniforme Controlo do produto final de novo por análises químicas e físicas. LNEC 11

Processos de preparação da cal Hoje: Tudo depende: do equipamento do processo estabelecido do rigor dos controlos o fator humano fica a montante (definição de todo o sistema). Os fatores económicos são predominantes. LNEC 12

Processos de preparação da cal E a embalagem, armazenagem e transporte? Antes: Sob a forma de pedra: cal viva Devia ser preparada e aplicada pouco tempo depois porque ia hidratando à superfície; mas fragmentos relativamente grandes tinham uma % pequena de hidratação e mantinham a reatividade Sob a forma de pasta: cal em pasta Mantinha-se durante muito tempo sem carbonatar, ou carbonatava só à superfície Agora: Predominantemente vendida hidratada e em pó, muito fina (da ordem de 1-10 microm.) Facilmente carbonata. Com isso deixa de ser reativa. CL 90: CaO > 90% originalmente, mas se 20% carbonatar passamos a ter valores da ordem de 70%. LNEC 13

Processos de preparação da cal Cal em pedra Cal viva micronizada Cal viva apagada com areia (hot mix) Cal hidratada em pó Cal (hidratada) em pasta Instalações de apagamento da cal no Sul de Espanha LNEC 14

Processos de preparação da cal Produção de cal hidratada: A partir de cal viva, sob a forma de pedra ou em pó (micronizada) Cal hidratada em pó (apagada com a quantidade de água necessária) Cal em pasta (apagada com água em quantidade superior à necessária) Cal viva extinta com areia (hot lime mix) (misturada com areia húmida em obra e deixada durante algum tempo) CaO + H 2 O Ca(OH) 2 LNEC 15

Processos de preparação da cal Cal extinta com areia húmida (hot lime mix) Temperaturas elevadas favorecem a reação com os agregados e um aumento da resistência. Mas é um processo com muitos riscos. Talvez adequado para alvenarias. LNEC 16

Processos de preparação da cal Cal em pasta 5 anos 1 mês Tempo de apagamento 48 horas 1 mês 1 ano 3 anos 5 anos Água livre (% massa) 64 64 58 48 51 De Margalha et al, 12 DBMC, Abril 2011 LNEC 17

Processos de preparação da cal 8 meses 5 anos 5,3 µm 7 µm 9 µm 1,7 µm 3 µm 2,7 µm ESEM Cal em pasta Figura extraída de Margalha et al, 12 DBMC, Abril 2011 Tem a vantagem de não carbonatar e ganhar qualidade com o tempo

Processos de preparação da cal Cal hidratada em pó Fabrico industrial, com controlo de qualidade, fácil de utilizar e de dosear LNEC 19

Composição da cal As cais produzidas industrialmente são diferentes das produzidas nos fornos tradicionais? Composição química da Cal (Cal hidratada em pó) (1) Análise química CaO MgO SiO2 Fe2O3 Al2O3 SO3 PR Cal Industrial de Alcanede (I) 71,9-0,2 0,03 0,1 0,2 27,6 Cal preta Montes Claros (MCp) 45,9 25,5 1,2 1,6 0,01 0,01 25,9 Cal branca Montes Claros (MCb) 71,4-0,3 0,05 0,1 0,2 27,9 (1) Resultados de ensaios realizados no LNEC Margalha 2009 (ver bibliografia no final) LNEC 20

Composição da cal As cais produzidas industrialmente são diferentes das produzidas nos fornos tradicionais? Composição mineralógica Ca(OH) 2 Mg(OH) 2 CaCO 3 CaMg(CO 3 ) 2 Outros Cal Industrial de Extinta pelo 74,0-23,0-3,0 Alcanede (I) fornecedor Cal preta Montes Extinta pelo 42,8 17,6 22,8 vest 17,0 Claros (MCp) fornecedor Extinta em obra (preta) 51,0 17,6 9,0-1,00 (quartzo) Cal branca Montes Claros (MCb) Composição mineralógica da Cal (Cal hidratada em pó) (1) Extinta em obra (branca) 70,0-25,0-4,0 (1) Resultados de ensaios realizados no LNEC Margalha 2009, ver bibliografia no final LNEC 21

Argamassas de cal Características das argamassas de cal hidratada em pó 1:3 (1) Flexão 90 d Flexão 360 d Comp 90 d Comp 360 d Mód Elast 90 d Mód Elast 360 d Coef Cap 90 d Coef Cap 360 d Cal M Volum MCp_G 1824 0,39 0,46 0,85 1,02 4070-0,77 MCb_G 1803 0,33 0,39 0,63 1,11 3319-1,49 I_G 1895 0,43 0,47 0,90 0,83 4403-1,08 I_SM 2207 0,52 1,17 1,33 2,31 3886 3903 0,77 0,79 MCp_SM 0,43 0,48 1,16 1,19 - - 2,51 2,14 MCb_SM 0,28 0,25 0,69 1,00 - - 1,00 1,81 I_S 0,37 0,40 1,30 0,97 3176 3209 1,20 1,00 MCp Montes Claros preta; MCb Montes Claros branca; I Industrial G Areia do Guadiana; SM Areia de Santa Margarida; S Areia de Sesimbra (1) Resultados de ensaios realizados no LNEC Margalha 2009, ver bibliografia no final LNEC 22

Composição Argamassas de cal Características das argamassas de cal viva, pasta e pó (1) Traço Volumétrico Características Mecânicas (aos 90 dias) Rt (MPa) Rc (MPa) E (MPa) Comp. à água (aos 90 dias) C (kg/m 2.min 1/2 ) Cal hidratada em pó 1:3 0,52 1,33-0,77 Cal em pasta extinção recente (1 mês) 1:3 0,37 1,06 4091 1,47 Cal em pasta extinção longa (5 anos) 1:3 0,63 1,42 4748 1,29 Cal viva em pedra com areia: 1 dia 1:3 0,47 0,96 3816 1,64 Cal viva em pedra com areia: 7 dias 1.3 0,50 1,08 3658 1,48 Rt Resistência à tração por flexão; Rc Resistência à compressão; E Módulo de elasticidade; C - Coeficiente de capilaridade; Areia: mistura de areias siliciosas de santa Margarida (1) Resultados de ensaios realizados no LNEC Margalha 2009, ver bibliografia no final 23

Composição Argamassas de cal Características das argamassas de cal viva, pasta e pó (1) Traço Volumétrico Características Mecânicas (aos 90 dias) Rt (MPa) Rc (MPa) E (MPa) Comportamento à água (aos 90 dias) C (kg/m 2.min 1/2 ) Cal hidratada em pó 1:3 0,52 1,33-0,77 Cal em pasta extinção recente (1 mês) 1:3 0,37 1,06 4091 1,47 Cal em pasta extinção longa (5 anos) 1:3 0,63 1,42 4748 1,29 Cal viva em pedra com areia: 1 dia 1:3 0,47 0,96 3816 1,64 Cal viva em pedra com areia: 7 dias 1.3 0,50 1,08 3658 1,48 Os ensaios laboratoriais das argamassas de cal em pasta e de cal em pó mostraram diferenças ligeiras de comportamento; a cal em pasta tem a vantagem de não perder qualidades com o armazenamento. A cal viva apagada com areia não mostrou vantagens. 24

Composição Cal em pasta de extinção recente: areia de areeiro de granulometria controlada Argamassas de cal Características das argamassas de cal viva, pasta e pó (1) Traço Volumétrico Características Mecânicas (aos 90 dias) Rt (MPa) Rc (MPa) Comportamento à água (aos 90 dias) C (kg/m 2.min 1/2 ) 1:3 0,75 1,48 2,04 Cal em pasta de extinção prolongada: areia de areeiro de granulometria controlada Cal hidratada em pó: areia de areeiro de granulometria controlada 1:3 0,77 1,70 1,69 1:3 0,78 1,65 1,66 Rt Resistência à tração por flexão; Rc Resistência à compressão; C - Coeficiente de capilaridade Os ensaios laboratoriais das argamassas de cal em pasta e de cal em pó mostraram diferenças ligeiras de comportamento; a cal em pasta tem a vantagem de não perder qualidades com o armazenamento. A cal viva apagada com areia não mostrou vantagens. 25

Argamassas de cal Evolução das características das argamassas de cal com o tempo (1) 3,50 1,60 3,00 2,50 2,00 1,50 1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 1,00 0,50 0,00 28 d 90 d 360 d 5 anos M_1:2,5 putty M_1:4,2 putty M_1:3 powder M_1:3 powder_s 0,40 0,20 0,00 28 d 90 d 360 d 5 anos M_1:2,5 putty M_1:4,2 putty M_1:3 powder M_1:3 powder_s Resistência à compressão (MPa) Resistência à flexão (MPa) (1) Resultados de ensaios realizados no LNEC Margalha et al. 2013, ver bibliografia no final LNEC 26

Argamassas de cal Evolução das características das argamassas de cal com o tempo (1) 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1,60 1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 1000 0 28 d 90 d 360 d 5 anos 0,00 28 d 90 d 360 d M_1:2,5 putty M_1:4,2 putty M_1:2,5 putty M_1:4,2 putty M_1:3 powder M_1:3 powder_s Módulo de elasticidade (MPa) Coeficiente de capilaridade (kg/m 2.min 1/2 ) (1) Resultados de ensaios realizados no LNEC Margalha et al. 2013, ver bibliografia no final LNEC 27

Considerações finais Existem variações na cal e nas argamassas de cal conforme o método de produção temperatura, tempo, uniformidade da cozedura e de preparação da cal Essas diferenças não são na composição mineralógica mas sim na microestrutura e em consequência na reatividade Mas as maiores diferenças estarão no fator humano: saber, esforço, engenho Os processos de preparação da cal e das argamassas de cal geram também produtos finais distintos É sabido que a aplicação é um dos fatores mais condicionantes da qualidade e durabilidade das argamassas de cal e dos trabalhos realizados com elas Quando bem produzidas, armazenadas e aplicadas as argamassas de cal têm ótimo desempenho e durabilidade além de contribuírem para a salubridade e sustentabilidade da construção Conhecer o passado para entender o presente e desenhar/controlar o futuro. LNEC 28

Trabalhos publicados MARGALHA, M. G. - Ligantes aéreos minerais. Processos de extinção e o factor tempo na sua qualidade. Tese de Doutoramento pelo IST, Univ de Lisboa, Out 2009. MARGALHA, M. Goreti; VEIGA, M. Rosário; BRITO, Jorge. The maturation time factor in lime putty quality. In 7th International Brick Masonry Conference (7 IBMAC). London, October 30 to November 1, 2006. MARGALHA G., APPLETON J., CARVALHO F., VEIGA M. R., SANTOS SILVA A., BRITO J. Traditional lime kilns - Industry or archaeology? In HMC08 1st Historical Mortars Conference 2008: Characterization, Diagnosis, Conservation, Repair and Compatibility, Lisboa, LNEC, 24-26 de Setembro de 2008. ISBN 978-972-49-2156-3. MARGALHA, M. G.; VEIGA, M. R.; BRITO, J. Processos tradicionais de execução de uma argamassa. Cal viva extinta com a areia. In 3º Encontro sobre Patologia e Reabilitação de edifícios, PATORREB 2009. Porto: 18 a 20 de Março de 2009. LNEC 29

Trabalhos publicados MARGALHA, G.; SANTOS SILVA, A.; VEIGA, M. R.; BRITO, J. The influence of slaking time on lime putty. In XII DBMC 12 th International Conference on Durability of Building Materials and Components, 12-15 April 2011, U. Porto, Vasco Peixoto Freitas, Helena Corvacho, Michael Lacasse (edts.), ISBN 978-972-752-132-6, vol II, pp. 697-704. MARGALHA, G., VEIGA, R., SANTOS SILVA, A., BRITO, J. Traditional methods of mortar preparation: The hot lime mix method, Cement & Concrete Composites, 33 (concomp8) sept 2011, 796 804 pp. DOI: 10.106/j.cemconcomp.2011.05.008. MARGALHA, G.; SANTOS SILVA, A.; VEIGA, R.; BRITO, J. DE; BALL, R.; ALLEN, G. Microstructural Changes of Lime Putty During Aging, Journal of Materials in Civil Engineering, Elsevier, UK. Elsevier, UK. Volume: 25 Issue: 10 Pages: 1524-1532 DOI: 10.1061/(ASCE)MT.1943-5533.0000687 Published: OCT 1 2013. MARGALHA, M. G.; VEIGA, M. R.; SANTOS SILVA, A.; BRITO, J. A influência do teor de cal em pasta em argamassas. Seminário Limecontech - conservação e durabilidade de revestimentos históricos - técnicas e materiais compatíveis, Lisboa, LNEC, maio de 2013. LNEC 30

Fim Projeto PRESERVe Preservação de revestimentos do Património construído com valor cultural: identificação de riscos, contributo do saber tradicional e novos materiais para conservação e proteção. OBRIGADA PELA VOSSA ATENÇÃO LNEC 31