Para o estudo histórico-comparativo das línguas Jê

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Transcrição:

Para o estudo histórico-comparativo das línguas Jê Aryon Dall Igna Rodrigues 0. Introdução O estudo histórico-comparativo das línguas do tronco Macro-Jê tem especial importância para o conhecimento da pré-história de uma grande parte do Brasil e, por conseguinte, da América do Sul. Se estiver certa, a hipótese da consistência desse grande conjunto de línguas como um grupo genético, isto é, como procedente de uma língua pré-histórica comum, implica na ocupação da maior parte das terras não amazônicas do Brasil por povos que falavam e falam línguas que têm uma origem comum. Isto corresponde a dizer que esse grande território foi progressivamente ocupado por sucessivas e diversificadas migrações oriundas de um ponto comum, um centro de dispersão mais antigo, cuja localização está por determinar. Se os indícios linguísticos, que puderam ser apontados até agora, de possíveis relações genéticas do tronco Macro-Jê com conjuntos linguísticos mais tipicamente amazônicos, como o tronco Tupí e a família Karíb, vierem a ser confirmados e reforçados por novas descobertas, várias questões científicas importantes vão certamente ser colocadas não só para a linguística, mas igualmente para a etnologia e a arqueologia. Para enfrentar tais questões linguistas, etnólogos e arqueólogos vão ter que integrar cada vez mais seus conhecimentos e suas pesquisas. Nós linguistas, em particular, temos de consolidar nossos conhecimentos, tanto de natureza analítica e descritiva, quanto de natureza comparativa e histórica, para que possamos integrar as peças do grande mosaico Macro-Jê que ainda nos restam após cinco séculos de destruição de numerosos povos e de eliminação de incontáveis línguas. Apresento aqui um breve levantamento retrospectivo das principais contribuições classificatórias para a organização do conhecimento dos povos e das línguas indígenas do Brasil, as quais desde a primeira metade do século XIX contribuíram progressivamente para o estabelecimento dos conceitos 279

Para o estudo histórico comparativo das línguas Jê de família linguística Jê e de tronco linguístico Macro-Jê. Como os estudos histórico-comparativos não podem desenvolver-se adequadamente sem que se disponha de uma ampla base descritiva, tanto no que se refere às fonologias e às gramáticas, como e grandemente no que tange aos dicionários, acrescento, para as línguas da família Jê, uma indicação daquilo que, segundo o meu conhecimento, já está publicado ou está em elaboração. Esta parte da minha comunicação não é ainda um levantamento bibliográfico, mas apenas um lembrete para aqueles que trabalham com uma língua Jê sobre o que pode existir a respeito de outras línguas mais ou menos próximas da sua. 1. A família Jê no âmbito Macro-Jê: retrospectiva 1.1. Martius. A primeira percepção de um conjunto de línguas incluindo as que hoje chamamos de família Jê foi a de Carl Friedrich Philipp von Martius, que em suas contribuições para a etnografia e a linguística da América e principalmente do Brasil (1863 e 1867), há 134 anos criou o termo classificatório Gez ou Crans para designar tanto os povos que falam línguas da família Jê, como alguns outros, cujas línguas hoje incluímos em outras famílias do tronco Macro-Jê (Kamakã, Meniém, Kotoxó) ou de outras filiações (Tikuna, Katukína, Koretú) (1867:134-166). Tanto o nome Gez como o nome Crans criou ele a partir das sílabas finais recorrentes em diversos nomes de povos Jê, como Apinagez e Crengez ou Aponegicrans e Capiecrans. 1.2. von den Steinen. Vinte anos mais tarde Karl von den Steinen (1886), que, a partir de sua primeira expedição ao rio Xingu, debruçou-se sobre a situação etnográfica e linguística do Brasil, propôs um grupo Tapuia para incluir os Jê, os Botocudos (= Krenák) e os Goitacás (para ele = Makoní, Kumanaxó e Panháme) e subdividiu os Jê em (a) Jê do norte e do oeste (Karajá, Suyá, Apinajé, Aponejikrã, Kayapó e Krahô), (b) Jê central (Akroá-mirim, Xerénte, Xavánte, Xikriabá, Maxakalí) e (c) Jê oriental (Kotoxó, Kamakã, Masakará). 1.3. Ehrenreich. Já Paul Ehrenreich, pouco depois (1891), distinguiu o que considerou Jê primitivos e Jê derivados. Dividiu os primeiros em dois ramos, setentrional com Botocudo (= Krenák), Kamakã e Pataxó, e meridional incluindo Kamé e Kaingáng e mais os Bugre (= Xokléng). Para os Jê derivados estabeleceu ele três ramos, Akroá, Kayapó e Akuén. No primeiro desses ramos Ehrenreich aos Akroá acrescentou os Jaikó e os Gogué (destes últimos não há nenhum documento linguístico). No ramo Kayapó incluiu tanto os Kayapó do norte (Mebengokré, Xikrím, etc.), como os Kayapó do sul (= Panará), Suyá, Apinajé e Krinkatí. E no ramo Akuén pôs os Xavánte, Xerénte e Xakriabá. O conjunto dos Jê derivados de Ehrenreich é o que mais se aproxima do conceito atual de família linguística Jê. 1.4. Brinton. No mesmo ano da publicação de Ehrenreich foi publicado o livro de Daniel G. Brinton, The American Race (I891, trad. argentina em 280 Revista Brasileira de Linguística Antropológica

Aryon Dall Igna Rodrigues 1946), no qual reconheceu um stock linguístico Tapuya, em que incluiu, em ordem alfabética, i. é, sem nenhuma classificação interna, as línguas Jê e mais Botocudo, Kamakã, Koretú, Kumanaxó, Waitaká, Malalí, Masakará, Purí (com várias localizações equivocadas). O Waitaká (Goyotaca), entretanto, foi destacado como um sub-stock incluindo Kapoxó, Koropó, Kumanaxó, Maxakalí, Makuní, Monoxó, Panhame e Pataxó. Além disso, baseando-se em Martius, estabeleceu as línguas Tukáno como um outro sub-stock do Tapuya. 1.5. Rivet. Em 1924 Paul Rivet apresentou sua classificação das línguas da América do Sul e das Antilhas, com 77 famílias linguísticas, uma das quais a Jê, dividida em Jê oriental (Botocudo, Kamakã, Panháme, Coroado e Purí), Jê setentrional (Timbíra), Jê central (Kavapó, Akuém) e Jê meridional (Kaingáng e Ingaín). 1.6. Schmidt. Paralelamente a Rivet, outro agrupamento destas línguas foi ensaiado por Wilhelm Schmidt (1926), o qual dividiu em três conjuntos o que chamou de Línguas Ges-Tapuya: 1. línguas Jê (Ges), 2. Botocudo ou Borun e 3. Goytacá. As línguas Jê dividiu Schmidt em três grupos: (a) do norte e do oeste, incluindo as línguas Kayapó (Suyá, Kayapó, K(a)raô, Apinajé, Aponejikrã, Kapiekrã, Timbira, Canela, Krenjés) e Akué (Xavánte, Xerénte, Xikriabá, Jaikó e Akroá-mirim); (b) do sul, incluindo as línguas do interior (Bugre de S. Catarina, Kaingáng do rio Ivaí e Kamé) e uma língua da costa (Malalí): e (c) do leste, distinguindo nestas uma parte do norte (Kamakã, Menién, Kotoxó e Masakará) e uma parte do sul (Maxakalí, Kapoxó, Kumanaxó, Panhame, Pataxó e Makoni). 1.7. Loukotka. No início da década de 1930 Cestmír Loukotka, examinando mais acuradamente todos os dados então disponíveis, excluiu da família Jê as línguas Jê orientais de Von den Steinen e de Paul Rivet e as do ramo setentrional dos Jê primitivos de Ehrenreich, com as quais constituiu as famílias Kamakã, Maxakalí, Coroado, Botocudo e Pataxó, mas manteve o Kaingáng e línguas mais estreitamente afins a este dentro da família Jê (Loukotka 1931, 1932). Entretanto, em 1935 decidiu separar também estas, tendo passado a considerálas como outra família, a família Kaingán (Loukotka 1935, 1939, 1942, 1968). Em sua classificação de 1942 Loukotka subordinou as famílias Jê, Opaie (= Ofayé), Kaingán, Coroado (= Purí), Maxakalí, Pataxó, Botocudo (= Krenák) e Kamakã ao que chamou de tronco Tapuya-Jê, no que foi a primeira proposta mais clara da existência do que hoje chamamos de tronco Macro-Jê. 1.8. Guérios. O pioneiro dos estudos de linguística histórico-comparativa no Brasil, que foi Rosário Farani Mansur Guérios, procurou identificar correspondências lexicais entre a língua Boróro e duas línguas Jê setentrionais, o Timbira ( Merrime ) e o Kayapó, no seu estudo O nexo linguístico bororomerrime-caiapó, publicado em 1939. 1.9. Mason. Nos anos 40 o antropólogo Joseph Alden Mason, especialista Volume 4, Número 2, Dezembro de 2012 281

Para o estudo histórico comparativo das línguas Jê na Meso-América, aceitou rever criticamente o estado do conhecimento sobre as línguas da América do Sul para o Landbook of South American Indians, organizado por Julian H. Steward. Seu trabalho saiu no volume 6, publicado cm 1950. Mason foi o criador do nome Macro-Jê, proposto por ele como sinônimo do Jê de Rivet e do Jês-Tapuya de Schmidt. Sua proposta de Macro-Jê incluiu nove famílias: Jê, Kaingáng, Kamakã, Maxakalí, Purí, Pataxó, Malalí, Koropó e Botocudo. Esta proposta difere da de Loukotka de 1942 (a qual, por ter sido publicada em Berlim durante a guerra, não havia chegado ao conhecimento de Mason), por excluir o Ofayé e por apresentar como duas famílias o Purí e o Koropó (ambos na família Coroado de Loukotka), assim como o Maxakalí e o Malalí (ambos na família Maxakalí de Loukotka). Para a família Jê estabeleceu ele três seções principais: Noroeste, Central e Jaikó. Na seção Noroeste distinguiu três grupos: Timbira, Kayapó e Suyá, o primeiro deles compreendendo Timbira ocidental (Apinajé) e Timbira oriental (com 17 nomes de parcialidades com possíveis dialetos: Krenjé de Bacabal, Canela, Krahô, Krenjé de Cajuapara, Krikatí, Gavião, etc.); o segundo compreendendo Kayapó do Norte (com 10 nomes de parcialidades com possíveis dialetos) e Kayapó do Sul. Na seção Central distinguiu Akwén, abrangendo Xakriabá, Xavánte e Xerénte, e Akroá, com Akroá do norte, Akroá do sul e Gogué. Na seção Jaikó só a língua Jaikó. 1.10. Swadesh. Em 1959 Mauricio Swadesh, o idealizador da glotocronologia, publicou, com base em suas explorações lexicoestatísticas e glotocronológicas, uma classificação das línguas americanas distribuídas por grandes zonas geográficas. Na zona sueste distinguiu, entre as línguas que nos interessam, os complexos Kaingáng-Jê (cainganyé), subdividido em Kaingáng e Jê; Boróro-Chiquito, subdividido em Boróro e Chiquito; e as famílias Aimoré (= Krenak). Na zona sul incluiu o macro-coroado, subdividido em Coroado (= Purí), Fulniô (= Yate) e Maxakalí; além do complexo Macro-Karíb, no qual incluiu, além de Karíb, Tarumá e Hirahara, a família Karirí e a língua Guató. Por fim, na zona sudoeste pôs o Ofayé dentro do complexo macro-samuko. E deixou não classificado o Pataxó. 1.11. Davis. Irvine Davis, logo depois de publicar seu estudo comparativo e reconstrutivo da família Jê, publicou em 1968 os resultados de sua comparação dos 112 elementos lexicais por ele reconstruídos para o Proto-Jê com as línguas Karajá e Maxakalí, em cada uma das quais identificou algumas dezenas de prováveis cognatos e discutiu as correspondências fonológicas encontradas. Seu artigo estimulou uma análise mais detida dessas correspondências por Eric Hamp (1969). 1.12. Rodrigues. Eu apresentei minha concepção do tronco Macro-Jê já em 1970 no livro Índios do Brasil de Júlio César Melatti e em 1972 na Grande Enciclopédia Delta-Larousse e, com algumas indicações sobre regularidades 282 Revista Brasileira de Linguística Antropológica

Aryon Dall Igna Rodrigues nas correspondências fonológicas, em 1986, no meu livro Línguas Brasileiras. É claro que essa concepção se baseia nos trabalhos antecedentes, especialmente nos de Loukotka. Já o capítulo Macro-Jê que escrevi para o livro organizado por Dixon e Aikhenvald (1999), apresenta dados fonológicos e gramaticais das doze famílias linguísticas que, no meu entender, integram o tronco Macro- Jê (Jê, Kamakã, Maxakalí, Krenák, Purí, Karirí, Yatê, Karajá, Ofayé, Boróro, Guató e Rikbáktsa) e permite perceber a grande semelhança tipológica dessas famílias, assim como oferece 39 comparações lexicais que mostram regularidade nas correspondências fonológicas através das 12 famílias e assim apontam para a probabilidade de um efetivo relacionamento genético entre todas essas famílias. 1.13. Kaufman. Terrence Kaufman preparou a parte referente às línguas nativas da América do Sul para o atlas das línguas do mundo organizado por R. E. Asher e C. Moseley para a editora Routledge de Londres e publicado em 1994. A partir de seu ensaio classificatório publicado em 1990, distribuiu todas as línguas em doze seções, das quais nos interessam a IX. Brasil oriental e a X. Brasil nordeste. Na seção Brasil oriental estão quase todas as línguas do tronco Macro-Jê, sob a etiqueta de conjunto macro-jê (macro-jê cluster): o tronco (stock) Jê, as famílias Boróro, Kamakã, Maxakalí e Putí, o complexo linguístico Aimoré (= Krenák), a área linguística Karajá e as línguas Rikbáktsa, Jaikó, Fulniô (= Yatê), Ofayé e Guató. Karirí, entretanto, foi situado na seção X. 2. A família Jê especificamente 2.1. Wilbert. O antropólogo Johannes Wilbert, que trabalhou na Venezuela e depois nos Estados Unidos, publicou em Caracas, em 1964, um livro intitulado Material Linguístico Ye, no qual compilou a maior parte dos dados lexicais publicados anteriormente para todas as línguas Jê dos grupos setentrional e central. Teve a ideia de fazer com elas um ensaio glotocronológico, pretendendo datar o tempo de afastamento de cada par de línguas, mas o fez sem nenhum cuidado técnico, nem quanto ao método glotocronológico, nem quanto ao tratamento dos dados lexicais, de modo que estimou séculos de separação para listas de palavras colhidas na mesma aldeia por pesquisadores com diferentes hábitos de escrita. O trabalho ficou sem nenhum valor. Veja-se a recensão crítica de Yonne Leite (1966). 2.2. Davis. Em 1966 foi publicado um estudo histórico-comparativo especificamente da família Jê por Irvine Davis, o qual utilizou principalmente os dados registrados pelos missionários treinados em linguística que havia dez anos atuavam entre alguns povos Jê (Comparative Jê phonology). Davis, bom conhecedor dos métodos comparativos e reconstrutivos, distinguiu as línguas da família Jê segundo a distribuição dos reflexos dos fonemas reconstruídos para o Proto-Jê. A classificação foi feita com base em pouco mais de uma centena de Volume 4, Número 2, Dezembro de 2012 283

Para o estudo histórico comparativo das línguas Jê elementos lexicais reconstruídos a partir da comparação de não mais que cinco línguas, para as quais havia dados analisados fonemicamente (Apinajé, Canela, Xavánte e Kaingáng) ou pelo menos registrados com maior qualidade fonética (Suyá). Embora a escolha das línguas para esse estudo aparentemente não tenha tomado em consideração as classificações anteriormente propostas para a família Jê, essas poucas línguas representam bem os três grupos maiores da família, o Setentrional (Canela, Apinajé e Suyá), o Central (Xavánte) e o Meridional (Kaingáng). Com isso, o estudo de Davis constituiu ótimo ponto de partida para a linguística comparativa Jê, a qual, entretanto, ainda não deslanchou. 2.3. Rodrigues. Em 1986 Rodrigues apresentou as línguas ainda faladas da família Jê divididas nos três ramos setentrional, central e meridional. Já no trabalho publicado em 1999, considerando também as línguas já mortas, mas documentadas de alguma maneira, distinguiu mais um ramo, com uma só língua, o Jaikó. É a seguinte a apresentação da família Jê em 1999: Família Jê a. Jê norte-oriental 1. +Jaikó b. Jê setentrional 1. Timbíra (incluindo Canela Ramkokamekrã, Canela Apanyekrã, Gavião Piokobjé, Gavião Parakatejé, Krinkatí, Krahô, Krenjé; loc.: MA, PA, TO; pop.: 2.800) 2. Apinajé (loc: N TO; pop.: 720) 3. Kayapó ou Mebengokré (incluindo A ukré, Gorotíre, Kararaô, Kikretum, Kokraimóro, Kubenkrankén, Menkrangnotí, Mentuktíre, Xikrín; loc.: E MT, SE PA; pop.: 5.000) 4. Panará (loc.: N MT, SW PA; pop.: 160) 5. Suyá (incluindo Tapayúna; loc.: PIX MT; pop.: 213 S., 58 T.) c. Jê central 1. Xavánte ou A uwen (loc.: SE MT, antes W e N (GO/TO; pop.: 9.000) 2. Xerénte ou Akuwen (loc.: TO; pop.: 1.550) 3. +? Xakriabá (loc.: NW MG; pop.: 5.700, prov. 0 falantes) 4. +? Akroá (E GO, S MA) d. Jê meridional 1. Kaingáng (incluindo K. de São Paulo, K. do Paraná, K. Central, K. do Sudoeste e K. do Sueste (loc.: SP, PR, SC, RS; pop.: 20.000) 2. Xokléng (loc.: SC; pop.: 1.650) 3. +? Ingaín (NE Argentina, SE Paraguai) 284 Revista Brasileira de Linguística Antropológica

Aryon Dall Igna Rodrigues 3. Esboço sobre os estudos descritivos de línguas Jê 3.1. Fonologia A. Jê setentrional Timbíra: notas fonêmicas de Popjes (Canela); Araújo (Piokobjé), estudantes atuais (USP, UNICAMP) Apinajé: Callow, Ham, estudantes atuais (Christiane Cunha, Sala nova?) Kayapó: fonêmica do S1L (Txukahamàc), estudantes atuais (Salanova, Reis Silva) Panará: Dourado Suyá: Guedes, Ludoviko dos Santos B. Jê central Xavánte: fonêmica de McLeod. Xerénte: fonêmica de Matos C. Jê meridional Kaingáng: fonêmica de Kindell, fonologia de Wiesemann, Cavalcante, J. Baltazar Teixeira, d Angelis Xokléng: fonética de Henry, fonêmica de Wiesemann, fonologia de Bublitz 3.2. Gramática A. Jê setentrional Timbíra: Popjes & Popjes (Canela), notas de Quain (publicadas por Shell), Araújo; estudantes atuais (USP, UNICAMP) Apinajé: notas de Ham, projeto de Christiane Cunha, Salanova, Albuquerque Kayapó: Sala, notas do SIL, gramática pedagógica de Jefferson, projetos de Salanova e de Reis Silva Panará: Dourado Suyá: Guedes, Ludoviko dos Santos B. Jê central Xavánte: Lachnitt, gramática pedagógica de McLeod & Mitchell, apêndices ao dicionário De Hall, McLeod & Mitchell Xerénte: Viana C. Jê meridional Volume 4, Número 2, Dezembro de 2012 285

Para o estudo histórico comparativo das línguas Jê Kaingáng: Wiesemann (Rio das Cobras, PR), notas de Guérios (Palmas, PR) e de Val Floriana (Tibaji, PR), Cavalcante (Vanhuíre, SP) Xokléng: notas de Henry, de Urban, de Hanke 3.3. Léxico A. Jê setentrional Timbíra: ms. do SIL, com cópia no MN; lista de Quain publicada por Shell Apinajé: talvez ms. no SIL Kayapó: vocabulários de Sala, de Nimuendajú (em comparação com seus predecessores), dicionário de Trevisan & Pezzotti, dicionário em elaboração por Salanova e Reis Silva (inclui dados de Trapp, Turner, Lea e outros) Panará: vocabulário de Barbosa Suyá: vocabulários de v. d. Steinen e de Collins B. Jê central Xavánte: dicionários de Lachnitt e de Hall, McLeod e Mitehell Xerénte: vocabulário de Viana C. Jê meridional Kaingáng: dicionários de Barcatta de Val Floriana e de Wiesemann; Yocab. da Língua Bugre; dados de Borba, Nimuendajú, Taunav, Guérios, Tempski, etc. Xokléng: vocabulários de Gensch, Paula, Simões da Silva, Hanke; dados nos trabalhos de Henry, Wiesemann, Bublitz 3.4. Estudos comparativos 3.4.1. Davis: comparação e reconstrução do Proto-Jê; Wiesemann: comparação e reconstrução do Proto-Kaingáng; Guérios: comparação do Xokléng com o Kaingáng. 3.4.2. Tarefas básicas imediatas: (a) comparação lexical dentro de cada grupo e reconstrução das respectivas protolínguas: (1) setentrional, (2) central, (3) revisão e ampliação de Wiesemann para o meridional; (b) comparação de subsistemas gramaticais: marcadores de pessoa, marcadores relacionais, nominatividade x ergatividade, posposições, marcadores evidenciais, etc.; 286 Revista Brasileira de Linguística Antropológica

Aryon Dall Igna Rodrigues (c) revisão da comparação fonológica de Davis com novas línguas, novos detalhes e novos pontos de vista; (d) ampliação da comparação lexical, incluindo os campos semânticos da fauna, da flora e da cultura. Referências (somente trabalhos mencionados em 1 e 2.) BRINTON, D. G. The American race: a linguistic classification and ethnographic description of the native tribes of North and South America. New York, 1891. (La raza americana. Trad, de A. G. Perry, prólogo de H. Palavecino. Buenos Aires: Editorial Nova, 1946). DAVIS, I. Comparative Jê phonology. Estudos Linguísticos, Revista Brasileira de Iinguistica Teórica e Aplicada. São Paulo, v. 1, n. 2, p. 10-24, 1966. Some Macro-Jê relationships. International Journal of American Iinguistics, v. 34, p. 42-47, 1968. EHRENREICH, P. Die Einteilung und Verbreitung der Völkerstämme Brasiliens nach den gegenwärtigen Stande unserer Kenntnisse. Petermanns Mitteilungen, v. 37, p. 81-89, 114-124, 1891. GUERIOS, R. L. M. O nexo linguístico bororo-merrime-caiapó. Revista do Círculo de Estudos Bandeirantes, v. 2, p. 61-74, 1939. HAMP, E. On Maxakalí, Karajá, and Macro-Jê. International Journal of American Linguistics, v. 35, p. 268-270, 1969. KAUFMAN, T. Language history in South America: what we know and how to know more. Amazonian linguistics: studies in Lowland South American languages. Org. por Doris L. Payne. Austin: University of Texas Press, 1990. p. 13-73.. The native languages of South America. Atlas of the World s languages. Org. por R. E. Asher e C. Moseley, Londres: Routledge, 1994. p. 46-76. LEITE, Y. Recensão de Material linguístico Ye de Johannes Wilbert. Estudos Linguísticos, Revista Brasileira de Lingüística Teórica e Aplicada, v. 1, n. 2, p. 82-84, 1966. LOUKOTKA, C. La família linguística Masakalí. Revista Del Instituto de Etnologia de La Universidad Nacional de Tucumán, v. 2, p. 21-47, 1931.. La familia linguística Kamakan del Brasil. Revista Del Instituto de Etnologia de la Universidad Nacional de Tucumãn, v. 2, p. 493-524, 1931.. Clasificación de las lenguas sudamericanas. Praga, 1935.. La familia linguística Coroado. Journal de la Société des Américanistes de Paris, n. s., v. 29, p. 157-214, 1937.. A língua dos Patachos. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, v. 55, p. 5-15, 1939.. Klassifikation der suedamerikanischen Sprachen. Zeitschrift für Ethonologie, v. 74, p. 1-69, 1942. Volume 4, Número 2, Dezembro de 2012 287

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