A NOVA EVANGELIZAÇÃO NO BRASIL: ASPECTOS HISTÓRICOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

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Transcrição:

2017 A NOVA EVANGELIZAÇÃO NO BRASIL: ASPECTOS HISTÓRICOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS 7 Cardeal D. Sergio da Rocha, Arcebispo de Brasília e Presidente da CNBB I. ASPECTOS HISTÓRICOS Como o Brasil acolheu ou tem acolhido a proposta de uma nova evangelização? 1. A Igreja no Brasil, acolhendo o ensinamento do Concílio Vaticano II, sentiu a necessidade de redobrar os esforços para cumprir a sua missão evangelizadora no mundo contemporâneo, buscando planejar a sua ação pastoral. O novo, num primeiro momento, além da acolhida da visão eclesiológica do Concílio, se expressou através de uma nova metodologia pastoral que incluía a elaboração de um Plano Pastoral para toda a Igreja no Brasil. Motivações ou pressupostos: a) a realidade nova, em mudança, com transformações rápidas, constantes e profundas, exige novos métodos; o Evangelho é o mesmo, mas há necessidade de considerar os novos contextos socioculturais; b) a ação pastoral requer unidade, decorrente da própria unidade da Igreja; evangelização ou pastoral como ação da Igreja e não como algo particular; daí, a necessidade de planejar, em conjunto, a ação pastoral; não bastam iniciativas espontâneas e diversificadas. Tal processo de planejamento não ocorre sem ambiguidades. Há o risco de planificação excessiva, sobrevalorizando textos (papel), técnicas, especialistas e eficácia, em detrimento da espiritualidade e da graça. A propósito, afirma Paulo VI na Evangelii Nuntiandi, que as técnicas, por mais aperfeiçoadas, não substituem a ação do Espírito Santo (EN 75) e o testemunho como primeiro meio de evangelização (EN 41). João Paulo II também ressaltou o Espírito Santo como protagonista da missão (Redemptoris Missio, 21) e a primazia da graça. O Papa Bento, a santidade dos evangelizadores, recordando o testemunho dos santos (Homilia, XIII Assembleia do Sínodo dos Bispos, 07.10.12). O Papa Francisco, evangelizadores com Espírito (EG, cap. V), evangelizadores que rezam e trabalham (EG 262). - 1 -

2. No período imediatamente posterior ao Vaticano II, os bispos do Brasil decidiram elaborar o Plano de Pastoral de Conjunto, aplicando à realidade brasileira as perspectivas do Concílio e a pedagogia do planejamento aplicada à pastoral. Um pouco antes, a CNBB já havia elaborado o Plano de Emergência (1962), por recomendação de João XXIII. A primeira grande avaliação (1970) mostrou os acertos e as inadequações do Plano de Pastoral de Conjunto, principalmente a impossibilidade de definir um plano concreto para todo o País. Foi, então, decidido distinguir diretrizes e planos. AS DGAE (1999-2002) trazem um relato breve, mas completo, do planejamento pastoral na Igreja no Brasil. 3. A ideia de diretrizes pretende favorecer assumir juntos a evangelização, em comunhão, permitindo dar a devida atenção à realidade local, à pluralidade de situações das dioceses do Brasil. Daí, a recepção criativa das Diretrizes nas dioceses, através da elaboração de planos de pastoral. 4. As Diretrizes, elaboradas e aprovadas pela CNBB, passaram a definir o seu objetivo geral com a palavra evangelizar. De 1975-95, eram denominadas Diretrizes Gerais da Ação Pastoral. Ao aproximar-se do Jubileu do ano 2000, as Diretrizes Gerais (1995-1998) mudaram seu título, passando a ser denominadas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (Doc. 87). Este fato tem grande significado no desenvolvimento de uma nova evangelização, pois não consistiu numa simples troca de palavras. Expressa a centralidade e a urgência da missão de evangelizar numa realidade em rápido processo de mudança As Diretrizes pretendem ser respostas à necessidade de um novo modo de evangelizar, situado nos novos cenários socioculturais. 5. A acolhida das Conferências Gerais do Episcopado Latinoamericano (Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida) nas Diretrizes contribui muito também para a renovação da ação pastoral e evangelizadora da Igreja no Brasil. As Diretrizes assumem explicitamente os documentos conclusivos dessas Conferencias para nortear a ação evangelizadora. 6. Além das Diretrizes, foram propostos projetos de evangelização para todo o País ( Rumo Novo Milênio, Ser Igreja no Novo Milênio e O Brasil na Missão Continental ). Projeto não equivale a plano, pois exigem a sua aplicação à realidade eclesial e social local. Servem de motivação, de rumo, com propostas a serem concretizadas no planejamento pastoral das Igrejas particulares. 7. O Projeto Rumo ao Novo Milênio (1996-2000). Na 34ª Assembleia Geral, em abril de 1996, a CNBB lançou o Projeto em preparação ao Jubileu do Ano 2000. Ele pode ser visto como uma síntese da Tertio Millennio Adveniente, com as DGAE aprovadas na 33ª Assembleia Geral (maio/1995). O seu primeiro objetivo era justamente revigorar a evangelização no Brasil contando com o papel ativo do laicato (cf. João Paulo II, TMA, 42: revigoramento da fé e do testemunho dos cristãos ). Dentre as suas características, estão os anos temáticos, tendo os Evangelhos como referencia, e a articulação pastoral por meio das quatro exigências: serviço, diálogo, anúncio e testemunho de comunhão eclesial. - 2 -

(cf. Alberto Antoniazzi O Projeto de Evangelização da CNBB Rumo ao Novo Milênio, Perspectiva Teológica 29 (1997) 77-88). 8. O Projeto de Evangelização Ser Igreja no Novo Milênio (SINM) foi proposto para os dois primeiros anos do Novo Milênio (2001-2002), ou mais exatamente da Páscoa de 2001 à Páscoa de 2003, quando ocorreu a Assembleia Geral com as novas DGAE (2003-2006). Optou-se pelo livro dos Atos dos Apóstolos para fundamentar a reflexão e motivar a evangelização. 9. O Projeto Nacional de Evangelização O Brasil na Missão Continental, com o subtítulo A Alegria de ser discípulo missionário (Doc. 88), foi impulsionado por Aparecida e estabelecido pelas DGAE (2008-2010) Doc. 87, na Assembleia Geral de 2008. A intenção de acolher as conclusões de Aparecida levou a CNBB a transferir para 2008 a aprovação de novas DGAE, que seriam ordinariamente estabelecidas em 2007. A Missão Continental é a Igreja em estado permanente de missão, exigindo a conversão pastoral. Mais tarde, a Assembleia Sinodal sobre a Nova Evangelização (2012) e a Evangelii Gaudium (2013) ressaltarão a conversão pastoral, na perspectiva de Aparecida. 10. As atuais DGAE (2015-2019), por decisão da Assembleia Geral da CNBB, deram continuidade às Diretrizes do quadriênio anterior (2011-2015). Pela primeira vez, ao invés de se elaborar novas Diretrizes, o Episcopado optou por atualizar as que estavam em vigor (Doc. 94). Essa atualização considerou especialmente a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, com a proposta de uma Igreja em saída, reafirmando a renovação missionária da Igreja impulsionada por Aparecida. O caráter missionário da nova evangelização passa a receber maior relevo nas Diretrizes à luz de Aparecida e da EG. O Jubileu Extraordinário da Misericórdia motivou a CNBB a incluir no objetivo geral da ação evangelizadora da Igreja no Brasil, nas atuais DGAE (Doc. 102), o adjetivo misericordiosa, para caracterizar o seu modo de ser Igreja e de evangelizar. A celebração dos 50 anos do Concílio e o Ano Santo da Misericórdia nos convidam a prosseguir no caminho da renovação pastoral, no contexto de uma nova evangelização, com novo ardor missionário e criatividade pastoral (Doc. 102, n.2). II. ÂMBITOS DA NOVA EVANGELIZAÇÃO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS São muitos os atuais desafios e as propostas para uma nova Evangelização na Igreja no Brasil. Alguns deles são ressaltados, aqui, a partir dos três âmbitos da nova evangelização, conforme a Evangelii Gaudium (n. 14): a) a ação pastoral ordinariamente voltada para os católicos que participam da Igreja; b) as "pessoas batizadas que, porém não vivem as exigências do batismo"; c) a proclamação do Evangelho aqueles que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre o recusaram. A sua finalidade é a transmissão da fé cristã, conforme o próprio tema sinodal, sem cair numa visão pastoral imediatista ou pragmática que busca resultados a qualquer custo. É importante considerar que a fé, conforme o Catecismo da Igreja - 3 -

Católica, se expressa como fé professada, fé celebrada e fé vivida. Isso exige uma abordagem ampla, com uma ação evangelizadora que procura contemplar os vários aspectos da fé. A) CUIDADO PASTORAL DA COMUNIDADE O âmbito da pastoral ordinária (EG 14), voltada para os católicos que participam da Igreja, é uma necessidade permanente; integra essencialmente uma nova evangelização, na sua acepção ampla; não poderá jamais ser negligenciada. Contudo, é necessário repensar a metodologia ordinariamente adotada. Dentre os desafios e perspectivas deste âmbito, ressaltam-se: 1) a comunidade como espaço de experiência de Deus. Necessidade de revalorizar a liturgia, para proporcionar encontro pessoal com Cristo e formar comunidade orante, sem cair no ritualismo ou no emocionalismo; 2) a valorização da vida comunitária; risco de burocratização em detrimento do acolhimento e da evangelização; conforme Aparecida, muitos deixam a Igreja não por razões doutrinais e sim pela falta de acolhimento e atenção; daí, a importância da formação de comunidades territoriais ou ambientais nas paróquias, com a consequente setorização; 3) a formação de lideranças locais, valorizando os leigos/as, sujeitos da nova evangelização; necessidade de maior atenção à formação bíblica e à Doutrina Social da Igreja, na formação do Laicato; 4) valorizar e acompanhar os movimentos eclesiais e as pastorais, integrando-os na Igreja local; 5) a presença orante e solidária (serviço da caridade) junto aos fiéis que mais sofrem (enfermidades, luto, desemprego, pobreza, migração...); 6) a relação Igreja e política ou católicos e política ; há consciência da necessidade de atuação política dos fiéis leigos, pela natureza da fé cristã e da vocação laical ( sal da terra e luz do mundo ), perante o agravamento dos problemas sociais; é preocupante a ausência de cristãos católicos na política partidária e nas organizações da sociedade civil; formação do laicato para atuar na sociedade; 7) embora o cuidado pastoral ordinário da comunidade inclua o conjunto dos fiéis, é preciso estar atento às urgências sentidas na comunidade local. De modo geral, deve-se dar maior atenção a Iniciação Cristã, com uma catequese renovada (querigmática, bíblica, litúrgica e vivencial), destinada não somente às crianças, mas também aos jovens e adultos. Além disso, sente-se a urgência do cuidado pastoral dos casais, motivados pela Amoris Laetitia; 8) a renovação do clero, bem como da vida religiosa, é fundamental para a nova evangelização, nos seus vários âmbitos. O cuidado pastoral ordinário dos fiéis não se restringe a celebração dos sacramentos e a administração paroquial; deve incluir visitas aos enfermos, às famílias enlutadas, celebrações e outros serviços pastorais em áreas desassistidas, construção de capelas. Para tanto, é preciso investir na formação - 4 -

permanente e no acompanhamento pessoal; nesta perspectiva, o clero e os religiosos são vistos como destinatários e não apenas como sujeitos da nova evangelização. B) CATÓLICOS QUE NÃO VIVEM O BATISMO Este âmbito da nova evangelização refere-se às "pessoas batizadas que, porém não vivem as exigências do batismo" (EG 14) e, portanto, não participam ordinariamente da vida da Igreja local. Muitos restringem a este âmbito o significado da nova evangelização. Dentre os seus desafios e perspectivas, estão os seguintes. 1) a diversidade de situações pastorais numa diocese ou mesmo numa paróquia exigindo a atenção da Igreja: periferias, centros urbanos, novos areópagos; 2) o panorama religioso local e nacional, com o crescimento do pluralismo religioso, marcado pela presença de evangélicos, por não batizados e não casados na Igreja, bem como da secularização ou laicismo e dos que se declaram sem religião. Há necessidade de uma análise aprofundada deste quadro religioso para dar respostas pastorais específicas na perspectiva de uma nova evangelização. É importante considerar também a emergência de radicalismos de matriz religiosa, com a agressividade peculiar, a teologia da prosperidade, a visão crescente de mercado religioso, com estratégias de marketing, a competição e o proselitismo. Acrescente-se, neste quadro religioso, na vida dos católicos, a separação entre a fé e a moral proposta pelo Magistério, a tendência à privatização religiosa com o pluralismo ético e a dupla moral (privada e pública). Nas novas denominações religiosas, verifica-se a ausência da questão social ou uma militância política corporativista. 3) neste contexto sociocultural e religioso, cresce o desafio de rever e aprofundar o papel da Igreja na vida das pessoas e na sociedade, sob o ponto de vista teológico-pastoral. A nova evangelização deve estar voltada para a pessoa humana concretamente existente, considerando seus anseios, carências e padrão de comportamento. No atual contexto, as pessoas sentem ainda mais a necessidade de identidade, de segurança e orientação, em busca de respostas eficazes e imediatas. Isso agrava os riscos de fundamentalismo, de emocionalismo, de consumismo religioso e de busca de sucesso baseado no fazer como os outros fazem (entrar na moda) para conseguir resultados imediatos. O critério da utilidade e do consumo passa a ocupar o lugar do critério da fidelidade à Jesus Cristo e à Igreja, que inclui a cruz. 4) merece especial atenção a questão do papel social da Igreja; não apenas da Igreja em geral ou da CNBB, mas da Igreja local (paróquia, comunidade). Se não existisse, faria diferença ou ninguém notaria? Uma justa compreensão desta questão exige considerar a dinâmica da sociedade atual, especialmente o atual contexto sociocultural: plural e complexo, dificultando a hegemonia de uma instituição religiosa como ocorreu no passado. O retorno a uma situação de Cristandade não é mais viável, nem conveniente para definir a missão evangelizadora da Igreja no mundo de hoje. Não é possível na - 5 -

prática, nem teologicamente justificável, uma Igreja controladora da sociedade. Para definir as relações entre Igreja e sociedade ou Igreja e Estado não servem os modelos da Cristandade ou da Neocristandade, nem os da Modernidade ou da Pós-modernidade. Há a necessidade de situar-se nos diferentes contextos socioculturais para uma nova evangelização, mas a referência será sempre Jesus Cristo. 5) há diversos campos que ordinariamente não recebem atenção, em nível paroquial ou diocesano, dentre eles, podemos citar os esportes e as artes. Evangelizar atentos aos diversos ambientes e situações da cidade não pode excluir a devida atenção à zona rural e a piedade popular característica. Uma nova evangelização exige a atuação do laicato no mundo da cultura e da política e nos novos areópagos. Considerando a importância vital dos novos meios de comunicação na sociedade, uma nova evangelização exige repensar e tornar mais efetiva a presença da Igreja nos meios de comunicação social (qualificação da presença nas TVs e rádios, jornais, internet e redes sociais). As redes sociais adquire especial relevância como espaço de anúncio e testemunho do Evangelho. Entretanto, na evangelização não podem faltar o contato pessoal, a cordial atenção e a acolhida fraterna. 6) as situações de sofrimento vividas pelas pessoas e suas famílias, causadas por problemas sociais graves, os novos rostos sofredores de Cristo, devem receber prioridade na nova evangelização. O campo do serviço da caridade, da justiça e da paz, além de ser uma consequência necessária da fé cristã, se revela como campo fecundo de diálogo e anúncio do evangelho com os não católicos e não crentes. O testemunho da misericórdia é vital. 7) dificulta muito desenvolver uma nova evangelização, indo ao encontro dos católicos não praticantes e de outros, a permanência da pastoral de conservação, com a paróquia, as pastorais ou movimentos centrados em si mesmos, em busca do interesse próprio, ignorando a urgência da missão e a gravidade das situações). Torna-se cada vez mais necessário envolver todas as pastorais e movimentos na nova evangelização, especialmente o Conselho Pastoral Paroquial, desenvolvendo ações missionárias de caráter comunitário, como visitas missionárias e Santas Missões Populares. Por mais importante que seja uma equipe de animação missionária ou grupos especificamente voltados para a ação missionária, é importante envolver o conjunto das pastorais e movimentos em iniciativas missionárias, cultivando a corresponsabilidade na missão. C) EVANGELIZAÇÃO ALÉM-FRONTEIRAS: AQUELES QUE NÃO CONHECEM JESUS CRISTO A renovação missionária da Igreja, com uma nova evangelização, inclui a atenção as necessidades da Igreja local, mas exige a atuação além fronteiras (ad gentes), visando especialmente aqueles que não conhecem Jesus Cristo. Neste âmbito, podemos incluir a comunhão, a solicitude e a solidariedade entre as Igrejas, através de iniciativas missionárias. O Papa Francisco explicita neste âmbito da nova evangelização a proclamação do Evangelho aqueles que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre o recusaram (EG 14). Dentre os seus desafios e perspectivas, podemos ressaltar os seguintes. - 6 -

1) evangelizar com novo ardor aqueles que não conhecem a Cristo exige o cultivo de uma espiritualidade missionária dirigida a toda a comunidade, mas também a formação de missionários para atuarem além-fronteiras. A dimensão além fronteiras é fruto, consequência, de uma Igreja missionária (Igreja em saída) na realidade local; é sinal da renovação missionaria da Igreja particular, mas também pode contribuir para isso; não se pode esperar abundância de recursos para somente depois compartilhar; 2) desenvolver ações missionárias, projetos concretos, como o projeto Igrejas Irmãs; especial atenção deve ser dada à Amazônia e às áreas mais carentes do Nordeste e de outras regiões brasileiras; 3) o desafio de valorizar as diversas culturas na transmissão da fé torna-se ainda maior quando se trata da evangelização além-fronteiras, exigindo a devida formação dos missionários; além das culturas indígenas e de matriz africana, é necessário levar em conta as novas linguagens (urbana, digital/internet, simbólica). 4) o resgate da proposta de Missão Continental, com maior comunhão com a Igreja na América Latina; 5) evangelizar através de gestos concretos de serviço (caridade, justiça e paz), pelo testemunho da misericórdia e por meio do diálogo respeitoso (com os não crentes). 6) vários aspectos abordados anteriormente podem ser aqui retomados e aplicados a este âmbito específico da nova evangelização, tais como os modernos areópagos e a formação do laicato. - 7 -