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Transcrição:

A IMPUNIDADE COMO PRESSUPOSTO DA INAPLICABILIDADE DA NORMA JURÍDICA RESULTANTE DE UMA ESTRUTURA DA POLÍCIA JUDICIÁRIA DEFICIENTE Autoria: Delane Silva da Matta Bonfim - Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FACISA) Marcelo A. P. Eufrásio (Orientador) - Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FACISA) E-mail: delane_silva@hotmail.com RESUMO ESPANDIDO Introdução - O fenômeno da criminalidade tem demonstrado crescimento significativo, de modo que a punibilidade não corresponde proporcionalmente ao aumento das práticas delituosas. Existindo um alto número de crimes que não foram ou são elucidados, e, consequentemente, punidos os autores dessas infrações penais. Nesse contexto, encontramos o problema da impunidade criminal, que ocorre no âmbito jurídico e policial quando não há uma aplicabilidade efetiva das normas jurídicas ao caso concreto. Sendo que o aumento da criminalidade causa implicações criminológicas prejudiciais à sociedade, de maneira que é notável o sentimento de insegurança e indignação transmitido pela opinião pública. Decerto, as instituições policiais e judiciais têm encontrado dificuldades organizacionais e estruturais no combate à criminalidade crescente, mormente a Polícia Judiciária, pois é imprescindível a sua atuação e tarefa na realização de procedimentos justificadores do desdobramento da ação penal e na aplicação da lei. Desse modo, caso essa carece de estrutura, prejudica o

andamento da atividade policial que fornece subsídios à aplicação da norma no âmbito criminal. Uma análise dos dados informadores de índices de crimes perpetrados no Estado da Paraíba, especificamente na cidade de Campina Grande, permite-nos verificar que é alto o número de infrações penais, especificamente, homicídios, que não foram elucidados e punidos os agentes infratores, revelando a relevância do estudo a respeito do fenômeno da impunidade criminal, com base na observância das suas principais consequências sociais: a não consecução da justiça, ausência de eficácia das normas jurídicas, o estímulo à ilicitude e o descrédito da sociedade para com os órgãos aplicadores da lei. Problema: Diante esse fato, suscita a questão: a partir da estrutura da Polícia Judiciária presente histórica e atualmente no Estado da Paraíba, esta tem se revelado precária, em sendo, há inaplicabilidade da norma jurídica e consequentemente impunidade? Objetivos: Para a realização desse estudo, temos como objetivos gerais analisar a inaplicabilidade da norma jurídica como pressuposto de uma estrutura (física, pessoal e material) deficiente no desempenhar das atividades da Polícia Judiciária na investigação, apuração e deslindação de crimes no Estado da Paraíba nos anos de 2010/2011, com base em dados e informações estatísticas oficiais da 2ª Delegacia Regional de Polícia Civil da Paraíba e da Delegacia de Homicídios de Campina Grande. E como objetivos específicos, desenvolver um estudo da impunidade criminal no Estado da Paraíba traçando um perfil da estrutura da Polícia Judiciária do Estado e realizar um levantamento da literatura jurídica e sociológica a respeito do tema. Metodologia - Aplicamos a este trabalho uma pesquisa analítica, quanto aos objetivos, e bibliográfica e documental, quanto aos procedimentos técnicos, com enfoques qualificativo e quantitativo. Utilizamos o método indutivo, sendo os dados da pesquisa foram coletados, indiretamente, de fontes primárias e secundárias. A nossa pesquisa realizou um estudo interdisciplinar, tendo como referencial teórico as disciplinas: Sociologia Jurídica, Direito Penal, Processual Penal e ciências afins. Resultado/Discussão - Nesse contexto, para demonstrar a realidade da impunidade criminal no Estado da Paraíba, delimitando na circunscrição da cidade de Campina Grande, demonstrar-se-ão alguns dados e informações estatísticas da 2ª Delegacia Regional de Polícia Civil no que diz respeito ao número de homicídios, elucidados e não elucidados, ocorridos na cidade registrados nos anos de 2010 /2011. No ano de 2010, o número de inquéritos policiais

concluídos com autoria definida, em crimes de homicídio, na cidade de Campina Grande, foi de 41,27%. Gráfico 1 - Inquéritos Policiais concluídos com autoria definida 2010 - Campina Grande 41,27% 58,73 59% 41% FONTE: Gabinete da 2ª Superintendência de Polícia Civil da Paraíba - 2ª DELEGACIA REGIONAL DE POLÍCIA CIVIL Como podemos ver no gráfico 1, 58,73% dos inquéritos policiais não foram concluídos com autoria definida nos crimes de homicídios ocorridos da cidade. No total de 189 homicídios registrados em 2010, apenas 78 tiveram os autores dos crimes definidos. No ano de 2011, o incide de elucidação no mesmo crime, em Campina Grande, foi de 63,52%. Gráfico 2 - Índice de elucidação nos crimes de homicídios 2011 - Campina Grande 63,52% 36,48 FONTE: Gabinete da 2ª Superintendência de Polícia Civil da Paraíba - 2ª DELEGACIA REGIONAL DE POLÍCIA CIVIL

Com base no gráfico 2, 36,48% dos crimes de homicídios perpetrados no ano de 2011, na cidade, não foram elucidados. Desse modo, observa-se que o percentual de crimes cometidos que não tiveram soluções é significativo. Em casos de não elucidação de crimes e não conclusão de inquéritos policiais, deixa-se de punir os infratores, consequentemente, com menos delitos punidos, há tendência à impunidade, ou seja, desistência da aplicação da lei, sendo um fator de expansão da impunidade. Considerações Finais - A falta de estrutura adequada e eficiente policial é um dos pressupostos da impunidade criminal, como verificamos, pois são vários os problemas relativos à estruturação policial. Tais problemas de caráter organizacional e estrutural impendem que os órgãos de polícia desempenhem eficaz e efetivamente as suas funções, quais sejam, na investigação, apuração, investigação e deslindação de crimes, e não atinjam o seu maior escopo, que é a consecução da segurança pública. Constata-se que quando os órgãos de polícia não possuem condições e qualidades estruturais necessárias às suas efetivas funções, carecem de um bom desempenho policial. O resultado desses fatos é a não solução de infrações penais. Diante essa realidade, resultam algumas consequências, como a não consecução da segurança pública, ausência de eficácia das normas jurídicas, o estímulo à ilicitude e o descrédito da sociedade para com os órgãos aplicadores da lei. Portanto, se os órgãos policiais possuírem uma estrutura deficiente, não será possível subsidiar a fundamentação necessária do processo penal em face dos infratores, dificultando a aplicabilidade da lei ao caso concreto, sendo um fator de expansão da impunidade criminal. Palavras-chave: Inaplicabilidade da norma. Polícia Judiciária. Impunidade Referência Bibliográfica ADORNO, Sérgio. DILEMAS: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social - Vol. 3 - nº 7 - JAN/FEV/MAR 2010 - pp. 51-84 BOBBIO, Norberto. Teoria da norma jurídica. São Paulo: Edipro, 2008. CAVALIERE FILHO, Sérgio. Programa de Sociologia Jurídica. São Paulo: Forense, 2010.

GARCIA, Ismar Estulano. PÓVOA, Paulo C. M. Criminalística. - 2 ed. Goiânia: AB, 2004. LAURELLI, Laércio. Da impunidade. São Paulo: Iglu, 2000. MACHADO NETO, Antônio Luis. Sociologia jurídica. São Paulo: Saraiva, 1987 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 2004. NUCCI, Guilherme de Sousa. Manual de processo penal e execução penal. São Paulo: Revista do Tribunal, 2011. SABADELL, Ana Lúcia. Manual de sociologia jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.