ANÁLISE DA APLICAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO MUNICÍPIO DE ARACRUZ

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Transcrição:

ANÁLISE DA APLICAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO MUNICÍPIO DE ARACRUZ Helene de Oliveira Lirio (helenelirio@outlook.com) Aluno de graduação do curso de Engenharia Civil Mayane Cordeiro Loureiro (mayane112009@hotmail.com) Aluno de graduação do curso de Engenharia Civil Marcos Roberto Teixeira Halasz (halasz@fsjb.edu.br) Professor de cursos de Engenharia da FAACZ RESUMO Os resíduos sólidos da construção civil (RCC) são aqueles gerados pelas perdas no processo produtivo de construção e demolição e são compostos geralmente por restos de concreto, tijolos, argamassa, cerâmica, entre outros materiais. O município de Aracruz é capaz de gerar mensalmente uma média de 3.778,76 toneladas de RCC que são manejados pela SETRANS com um custo trimestral de mais de R$ 990.000,00 para serem transportados para o aterro municipal onde ficam depositados juntamente com os resíduos domésticos sem o tratamento adequado. Este trabalho aborda a análise quanto à reciclagem destes resíduos para serem aplicados como agregados na construção civil em substituição dos agregados tradicionais, a fim de que esse processo gere benefícios ambientais, econômicos e sociais à cidade de Aracruz. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos da construção, entulho, reciclagem de resíduos da construção, usina de reciclagem, Aracruz. 1 INTRODUÇÃO O município de Aracruz fica localizado no Estado do Espírito Santo e é conhecido por sua riqueza natural, a saber, seus manguezais e litorais e por grandes empresas inseridas em seu território, como a Fibria, por exemplo, e também por empresas recém estabelecidas, com o Estaleiro Jurong Aracruz, o que tem alavancado seu crescimento econômico e populacional. Este crescimento populacional demanda o aumento do número de construção de moradias, configurando no aumento da quantidade de obras de construção civil, resultando na maior geração de resíduos sólidos da construção civil (RCC). Esta geração de RCC é capaz de causar grandes transtornos ao município, que gasta a cada três meses uma média de R$ 992.610,40 para o manejo destes materiais apenas para encaminhá-los ao aterro municipal, onde são depositados juntamente com os resíduos domésticos sem o tratamento adequado. Além disto, a maior parte destes RCC é depositada em locais inapropriados da cidade causando problemas além da esfera econômica, gerando transtornos sociais e ambientais. Desta forma, considerando a análise quanto à aplicação destes RCC de uma forma mais sustentável no município, optou-se por desenvolver um estudo sobre a reciclagem de RCC e a aplicação dos agregados reciclados que pode ser estabelecida na cidade de Aracruz, a fim de que estes materiais substituam os agregados tradicionais de construção civil, diminuindo impactos ambientais e também estornando custos com o manejo de RCC na cidade. 2 REFERENCIAL TEÓRICO Segundo a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (ABRECON) os resíduos sólidos da construção civil (RCC) se caracterizam como os fragmentos restantes do processo produtivo de construção e demolição e é composto geralmente por restos de concreto, tijolos, argamassa, cerâmica, entre outros materiais utilizados nos procedimentos de construção 1

ou que compõem os destroços da demolição. A perda da construção civil que gera o acúmulo de materiais não utilizados e dispensados, que formam os RCC, é entendida como a utilização mal prevista de qualquer tipo de recurso (mão-de-obra, equipamentos, materiais, energia...) fazendo com que as quantidades usadas destes recursos se sobressaiam às necessidades, resultando em desperdício de materiais, execução de tarefas desnecessárias, geração de custos, entre outros. Desta forma, a geração de entulho é reflexo de um processo produtivo mal planejado e deficiente. Estima-se que o setor de construção civil seja responsável pela geração de 51 a 70% dos resíduos sólidos do país, sendo que só no ano de 2014 o Brasil coletou mais de quarenta e quatro milhões de toneladas de resíduos da construção civil segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil de 2014. Isto vem causando uma grande preocupação já que cerca de 50% destes resíduos são dispostos irregularmente na maioria das cidades brasileiras (SCHNEIDER et al, 2016) causando vários impactos ambientais, pois o entulho acumulado pode causar vários transtornos, a saber: se tornar criadouro de insetos e roedores causadores das mais diversas e perigosas doenças, quando depositado em rios, lagos, lagoas e represas pode causar assoreamento e desabar residências próximas a estes locais, pode causar poluição visual, entre outras problemáticas (ABRECON, 2015). A resolução número 307 de 2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 2002) visando justamente minimizar tais impactos sociais e ambientais causados pela disposição inadequada dos RCC, prevê que os geradores de tais resíduos devem se preocupar com, em primeiro plano, a não geração de entulho e depois com a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final adequada para estes materiais, não podendo serem armazenados juntamente com os resíduos sólidos domiciliares ou em lotes vazios e em outros locais resguardados por lei. Assim, os entulhos devem ser encaminhados (sob responsabilidade de seus geradores) para os devidos fins de acordo com a sua classificação, também determinada pela mesma resolução. Como estabelece o Art. 3º, para o efeito desta resolução, os resíduos sólidos da construção civil devem ser classificados em classe A, classe B, classe C e classe D de acordo com suas características. A cerâmica (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc), argamassa e concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.), são resíduos que podem ser reciclados ou reutilizados como agregados, por isso devem ser classificados como rejeitos de classe A. Aqueles que são materiais recicláveis, porém não servem como agregados, bem como plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros, são denominados Classe B. Já os resíduos classificados como C não podem ser reciclados ou recuperados, tais como os produtos resultantes do gesso. Os materiais pertencentes a Classe D, são caracterizados como perigosos e podem ser citados as tintas, solventes e óleos (PNRS, 2011). Por estas razões, a geração e deposição dos resíduos sólidos da construção civil têm agravado a preocupação das autoridades e órgãos fiscalizadores, sendo esta discussão o ponto chave para um desenvolvimento sustentável no setor da construção civil. 3 METODOLOGIA DO TRABALHO O município de Aracruz está localizado na região sudeste do estado do Espírito Santo, com uma área de 1.423,874 km 2 e com uma população de 95.056 habitantes (IBGE). O município é reconhecido pela sua riqueza natural com destaque para seus manguezais e litorais e por grandes empresas inseridas em seu território, a saber: Fibria, Imetame Metalmecânica e recentemente o Estaleiro Jurong Aracruz, o que tem alavancado o crescimento econômico e habitacional da cidade. Para atender a esta demanda de crescimento populacional e econômico, o município tem contado com a construção de loteamentos (como o Royal Garden, Morada Park e Enseada Ville) e também com a construção do condomínio Lorenge Villaggio Aracruz Residence. Além disto, o panorama atual da administração do município é de construção de outras grandes obras para atender às necessidades da população. Contudo, com o aumento do número de obras de construção civil na cidade, a geração de resíduos sólidos provenientes da construção civil também aumenta, causando todos os transtornos ambientais e sociais supracitados ao município (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2014). O órgão responsável pela remoção e tratamento dos 2

RCC dispostos em Aracruz é a Secretaria de Transportes e Serviços Urbanos (SETRANS), além disso Aracruz não há nenhuma empresa ou instituição que atue no ramo de triagem, reaproveitamento e reciclagem de RCC. Analisando a aplicação dos RCC do município de Aracruz no reaproveitamento de agregados reciclados, podemos considerar os materiais de classe A que compõem a maior parcela de perda na construção civil (argamassa, cerâmicas e concreto) para serem reutilizados como areia reciclada e brita. Depois de obtida, a brita reciclada pode dar origem às britas dos tipos 1 e 2, dos tipos 1 e 2 mista e ao solo brita. Com a brita tipo 1 mista pode ser feito serviços em aterros e acertos topográficos de terrenos, assentamentos de tubos, como também em melhoria de condição de rolamento de estradas não pavimentadas ou rurais, além de obras de base, sub-base ou reforço de subleito de pavimentação de vias, pátios industriais e semelhantes. Eventualmente a brita 2 mista, é utilizada em drenagem, terraplanagem, e camada de bloqueio. Já a areia reciclada é proveniente do peneiramento das britas recicladas e pode ser aplicada como agregado para argamassa de assentamento e revestimento e também como agregado para concreto não estrutural, substituindo a areia convencional (PIEREZAN; ANTOCHEVES, 2012). O primeiro passo do trabalho consistiu na obtenção de dados sobre a quantidade de resíduos sólidos da construção civil manuseados pela Secretaria de Transporte e Serviços Urbanos do município de Aracruz (SETRANS) durante o ano de 2015. Com os dados fornecidos foi possível calcular a geração média anual de entulho do município somando-se as quantidades geradas mensalmente e dividindo-as por doze. Sendo possível calcular a geração média diária de entulho no município. Em seguido foi identificado in loco os pontos viciados de deposição de entulho no loteamento Villa Santi, no bairro Cupido em Aracruz. Foi possível identificar visualmente locais de deposição inadequada de entulho em todo o loteamento, já que ainda estão sendo desenvolvidas muitas obras de construção civil no mesmo, por se tratar de um bairro recém-estabelecido. De posse destas informações foi possível realizar o cálculo da constituição média do entulho do município baseado nos dados fornecidos pela SETRANS e em pesquisa teórica sobre a constituição do entulho. Por fim foi realizada a identificação e reconhecimento de uma usina referência no estado com relação à reciclagem de resíduos sólidos da construção civil, a Natureza Viva, localizada em Vila Velha. Foi realizada uma visita técnica à usina a fim de coletar informações sobre o processo de reciclagem, sobre características do material depois de reciclado e os preços tabelados destes materiais para a comercialização. Foram ainda coletadas amostras dos materiais reciclados para a determinação granulométrica de alguns deles em laboratório a fim de analisar as suas aplicações referentes ao reaproveitamento dos RCC do município. O cálculo da média de preços dos agregados tradicionais comercializados em Aracruz utilizados em obras de construção civil obtidos por um orçamento feito ao telefone em duas lojas de material de construção e comparação com o preço dos agregados reciclados juntamente com a análise da geração de economia aos custos públicos considerando a aplicação destes agregados em obras públicas do próprio município. Além disto, também foi feita uma análise da economia gerada pela comercialização destes agregados para proprietários de obras privadas. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Juntamente com a SETRANS, foram obtidos os dados com relação ao manuseio dos RCC do município que podem ser observados na figura 1. Como pode ser calculada a partir dos dados informados, a média mensal de produção de RCC no município é de aproximadamente 3.778,76 toneladas, gerando uma média de 125,96 toneladas produzidas por dia de entulho. A quantidade gerada destes resíduos em Aracruz é preocupante pois quando comparamos esta produção de entulho com a geração da cidade de Feira de Santana na Bahia, por exemplo, que possui 556.642 habitantes (IBGE, 2015), vemos que há uma diferença de 150 toneladas por dia produzidas a mais pela cidade da Bahia (CABRAL; MOREIRA, 2011) para uma diferença de mais de 400 mil habitantes. 3

Figura 1: Apuração da coleta de resíduos sólidos inertes no ano de 2015 no município de Aracruz A quantidade média de constituintes do entulho do município pode ser calculada tomando-se a quantidade média mensal de geração de entulho multiplicada pelas porcentagens médias dos constituintes gerais do entulho. Fazendo-se este processo, obtemos a figura 2, que apresenta as quantidades médias dos materiais que compõe o entulho do município. Figura 2: Quantidade média dos constituintes do entulho de Aracruz Como observado, os materiais de classe A (concreto, cerâmica e a argamassa) podem gerar juntos a maior parte dos RCC do município, sendo capazes de compor 2.996,56 toneladas médias de entulho somente destes materiais - correspondentes a aproximadamente 79,30% do entulho - que são dispensados sem reciclagem e reaproveitamento no aterro municipal, quando não são depositados nos pontos viciados de entulho, causando ainda mais transtornos. Com relação ao depósito irregular dos RCC, localizado no bairro Cupido em Aracruz. A empresa responsável pela venda dos lotes deste empreendimento, o loteamento possui 518 lotes que já foram todos vendidos e a maioria já conta com residências construídas ou em período de construção. Desta forma, por se tratar de um bairro ainda sendo estabelecido, é possível perceber várias obras de construção civil em processo, o que gera entulho que, por parte, é depositado em pontos viciados do loteamento, como pode ser observado na figura 3. Para minimizar estes e outros impactos ambientais e sociais causados pela geração e disposição inadequada dos RCC na cidade, os materiais de classe A constituintes destes entulhos devem, como já explicitado, passar por um processo de coleta adequada, triagem e reciclagem para sua posterior reutilização na construção civil a fim de se obter um processo de construção mais sustentável. Considerando que sejam recebidos cerca de 400 m 3 de entulho por dia que são reciclados de acordo com a demanda de comercialização dos produtos. Os resíduos chegam em caçambas estacionárias e caminhões basculantes e são encaminhados para a triagem depois de inspecionados (materiais de classe C e D não são aceitos para a reciclagem nem os resíduos contaminados com estes materiais). Na triagem os RCC são classificados em A e B e os resíduos de classe A são britados e peneirados, derivando em agregado reciclado. Como resultado, a usina obtém a brita tipo 1 e 2, brita tipo 1 e 2 mista, bica corrida, rachão, material para aterro e, quando esses materiais são peneirados para produzir a areia. Foram então coletadas amostras dos materiais produzidos na usina para análise com a finalidade de se conhecer a potencialidade de aplicação dos agregados reciclados. 4

Figura 3: Pontos viciados de depósito de RCC no loteamento Villa Santi A partir das amostras obtidas de brita pode-se obter a areia reciclada através do peneiramento, as quais foram submetidas a um ensaio granulométrico em laboratório para o cálculo do módulo de finura com o intuito de comparar este valor com as especificações determinadas pela NBR 7211, pois o agregado reciclado segue as diretrizes previstas por esta norma quando aplicado. Os resultados obtidos pelo ensaio granulométrico por peneiramento podem ser observados nas tabelas 1 e 2 respectivamente. Tabela 1: Resultados do ensaio granulométrico da brita 1 reciclada M1 M2 Peneiras Peso retido (g) % retida Peso retido (g) % retida % retida média % retida acumulada 4,75mm 77,975 25,99 87,559 29,19 27,59 27,59 2,36 mm 43,815 14,61 54,17 18,06 16,33 43,92 1,18 mm 38,956 12,99 39,18 13,06 13,02 56,94 600 um 53,518 17,84 45,513 15,17 16,51 73,45 300 um 52,318 17,44 42,56 14,19 15,81 89,26 150 um 26,958 8,99 22,527 7,51 8,25 97,51 FUNDO 5,989 2,00 8,237 2,75 2,37 99,88 TOTAL 299,529 99,84 299,746 99,92 99,88 Tabela 2: Resultados do ensaio granulométrico da brita mista 1 reciclada M1 M2 Peneiras Peso retido (g) % retida Peso retido (g) % retida % retida média % retida acumulada 4,75mm 23,503 7,83 29,176 9,73 8,78 8,78 2,36 mm 32,956 10,99 29,757 9,92 10,45 19,23 1,18 mm 42,026 14,01 48,487 16,16 15,09 34,32 600 um 76,211 25,40 72,419 24,14 24,77 59,09 300 um 68,926 22,98 80,891 26,96 24,97 84,06 150 um 35,829 11,94 29,939 9,98 10,96 95,02 FUNDO 15,423 5,14 9,979 3,33 4,23 99,25 TOTAL 294,874 98,29 300,648 100,22 99,25 A partir destes resultados, obteve-se um valor de módulo de finura de 3,89 para a brita 1 e de 3,00 para a brita 1 mista. De acordo com a NBR 7211, o módulo de finura para a aplicação deste material como agregado de concreto da zona utilizável superior varia de 2,90 a 3,50, e a brita 1 mista reciclada da Natureza Viva apresentou um módulo de finura de 3,00, ou seja, um valor aceitável de módulo de finura para a utilização deste agregado. A brita 1 apresentou um módulo de finura superior ao da zona utilizável correspondente às especificações da NBR 7211, entretanto, esta areia ainda pode ser utilizada, porque de acordo com a norma. As areias obtidas a partir do peneiramento das britas recicladas podem ser observadas na figura 4. Visto isto, os RCC de Aracruz, depois de reciclados podem ser aplicados como agregados nas obras de construção civil do próprio município. Para isto, seria necessário contar com o interesse do município na instalação de uma usina de reciclagem, que demandaria um custo de investimento muito próximo ao recurso financeiro que a cidade dispõe à SETRANS em um trimestre para fazer apenas o transporte dos RCC ao aterro, pois para a instalação da usina seriam necessários um pouco mais de R$ 921.000,00 (PAIVA et al, 2012) e o gasto da secretaria com o manejo dos RCC em três meses gira em torno de R$ 992.000,00. Estima-se que a utilização do agregado reciclado pode gerar uma economia de 80% com relação ao custo do agregado tradicional (PIEREZAN; ANTOCHEVES, 2011). 5

Figura 4: Areia e brita recicladas Para que se possa observar este fato com maior clareza, basta ressaltar que em Aracruz a média do preço da areia tradicional comprada em um material de construção é de R$ 82,50 o metro cúbico, a média do preço da brita 1 é de R$122,50 o metro cúbico e a média de preço da brita 2 é de R$ 126,00 o metro cúbico. A Natureza Viva comercializa a areia, a brita 1 mista e a brita 2 mista por R$ 15,00/m 3, e a brita 1 e brita 2 por R$ 20,00/m 3, ficando explícita a economia aos bolsos dos proprietários de obras civis se estes agregados forem comercializados para a população também. 5 CONCLUSÕES Aracruz é capaz de gerar mais de 125 toneladas de entulho por dia, que são encaminhados para o aterro sanitário da cidade, depositados juntamente com os resíduos domésticos sem o tratamento adequado para este material. Desta forma, estes agregados poderiam ser aplicados na substituição dos agregados tradicionais das obras civis do próprio município depois de reciclados, a saber nas obras públicas de pavimentação e como agregado para argamassa de assentamento e revestimento e também como agregado para concreto não estrutural em obras de moradias sociais, e também comercializados para proprietários de obras privadas de construção civil, que iriam economizar aproximadamente 80% em seus custos ao comprar estes agregados reciclados como materiais de construção. 6 REFERÊNCIAS 1. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional de Meio Ambiente, CONAMA. Resolução CONAMA nº307, de 5 de julho de 2002. 2. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Estimativas da População Residente no Brasil e Unidades da Federação, 2015. 3. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos e Projeto Básico de Viabilidade Econômico-financeira para Apoiar o Processo Licitatório - Prefeitura Municipal de Aracruz. 2014. 4. SCHNEIDER, Arceli Maria et al. GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL. REVISTA INTERDISCIPLINAR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, v. 3, n. 1, 2016. 5. Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição ABRECON. O que é entulho?. Disponível em: < http://www.abrecon.org.br/o-que-e-entulho/>. Acesso em: 02 nov. 2015. 6. PIEREZAN, Jerônimo; ANTOCHEVES, Rogério. Reaproveitamento do Entulho da Construção Civil. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 4, n. 1, 2012. 7. GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Plano Nacional de Resíduos Sólidos PNRS, Brasília, set. de 2011. 8. CABRAL, A E B; MOREIRA, K M V. Manual sobre os Resíduos Sólidos da Construção Civil. Fortaleza, Agosto de 2011. 6