Resenha (recesso) - Aprendizagem, Arte e Invenção de Virgínia Kastrup RESUMO. O texto aborda o tema da aprendizagem, usando como referência as contribuições de Gilles Deleuze e Félix Guattari. O objetivo é, tomando como ponto de vista a arte e a invenção, revisitar temas psicológicos clássicos como o hábito, a habilidade e a imitação. O texto sugere o mecanismo da circularidade criadora como chave para o entendimento do processo de aprendizagem inventiva. Fernanda da Silva Sobierajski (Pibid/Capes/Uergs) Carlos Roberto Mödinger (Pibid/Capes/Uergs) Marli Susana Carrard Sitta (Pibid/Capes/Uergs) O Pibid, com o objetivo promover a integração entre educação superior e educação básica, tem contribuído em diversos fatores na nossa formação docente. Ele nos tira do papel de discente ou docente e nos coloca como espectadores do ambiente escolar. Com isso, podemos visualizar e problematizar situações, que por muitas vezes, passam despercebidas ou esquecidas enquanto atuamos como professor ou aluno. Atualmente, os processos de aprendizagem vêm sendo discutidos e analisados sob as diferentes óticas, de forma a entender como ele se encontra. Tal fator não pode passar em branco ao analisarmos como espectadores em sala de aula a relação professor/aluno em nossas observações. É fonte de contribuição para nossa formação docente ao analisarmos essa relação, observar como está acontecendo esta troca, ou seja, o processo de aprendizado dos alunos e também dos professores. Entretanto, só as observações não bastam para responder nossas questões e criar novas problematizações. As referências também são partes fundamentais em nosso processo de aprendizagem. Quando tratamos da aprendizagem, o texto Aprendizagem, arte e invenção escrito pela professora e pós-doutora Virginia Kastrup chama minha atenção pelos fatores que ela aborda ao longo da leitura, pois ela traz um tema que tampouco é discutido na educação contemporânea: o processo de aprendizagem inventiva. Tal elemento fundamental para possibilidade de criação através da problematização e que de fato também é fundamental para a educação teatral. Além disso, para composição deste texto Kastrup usou como referências as
contribuições de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Ao conceituar a aprendizagem, Kastrup afirma que: aprendizagem não é entendida como passagem do não-saber ao saber, não fornece apenas as condições empíricas do saber, nem é uma transição ou uma preparação que desaparece com a solução ou resultado. A aprendizagem, é sobretudo, invenção de problemas, é experiência de problematização. (KASTRUP, 2001) Com as vivências que obtive enquanto pibidiana e com as reflexões que tenho feito fora do âmbito escolar me deparo com uma aprendizagem onde o aluno senta e recebe conhecimento. Mas por meio das aulas extraclasse e até mesmo em aulas do currículo os alunos não estão sujeitos somente à essa forma de ensino, mas também às aprendizagens que possibilitam a experiência a busca e a construção de conhecimento. Ao realizar a leitura do texto me deparei com este ponto que também se encaixa em nosso trabalho: a invenção, a criação e a busca que era proporcionada aos alunos quando estávamos em sala de aula com nossos projetos. Deste modo, passávamos do papel de observadoras para dar início a uma nova possibilidade de intervir na realidade daqueles alunos, trazendo um começo de buscas e experiências, possibilitando um saber não convencional ao que muitos estavam sujeitos. A aprendizagem é mostrada nesse texto em comparação de diversos casos em que ela se aplica. Em sua maioria ela é vista como uma conduta de regras, onde o aluno está aplicando as regras que lhe foram passadas, o que de fato acontece no espaço escolar. Mas também temos o desfecho disso, aonde o aluno vem a progredir na aprendizagem, partindo das regras que lhe foram passadas para então continuar com a representação do que lhe foi passado juntamente com o contato diante daquilo que esta sendo o alvo. Aqui traço semelhanças com as aulas observadas no CIEP, onde jogos e regras eram aplicados aos alunos para que fossem reproduzidas, mas infelizmente aquilo não possibilitava um desfecho, não dentro da escola, então era necessário que surgisse uma fonte para que as regras fossem somente a base de criação e invenção para o aprendizado continuar e não se limitar em regras e representações das mesmas. Esta leitura também me proporcionou repensar conceitos, pois quando o assunto invenção e criação surgiam instantaneamente eu os ligava com o fazer livre e espontâneo, mas no campo da aprendizagem a invenção não domina a
espontaneidade, mas requer atenção ao território e ao objeto que estão ali. Dentro das práticas docentes a relevância desse pensar me fez compreender que por trás de uma tentativa de inovar e proporcionar um saber também é preciso observar o todo que esta inserido. Para complemento da conceituação de aprendizagem, a professora de psicologia traz este não sendo uma transferência de conhecimento de outros, mas sim como experiências vivenciadas pelo próprio individuo. Quando repetimos algo que habitualmente costumamos a fazer, envolvemos nossa percepção, ou seja, sabemos solucionar ou distinguir algum problema. Entretanto, quando este se torna desconhecido ou estranho, problematizamos de modo a tentar solucionar ou tomar conhecimento. Além disso, a experiência de uma recognição também abre espaço para problematizações, pois esta não faz síntese com a memória para gerar um reconhecimento. Deste modo, a partir das ideias de Deleuze, Kastrup afirma que "a aprendizagem começa quando não reconhecemos, mas, ao contrário, estranhamos, problematizamos". Ainda dentro da aprendizagem a autora nos traz que: Nada aprendemos com aquele que nos diz: faça como eu. Nossos únicos mestres são aqueles que nos dizem: faça comigo e que, em vez de nos propor gestos a serem reproduzidos, sabem emitir signos a serem desenvolvidos no heterogêneo. (KASTRUP, 2001) Propor a reprodução e a continuação se mostra o alicerce para que a aprendizagem traga consigo a invenção. Aqui se encontra o essencial para a docência, não limitar o aluno, mas sim proporcionar a ele a expressão, a criação e o desenvolvimento. Para que se realize a troca entre professor e aluno é necessário que não se tenha uma colocação de um superior, mas sim de trocas e experiências que se somam juntas, ensinar fazendo e aprender fazendo, para que ambos estejam juntos na construção do saber. Estamos presentes para orientar o aluno, para que este tome para si aquilo que esta no ambiente. O poder do professor diante do processo de aprendizagem é de atrair e trazer para si o aluno, não existe um saber pronto esperando pelo aluno, mas sim uma teia que levará para diversos meios da construção do saber. Somos então guias ou até mesmo companheiros de jornada na vida dos alunos e no meio escolar. Vejo o teatro dentro disso não somente como arte, mas sim como uma porta de oportunidades
de criação, trazendo não somente a encenação para a sala de aula, mas a troca, a construção de relações, a busca por novas fontes, novos tempos e lugares. Estar levando essas reflexões para o CIEP me faz ver o Pibid com um novo olhar, uma busca por novas fontes não somente para os alunos, mas também para os professores e funcionários que fazem parte daquele ambiente. Ressalto ainda a arte que é abordada de forma a ser a invenção do sujeito e do mundo. Dentro do CIEP podíamos ver o interesse dos alunos em se expor diante da arte que estava sendo levada até eles. A arte nos leva a um ponto adiante da problematização e do questionamento, traz uma prática de liberdade e do novo. A arte então resulta em um processo de aprendizagem, mas esta acaba sendo um aprender a aprender, um aprender que não limita, mas sim liberta.
REFERÊNCIAS KASTRUP, V. Aprendizagem, arte e invenção. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 6, n. 1, p. 17-27, jan./jun. 2001