NÍVEL DE RUÍDO - UMA MEDIDA DE QUALIDADE NAS BIBLIOTECAS José Yvan Pereira Leite (1) Eng. de Minas - UFPB, Mestre em Engenharia Química - UFRN, prof. da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. Sócio da ABM. Régia Lúcia Lopes Engenheira Civil - UFRN, Mestre em Engenharia Química - UFRN, prof a. da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. Sócia da ABES. Erivan Sales do Amaral Estatístico - UFRN, Especialista em Saúde Pública - FACCE, prof. e coord. da Área de Tecnologia Ambiental da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. José Cristiano Santos Monitor e Estudante da Área de Tecnologia Ambiental da ETFRN. Manoel Reginaldo Fernandes Monitor e Estudante da Área de Tecnologia Ambiental da ETFRN. Endereço (1) : ETFRN, LTM - Av. Salgado Filho, 1559 - Natal - RN - CEP: 59056-000 - Brasil Tel: (084) 215-2626 - Fax: (084) 221-4005 - e-mail: jypleite@eol.com.br. RESUMO Este trabalho apresenta resultados de uma avaliação dos níveis de ruídos praticados em 08 (oito) bibliotecas da cidade de Natal/RN, as quais são as mais freqüentadas pela comunidade. Avaliou-se as fontes de ruído, observando-se os projetos arquitetônicos e o conforto acústico em relação aos objetivos da biblioteca. Os níveis médios de ruídos determinados estão em torno de 69 db, os quais são proibitivos para as bibliotecas, pois as Normas da ABNT estipulam um nível máximo de 45 db. As maiores contribuições destes ruídos são provenientes das conversas constantes entre os usuários e pelos ruídos externos provocados pela falta de isolamento acústico destes ambientes. Para reduzir estes índices aos níveis permitidos pela normas da ABNT, se faz necessário uma ampla discussão a respeito do tema, para enquadrar padrões de conforto adequados a estes estabelecimentos. Os altos índices de ruídos observados devem estar contribuindo para reduzir o desempenho dos usuários de bibliotecas, que são em sua grande maioria estudantes. PALAVRAS-CHAVE: Conforto Acústico, Biblioteca, Poluição Sonora, Qualidade, Níveis de Ruído. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2277
INTRODUÇÃO O conforto ambiental nas bibliotecas é pouco estudado no Brasil, quando se refere aos níveis de ruídos, seu controle, avaliação dos projetos e das edificações, influência da localização da biblioteca e a satisfação do usuário. Estas preocupações enunciadas acima são freqüentemente negligenciadas no país. No entanto, sabe-se que altos níveis de ruídos causados por veículos, carros de propaganda, atividades de lazer, dentre outros, provocam perturbações psicológicas. Os efeitos do barulho sobre o organismo são numerosos: problemas auditivos, perturbações do sono, depressão, problemas cardiovasculares, perturbações no aparelho digestivo, dentre outros [1, 2]. Estudos indicam, que crianças que vivem em ambientes com muito barulho desenvolvem mais dificilmente sua capacidade auditiva. Os ruídos chegam a provocar uma redução de até 60% da produtividade, por dificultar a concentração propiciando erros, desperdícios ou acidentes por distração [2]. O conforto ambiental começou a ser estudado no Brasil na década de 30-40 por higienista, que se preocupavam com a distribuição das temperaturas médias das cidades. Em 1995 é implantado nos Cursos de Graduação de Arquitetura a disciplina de Conforto Ambiental (térmico, acústico e luminoso) [3]. O conforto térmico foi estudado nas salas de aula das Escolas de Natal/RN [3] e pode-se constatar que há um alto índice de pessoas insatisfeitas devido ao calor na região em estudo. O controle sobre os níveis de ruído na cidade de Natal-RN não é efetuado e em particular nas bibliotecas, locais privilegiados para reflexão e aprendizagem dos estudantes, em fase de desenvolvimento intelectual. No Brasil as bibliotecas, de forma geral, são adaptações de prédios existentes que passam a ter estas funções, ainda que estes resultados não sejam os melhores. alguns arquitetam um espaço que se resume basicamente em dois ambientes: o depósito de livros e o local de leitura, além de salas secundárias [4]. Nos países desenvolvidos se desenvolve planos de redução de ruídos, através da disposição e indicação destes níveis em mapas. Geralmente, estes são provocados pelo tráfico ferroviário e rodoviário, instalações industriais, artesanais e esportivas, atividades de lazer e de tiro, estas são representadas graficamente sobre mapa de níveis de intensidade de ruído e analisadas. De acordo com a análise é realizado um plano para a redução dos níveis de ruídos e é um forte aporte na elaboração dos projetos de construção [5]. O trabalho em questão tem como objetivo apresentar um levantamento dos níveis de ruídos praticados nas bibliotecas da cidade de Natal-RN, observar a sua localização, verificar se os projetos arquitetônicos e suas alterações tiveram a preocupação com o conforto ambiental, quando se referem aos níveis de ruído. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2278
Como se sabe, o ruído acima de 45 db não é recomendado para as bibliotecas, onde este proporciona desconcentração do seu usuário, sendo assim, o nível de ruído pode ser um bom indicador de qualidade destes ambientes [6]. MATERIAIS E MÉTODOS Foram selecionadas 08 bibliotecas da Cidade de Natal-RN, de forma que estas representam a universalidade do perfil dos usuários, saber: Sebastião Fernandes da ETFRN, Câmara Cascudo do Estado do RN, Zila Mamede-Central da UFRN, Setorial do Dep. de Odontologia da UFRN, Memorial Câmara Cascudo, da Universidade Potiguar, da Casa do Estudante e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado. As amostras foram coletadas a cada 15 minutos durante um período de 3 até 5 dias, de dois até três turnos. O equipamento para a aferição dos níveis de ruído foi Sound Level Meter (Cat. N o 33-2055), fabricado por Realistic. Este foi calibrado com outro equipamento semelhante. As localizações das bibliotecas foram cadastradas e analisadas, observados se os seus projetos tiveram a preocupação com o conforto ambiental, no tocante aos níveis de ruídos. RESULTADOS E DISCUSSÕES As bibliotecas estudadas foram: Biblioteca Setorial do Departamento de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte(UFRN), Biblioteca Central Zila Mamede da UFRN, Biblioteca Pública Câmara Cascudo da Fundação José Augusto (Governo do Estado do RN), Biblioteca Sebastião Fernandes da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte(ETFRN), Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (Gov. do Estado do RN), Biblioteca da Universidade Potiguar (Av. Salgado Filho), Biblioteca da Casa do Estudante do Rio Grande do Norte e a Biblioteca do Memorial Câmara Cascudo da Fundação José Augusto(Gov. do RN). As bibliotecas Zila Mamede da UFRN, Pública Câmara Cascudo, da Universidade Potiguar e Sebastião Fernandes da ETFRN são as que tem o maior número de usuários na cidade, tendo em vista o caráter multidisciplinar destas, enquanto as bibliotecas do Departamento de Odontologia da UFRN, do Instituto Histórico e Geográfico, do Memorial Câmara Cascudo e da Casa do Estudante, tem freqüência bem inferior ao primeiro grupo, já que atinge um público específico. Estas bibliotecas estão localizadas de acordo com o mapa apresentado na figura 1. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2279
Figura 1 - Mapa da cidade de Natal/RN. Observando a figura, nota-se que as bibliotecas estão localizadas nos campos 1, 2 e 3. Estes, em sua grande maioria, estão localizadas em regiões comerciais e de acesso fácil de ônibus ou automóveis, o que é importante aos seus usuários. Estas bibliotecas, na maioria dos casos, se enquadram em um dos itens citados a seguir: estão próximas a ruas ou avenidas movimentadas, quadras de esportes, janelas abertas ou paredes em cobogois, ausência de salas com isolamento acústico, ausência de refrigeração, equipamentos que emitem alto nível de ruídos próximo ao estabelecimento como garagem, dentre outros. Os resultados da falta de isolamento acústico leva a uma transferência do ruído externo ao ambiente das bibliotecas. A tabela 1 faz uma comparação entre a finalidade inicial da biblioteca e as preocupações do projeto das edificações com o conforto acústico. Tabela 1 - Concepção das edificações das bibliotecas e o isolamento acústico. Biblioteca Projeto Inicial Isolamento Acústico Odontologia - UFRN Biblioteca Ausente Zila Mamede - UFRN Biblioteca Com Isolamento em algumas salas Câmara Cascudo - Gov. do RN Biblioteca Ausente Sebastião Fernandes - ETFRN Biblioteca Ausente Instituto Histórico e Geográfico - Gov. do RN Adaptação Ausente Casa do Estudante - Gov. do RN Adaptação Ausente Memorial Câmara Cascudo - Gov. do RN Adaptação Ausente Universidade Potiguar Biblioteca Com isolamento mais 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2280
sem uso 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2281
Observando os resultados da tabela 1, nota-se que tanto as bibliotecas projetadas para este fim como as adaptadas não tem isolamento acústico e as que tem, tem utilização parcial, provavelmente como forma de minimizar o custo com refrigeração. No caso da Zila Mamede da UFRN, que tem salas de leituras para pequenos números de usuários com isolamento acústico e refrigeradas, nota-se que os condicionadores de ar provocam elevados níveis de ruídos. Foi realizado o monitoramento dos níveis de ruído no interior das bibliotecas e a tabela 2 apresenta os resultados simplificados obtidos nestes levantamentos. Tabela 2 - Níveis de ruídos práticas nas Bibliotecas de Natal-RN, durante o período de estudo (outubro-dezembro/96 e maio/97). Biblioteca Nível de Ruído (db) Mínimo Máximo Média Odontologia - UFRN 69 75 72 Zila Mamede - UFRN 57 73 65 Câmara Cascudo - Gov. do RN 68 78 73 Sebastião Fernandes - ETFRN 70 78 74 Instituto Histórico e Geográfico - Gov. do RN 59 69 64 Casa do Estudante - Gov. do RN 56 68 62 Memorial Câmara Cascudo - Gov. do RN 66 74 70 Universidade Potiguar 69 88 72,25 A figura 1 mostra os resultados da tabela 1 em forma de gráfico e a correlaciona com a sua base, que é o nível máximo aceitável para as Bibliotecas, indicado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (NB-95). Figura 2 - Níveis de ruídos médios praticados nas bibliotecas da cidade de Natal/RN. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2282
75 70 Nível de Ruído (db) 65 60 55 50 45 Odontologia - UFRN Zila Mamede - UFRN Câmara Cascudo - Gov. do RN Sebastião Fernandes - ETFRN Biblioteca Instituto Histórico e Geográfico - Gov. do RN Casa do Estudante - Gov. do RN Memorial Câmara Cascudo - Gov. do RN Universidade Potiguar S1 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2283
Analisando os resultados obtidos nas coletas, se verificou que os altos índices dos níveis de ruídos estão associados a má localização das edificações, falta de educação dos usuários, ausência de equipamentos que inibam o ruído externos (veículos, práticas esportivas, veículos de som fazendo propaganda, telhas de alumínio, equipamentos, dentre outros) e falta de gerência dos responsáveis pelos Estabelecimentos, no que diz respeito a disciplina dos usuários. Analisando a curva da figura 2 e correlacionando com sua base (NB-95), foi observado que as gerências da bibliotecas não tem preocupação com os níveis de ruído, já que estão operando com valores muito superiores aos índices recomendados para as bibliotecas. Outro fator a observar, é que os altos índices de ruído devem estar provocando uma desmotivação e o baixo coeficiente de aprendizagem dos usuários, provocados pelos altos esforços complementares realizados para absorver o produto da leitura, o que torna a sensibilidade auditiva mais acentuada. Araújo [3] estudou o conforto térmico nas salas de aulas das Escolas de Natal e determinou um alto índice de usuários insatisfeitos com o calor e ressaltam a importância dos estudos relacionados à adequação das edificações ao clima [3]. Estes desconforto térmico pode ter influência significativa no aprendizado dos alunos o que, por si, justificaria o interesse também de profissionais da área pedagógica no sentido do desenvolvimento de estudos em que a questão ambiental e o desempenho escolar sejam considerados [3]. Os dados de Araújo podem ser estendidos as bibliotecas, pois as mesmas tem as mesmas características arquitetônicas das salas de aula. Os ruídos chegam a provocar uma redução de até 60% da produtividade, por dificultar a concentração, propiciando erros, desperdícios ou acidentes [2]. Associando o desconforto térmico aos altos níveis de ruídos praticados nas bibliotecas, observados neste trabalho, se faz necessário uma intervenção nestes ambientes, tendo em vista uma melhoria na qualidade do conforto ambiental. Estes resultados levam a propor uma revisão nas bibliotecas, de forma que sejam implantados isolamento acústico, refrigeração central para inibir os ruídos dos condicionadores de ar, campanhas educativas e reciclagem dos funcionários tendo em vista a aplicação da finalidade das bibliotecas, dentre outros. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2284
CONCLUSÃO Os resultados obtidos mostram que apesar dos altos níveis de ruídos observados, as preocupações dos órgãos onde foram realizados o trabalho, com o conforto ambiental dos usuários, ainda é incipiente. Outro fato preocupante observado, diz respeito a que os altos índices de ruídos identificados, em média de 69 db, deve estar contribuindo para os baixos rendimentos escolares, o que deve ser verificado em trabalhos posteriores. É importante também, que os projetos de bibliotecas e as atuais passem por modificações, de forma a que estes índices alcancem os patamares indicados pela ABNT e que os projetos sejam observados a sua localização associados ao conforto ambiental. No âmbito da biblioteca da ETFRN, a partir do conhecimento dos resultados do trabalho, os seus dirigentes se propõem a aplicar alterações, tendo em vista a melhoria da qualidade. Estes resultados serão apresentados às Instituições onde foram feito os levantamentos, tendo em vista melhoria da qualidade para os seus usuários. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. VERNIER, Jacques, L'Environnement, Que sais-je?. Presses Universitaires de France. 3 0 Ed. 1993. Paris. pp. 49-61. 2. SILVESTRE, Maria Rosa, Aproximação à relação carga/desgaste no processo de trabalho odontológico. Monografia - UNB. Brasília. 1992. pp 11-15 3. ARAÚJO, Virgínia Maria Dantas de, Parâmetros de conforto térmico para usuários de edificações escolares no litoral nordestino brasileiro. Tese de Doutorado - FAU-USP. 1996. pp. 119-121. 4. MILANESI, Luis, O que é Biblioteca. Editora Brasiliense. 9 a Ed. São Paulo. pp 111. 5. Plan de réductioon du bruit. www. ingolstadt.de/u_shutz/massn/laerm/laerm_f.htm 6. Níveis de ruído para conforto acústico, NBR10152. ABNT. 1987. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2285