Programa de Vigilância e Alerta de Secas 2004/2005 ANÁLISE PRÉVIA DO PRIMEIRO SEMESTRE DO ANO HIDROLÓGICO DE 2004/05

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Transcrição:

ANÁLISE PRÉVIA DO PRIMEIRO SEMESTRE DO ANO HIDROLÓGICO DE 2004/05 Rui RODRIGUES, Cláudia BRANDÃO, Ana Rita LOPES, e Miguel NUNES INSTITUTO DA ÁGUA Direcção de Serviços de Recursos Hídricos Av. Almirante Gago Coutinho 30 1049-066 Lisboa PORTUGAL Resumo Com o presente relatório dá-se cumprimento à segunda etapa de caracterização e relato da situação de seca prevista no Programa de Vigilância e Alerta de Secas do INAG, desenvolvido na Direcção dos Serviços de Recursos Hídricos (DSRH) entre 1995 e 1998 e operacional desde então. Das quatro datas previstas no Programa de Vigilância para o ponto da situação esta, do final de Março, é muito importante pois é já possível estabelecer com alguma fiabilidade os intervalos de variação da magnitude que a seca meteorológica irá assumir no ano hidrológico, dado interromper-se neste mês de Março o semestre húmido que contribui, em média, com a maior percentagem de precipitação anual. Os procedimentos do Programa de Vigilância e Alerta de Secas do INAG prevêem para a estimativa da severidade regional da seca a utilização das curvas de Severidade-Área- Frequência de modo a poder ter uma visão global, e não só ponto-a-ponto, da magnitude da ocorrência. Foram encontradas gamas de magnitude sempre acima dos 40 anos que, na região Norte do País poderão chegar a 300 anos caso se continue a agravar a pluviometria até Setembro. Para além desta perspectiva meteorológica da seca será também feita nesta etapa de avaliação uma análise da seca hidrológica quer sobre os escoamentos quer sobre os armazenamentos (superficiais e subterrâneos). Palavras-chave: Seca, Seca Meteorológica, Seca Hidrológica, Programa de Vigilância e Alerta. 1 O Programa de Vigilância e Alerta de Secas do INAG Face à diferencial incidência das secas no território continental e ao seu potencial agravamento ao longo do ano, a DSRH do INAG estabeleceu para calendário de avaliações de seca, dentro do Programa de Vigilância e Alerta de Secas, quatro datas ao longo do ano hidrológico tendo em conta: -1-

o regime pluviométrico do território continental; os períodos críticos de avaliação de reservas hídricas para determinados usos. A Figura 1 resume esses períodos de análise periódicos. Figura 1 Sequência do cálculo das severidades das secas com utilização do programa automático. O presente relatório corresponde, assim, à segunda análise intermédia de avaliação no que concerne a excepcionalidade da seca baseada no modelo estocástico de distribuição de secas regionais, apesar do acompanhamento mensal permanente da evolução dos recursos hídricos do território continental efectuado no INAG e disponibilizado no site http://snirh.inag.pt, nas Sínteses de Dados, e do acompanhamento quinzenal excepcional deste ano pela Comissão para a Seca 2005. 2 Análise da Precipitação Para a confrontação dos valores precipitados até 31 de Março com a magnitude do défice acumulado desde 1 de Outubro os procedimentos do Programa de Vigilância e Alerta de Secas do INAG prevêem a utilização das curvas de Severidade-Área-Frequência desenvolvidas por SANTOS (1998). Para a construção da sequência de agregação das áreas afectadas por seca nos limites de referência das curvas de Severidade-Área-Frequência (gerados por um procedimento de -2-

Monte Carlo para os períodos de retorno), torna-se necessário determiná-las primeiro. A Figura 2 apresenta esses valores para o Norte e Sul do País definidos respectivamente acima ou abaixo das bacias do Vouga-Douro. Esses valores são depois inseridos nas curvas de Severidade-Área-Frequência permitindo uma leitura regional ao invés de análises esparsas e não representativas. Em resumo, enquanto a Figura 2 apresenta espacialmente as variações da severidade da seca onde sobressaem três eixos de progressão: de Aveiro a Bragança; de Óbidos a Barrancos, e; o litoral-sul de Setúbal a Faro a Figura 3 permite análises agregadas regionalmente. Fig. 2 Intensidade da seca calculada no final de Março e admitindo totais de precipitação entre Abril e Setembro da ordem de grandeza dos valores de precipitação médios. -3-

rdt (c) 2000 M. Orlando - INAG/SNIRH 3.8 NORTE 3.3 Índice de Severidade 2.8 2.3 1.8 1.3 0.8 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Área afectada (%) 5 10 25 50 100 250 300 400 2001/02 2003/04 MARÇO05_PM20-prev MARÇO05_PM20 MARÇO05_PM50 rdt (c) 2000 M. Orlando - INAG/SNIRH 3.3 SUL 2.8 Índice de Severidade 2.3 1.8 1.3 0.8 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Área afectada (%) 5 10 25 50 100 150 2001/02 2003/04 MARÇO05_PM20-prev MARÇO05_PM20 MARÇO05_PM50 Fig. 3 Intervalos de variação da magnitude da seca esperados para o ano de 2004/2005 baseados em dois cenários evolutivos: precipitação de Abril a Setembro igual ao percentil 20 ouà média (menos severo). -4-

No final de Março é já possível estabelecer com alguma fiabilidade os intervalos de variação da magnitude que a seca meteorológica irá assumir no final do ano hidrológico, dado interromper-se neste mês o semestre húmido que contribui, em média, com a maior percentagem de precipitação anual. Para o cálculo desses intervalos de variação foram feitas duas projecções da pluviometria a ocorrer entre Abril e Setembro de 2005: 1 totais de precipitação iguais ao percentil 20; 2 - totais de precipitação iguais aos valores médios. Pela análise da Figura 3 é possível detectar que a magnitude da seca regional na parte Norte do território continental se deverá assim situar entre os 40 e os 300 anos (precisamente 36,5 e 286 anos, dados pelo modelo), enquanto que na parte Sul do território continental se deverá situar entre os 40 e os 134 anos. Na mesma Figura 3 aparecem, a tracejado, as estimativas feitas no dia 21 de Março com base nas previsões meteorológicas do momento para a precipitação até ao final de Março. Essas estimativas (SOARES e BRANDÃO, 2005) foram preparadas para apresentação no Seminário Aprender com a Seca deste ano preparação para as secas e mitigação dos seus efeitos do dia mundial da água em Beja. As estimativas feitas nessa altura (antes da conclusão do mês de Março), face às previsões meteorológicas menos abundantes de chuva para o final do mês na parte Norte do território continental, eram então mais severas quanto ao intervalo superior de variação. Quanto à precipitação prevista a 21 de Março para o Sul até ao final do mês, a ter ocorrido, atenuaria o limiar máximo previsto para a magnitude da seca dos 134 para os 115 anos. Ainda na Figura 3 são apresentadas as magnitudes da seca recalculadas para dois anos hidrológicos anteriores recentes, 2001/2002 e 2003/2004, como termo de comparação já que, principalmente um deles, o de 2001/2002, apresenta algumas semelhanças. A este propósito é feita uma particularização para a estação udográfica da Covilhã (Figura 4) para os valores registados durante o ano hidrológico de 2001/2002 e o corrente ano para detectar algumas semelhanças no primeiro trimestre do ano hidrológico com um Outubro chuvoso e os restantes dois meses secos, e o mês de Fevereiro muito seco mas principalmente mostrar como foi importante para a inversão da tendência de severidade em 2001/2002 a precipitação ocorrida em Janeiro e o reforço da precipitação em Março, após um Fevereiro seco. Esta análise é, aliás, paradigmática do que ocorreu de excepcional no corrente ano, com um semestre húmido extremamente atípico, suplantando na extensão regional e magnitude do défice outros semestres igualmente severos hidricamente como os de 1944/45 e 1998/99. A este propósito recorda-se que o acompanhamento do Programa de Vigilância e Alerta de Seca do INAG nos anos hidrológicos de 1998/1999 e 1999/2000 foi sobejamente documentado, encontrando-se os diversos relatórios disponíveis no site http://snir.inag.pt. Apesar do ano 1998/99 ter tido um semestre húmido muito severo hidricamente, o ano de 1999/2000 apresentou um dos segundos trimestres mais secos a nível regional (mais do que no presente ano hidrológico). -5-

Fig. 4 Semelhanças (no primeiro trimestre) e diferenças (no segundo trimestre) entre os anos hidrológicos de 2001/2002 e 2004/2005 na estação hidrométrica da Covilhã. -6-

3 Análise dos escoamentos superficiais O escoamento é um totalizador por excelência da resposta hidrológica regional à precipitação. Nesse sentido a Figura 5 resume a severidade da seca em termos do escoamento. Fig. 5 Variação do escoamento (acumulado desde o início do ano hidrológico, e mensal) face aos valores de referência (média e percentis 10% e 20%). -7-

Sem prejuízo de uma caracterização mais pormenorizada, possível por consulta do site http://snirh.inag.pt, pode dizer em termos gerais que os volumes escoados desde o início do ano hidrológico até ao final de Março rondam os valores característicos do percentil 20% na generalidade das estações hidrométricas. A excepção mais significativa está nas encostas Norte da serra da Estrela onde mercê da precipitação do final do mês de Março esses quantitativos se aproximaram dos valores médios (importante, nesse sentido as afluências à barragem da Aguieira. A nível da variação mensal do escoamento salienta-se um Outubro geralmente caudaloso em todo o território (superior ao percentil 90 nas cabeceiras do rio Lima) responsável, em bacias de dimensão razoável, por caudais de recessão em Novembro ainda dentro ou próximo dos valores médios. À excepção das encostas Norte da serra da Estrela os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro oscilaram entre os valores característicos dos percentis 10 e 20. No final de Março as precipitações principalmente no Minho foram responsáveis por afluxos às albufeiras das cabeceiras Norte do Cavado da ordem da dezena de milhões de metros cúbicos, como fica patente na Figura 6 retirada do Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos do INAG. Fig. 6 Variação do armazenamento nas albufeiras das cabeceiras Norte do Cavado com o escoamento gerado pela precipitação da última semana de Março. -8-

4 Análise das reservas hídricas superficiais Como foi já referido a situação no corrente ano hidrológico apresenta algumas semelhanças com o ano hidrológico de 2001/02 ainda que potenciadas em severidade pela ausência de precipitação significativa em Janeiro e, de valores de precipitação em Março da ordem de metade dos valores médios. Retomando a particularização da análise exemplificada na Figura 4 e prolongando-a para a análise, de início também particular, das reservas (mas cujo conteúdo é extensível a outros armazenamentos de pequena expressão), analisa-se na Figura 7 a variação do armazenamento na albufeira da Cova do Viriato, que abastece a Covilhã. Volume (dam3) 1 600 1 400 1 200 1 000 800 600 400 200 0 0 104 208 312 416 520 624 728 tempo (semanas do ano civil) Fig. 7 Variação do volume armazenado na albufeira da Cova do Viriato e períodos de escassez dados pelos pontos vermelhos que assinalam o mês de Janeiro deficitário. Da sua análise sobressaem, para além do corrente ano, outros períodos (assinalados com pontos vermelhos) onde em Janeiro o armazenamento era cerca de metade do usual nessa época do ano, e todos esses anos são reconhecidamente anos de seca onde o primeiro trimestre do ano foi seco. Quando a capacidade de armazenamento de uma albufeira é da mesma ordem de grandeza das necessidades instaladas e quando a sua capacidade de regularização é sazonal (i.e. com transposição de água do semestre húmido para o semestre seco) a vulnerabilidade dos sistemas neles estabelecidos é maior. Nesse sentido é de salientar o programa de reforço empreendido pelos SMAS do Município da Covilhã pelo alteamento previsto para a barragem permitindo aumentar a capacidade de armazenamento da albufeira. -9-

Este exemplo visa apenas servir de introdução à análise que se faz dos armazenamentos nas diversas bacias do País onde os volumes armazenados não estão tão baixos quanto seria de esperar numa seca tão severa como a deste ano apenas porque uma parte significativa das albufeiras, principalmente no Sul do território continental, tem regularização interanual (i.e. com transposição de água de anos húmidos para anos secos). De facto se analisada plurianualmente, isto é, com a contribuição dos anos anteriores, a seca actual não é tão severa como algumas do passado recente (como por exemplo a de 1991/92 a 1995/95) e tem permitido alguma recuperação dos volumes armazenados nos últimos anos. A Figura 8 compara os armazenamentos no final do mês de Março face aos valores médios para esta época do ano. Fig. 8 - Situação de armazenamento em Março nas principais bacias hidrográficas em relação à média no mesmo período (retirado do site http://snirh.inag.pt). Na Figura 9 é feita a comparação entre o armazenamento em Março de 2005 com os Marços de anos passados para exemplificar o carácter depleccionário que as secas plurianuais têm. -10-

Fig. 9 Percentagem da capacidade de armazenamento nas principais bacias hidrográficas no final do semestre húmido (Março) em diversos anos, evidenciando-se o esgotamento progressivo das reservas superficiais devido a secas plurianuais. 5 Análise das reservas hídricas subterrâneas Do Programa de Vigilância e Alerta de Secas do INAG consta também o controlo dos níveis piezométricos nos principais sistemas aquíferos do território continental. Uma rápida noção do estado das reservas subterrâneas pode ser obtido no site-snirh no resumo que se transcreve para as Figuras 10 a 13 que acompanham quatro regiões de utilização expressiva de água subterrânea. O acompanhamento da evolução do nível nos aquíferos, para efeitos do programa de avaliação da seca, é feito em 23 piezómetros (ver mapas), seleccionados pelas CCDRs, dos sistemas aquíferos do Algarve (11) e Alentejo (7) e, ainda, Centro (2) e Lisboa e Vale do Tejo (3). -11-

Região Algarve Programa de Vigilância e Alerta de Secas 2004/2005 Região Alentejo -12-

Região Centro Região Lisboa e Vale do Tejo Informação mais detalhada e noutros sistemas aquíferos pode ser encontrada no site-snirh. No entanto pelas Figuras 10 a 13 fica a noção de que a sucessão de dois anos secos intercalados por um ano médio nos últimos três anos tiveram repercussões na maioria dos sistemas aquíferos estando as reservas ligeiramente abaixo da média. -13-

Fig. 10 (a) Amostra da flutuação dos níveis piezométricos no Algarve. -14-

Fig. 10 (b) - Amostra da flutuação dos níveis piezométricos na região do Algarve -15-

Fig. 10 (c) - Amostra da flutuação dos níveis piezométricos na região do Algarve Na generalidade verifica-se uma tendência de descida dos níveis piezométricos, salientandose que nos sistemas aquíferos do Sotavento Algarvio os valores observados no corrente ano se situam significativamente superiores à média, enquanto que no Barlavento, em especial no sistema aquífero Querença-Silves os onde os níveis de armazenamento, face à utilização intensiva desse sistema, são já inferiores aos do percentil 20. Este último sistema-aquífero mereceu da parte da Direcção dos Serviços de Recursos Hídricos do INAG um estudo aprofundado sobre a provável evolução dos níveis piezométricos para várias alternativas de extracções (LOPES e al., 2005), estudo esse onde se detalha a caracterização das condicionantes da situação piezométrica. -16-

Fig. 11 (a) - Amostra da flutuação dos níveis piezométricos na região do Alentejo -17-

Fig. 11 (b) - Amostra da flutuação dos níveis piezométricos na região do Alentejo Na generalidade verifica-se uma tendência de deplecionamento dos níveis piezométricos salientando-se que os valores observados no corrente ano hidrológico são significativamente inferiores à média mensal dos anos anteriores. -18-

Fig. 12 - Amostra da flutuação dos níveis piezométricos na região Centro Nos dois piezómetros de referência verifica-se uma descida contínua dos níveis piezométricos registando-se num desses piezómetros valores significativamente inferiores à média mensal dos anos anteriores. -19-

Fig. 13 - Amostra da flutuação dos níveis piezométricos na região de Lisboa e Vale do Tejo Em dois piezómetros verifica-se uma subida dos níveis piezométricos, cuja origem poderá estar na redução das extracções nos últimos anos. Em todos os piezómetros os valores situamse próximos da média mensal. Referências Bibliográficas LOPES, A. R.; RODRIGUES; R.; ORLANDO, M 2005 O aproveitamento sustentável dos recursos hídricos subterrâneos do sistema aquífero Querença-Silves na seca de 2004/2005, INAG-SNIRH Hidrobiblioteca. SANTOS M.J. 1998 Caracterização e monitorização de secas, INAG-SNIRH Hidrobiblioteca. SOARES, J.; BRANDÃO, C. 2005 O Programa de Vigilância e Alerta de Secas do INAG. Seminário Aprender com a Seca deste ano preparação para as secas e mitigação dos seus efeitos, Instituto Politécnico de Beja. -20-